Atual e sensível, filme é baseado em uma história verídica que chocou a Itália no século XIX (Fotos: Pandora Filmes) |
Mirtes Helena Scalioni
Que ninguém se engane. Embora o título possa induzir, “O Sequestro do Papa” ("Rapito") não é uma comédia. Ao contrário, trata-se de um filme denso, sério, questionador e, acima de tudo, atual.
Com uma reconstituição perfeita do século XIX, conta a história do garoto Edgardo Mortara, que, aos seis anos, foi raptado de sua casa em Bolonha, para ser criado num seminário em Roma. O longa entra em cartaz nos cinemas nesta quinta-feira (18).
Com muita coragem e um elenco afiado, o diretor Marco Bellocchio coloca o dedo na ferida, relembrando um tempo em que Estado e religião se misturavam.
Na época em que se passa o filme, em 1858, a Itália era comandada com mãos de ferro por Pio IX e, apesar da carolice, faltava compaixão e sobrava a arrogância típica dos donos da verdade.
No auge da autoridade do Papado, a família judia de Momolo Mortara é surpreendida um dia com a chegada dos agentes do Estado/Igreja para levar Edgardo, um de seus oito filhos.
O menino é retirado à força dos braços dos pais em cumprimento a uma denúncia de que ele havia sido batizado. De acordo com a lei vigente, cristãos não podiam ser criados por judeus pagãos.
A partir desse sequestro, o espectador acompanha a luta de Marianna e Momolo Mortara para reaver o filho, enfrentando viagens a Roma, humilhações e processos até o julgamento do caso, em 1860. A história deles revela um capítulo sombrio da tirania histórica na Igreja tendo como pano de fundo uma nação à beira da revolução.
Cabe ressaltar a atuação, convincente e comovente, do menino Enea Sala como Edgardo. Aliás, todo o elenco merece aplausos: Leonardo Maltese como Edgardo adulto, Paolo Pierobon como o arrogante Papa Pio IX, Filippo Timi como o cardeal Giacomo Antonelli, Fabrizio Gifuni como o advogado Jussi, Anna Morisi como a babá, Bárbara Ronchi como a mãe Marianna Padovani, Fausto Russo Alesi como Momolo Mortara e outros.
Enfim, “O Sequestro do Papa” é, antes de tudo, um filme político como outros de Marco Bellocchio, que antes dirigiu, por exemplo, “Bom Dia, Noite” (2003).
O longa tem tudo para prender a atenção do público e é uma ótima oportunidade de reflexão para esses tempos de moralismo, lavagem cerebral, intolerância religiosa, investidas fundamentalistas e perigosas misturas de religião e Estado.
Ficha técnica:
Direção: Marco Bellocchio Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h14
Classificação: 12 anos
Países: Itália, França, Alemanha
Gêneros: drama, história