Longa de terror em que todas as figuras masculinas são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear (Fotos: Paris Filmes/Divulgação) |
Carolina Cassese
Blog no Zint Online
Os homens são todos iguais. Tal máxima se torna bastante literal em "Men - Faces do Medo", o mais novo filme de Alex Garland, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (8). O longa de terror é centrado na história de Harper (Jessie Buckley), que, após passar por um término traumático, decide alugar uma casa no interior da Inglaterra com o intuito de passar um tempo sozinha. No entanto, diversos acontecimentos desestabilizadores atrapalham seu processo de cura.
O motivo da frase "os homens são todos iguais" ser relevante para o longa é bastante simples: em "Men", todas as figuras masculinas (o anfitrião da casa, a criança problemática da cidade, o vigário, o policial, o barman, o freguês do bar) são interpretados pelo mesmo ator, o excelente Rory Kinnear.
Se levarmos em conta a figura do policial e do vigário, podemos considerar como eles também representam instituições que em determinados momentos históricos não ficaram necessariamente ao lado das mulheres.
O vigário, ao conversar com Harper sobre a violência que ela sofreu, chega a dizer: "Isso acontece, os homens batem nas mulheres às vezes" Logo em seguida, seu discurso permanece carregado de culpabilização.
Além de serem iguais na aparência, outra inegável semelhança entre esses personagens é o fato de eles não darem muito valor às palavras da protagonista, em especial quando Harper pede ajuda por estar sendo perseguida (o stalker da protagonista, claro, é também interpretado por Rory Kinnear).
O policial, por exemplo, não parece estar muito interessado em prevenir que algo aconteça com ela, apenas em "remediar" - retrato de uma sociedade que está disposta a punir, mas não a discutir questões de gênero e nem mesmo a proteger as mulheres quando necessário.
Boa parte das cenas de terror advém da perseguição que a protagonista sofre, ambientada primordialmente no espaço da casa. Há um sentimento de incômodo desde as primeiras cenas, quando o anfitrião apresenta seu espaço para Harper. Ele não sabe bem o que falar e ela tampouco tem certeza do que responder.
Essa sensação de desconforto permanece em todo o filme, já que a personagem principal não consegue ficar realmente sozinha e refletir sobre sua vida. Ela parece não ser "autorizada", portanto, a passar por seu processo de cura.
Pode ser que o espectador se lembre um pouco da protagonista do longa "Homem Invisível" (2020), de Leigh Whannell, que também é atormentada por uma “aberração” masculina e praticamente não consegue ficar consigo mesma sem ser importunada. Essas mulheres, então, lutam também pelo direito à privacidade.
Outro filme que pode vir a mente é a animação "Anomalisa" (2015), de Charlie Kaufman e Duke Johnson, no qual vemos vários personagens iguais (com o mesmo desenho e, claro, a mesma dublagem).
Não é possível chamar a crítica que "Men" realiza de sutil, já que as metáforas são bem carregadas e até mesmo repetitivas. O diretor parece ainda não estar muito preocupado em apresentar soluções para o problema, apenas em evidenciá-lo. De qualquer maneira, é interessante perceber que filmes de terror agora tratam de temas sociais com mais frequência e, inclusive, são capazes de realizar críticas contundentes (o que acontece nos longas de Jordan Peele, por exemplo).
Definitivamente, não dá pra dizer que Garland deixa o espectador indiferente. Todos esses homens são, de fato, aterrorizantes (de jeitos diferentes e, ao mesmo tempo, muito similares). Eles não apenas representam várias esferas da sociedade, como também diversos tipos de violência. A partir da metade do filme, o espectador provavelmente ficará mais tenso e preso na história, que se aproxima do gênero terror.
Mesmo que algumas cenas sejam um pouco óbvias (e talvez “sobrem”), "Men" conta com atuações espetaculares e cenas angustiantes, além de ser um verdadeiro estudo do trauma - emoção que, para a personagem, já é por si só bastante assustadora.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Alex GarlandProdução: DNA Films / A24
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / drama