Josefina Ramirez faz uma atuação com dignidade e talento a protagonista (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
Qualquer pessoa minimamente interessada em cinema fica
imediatamente curiosa ou interessada ao ler a sinopse de "Nona: Se Me Molham,
Eu Os Queimo" (“Nona, si me mojan, los quemo”), filme chileno em
coprodução com Brasil, França e Coreia do Sul. Ou seja: não se trata de uma
empreitada qualquer. A estreia está prevista para quinta-feira (18) nos
cinemas.
“Aos 66 anos, Nona decide finalmente se vingar de seu
ex-amante e comete um atentado que a obriga a fugir para que não seja presa.
Depois de se estabelecer em uma cidade costeira do Chile, um incêndio de
grandes proporções obriga seus vizinhos a deixarem suas casas, mas estranhamente
sua moradia é a única a não ser afetada”.
Mas, verdade seja dita: “Nona...” não é um filme fácil de
ver. Arrastado, arrastadíssimo, parece, a princípio, um filme caseiro. Na
verdade é, pelo menos em parte. A diretora, Camila José Donoso, que também
assina o roteiro, mistura ficção com vídeos domésticos de sua avó real, Nona,
mulher misteriosa e guerreira que militou na resistência da ditadura de Augusto
Pinochet.
Acontece que esses filmetes são talvez utilizados em
excesso, em várias situações, e sempre por longos períodos de tempo. Outro
detalhe: cenas que poderiam ser facilmente resolvidas com começo e fim se
alongam infinitamente no miolo, no processo, sem nenhuma necessidade. Além de
distrair, desconcentra o espectador. Cansa.
O que salva no longa chileno é a atuação de Josefina
Ramirez, que faz com dignidade e talento a protagonista Nona, de quem o
espectador fica sabendo pouquíssimas coisas: que gosta de dançar, que costuma
mentir, que é meio dissimulada, quase bipolar. E que aprendeu, na ditadura, a
fabricar artesanalmente e com certa destreza, coquetéis molotov capazes de
fazer grande estrago em um carro, destruir casas ou de tocar fogo em florestas.
Chama atenção também a participação – pequena, mas marcante
para nós, brasileiros – de Du Moscovis, que entra meio sem aviso nem
explicação, atua quase como um figurante de luxo, aumentando ainda mais as
dúvidas do espectador. Há coisas no filme que o público desconfia, mas não
consegue ter certeza quando termina a
história. Para os que gostam desse tipo
de jogo, "Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo" é um prato cheio.
Por uma questão de justiça, registre-se também a atuação dos
demais que aparecem no filme: Gigi Reyes, Paula Dinamarca e Nancy Gomez, além
de outros, não atores, com participações irrisórias. Fora Josefina Ramirez e Du
Moscovis, ninguém mais se destaca na trama.
Pode ser que os cinéfilos mais ligados nos chamados filmes
de arte apreciem o longa e toda a simbologia que há embutida nele. Mas não se
trata de uma trama fácil de ser assimilada. Ao final da história, o espectador
fica sabendo, concretamente, que Nona se muda de Santiago para a cidade
costeira de Pichilemu, vive sozinha numa casa relativamente grande e com
quintal cheio de plantas, e que, entre outros detalhes, convive relativamente
bem com os constantes incêndios na sua vizinhança. Mais do que isso, impossível.
Ficha técnica
Direção e Roteiro: Camila José Donoso
Distribuição: Vitrine Filmes
Países: Chile / Brasil / França / Coreia do Sul
Duração: 1h26
Classificação: 12 anos
Gêneros: Documentário / Ficção