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23 agosto 2022

“Não! Não Olhe!” mistura elementos de diferentes gêneros e é carregado de referências

Novo longa do diretor Jordan Peele repete a excelente parceria com ator Daniel Kaluuya (Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese
Blog no Zint Online



É difícil segurar a expectativa quando se trata de algum trabalho assinado por Jordan Peele. Com o sucesso do inovador “Corra” (2017), o diretor logo se tornou uma referência por desenvolver um terror (ou thriller, como alguns preferem caracterizar) repleto de simbologias e críticas sociais. 

Dois anos depois, ele lançou “Nós”, longa que muitos consideram ter sido injustamente esnobado por premiações como o Oscar, por exemplo. Neste ano de 2022, mais um longa do diretor chega nesta quinta-feira (25) aos cinemas: “Não! Não Olhe!” (“Nope”), que mistura elementos de western, terror, suspense e ficção científica.


Assim como no longa “Corra”, em “Não! Não Olhe!” também temos Daniel Kaluuya como protagonista, que dessa vez interpreta O.J. Haywood, um treinador de cavalos para uso em filmes e comerciais de televisão. 

Depois que seu pai morre em circunstâncias bizarras, O.J. herda o rancho e logo se junta a sua irmã, Emerald, interpretada por Keke Palmer. Quando, de repente, o céu está com uma aparência esquisita sobre o rancho Haywood, os irmãos se unem para formar uma aliança defensiva amadora.


Se em “Corra” nosso protagonista é um “outsider” que precisa lidar com uma família aparentemente tradicional e conservadora, em “Nós” os “intrusos” são literalmente cópias (assustadoras) dos nossos protagonistas. Já no filme “Não! Não Olhe!”, os outsiders realmente vêm de muito, muito longe e não se assemelham em nada com os protagonistas.


Vale aqui pontuar a presença dos dois atores principais, Kaluuya e Palmer, que realmente entregam uma ótima dupla de irmãos. Boa parte da comédia do filme deriva justamente da dinâmica entre eles, ao passo que ambos também estão excelentes nas cenas de terror, quando o tal invasor começa a de fato “atacar”. O ritmo do longa também é digno de elogios, já que realmente nos sentimos imersos na narrativa e cada ato cumpre com o seu propósito.

Como também ocorre nos dois primeiros filmes de Peele, são possíveis várias interpretações acerca da obra. Há diversas referências ao próprio fazer cinematográfico, como o contraste de imagens (digitais e ópticas) e a onipresença de câmeras - um dos personagens é, inclusive, um jovem que trabalha com vigilância eletrônica. 


Além disso, há uma série de alusões a eventos que marcaram a história do cinema, como o acidente no set de “Twilight Zone: The Movie” (1982). O olhar é outro elemento importante para o entendimento: a única maneira de não ser devorado pelo monstro é evitar olhar diretamente para ele.

Em diferentes momentos do longa, podemos observar ainda a maneira em que os humanos tentam domar criaturas consideradas como “inferiores” por essa sociedade. Há uma alerta: após tanto abuso, é esperado que alguns desses bichos se revoltem. 


Em entrevista ao veículo The Wrap, o diretor pontua que os animais são como um lembrete de como exploramos os bichos e a natureza. “Este filme, em sua essência, é sobre espetacularização e exploração”, disse. Há possíveis leituras, ainda, a respeito da universalidade do racismo.

Numa época em que grandes empresários realizam uma corrida espacial, é difícil até mesmo falar da vida fora do planeta sem esbarrar em algum tema social. Como pontuou Peele, não faltam inspirações da vida real para seus trabalhos: “O mundo me dá coisas horríveis para interpretar”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jordan Peele
Produção: Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: terror / suspense / western /  ficção