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10 maio 2023

"Máfia Mamma" aborda temáticas feministas com sutileza e bom humor

Toni Collette e Monica Bellucci protagonizam essa comédia sobre o comando da máfia italiana após a morte do chefão (Fotos: Paris Filmes)


Larissa Figueiredo 


Uma mãe suburbana norte-americana herda o império da máfia de seu falecido avô na Itália. Esse é o enredo de "Máfia Mamma", longa de comédia que estreia nos cinemas nesta quinta-feira (11).

Para Kristin Balbano (Toni Collette), a viagem que era uma versão peculiar de “Comer, Rezar, Amar” (2010) se transformou em “O Poderoso Chefão”. 

Apenas ao chegar ao velório, ela descobre que o avô, Giuseppe Balbano, era chefe da mais feroz máfia da Calábria. Como sua descendente mais próxima se tornou a sucessora nos “negócios” da família.


O “tempero” do filme é a personalidade brutalmente comum da protagonista, ao mesmo tempo em que Kristin é única e quebra todas as expectativas. 

É possível rir e se identificar com os dilemas apresentados, até mesmo em situações nada cotidianas (como um jantar com a família rival). Ela é uma mulher como todas as outras, e assim como elas, é diferente.


A sensibilidade de Catherine Hardwicke para abordar as questões de gênero é algo consolidado em sua carreira e "Máfia Mamma" evidencia isso. Hardwicke dirigiu os documentários “Isso Muda Tudo”, “Luz Câmera, Machismo!” e o drama analógico premiado “Tell It Like a Woman”, que estreia em junho deste ano.


No longa de comédia, a diretora aborda a relação do machismo em ambientes de trabalho e a emancipação feminina para além da validação masculina. Kristin leva os negócios da máfia da forma que apenas uma mulher conseguiria, com carisma e empatia. 

A princípio, causa estranhamento e recriminação dos outros membros, mas no decorrer da trama, ela conquista espaço e ganha o respeito dos rivais de maneiras inusitadas.


Se nos lugares comuns do cinema as mulheres se voltam umas contra as outras, em "Máfia Mamma", Kristin conta com a ajuda de Bianca (Monica Bellucci), fiel escudeira de seu falecido avô. Bianca se apresenta de forma diferente de Kristin, exala sensualidade e poder, mas uma não compete com a outra. A amizade das duas personagens é retratada com lealdade até o fim do enredo. Ponto para Hardwicke!


Nas obras de comédia é comum ver um certo desleixo com o roteiro e a construção de personagens. Em "Máfia Mamma" não é preciso escolher: o roteiro é primoroso e o filme é engraçado. Não há pontas soltas nem personagens esquecidos como alívio cômico.

Por fim, é importante dizer que assistir a trajetória de Kristin é um lembrete de que é possível se reinventar sem deixar de ser quem é.
  

Ficha técnica:
Direção: Catherine Hardwicke
Produção: Idéal Films / Bleecker Street
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h41
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: comédia, ação, policial
Nota: 5 (0 a 5)

13 junho 2022

"Assassino Sem Rastro" só faz o espectador esquecer da experiência de ver um bom filme

Liam Neeson volta às telas como um assassino de aluguel que está com Alzheimer e quer aposentar (Fotos: Diamond Filmes/Divulgação)



Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Existem filmes incríveis e filmes medianos. "Assassino Sem Rastro" ("Memory"), em cartaz nos cinemas, entra nessa segunda categoria. Confesso que fui conferir porque gosto de Liam Neeson desde "Busca Implacável" (2008), mas do ano desse icônico filme até hoje foram poucas as produções em que o ator entregou algo novo ou diferente.


Na história conhecemos Alex Lewis (Liam Neeson), um assassino de aluguel que quer aposentar sua vida de crimes mas que antes precisa de fazer um último serviço que lhe renderá uma boa grana. Porém, ele descobre que nessa troca de favores com gente do crime terá de executar uma criança. Ao recusar a proposta, passa a ser perseguido por uma rede de corrupção maior do que poderia imaginar.


Nos primeiros minutos do longa, a trama parece ter fôlego suficiente para se sustentar até o final. Principalmente porque o protagonista manda bala e faz justiça com as próprias mãos (apesar de ser clichê, a opção ainda funciona em muitos filmes de ação).

Os carismáticos policiais Vincent Serra (Guy Pearce) e Linda Amistead (Taj Atwal) são o ponto alto da narrativa. Dá para sentir empatia pela dupla, apesar de nosso vilão/protagonista conseguir passá-los para trás.


A trama também aborda a questão do abuso infantil e dos cartéis do narcotráfico. Quem carrega esse papel é Monica Bellucci como a empresária Davana Sealman. Mas na narrativa essas abordagens são tão caricatas que praticamente soam de maneira desconexa perto do restante do filme.

As cenas de ação, a maioria com Alex dando muitos tiros em seus adversários, são até boas. Isso é um dos poucos elementos positivos que Neeson faz e faz bem. O problema maior é na execução do roteiro. Me incomodou as muitas conveniências do roteiro e, principalmente, as atuações.


Quando acrescentamos o ingrediente do Mal de Alzheimer sofrido pelo protagonista, a trama fica em um vai e vem sem fim. Ao mesmo tempo em que Liam Neeson é vilão, a doença o deixa frágil e toda sua construção acaba indo meio que pelos ares.

Algumas vezes, esse artifício do roteiro faz com que o próprio ator soe forçado em seu papel. Existe até uma reviravolta, quase como uma maneira desesperada de fisgar a audiência, mas é tão nos 45 segundos do segundo tempo que faltou um maior desenvolvimento do personagem. "Assassino Sem Rastro" é um filme facilmente esquecível, tanto pelo roteiro fraco quanto por tudo o que o ator tentou entregar.


Ficha técnica:
Direção: Martin Campbell
Produção: Black Bear Pictures, STX Films, Welle Entertainment
Distribuição: Diamond Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: suspense, ação

23 junho 2021

Irresistível e nostálgico, “Os Melhores Anos de Uma Vida” presta merecida homenagem ao icônico “Um Homem, Uma Mulher”

Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée retornam 50 anos depois para reviver sua grande história de amor (Fotos: Pandora Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Logo no início do longa, uma voz in off declara que “os melhores anos das nossas vidas são aqueles que ainda não vivemos”. A frase é atribuída a Victor Hugo, mas não é exatamente essa a ideia que Claude Lelouch quer passar. Diretor do eterno e icônico “Um Homem, Uma Mulher”, o primeiro filme da trilogia, agora, aos 82 anos, ele promete encerrar o ciclo com “Os Melhores Anos de Uma Vida” (“Les Plus Belles Années d’une Vie”). 

O filme entra em cartaz a partir de desta quinta-feira (24) em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília, Salvador e Florianópolis. Ainda não há previsão de reabertura das salas de Belo Horizonte.


Somente quem nasceu a partir do final da década de 1940, e tinha, portanto, os necessários 18 anos impostos pela censura para assisti-lo em 1966, sabe o que significou “Um Homem, Uma Mulher”, representante típico da nouvelle vague. (Parênteses para lembrar que essa “nova onda” do cinema francês surgiu como uma espécie de oposição às superproduções de Hollywood, apostando em obras mais intimistas e pessoais).

O longa ganhou muitos prêmios na época e arrebatou plateias mundo afora com uma história relativamente simples: o piloto de corridas Jean-Louis Duroc vive um caso de amor intenso e tórrido com a roteirista de cinema Anne Gauthier, mas o romance não tem final feliz. Os protagonistas, belos e charmosos, eram Jean-Louis Trintignant e Anouk Aimée. 


Entre o primeiro filme e o atual, houve um segundo, em 1986, que pouca gente viu: “Um Homem, Uma Mulher 20 Anos Depois”. Passou quase despercebido. Já o terceiro tem tudo para matar as saudades dos mais nostálgicos e dos admiradores de Lelouch. 

Eis a sinopse: preocupado com seu velho pai (Trintignant, com 89 anos), que começa a perder a memória, Antoine (Antoine Sire) procura Anne (Aimée, com 88 anos), com quem Jean-Louis viveu um grande amor há 50 anos. Ele tem esperança de que esse encontro possa, de alguma forma, amenizar a solidão do pai, que vive numa confortável casa de repouso, mas não interage com os outros moradores.


As cenas que se passam, a partir do momento em que Anne se encontra e tenta dialogar com um confuso Jean-Louis, são puro deleite, com passeios de carro, paisagens lindas, recordações, diálogos estranhos, delírios e – por que não – alguma sensualidade. 

Até porque, “Os Melhores Anos de Uma Vida” acaba se transformando num filme dentro de outro filme, tamanho o número de lembranças e citações à obra de 1966 que, não por acaso, levou, entre outros, a Palma de Ouro e o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Dificilmente o longa atual vai interessar a alguém que não viu o primeiro.


Pode ser que alguém enxergue, em “Os Melhores Anos de Uma Vida”, uma espécie de homenagem a “Um Homem, Uma Mulher”. Pode ser. E não há nada de negativo nisso. Rever o casal em longas cenas na Normandia tem o poder de levar o espectador a um outro lugar. 

Há canções lindas costurando as cenas e a música tema é quase um personagem da história. Impossível não viajar no tempo e ficar arrepiado ouvindo a inesquecível “sabadabadá” uma quase Bossa Nova composta por Francis Lai especialmente para o filme. Clique aqui para ouvir a trilha sonora completa de "Um Homem, Uma Mulher".


Além de Antoine Sire, o filme traz também Souad Amidou como a filha de Anne, Françoise, com atuações pequenas e discretas já que todos os holofotes estão concentrados na dupla de protagonistas em situações, poses e semblantes alternando hoje e ontem. As inevitáveis comparações, principalmente baseadas nos quesitos beleza e juventude, não fazem sentido nenhum diante do que se pretende contar.

Outro ponto alto, também reproduzido de um dos mais belos momentos de “Um Homem, Uma Mulher”, é o longo passeio de carro por Paris, às seis horas da manhã, a 100 km por hora, filmado para dar a sensação ao espectador de que ele está no volante. São esses detalhes que fazem de “Os Melhores Anos de Uma Vida” em um filme irresistível.


Ficha técnica:
Direção: Claude Lelouch

Roteiro: Claude Lelouch e Valérie Perrin
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas, sem previsão para exibição em plataformas de streaming
Gênero: Romance
Duração: 1h30
País: França
Classificação: 12 anos