Obra joga luz sobre a vida - e dilemas - de Antônio Carlos Bernardes Gomes, um dos maiores humoristas da TV brasileira (Fotos: Downtown Filmes) |
Eduardo Jr.
O cartaz de divulgação já revela um dos méritos de “Mussum -
O Filmis”: a perfeita caracterização do ator Aílton Graça para viver um
personagem que fez o país gargalhar por 25 anos, integrando o humorístico “Os
Trapalhões”.
E a entrega para viver o trapalhão também parece ser a mesma que o
então sambista, falecido em 1994, fez décadas atrás. O longa, dirigido por
Silvio Guindane e distribuído pela Downtown Filmes, chega aos cinemas no dia 2
de novembro.
A obra se baseia no livro “Mussum - Uma História de Amor e Samba”, de Juliano Barreto. Para que as páginas se transformassem em produto audiovisual, foram dez anos de espera.
Na pré-estreia do longa em Belo Horizonte, a convite da rede Cineart, o protagonista Aílton Graça nos contou que esses anos de pesquisa foram uma grande descoberta.
Antes de chegar ao auge da carreira do biografado, o
espectador é apresentado à infância de Antônio Carlos Bernardes Gomes. Ali
estão detalhes pouco conhecidos da vida do Antônio criança (vivido por Thawan
Lucas Bandeira), que já demonstrava interesse pelo samba.
Mas a criação rígida
da mãe (personagem de Cacau Protásio na primeira e segunda fases do longa) o
levou para um colégio interno, desviando - ou apenas atrasando - um caminho que
era inevitável.
A fase da formação militar e da paixão pela música é vivida
pelo humorista Yuri Marçal. As piadas são apresentadas com naturalidade,
provavelmente pela experiência de Marçal nos palcos fazendo stand-up.
Mas o
texto e a edição também são trunfos para tirar risos do público. A montagem
cola momentos com agilidade, estruturando um tempo de comédia que agrada
bastante.
Na fase adulta, Aílton Graça apresenta um Antônio Carlos
dedicado ao samba, sem se achar engraçado e voltado à família. A desenvoltura do protagonista no grupo
Originais do Samba e em Os Trapalhões são boas.
Porém, a perda de ritmo para
apresentar a construção e entrada do Mussum no programa de Chico Anísio - a
Escolinha do Professor Raimundo - excede na duração.
Vale dizer que, nessa terceira fase, as atuações do elenco crescem na tela. Destaque para Neuza Borges (Dona Malvina), Édio Nunes (Bigode) e Gustavo Nader (Zacarias), que encontraram a medida exata do tom, da profundidade e da firmeza de seus personagens.
"Mussum, O Filmis" traz ainda grandes figuras da cultura brasileira para dividir a tela com o protagonista. Entre elas, Grande Otelo (Nando Cunha), Alcione (Clarice Paixão), Jorge Ben (Ícaro Silva), Cartola (Flávio Bauraqui), Chico Anysio (Vanderlei Bernardino), Garrincha (Wilson Simoninha), Boni (Augusto Madeira), Nilton da Mangueira (Mussunzinho), Milton Carneiro (Marcello Picchi) e Elza Soares (Larissa Luz).
E claro, Aílton Graça consegue ir além da semelhança física, imprimindo tensões e graça, de acordo com o momento. O protagonista afirma, ainda, que o valor de Antônio Carlos vai além da qualidade artística. A história de Mussum foi emblemática para uma luta que ainda se faz necessária.
Tantas qualidades fazem o filme chegar badalado ao grande público.
Apresentado no Festival de Gramado, conquistou seis Kikitos: Melhor Filme,
Melhor Filme Pelo Júri Oficial, Melhor Filme Pelo Júri Popular, Melhor Ator
para Aílton Graça e Melhor Ator Coadjuvante para Yuri Marçal.
Premiado ou não,
"Mussum - O Filmis" vale o ingresso, a pipoca e até repetir a sessão,
pra se divertir com o músico e humorista que atravessa gerações sem perder a
graça.
Ficha técnica:
Direção: Silvio Guindane Roteiro: Paulo Cursino
Produção: Camisa Listrada, com coprodução da Panorama Filmes, Globo Filmes, Globoplay, Telecine, RioFilmes
Distribuição: Downtown Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h03
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Gêneros: comédia, drama