Mostrando postagens com marcador #MiaWasikowska. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #MiaWasikowska. Mostrar todas as postagens

22 abril 2024

“Clube Zero” provoca com questões alimentares e alienação

Filme da diretora austríaca Jessica Hausner apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada enquanto a trama desenrola temas pesados (Fotos Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Uma sátira sobre modinhas alimentares e os perigos do enfraquecimento dos laços entre pais e filhos no mundo moderno. Esta pode ser uma das definições de “Clube Zero”. A produção austríaca, indicada à Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2023, chega os cinemas brasileiros no dia 25 de abril, distribuído pela Pandora Filmes. 

Dirigido por Jessica Hausner, o longa apresenta uma fotografia geometricamente trabalhada, com cores vibrantes, enquanto a trama desenrola temas pesados. É a perfeição diante dos olhos escondendo verdades dolorosas. Uma proposta de um jogo provocativo para o espectador. 


Na trama, Miss Novak, protagonizada por Mia Wasikowska ("A Ilha de Bergman" - 2022 e "A Despedida" - 2021) é uma professora de nutrição recém-chegada a uma escola de alta classe. A admiração dos alunos por ela é percebida logo nas primeiras cenas. Mas o método baseado em comer cada vez menos se torna uma ameaça à tranquilidade da instituição de ensino e dos pais.  

O espectador acompanha algumas cenas como se observasse câmeras de vigilância, posicionadas nas quinas, no alto. E, aos poucos, elas se aproximam, enquanto exibem o método de conquista dos adolescentes e o desenvolvimento daquele conceito estranho de nutrição. 


Mesmo sem aprofundar em alguns pontos, o longa pode fazer o público concordar com a proposta em alguns momentos, por serem utilizados argumentos baseados em defesa ambiental e na conquista de uma imagem socialmente aceitável.

Rapidamente se nota que ali pode estar nascendo uma seita. O grupo vive o conceito de “alimentação consciente” como o elemento que os torna parte integrante de alguma coisa (algo que, como sabemos, todo adolescente deseja). 

A expressão doce da professora Novak contrasta com os temas que a obra tenta pincelar (bulimia, distanciamento dos pais e falta de capacidade dos jovens para contestar verdades consolidadas). 


E a adesão dos jovens é tanta que, eles mesmos, se tornam multiplicadores daquelas regras, pressionando e excluindo quem não segue a cartilha. A repulsa que o público vai experimentando ao longo do filme vai sendo dissolvida no núcleo familiar do aluno bolsista, que inicialmente não adere àquela proposta e come livremente. 

O personagem Ben (vivido por Samuel DeClan Anderson) escolheu participar daquela disciplina para obter a pontuação necessária para uma bolsa integral na escola. Filho de mãe solteira, é pelo alívio financeiro da mãe (papel comovente de Amanda Lawrence), que ele se permite seguir a manada. A mãe de Ben é o ponto de sensatez na obra. E ela invade, com cores e verdade, o ambiente alienado e asséptico dos pais ricos. 


E aí a acidez da diretora Jessica Hausner ganha mais volume. A posição da educadora, a falta de capacidade cognitiva dos pais e a forma escolhida para tentar resgatar os filhos daquela lavagem cerebral expõem uma realidade social que parece ter escala mundial. E é preciso ter estômago pra encarar essa mensagem (e algumas cenas finais também). 

Na construção da história dessa seita, na qual o ato de fé consiste em abrir mão daquilo que nos mantém de pé, vivos, a diretora volta seus olhos para a religião, para provocar o espectador com uma das obras mais conhecidas de toda a história. Resta saber se o público vai engolir essa brincadeira. 


Ficha técnica:
Direção:
Jessica Hausner
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
Países: Alemanha, Áustria, Catar, Dinamarca, França, Reino Unido
Gêneros: drama, suspense

21 fevereiro 2022

“A Ilha de Bergman”: filme cabeça e metalinguagem para lembrar a obra do genial diretor sueco

O filme se passa na ilha de Fårö, na Suécia, onde o cineasta passou boa parte de sua vida (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Fårö fica no Mar Báltico, a alguns quilômetros de Gotland, na Suécia. É a segunda maior ilha da província, com 5 quilômetros de comprimento e o nome se escreve assim, com uma estranha acentuação no “a” e trema no “o”.

Mas o que a torna famosa é o fato de ter sido, por muito tempo, o refúgio do angustiado Ingmar Bergman, que realizou ali muitas de suas obras. E hoje o lugar volta à cena, por ter sido motivo e inspiração para “A Ilha de Bergman” (“Bergman Island”), em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (24).


Não é preciso ser profundo conhecedor de Bergman para assistir ao longa dirigido pela francesa Mia Hansen-Løve (“O Que Está Por Vir” – 2016). Até porque não se trata propriamente de uma homenagem ao diretor, embora se passe na ilha, mostrando e citando ideias dele. Na verdade, trata-se mais de uma reflexão sobre o difícil processo de criação na arte e como ele pode se confundir com a própria vida do artista.

O casal americano Chris (Vicky Krieps) e Tony (Tim Roth) chega à ilha em busca de inspiração para seus próximos trabalhos. Ambos são cineastas – ele, mais velho e reconhecido. Ela, jovem em início de carreira, planejando escrever um roteiro. Pelo que se pode perceber, o relacionamento entre os dois não anda bem, mais entediado do que em crise.


Aos poucos, eles vão descobrindo o lugar que, planejado para fãs de Ingmar Bergman e turistas curiosos, é cheio de referências ao diretor que, aos 42 anos, já havia criado e dirigido 25 filmes. Estão lá a árvore de “Gritos e Sussurros” (1972), o piano da quarta mulher do cineasta, o quarto onde foi filmado “Cenas de um Casamento” (1973)...

Todos falam muito do diretor, do que ele gostava, no que acreditava. Há até um estranho safari de ônibus, com guia, visitando as locações. E uma sala de projeção onde passam os filmes dele.


“A Ilha de Bergman” não é um filme de fácil assimilação, daqueles que contam uma história com começo, meio e fim. Com roteiro da própria diretora, as cenas se arrastam entre passeios de bicicleta, diálogos e paisagens e, a certa altura, o espectador é surpreendido com cenas de “O Vestido Branco”, que está sendo escrito pela jovem Chris, um filme dentro do filme – pura metalinguagem. E, claro, em algum momento, ficção e realidade se misturam e os personagens se confundem. É interessante. Mas não prende muito e demanda certa atenção.


Além do casal, estão no filme, em participações menores, Hampus Nordensen como Hampus, uma espécie de flerte de Chris na ilha; Mia Wasikowska como a Amy, do filme dentro do filme; e Anders Danielsen Lie – ora como Joseph, ora como Anders, dependendo da obra focada no momento.

O final – os finais, melhor dizendo – são reticentes e inconclusos. Pode frustrar, mas há quem goste. E, no fundo, não deixa de ser uma forma de se lembrar das muitas obras-primas do grande Ingmar Bergman.


Ficha técnica:

Direção e roteiro: Mia Hansen-Løve

Distribuição: Pandora Filmes

Exibição: nos cinemas

Duração: 1h52

Classificação: 14 anos

Países: França, Bélgica, Alemanha, Suécia, México

Gênero: drama

30 março 2021

"A Despedida" faz chorar de emoção com boas interpretações, bela fotografia e trilha sonora com clássicos

Susan Sarandon e Kate Winslet são os destaques no drama sobre vida e morte dirigido por Roger Michell (Fotos: California Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


Prepare o lencinho para a estreia nesta quarta-feira (31/03) nas plataformas digitais do drama "A Despedida" ("Blackbird"), que reúne um elenco com interpretações envolventes, uma fotografia que encanta e uma trilha sonora perfeita. Dirigido por Roger Michell, o filme tem em seu elenco principal as premiadas com o Oscar Susan Sarandon e Kate Winslet dando show cada vez que aparecem. Não são poucos os momentos que levam as pessoas a ficarem com os olhos marejados graças a essas duas atrizes, que receberam um bom suporte com as atuações dos demais integrantes do grupo. 


Susan Sarandon é a peça chave do filme, no papel de Lily, uma mulher de quase 60 anos inteligente e espirituosa, que tem uma doença terminal. Ela se acha perfeita e por ter sido controladora a vida inteira decide quando e como será seu fim. Não quer que a família tenha pena de seu estado e que permaneça estruturada (o que nunca foi) após sua partida. Até na vida de sua melhor amiga Liz (Lindsay Duncan) ela interfere.


Lily e o marido Paul (Sam Neill) se preparam para um fim de semana com as filhas, o neto e companheiros das filhas, além de Liz.  Apesar de sua mobilidade prejudicada, Lily insiste em preparar tudo sozinha, numa comemoração de despedida, já que pretende antecipar sua morte com a ajuda do marido médico para não sofrer com a degeneração do corpo e da mente. Entre jantares, jogos de adivinhação e passeios na praia, a família vai tentando fingir que tudo aquilo é "normal".


Mas, à medida que as horas avançam, os dramas vão surgindo, assim como os segredos do passado e do presente. E é aí que entra o outro peso-pesado do filme, Kate Winslet, no papel da filha mais velha, Jennifer. Tentando sempre ser reconhecida pela mãe e um retrato dela, controla o marido e filho (ou pelo menos acha isso) e tem sérios conflitos com a irmã caçula Anna (Mia Wasikowska). 


Jennifer é uma mulher insatisfeita emocionalmente e sexualmente e no fundo, apesar de ter concordado com a morte prematura da mãe, não aceita e não se sente segura com a perda. Winslet está ótima no papel, quase irreconhecível com grossos óculos e usando roupas que a deixam com aspecto de uma mulher bem mais velha - está mais para irmã de Lily que para sua filha.


Outra que se sai bem no papel é Mia Wasikowska, uma mulher frágil, insegura, cheia de mágoas, que mantém uma relação instável com Chris (Bex Taylor-Klaus), uma jovem de comportamento adolescente, mas que segura a barra da companheira mesmo nos momentos difíceis. Mia e Winslet também entregam bons diálogos, especialmente quando Anna e Jennifer discutem a relação entre elas e com a mãe. 

Chama a atenção o fato de o pai sempre ficar de fora quando o assunto é relacionamento. Como se ele fosse apenas um coadjuvante da família. A força toda do filme está nas mulheres da família, especialmente nos conflitos, e os homens da trama são deixados de lado. Isso fica claro na postura de Paul, no casamento de Jennifer com Michael (Rainn Wilson) e na relação dela com o filho Jonathan (Anson Boon). Eles só ganham mais espaço no final, em parte por interferência de Lily, como sempre.


Sam Neill especialmente merecia mais destaque, uma vez que interpreta o marido apaixonado pela esposa, mas resignado por sua decisão, que o coloca como o responsável por planejar todo o procedimento médico. Sofre calado pelos cantos da casa, ao mesmo tempo em que tem de parecer seguro para dar o suporte à família para o que está por vir. 

O certo é que à medida que o fim de semana vai chegando ao final, o clima se torna cada vez mais tenso. O que antes era um acordo familiar passa a ser descartado pelas filhas e a despedida de Lily pode não ser tão pacífica como ela planejou.


Outro destaque de "A Despedida" é a bela trilha sonora, que conta com clássicos de Bach e Mozart, além de solos de violino e piano. Também a fotografia é um ponto alto. Apesar de ter poucas locações, com a maioria das cenas feitas dentro da casa, as externas são numa região a beira-mar com lindas praias e caminhos de pedra pela encosta que garantem boas imagens, inclusive do pôr do sol. 

Encantador e envolvente trata-se de um filme que faz pensar sobre morte e o que se leva dessa vida. Recomendo demais. "A Despedida" estará disponível para locação, no Now, iTunes, Google Play, Youtube Filmes, Vivo Play e Sky Play.


Ficha técnica:
Direção: Roger Michell
Exibição: Plataformas digitais para locação
Distribuição: California Filmes
Duração: 1h37
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gênero: Drama
Nota: 4 (de 0 a 5)