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17 setembro 2021

"Mate ou Morra" - ficção com muita ação e violência, mas excesso de piadas fracas

Frank Grillo vive um ex-agente das forças especiais que revive sua morte centenas de vezes (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


A proposta de "Mate ou Morra" ("Boss Level") é uma incógnita. Não dá para saber se o diretor Joe Carnahan queria entregar uma comédia com muita ação ou um filme com violência exagerada que lembra demais outra ficção que, no entanto tem uma produção muito melhor - "No Limite o Amanhã" (2014), com Tom Cruise e Emily Blunt. Ou ainda, somente explorar o tema do loop temporal, empregado em outras produções como "Feitiço do Tempo" (1993), com Bill Murray, e "Contra o Tempo" (2011), com Jake Gyllenhaal.


"Mate ou Morra", que entrou em cartaz nos cinemas nessa quinta-feira, começa com muita ação, mas é confuso. À medida que as cenas vão acontecendo, narradas pelo "mocinho", interpretado por Frank Grillo, fica mais fácil para o público compreender o enredo. Grillo é Roy Pulver, um ex-agente das forças especiais que se entregou à bebida. Ele é forçado a reviver sua morte dezenas de vezes, enquanto tenta entender o que provocou esse retorno no tempo, como sair dele e como defender sua família.


As mortes são das formas mais variadas e violentas, algumas chegam a ser cômicas de tão surreais. Pulver é caçado por assassinos e precisa aprender, a cada morte, como escapar dela na sua próxima vida. Frank Grillo é mais conhecido como coadjuvante em blockbusters como "Capitão América: O Soldado Invernal" (2014), "Capitão América: Guerra Civil" (2016) e "Vingadores: Ultimato" (2019), além da franquia "Uma Noite de Crime". Além de ator principal é também um dos produtores executivos de "Mate ou Morra".


O chamariz para a produção fica mesmo para nomes como Naomi Watts ("Vice" - 2018), que interpreta a ex-esposa de Roy Pulver, e o ator e diretor Mel Gibson, de "O Gênio e o Louco" (2019) e "Até o Último Homem" (2016), ambos mal aproveitados. Gibson entrega boa atuação como o empresário cruel e inescrupuloso Clive Ventor. 

O filme conta também com as participações de Selina Lo (a lutadora de espada Guan Yin que repete várias vezes seu nome numa frase bem cansativa); Annabelle Wallis (protagonista de "Maligno"); Michelle Yeoh ("Podres de Rico" - 2018), Will Sasso, Sheaun McKinney, Ken Jeong e até mesmo Rio Grillo, filho do ator na vida real.


A trilha sonora é um ponto positivo, bem adequada e dá a movimentação que o filme necessita. Bom figurino, cenas de ação bem realistas e Frank Grillo bem à vontade no papel, passando simpatia e a impressão de que está se divertindo. O mesmo valendo para Mel Gibson, ao contrário dos outros integrantes do elenco que parecem estar ali para cumprir tabela.

Não dá para esperar muito da produção, vale como distração e pode agradar ao público que gosta de violência tosca, associada a muito tiro, porrada, bomba e boas perseguições. Apesar da história fraca e cheia de furos, "Mate ou Morra" segura o público até o final, especialmente pela curiosidade em saber o que vai acontecer com Roy depois de tanta matança. Mas aí o diretor peca novamente, pelo menos na versão que está nos cinemas brasileiros. Em breve, quando estrear na Prime Video, o público verá um final diferente (o que foi exibido nos EUA).


Ficha técnica
Direção: Joe Carnahan
Produção: California Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Suspense /Ficção
Nota: 3,5 (0 a 5)

22 abril 2019

"O Gênio e o Louco", uma irresistível e contundente demonstração de amor à palavra

Mel Gibson e Sean Penn interpretam os criadores do famoso dicionário inglês Oxford (Fotos: Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Pessoas que gostam de - ou trabalham com - palavras não devem perder a mais recente empreitada de Mel Gibson, que conseguiu colocar nas telas um projeto com o qual sonhava desde 1998, quando leu "O Gênio e o Louco" ("The Professor And The Madman"), de Simon Winchester, e imediatamente adquiriu os direitos autorais da obra. O livro, que conta a história da real criação do primeiro dicionário inglês de Oxford, joga luz sobre um episódio histórico sui generis que, certamente, mudou os rumos da humanidade e, de certa forma, apontou caminhos para o que hoje conhecemos como gramática, literatura, linguagem, poesia. Enfim, o mundo das letras. Mas não só ele.


Contam que Gibson, que além de ator é um dos produtores do filme "O Gênio e o Louco", é obstinado. E obstinação, quase obsessão, é uma das tônicas do personagem que ele próprio interpreta: o professor James Murray que, em 1857, se dispõe, com a ajuda de uma pequena equipe, a catalogar e definir todas as palavras da Língua Inglesa. Como a tarefa era praticamente impossível de ser cumprida, Murray pediu ajuda de voluntários que, pelo correio, sugeriam palavras e definições. Entre esses voluntários, chama a atenção a colaboração de um certo Doutor W.C Minor, que contribui brilhantemente com mais de 10.000 verbetes. Com um detalhe: de dentro de um hospício para criminosos.


Convenhamos: o fato que deu origem ao livro e ao filme é, por si só, deliciosamente tão inverossímil quanto genial. E genial está também a atuação de Sean Penn, que se entregou de corpo e alma ao atormentado Minor, deixando confuso o público, que balança entre a admiração, a compaixão e o medo do criminoso louco que ele criou. As poucas cenas em que Gibson e Penn contracenam seriam suficientes para se indicar o filme, mas há outros motivos que tornam "O Gênio e o Louco" imperdível.


Além do resgate de uma verdade histórica, o longa merece aplausos também pela excelente reconstituição de época, pelos figurinos, pela iluminação cuidadosamente fraca como convinha aos anos de 1800 e pelas corretas interpretações de coadjuvantes como Natalie Dormer, no papel de Eliza Merret, viúva do homem assassinado por Minor, e Jennifer Ehle, como Ada Murray - a nos fazer lembrar que há sempre grandes mulheres envolvidas em grandes projetos, mesmo que elas nem sempre tenham o destaque merecido. Na verdade, todo o elenco está brilhante.


"O Gênio e o Louco" não é um filme leve. Nem fácil. Há tensão, dúvidas, mistérios, violência, ignorância. Mas tudo acaba ficando em segundo plano diante da obsessão e, principalmente, do amor de Murray e Minor pelas palavras. Essa parece ser também a obsessão de Farhad Safinia, o diretor iraniano-americano que conseguiu equilibrar com talento a tênue linha que separa a genialidade da loucura. Afinal, é a linguagem que nos torna diferentes dos bichos.
Duração: 2h04
Classificação: 14 anos
Distribuição: Imagem Filmes


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