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14 setembro 2023

“A Noite das Bruxas” traz o sobrenatural para o universo do detetive Hercule Poirot

Filme com clima fantasmagórico refresca obra de Agatha Christie com algumas liberdades artísticas (Fotos: 20th Century Studios)


Eduardo Jr.


As adaptações de livros para as telonas ganharam mais um capítulo. A obra da vez leva a assinatura de uma velha conhecida de muitos leitores - e cinéfilos: Agatha Christie. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas, “A Noite das Bruxas” (“A Haunting in Venice”), distribuído pela 20th Century Studios. 

O filme é dirigido e protagonizado por Kenneth Branagh ("Assassinato no Expresso do Oriente", 2017), e se veste de certas liberdades sobre as páginas da escritora britânica.    


Como não poderia deixar de ser, o longa traz a tradicional pergunta “quem matou?”. Mas esta é uma das poucas características mantidas em relação ao livro “Hallowe’en Party”, lançado em 1969. 

Autorizados por James Prichard, bisneto de Agatha Christie e produtor executivo do longa, Branagh e o roteirista Michael Green deixaram de lado a história original, em que uma garota conhecida por revelar assassinatos é encontrada morta em uma bacia com maçãs durante uma festa de Halloween. 


Em “A Noite das Bruxas”, a direção optou por apresentar essa morte como uma queda do alto de um casarão amaldiçoado. O evento pode ter sido motivado por fantasmas ou por alguém do mundo dos vivos. Outra mudança foi a de levar para a Itália a história que originalmente se passa na Inglaterra. 

Na trama, o detetive Hercule Poirot está aposentado e vive em Veneza, se esquivando dos pedidos dos moradores para solucionar casos complexos. Até que ele é convidado pela amiga e escritora Ariadne Oliver, personagem de Tina Fey (da série do Star+ "Only Murders in the Building", 2022) para uma sessão espírita.


A sessão será conduzida pela famosa médium Joyce Reynolds, vivida por Michelle Yeoh ("Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo", 2022). E o que era uma missão para desmascarar uma médium, se transforma em uma investigação de assassinato com pitadas de thriller fantasmagórico.  

São apenas pitadas porque, embora o título “A Noite das Bruxas” evoque algum terror, o filme apresenta poucas cenas de susto. E o ceticismo do detetive também colabora para desafiar a possibilidade de o sobrenatural interferir no mundo dos vivos. Até que as crenças dele começam a ser desafiadas, mexendo com a cabeça do espectador.  


O longa inicia com uma determinada atmosfera e depois vai se transformando. Isso porque as cenas iniciais são mais solares e o protagonista é apresentado como figura metódica (quase cômica, eu diria) com suas manias e atração por doces. 

A música clássica também traz um clima de suspense, que dura pouco, por causa da encenação infantil preparada para a festa das bruxas. Mas não se engane, embora seja um teatrinho pra crianças, esta é só uma deixa do que está por vir. 


Apesar dessas percepções, este é o longa que melhor apresenta o clima das obras de Agatha Christie e o detetive Hercule Poirot na trilogia feita por Branagh. Explico: esta é a terceira vez que o ator e diretor irlandês adapta uma obra da escritora britânica. 

Além de “Assassinato no Expresso Oriente”, ele também adaptou e dirigiu “Morte no Nilo” em 2022, ambos no catálogo da Star+. Agora, a escolha de filmar em um casarão sombrio durante uma tempestade, com câmeras posicionadas de forma a reforçar que ali as coisas estão fora do normal, tira o público do estado de relaxamento. 


Soma-se a isso o jogo de investigação, a dúvida sobre a ocorrência ou não de eventos sobrenaturais, o questionamento da própria sanidade mental e o incômodo de suspeitar de todas as personagens - eu disse TODAS, sem exceção. 

Pode não ser a melhor adaptação de Agatha Christie, mas a diversão é garantida - e o final guarda surpresas. 


Ficha técnica:
Direção: Kenneth Branagh
Produção: Scott Free Productions, 20th Century Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h43
Classificação: 12 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: suspense, policial, drama

13 março 2023

Oscar 2023 - "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" leva sete estatuetas

(Divulgação)


Maristela Bretas


"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" ("Everything Everywhere All at Once") foi o grande vencedor da 95ª edição do Oscar como Melhor Filme.

Com sete estatuetas conquistadas das 11 indicações recebidas, a obra mistura comédia, multiversos e relacionamentos familiares de uma imigrante chinesa, interpretada por Michelle Yeoh.

Além de Melhor Filme, a obra levou os prêmios de Melhor Direção, Atriz, Ator e Atriz Coadjuvantes, Montagem e Roteiro Original.

A produção vencedora, dirigida por Daniel Scheinert e Daniel Kwan, foi anunciada por Harrison Ford, que abriu falando sobre a importância da volta ao cinema.

"Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"
(Crédito: A24)

A cerimônia de entrega dos Academy Awards ocorreu no Teatro Dolby, em Los Angeles, na Califórnia, e contou, pela terceira vez, com apresentação de Jimmy Kimmel.

Ele desceu de paraquedas no palco, após uma montagem em que ele se ejeta do avião de Tom Cruise, em "Top Gun - Maverick".

Outra boa surpresa da noite foi a conquista de quatro estatuetas pela produção alemã "Nada de Novo no Front”.

"Nada de Novo no Front” (Crédito: Netflix)

Confirmando as apostas, Jessica Chastain e Halle Berry anunciaram Brendan Fraser como vencedor do prêmio de Melhor Ator por "A Baleia". Muito emocionado, ele agradeceu a oportunidade que ajudou a salvar sua vida, depois de um período difícil.

Elas também anunciaram a categoria de Melhor Atriz, prêmio entregue a Michelle Yeoh por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo". Ela é a primeira atriz asiática a ganhar um Oscar e ofereceu o prêmio à mãe, de 84 anos, que mora na Malásia, e à família, em Hong Kong.

Brendan Fraser - "A Baleia" (Crédito: Califórnia Filmes)

Premiação

O primeiro prêmio entregue na noite foi para Melhor Animação, que ficou para "Pinóquio", de Guillermo del Toro, confirmando a preferência da produção.

Para Melhor Ator Coadjuvante, Ke Huy Quan, iniciado no cinema com produções como "Os Goonies" (1985) e "Indiana Jones - A Última Cruzada" (1989) abriu as premiações para "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo".

O filme levou, na sequência, sua segunda estatueta, com a escolha de Jamie Lee Curtis como Melhor Atriz Coadjuvante. Ela agradeceu à família e disse que o prêmio é de toda a equipe. Este é o primeiro Oscar da atriz.

Jamie Lee Curtis "Tudo em Todo o Lugar
ao Mesmo Tempo" (Crédito: A24)

Curiosidades

Um momento emocionante da cerimônia foi o Parabéns para você entoado por toda a equipe e platéia ao ator de "An Irish Goodbye", filme que ficou com a estatueta de Melhor Curta-Metragem.

Jennifer Connelly e Samuel L. Jackson apresentaram o vencedor da categoria de Melhor Cabelo e Maquiagem, agradecendo aos profissionais que sempre ajudaram os atores a entrarem em seus papéis. "A Baleia" levou a estatueta, segunda da produção.

Jimmy Kimmel voltou ao palco trazendo Jenny, a burrinha do filme "Os Banshees de Inisherin". Apesar do sucesso com o público presente, não ajudou o filme a conquistar premiações.

"Avatar: O Caminho da Água"
(Crédito: 20th Century Studios)

Elizabeth Banks e o urso do filme "O Urso do Pó Branco" apresentaram "Avatar: O Caminho da Água" como vencedor de Melhores Efeitos Visuais.  

E foi a dançante "Naatu Naatu" (do indiano "RRR") , composta por M. M. Keeravani, a escolhida como Melhor Canção Original. Ela superou "Hold My Hand", do filme "Top Gun: Maverick", interpretada por Lady Gaga, e "Lift Me Up", música-tema de "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre", cantada por Rihanna.

Vencedores da 95ª edição do Oscar:

MELHOR FILME
- Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo (em exibição no Prime Vídeo)

MELHOR DIREÇÃO
- Daniel Kwan & Daniel Scheinert, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

Michelle Yeoh - "Tudo em Todo o Lugar
ao Mesmo Tempo" (Crédito: A24)

MELHOR ATOR
- Brendan Fraser, por "A Baleia" (em exibição nos cinemas)

MELHOR ATRIZ
- Michelle Yeoh, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

MELHOR ATOR COADJUVANTE
- Ke Huy Quan, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
- Jamie Lee Curtis, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
- Daniel Kwan & Daniel Scheinert, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

"Entre Mulheres" (Crédito: Orion Releasing)

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
- Sarah Polley, por "Entre Mulheres" (em exibição nos cinemas)

MELHOR FOTOGRAFIA
- James Friend, por "Nada de Novo no Front" (em exibição na Netflix)

MELHOR TRILHA SONORA
- Volker Bertelmann, por "Nada de Novo no Front"

MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
- M. M. Keeravani - "Naatu Naatu" (de 'RRR")

MELHOR EDIÇÃO/MONTAGEM
- Paul Rogers, por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo"

"Pantera Negra: Wakanda Para Sempre"
(Crédito: Disney)

MELHOR FIGURINO
- Ruth E. Carter, por "Pantera Negra: Wakanda Para Sempre" (em exibição no Disney+)

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE
- Nada de Novo no Front

MELHOR CABELO & MAQUIAGEM
- A Baleia

MELHOR SOM
- Top Gun: Maverick (em exibição no Telecine e Paramount+)

"Top Gun: Maverick" (Crédito: Paramount Pictures)

MELHORES EFEITOS VISUAIS

MELHOR ANIMAÇÃO EM LONGA METRAGEM
- Pinóquio, de Guillermo Del Toro (em exibição na Netflix)

MELHOR ANIMAÇÃO EM CURTA METRAGEM
- "O Menino, a Toupeira, a Raposa e o Cavalo" (em exibição na AppleTV+)

MELHOR CURTA METRAGEM EM LIVE-ACTION
- An Irish Goodbye

"Nada de Novo no Front" (Crédito: Netflix)

MELHOR FILME INTERNACIONAL
- Nada de Novo no Front (Alemanha)

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM
- Navalny

MELHOR DOCUMENTÁRIO EM CURTA-METRAGEM
- "Como Cuidar de um Bebê Elefante" (em exibição na Netflix)

20 julho 2022

"Minions 2 - A Origem de Gru" garante boas gargalhadas, vilões divertidos, ótima trilha sonora e até homenagem ao kung-fu

Os amarelinhos mais divertidos do planeta e seu malvado chefe favorito estão de volta numa batalha divertida contra supervilões (Fotos:Universal Pictures)


Maristela Bretas


Pode até parecer que "Minions 2 - A Origem de Gru" ("Minions: The Rise of Gru"), a nova animação da Universal Pictures, é uma continuação da franquia "Meu Malvado Favorito". Mas o segundo filme com os amarelinhos mais loucos do planeta é tão divertido ou mais que seu antecessor, "Minions", de 2015. Prova disso é o sucesso de bilheteria da produção, que atingiu a casa dos 400 milhões de dólares desde sua estreia no dia 30 de junho, ameaçando inclusive a liderança de "Top Gun: Maverick".


Nossos amiguinhos de olhos grandes estão mais atrapalhados que nunca, especialmente porque finalmente se uniram a seu líder definitivo, Gru (novamente com excelente dublagem em português de Leandro Hassum e na versão legendadas com a voz do indicado ao Oscar, Steve Carell). 

A nova produção dá continuidade à história que começou no primeiro filme. O vilão, com apenas 12 anos, quer provar que pode ser o maior de todos e entrar para uma quadrilha de grandes vilões - a Vicious 6.


Os Minions (cujas vozes inconfundíveis são do diretor da franquia, Pierre Coffin) continuam fofos e encantadores e o enredo do filme foca em quatro deles - Stuart, Kevin, Bob e Otto. Este último é um jovem que usa aparelho nos dentes, se distrai com qualquer coisa diferente ou colorida e tem uma necessidade desesperada de agradar.

Junto com os demais irmãos, eles constroem o primeiro esconderijo de seu adorado chefe, projetam suas primeiras armas e unem forças para executar as primeiras missões sob as ordens do nosso adolescente malvado favorito, que não lhes dá o devido valor.


Gru tem outros planos e tenta se separar de seus aliados para entrar no sexteto de supervilões que tinha acabado de expulsar seu líder Wild Knuckles, considerado muito velho para continuar no grupo. Recusado e humilhado pelo grupo por ser considerado criança e baixinho, ele rouba da gangue um importante artefato que dá poderes a quem o possuir.

Um pequeno "deslize" do inocente, mas divertidamente desastrado Oto faz com que Gru também perca o objeto e tem adiado seus planos de se tornar um supervilão. Para piorar, passa a ser perseguido, junto com seus amiguinhos amarelos, pelos integrantes da Vicious 6.


Essa perseguição é uma das mais loucas e engraçadas e atravessa o país. Gru, separado de seus amigos, procura um mestre que lhe ensine a arte da vilania. Enquanto isso, Kevin, Stuart e Bob tentam achar seu chefe e até kung-fu eles irão aprender. Essa é uma das partes mais hilárias do filme. E o fofo Oto, separado de todos, vai viver inesquecíveis aventuras, enquanto tenta recuperar o objeto que perdeu.

"Minions 2 - A Origem de Gru" explica várias situações do primeiro filme da franquia "Meu Malvado Favorito" (2010) - quem assistiu vai entender. Em meio a situações engraçadas, o filme explora também as fraquezas dos personagens. Especialmente Gru, que sente a falta de uma figura paterna que lhe ensine e o apoie em suas descobertas no mundo das malvadezas.


Já os Minions continuam querendo agradar e proteger seu líder, mas precisam encontrar sua força interior. Para isso vão contar com a acupunturista Master Chow (voz de Michelle Yeoh) os ensinamentos do kung fu. O filme também presta homenagem a esta arte marcial e ao trabalho no cinema de artistas como Jackie Chan, em “O Mestre Invencível”, e Stephen Chow, em “Kung-Fusão” e “Kung Fu Futebol Clube”.

Até mesmo o ex- líder do Vicious 6 sofre por ter sido abandonado por seus antigos comparsas por ser considerado velho. Ele também quer encontrar quem lhe dá valor, apesar da idade e divida os momentos de vilania. Ninguém melhor para dar voz ao personagem Wild Knuckles do que o vencedor do Oscar, Alan Arkin. 

O filme também vai apresentar o jovem Dr. Nefário, aspirante à cientista maluco que ninguém dá crédito, estrelado por Russell Brand, e a atriz vencedora do Oscar, Julie Andrews, como a mãe egocêntrica de Gru, outro de seus traumas.


Na versão legendada de "Minions 2 - A Origem de Gru" o expectador poderá conferir as vozes de grandes astros, emprestadas aos personagens. No Vicious 6, Taraji P. Henson é a líder descolada e confiante Belle Bottom, cujo cinto de correntes funciona como um globo de discoteca letal. 

Jean-Claude Van Damme é o niilista Jean Clawed, armado com uma garra robótica gigante; Lucy Lawless é Nunchuck, cujo hábito de freira esconde seus mortais bastões nun-chuck; Dolph Lundgren é o campeão sueco de patins Svengeance, que elimina seus inimigos com chutes giratórios de seus patins afiados; e Danny Trejo é Stronghold, cujas mãos de ferro gigantes são uma ameaça para os outros e um fardo para ele próprio.


Outro ponto superpositivo é a trilha sonora arrebatadora dos anos 1970, quando a era Disco estava arrasando. A produção musical ficou sob a responsabilidade do vencedor do Grammy, Jack Antonoff. A trilha sonora do filme está disponível nas principais plataformas digitais: Confira um pouco clicando aqui

Diana Ross ft. Tame Impala lidera o álbum com o alegre e dançante primeiro single, “Turn Up The Sunshine”. O clipe da música já está com mais de 3,3 milhões de visualizações no Youtube. 

"Minions 2 - A Origem de Gru" é acima de tudo um filme muito divertido sobre amizade, lealdade e respeito, com vilões e monstros coloridos e personagens engraçados. Uma diversão para a família toda e todas as idades. Imperdível.


Ficha técnica:
Direção:
Kyle Balda e Brad Ableson
Produção: Illumination Entertainment / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, família, ação

23 junho 2022

"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" é sobre a beleza e o multiverso das relações familiares

Michelle Yeoh é a protagonista desta comédia visionária, que beira o absurdo, capaz de prender do início ao fim (Fotos: Diamond Films)


Marcos Tadeu
blog Narrativa Cinematográfica


Daqueles filmes que você não espera nada e sai extasiado. Pois essa é a definição de "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" ("Everything Everywhere All at Once"), que estreia oficialmente nos cinemas nesta quinta-feira. Aclamado pela crítica com um alto índice de aprovação no Rotten Tomatoes de 96%, o longa é dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert, com produção dos irmãos Joe e Antony Russo ("Vingadores: Ultimato" - 2019) e da A24.


Na história conhecemos Evelyn Wang (Michelle Yeoh), dona de uma lavanderia com vários problemas financeiros e familiares - um pai intransigente e doente (o experiente James Hong), uma filha rebelde e um marido acomodado (Ke Huy Quan). Até ser surpreendida por uma situação que envolve multiversos e ameaças que podem explicar quem realmente ela é e as escolhas que tem feito.


Os dramas dos personagens funcionam de maneira orgânica, a começar pela protagonista e todos que estão a sua volta. A trama é dividida em três capítulos que conseguem dar profundidade aos personagens. O tempo de tela é suficiente para que desenvolvam seus conflitos, principalmente os do núcleo de Evelyn, permitindo também que se entenda o porquê de determinadas atitudes.


O filme é um espetáculo gráfico que vale a pena ser contemplado. As direções de arte, de fotografia e de efeitos visuais fazem uma junção perfeita que funciona bem em todos os formatos de exibição da maneira mais criativa possível. A Marvel pode até ter começado a discutir multiversos, mas "Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" apresenta um diálogo profundo e inovador sobre a proposta de realidades paralelas.



A montagem é muito bem trabalhada e feita com carinho, o que dá a sensação de um ritmo frenético, mas harmônico, com a preocupação em juntar todas as peças do quebra-cabeça para o telespectador. 

Destaco as atuações de Michelle Yeoh, a nossa heroína que é o ponto chave da narrativa, além de Stephanie Hsu que faz o contraponto, interpretando a filha Joy/Jobu. Menção honrosa para Jamie Lee Curtis como Deirdre Beaubeirdra, o elo que guia toda a história.


"Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo" é uma experiência para ser vivida no cinema. Apesar de toda a sua loucura, existe uma sobriedade no enredo que nos confronta como seres humanos em nossos núcleos familiares. 

Me marcaram os temas presentes no filme: a questão da rejeição, o amor próprio, a vida conjugal, tudo isso se resume em um único fim: família. Evelyn sofreu com a rejeição de seu pai e repetiu isso com Joy, ao mesmo tempo em que vê o marido como um cara inútil e sem valor. 


Nesse quesito, a narrativa se preocupa em criar um fio condutor linear e uma conexão para que esses personagens e suas viradas aconteçam. Toda essa jornada da protagonista enfatiza que é possível mudar relações e romper paradigmas. E o principal: é preciso começar a enxergar o outro e aprender a ouvir.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Daniel Scheinert e Daniel Kwan
Produção: IAC Films e A24
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h19
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação / ficção científica / fantasia

06 dezembro 2021

"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" coloca mais ação e boas expectativas no Universo Marvel

Disponível na plataforma Disney+, produção é a primeira do MCU que tem um super-herói asiático como protagonista (Marvel Studios)


Jean Piter Miranda


"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" conta a história do jovem Shang-Chi (Simu Liu), um chinês que vai para os Estados Unidos em busca de uma vida, digamos, normal. Ele é filho de Wenwu (Tony Leung), o líder e criador da poderosa organização Dez Anéis. O jovem acha que está vivendo escondido do pai, mas acaba sendo encontrado e se vê obrigado a voltar para sua terra natal para resolver problemas de família. 


O filme está disponível na plataforma Disney + e chega com uma grande marca: é o primeiro longa do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) que tem como protagonista um super-herói asiático. E tão icônico quanto o “Pantera Negra” (2018), que teve um ator negro no papel principal. Shang-Chi consegue explorar o mundo das artes marciais e a cultura oriental, dos tempos antigos aos dias atuais, sem cair nos clichês.  


Shang-Chi e sua amiga Katy (Awkwafina, de "Oito Mulheres e Um Segredo" - 2018) trabalham juntos e levam uma vida, aparentemente, normal. Até que os soldados da organização Dez Anéis chegam para buscá-lo. Logo, Katy percebe que tem muita coisa que não sabe sobre o amigo. 

O filme então volta no passado para contar como foi a vida de Shang-Chi: como os pais se conheceram, sua infância, adolescência, todo o treinamento que recebeu, até o dia em que fugiu para os Estados Unidos.  


Toda a história é muito bem apresentada. Dá para entender porque Wenwu é tão poderoso e como o filho aprendeu as artes marciais. A mãe também é apresentada, e isso tem grande importância na trama. 

As imagens são muito bonitas, os efeitos especiais estão ótimos e os figurinos são muito bem acertados, desde as cenas que remetem há séculos atrás quando as dos dias atuais. Há, inclusive, várias referências a filmes de Bruce Lee, Jack Chan e Jet Li em lutas muito bem coreografadas.  


O experiente Tony Leung, que brilhou em “O Grande Mestre” (2014), é um dos destaques do filme, com atuação consistente. Simu Liu e Awkwafina têm ótimo entrosamento e garantem boas risadas nas cenas de humor, sem exagerar nas piadas. São simpáticos e bem carismáticos e, com certeza, terão lugar em outras produções da Marvel. 

Michelle Yeoh, do belíssimo “O Tigre e Dragão” (2005) e do ótimo “Memórias de uma Gueixa” (2005) também está no elenco e entrega uma boa interpretação, como sempre. O trabalho dela também pode ser conferido em "Podres de Rico" (2018) e "Mate ou Morra" (2021).


"Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis" tem ligação direta com outros filmes do UCM, e isso é mostrado e explicado ao longo da trama. Benedict Wong, de “Doutor Estranho” (2016), participa novamente como Wong, o que mostra que estão no mesmo universo dos demais heróis e que em breve poderão se reencontrar. 

Outra boa surpresa é a atriz Meng'er Zhang, que interpreta Xialing, irmã de Shang-Chi, que entrega ótima interpretação. Tem ainda Ben Kinsley como o “Mandarim”, mesmo papel que fez em “Homem de Ferro 3” (2013).


Consegue ser um filme de ação, com doses de drama e humor, sem ser raso ou cansativo. Ele se encaixa bem no universo da Marvel. Os personagens são bem desenvolvidos e a trama é bem construída. As motivações do vilão não são infantis, do tipo “quero dominar o mundo”, como se vê muitas vezes em filmes de super-heróis. É tudo muito bem feito. 

O desfecho pode não agradar a todos. Mais especificamente as batalhas finais. Mesmo assim, é uma boa obra que deve agradar a muitos fãs.  


Ficha técnica
Direção e roteiro: Destin Daniel Cretton
Produção: Marvel Studios
Exibição: Plataforma Disney+
Gêneros: ação / fantasia / aventura
País: Estados Unidos
Duração: 2h14
Classificação: 14 anos