Documentário traz o artista carioca, falecido em 2017, como narrador da própria história (Fotos Embaúba Filmes) |
Eduardo Jr.
Dia 16 de janeiro foi a data escolhida para a estreia do documentário “Luiz Melodia: No Coração do Brasil”. Dirigido por Alessandra Dorgan, o longa traz o artista carioca, falecido em 2017, como narrador da própria história. A distribuição é da Embaúba Filmes. O filme poderá ser conferido no Una Cine Belas Artes e no Centro Cultural Unimed-BH Minas.
Este não é um filme com movimentos de câmera autorais ou cores marcantes, daquelas que identificam de imediato o cineasta responsável. Todo o documentário é composto por material de arquivo. Gravações de áudios, entrevistas e shows foram cedidas por Jane Reis, viúva do artista e produtora associada nesta homenagem.
Já de saída, uma mensagem na voz do cantor alerta que, nesses tempos de crise em que estamos vivendo, é bom se soltar enquanto existe música dentro de nós.
Muito coerente com quem construiu um repertório que vai do samba ao jazz e levou aos palcos um corpo cheio de movimento, que parece nunca ter sentido que envelhecer seria um fardo. Melodia faleceu aos 66 anos, mas permanece vivo, sendo frequentemente regravado.
Essa mensagem sobre a importância de sentir e viver a arte fica ainda mais pertinente se olharmos para os bastidores da produção.
Foram sete anos de pesquisa e muita luta para fazer o projeto sobreviver enquanto a Ancine e todo o audiovisual brasileiro enfrentavam problemas e ameaças de censura por parte do ocupante anterior da cadeira da Presidência da República.
Mas Luiz era musicalidade e também resistência. Nascido no bairro do Estácio de Sá, seu corpo já evocava liberdade. Em algumas cenas, lá está ele, sem camisa, tranças soltas, e no seu canto, a poesia autoral.
Em nome do direito de fazer o que queria, no momento desejado e de manter uma liberdade criativa, passou alguns períodos sem gravar, pois enfrentava gravadoras de peito aberto, e saía vitorioso. A aclamação do público é a prova disso.
A própria voz de Luiz Melodia se encarrega de tudo. Com suas “canetadas”, foi despertando a atenção e fazendo amigos. Entre eles, Waly Salomão, Torquato Neto e Gal Costa, a responsável por fazer com que o compositor se instalasse "no coração do Brasil", como ele mesmo escreveu em “Magrelinha”.
Nessa narrativa, enquanto vai desfiando suas histórias, a voz do poeta do Estácio é coberta em alguns momentos por imagens antigas do Rio de Janeiro, da cena cultural da cidade e acompanhada por ritmos que foram sua influência, como o samba de Zé Keti.
Ao longo da imperceptível uma hora e quinze do documentário, o espectador vai descobrindo que Luiz Melodia era firme em suas escolhas. Doce ao bancar suas decisões. Inteligente em ler e entender o mercado fonográfico. E poético ao criar e levar o resultado ao público, que hoje pode desfrutar de registros e repertório incríveis (que passam por duetos memoráveis a trilhas de novela inesquecíveis).
Direção: Alessandra Dorgan
Direção musical: Patricia Palumbo
Produção: Big Bonsai, coprodução MUK Produções e Plate Filmes
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas
Duração: 1h15
Classificação: Livre
País: Brasil
Gênero: Documentário