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05 março 2018

Oscar 2018: "A Forma da Água" confirma previsões e é escolhido o Melhor Filme

Ficção dirigida por Guillermo Del Toro conta a história de uma funcionária muda que se apaixona por um ser aquático preso no laboratório onde ela trabalhava (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Sem grandes gafes e marcada por discursos fortes a favor da igualdade de gênero, valorização da mulher, do negro e da diversidade, a 90ª Edição do Oscar, promovida pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood entregou a estatueta de Melhor Filme de 2018 à produção "A Forma da Água", de Guillermo del Toro, também escolhido como Melhor Diretor. O filme ainda conquistou outras duas estatuetas - Melhor Trilha Sonora e Melhor Design de Produção - das 13 indicações que disputava. "Dunkirk" foi o segundo maior premiado, com três estatuetas, todas técnicas: Melhor Edição, Edição de Som e Mixagem de Som.

"Dunkirk"
Pela segunda vez, o comediante norte-americano Jimmy Kimmel foi o mestre de cerimônia da festa, celebrada no Teatro Dolby, em Los Angeles (Califórnia, EUA). Kimmel contou histórias e fez piadas sobre os candidatos e o presidente Donald Trump, e relembrou que o ano de 2017 foi marcado pelos escândalos de denúncias contra o assédio sexual em Hollywood. A abertura, feita em preto e branco, lembrou grandes produções premiadas com o Oscar nos últimos 90 anos. O cenário era semelhante a um grande diamante.

Sam Rockwell - "Três Anúncios Para um Crime"
O primeiro prêmio entregue foi o de Melhor Ator Coadjuvante e contou com uma montagem mostrando os maiores premiados em todos os anos nesta categoria. Viola Davis entregou a estatueta a Sam Rockwell, de "Três Anúncios Para um Crime", que já havia conquistado também o Globo de Ouro.

Gal Gadot e Armie Hammer apresentaram a categoria de Melhor Maquiagem e Cabelo, prêmio entregue a "O Destino de Uma Nação", pelo trabalho feito em Gary Oldman. Na sequência, "Trama Fantasma" ganhou em Melhor Figurino. Laura Dern e Saoirse Ronan entregaram a estatueta para "Ícaro" como vencedor de Melhor Documentário em Longa-Metragem, que critica a corrupção e o maior esquema de doping montado pela Rússia nos Jogos Olímpicos.

Gary Oldman - "O Destino de Uma Nação"
Taraji P. Henson, de "Estrelas Além do Tempo" chamou ao palco Mary J. Blige para interpretar a primeira música das concorrentes a Melhor Canção Original - "Mighty River", do filme "Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi". O prêmio de Melhor Documentário em Longa-Metragem foi para "Ícaro". Uma linda edição de cenas dos vencedores do Oscar nestes 90 anos serviu de gancho para o anúncio das categorias de Melhor Edição de Som e Melhor Mixagem de Som, premiações conquistadas por "Dunkirk". 

"Me Chame pelo Seu Nome"
A segunda música apresentada foi "Remember Me", da animação Disney/Pixar "Viva - A Vida é uma Festa", de autoria de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez. A canção foi interpretada em duas versões - por Gael Garcia Bernal e Natalia La Fourcade. "Mystery of Love", do filme "Me Chame Pelo Seu Nome", de autoria de Surjan Stevens, foi a terceira canção a ser apresentada.

Allison Janney - "Eu, Tonya"
A veterana atriz Rita Moreno chegou arrasando para apresentar o Melhor Filme Estrangeiro, que ela comemorou ao entregar a estatueta para o chileno "Uma Mulher Fantástica". Grandes atrizes foram lembradas na edição feita para anunciar a vencedora na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Mahershala Ali (escolhido como Melhor Ator Coadjuvante em 2017 por "Moonlight: Sob a Luz do Luar") chamou ao palco Allison Janney, pelo excelente trabalho em "Eu, Tonya".

"Viva - A Vida é Uma Festa"
O simpático robozinho BB8, Mark Hamill, Oscar Isaac e Kelly Marie Tran anunciaram a categoria de Melhor Curta em Animação, premiação conquistada por "Dear Basketball", de Glen Keane e do astro basquete mundial Kobe Bryant. O jogador recebeu o prêmio e agradeceu a família e a John Williams pela trilha sonora. O elenco de "Star Wars - Os Últimos Jedi" entregou também o prêmio de Melhor Animação para "Viva - A Vida é uma Festa".

"Blade Runner 2049"
Gina Rodrigues e Tom Holland foram os responsáveis por entregar o Oscar de Melhores Efeitos Visuais aos representantes de "Blade Runner 2049". Matthew McConaughey anunciou "Dunkirk" como o vencedor por Melhor Montagem. O diretor do filme Christopher Nolan cumprimentou Lee Smith pela vitória.

"Dunkirk"
Vários atores e atrizes fizeram uma surpresa ao público que estava numa sala de cinema ao lado do local da entrega do Oscar. Os primeiros a entrarem foram Jimmy Kimmel e Gal Gadot, que enlouqueceram a plateia e agradeceram a todos aqueles que vão ao cinema. Mark Hamill, Guillermo Del Toro e outras celebridades entregaram balas, cachorros quentes e brindes. 

Um dos espectadores chamou as apresentadoras que anunciaram "Heaven is a Traffic Jam on the 405" como Melhor Documentário em Curta-Metragem e "The Silent Child" como Melhor Curta Metragem. Na sequência, a apresentação da quarta canção que disputa o Oscar 2018 - "Stand Up for Something", de Diane Warren e Lonnie R. Lynn, tema do filme "Marshall". Chadwick Boseman e Margot Robbie entraram para entregar a "Me Chame Pelo Seu Nome" de James Ivory, o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. 

Jordan Peele - "Corra!"
O diretor Jordan Peele recebeu das mãos de Nicole Kidman a estatueta de Melhor Roteiro Original por "Corra!". Ele foi o primeiro negro a vencer nesta categoria. Mantendo a política de diversidade, a Academia convidou Wes Studi, ator de origem da tribo indígena cherokee para apresentar o especial homenageando os militares norte-americanos que serviram pelo mundo, como ele. 

Sandra Bullock, com uma plástica no nariz que parecia Lorde Voldemort, de Harry Potter, anunciou "Blade Runner 2049" como vencedor na categoria Melhor Fotografia. O responsável Roger Deakins recebeu o prêmio. A última canção a ser apresentada foi "This is Me", do filme "O Rei do Show", composta por Benj Pasek e Justin Paul e interpretada na cerimônia pela cantora e atriz da Broadway Keala Settle.

"Remember Me" - "Viva - A Vida é uma Festa"
O veterano Christopher Walken foi aplaudido de pé ao anunciar a Melhor Trilha Sonora Original para "A Forma da Água", representado por Alexandre Desplat. Na sequência, "Remember Me", de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez, tema da animação de "Viva - A Vida é uma Festa" foi escolhida como Melhor Canção Original.

Jennifer Garner apresentou o quadro In Memoriam que homenageia as pessoas ligadas ao cinema que morreram em 2017, incluindo Jerry Lewis. Emma Stone, ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 2016 por "La La Land", anunciou Guillermo del Toro como Melhor Diretor por "A Forma da Água". Para anunciar o vencedor de Melhor Ator, Jane Fonda e Helen Mirren falaram das mudanças no mundo e chamaram ao palco Gary Oldman, pelo papel de Winston Churchill em "O Destino de Uma Nação".

Frances McDormand - "Três Anúncios Para um Crime"
Nova montagem com filmes protagonizados por grandes atrizes foi a chamada para a entrega da estatueta de Melhor Atriz. Jodie Foster, de muletas, e Jennifer Lawrence, brincaram com Meryl Streep como se ela fosse a causadora. A escolhida foi Frances McDormand, protagonista de "Três Anúncios Para um Crime". Ela dedicou seu prêmio às mulheres que foram indicadas a todas as categorias do Oscar 2018.

"A Forma da Água"
A dupla Faye Dunaway e Warren Beatty foi perdoada pela gafe do ano passado quando anunciou "La La Land" como o filme vencedor do Oscar 2017, quando o correto era "Moonlight". Desta vez, Beatty não repassou o envelope a sua parceira de palco e ainda confirmou por mais de uma vez o nome do vencedor "A Forma da Água" como o Melhor Filme de 2018. O diretor subiu ao palco para receber a premiação acompanhado de parte do elenco e produção e agradeceu a todos, encerrando a cerimônia.

Vencedores do Oscar 2018. Clique nos links para ler as críticas da turma do Cinema no Escurinho

Melhor Filme - "A Forma da Água"
Melhor Diretor - Guillermo del Toro ("A Forma da Água")
Melhor Ator - Gary Oldman ("O Destino de Uma Nação")
Melhor Atriz - Frances McDormand ("Três Anúncios Para um Crime")
Melhor Ator Coadjuvante - Sam Rockwell ("Três Anúncios Para um Crime")
Melhor Atriz Coadjuvante - Allison Janney ("Eu, Tonya")
Melhor Roteiro Adaptado - "Me Chame Pelo Seu Nome" (James Ivory)
Melhor Roteiro Original - "Corra!" (Jordan Peele)
Melhor Filme Estrangeiro - "Uma Mulher Fantástica" (Chile)
Melhor Design de Produção - "A Forma da Água"
Melhor Maquiagem e Cabelo - "O Destino de Uma Nação"
Melhor Figurino - "Trama Fantasma"
Melhor Fotografia - "Blade Runner 2049" (Roger Deakins)
Melhor Trilha Sonora Original - "A Forma da Água" (Alexandre Desplat)
Melhor Canção Original - "Remember Me" ("Viva - A Vida é uma Festa") 
Melhor Edição de Som - "Dunkirk"
Melhor Mixagem de Som - "Dunkirk"
Melhor Montagem - "Dunkirk"
Melhor Animação - "Viva - A Vida é uma Festa"
Melhor Curta em Animação - "Dear Basketball" 
Melhores Efeitos Visuais - "Blade Runner 2049"
Melhor Documentário em Longa-Metragem - "Ícaro"
Melhor Documentário em Curta-Metragem - "Heaven is a Traffic Jam on the 405"
Melhor Curta-Metragem - "The Silent Child"

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12 fevereiro 2018

"The Post - A Guerra Secreta" - Lembrar para não esquecer

Tom Hanks e Meryl Streep são os protagonistas deste drama que denuncia o jogo de interesses na Guerra do Vietnã (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Patrícia Cassese


Volta e meia, o universo das redações de jornais entra na mira dos estúdios de cinema pela participação efetiva desse dito "quarto poder" nos grandes acontecimentos da história recente. É fato: muitas vezes, sua participação se dá apenas no sentido de reportar o ocorrido - a cobertura de uma grande tragédia natural, por exemplo, como o tsunami de 2004. Em outras, porém, o papel da imprensa se amplia no sentido de tornar público o que, de outra forma, fatalmente ficaria circunscrito ao conhecimento de um círculo bem limitado de pessoas - e, neste espectro, entram os chamados segredos de estado, por exemplo.

"The Post - A Guerra Secreta", de Steven Spielberg, filme que está no páreo do Oscar - concorre a Melhor Atriz (Meryl Streep) e Melhor Filme - se debruça sobre um desses momentos nos quais o jornalismo assume o protagonismo ao revelar fatos que abalaram dois dos alicerces do mundo ocidental: a Casa Branca e o Pentágono. Em cena, a publicação de documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã, que elevaram o "The Washington Post" ao panteão dos jornais mais influentes (e lidos), deliberada após uma série de discussões entre a proprietária do veículo, Kay Graham (Meryl Streep), e seu editor, Ben Bradlee (Tom Hanks).

Recuemos a 1971. Em meio ao conflito que se desenrolava no sudeste asiático, e que, num escopo mais amplo, reverberava ali, naquele pedaço do mapa, a Guerra Fria, um dos maiores jornais norte-americanos, o "New York Times", recebe (de um ex-colaborador do governo, Daniel Ellsberg, interpretado por Matthew Rhys) os chamados "Documentos do Pentágono". Os papéis deflagravam a verdade sobre a não necessidade do conflito, que se estendeu até 1975, tolhendo a vida de milhares de soldados de ambos os lados (no caso dos americanos, 58 mil) e provocando uma derrama de dinheiro público. O jornal, claro, deu início à publicação desse material explosivo, até que veio o recado, de certa forma edulcorado, sob a alegação de a segurança nacional estar em risco: o governo de Richard Nixon não iria tolerar que o restante do material fosse veiculado.

Ocorre que o incipiente "The Washington Post" também tinha esse material "nitroglicerina pura" em seu poder. E os documentos - encomendados por Robert McNamara (Bruce Greenwood), ex-secretário de Defesa dos EUA nos governos anteriores, de John F. Kennedy e de Lyndon Johnson - haviam chegado a um momento emblemático do periódico, que, na luta pela ampliação de público, abria seu capital, disponibilizando ações no mercado. Não bastasse se Katharine "Kay" Graham, a publisher, já vivia aí a tormenta de ter assumido o controle do jornal após a morte súbita do marido, a situação ganha contornos mais complicados quando se flagra em meio à difícil decisão de publicar ou não o material (inclusive diante de possibilidade real de ser presa, assim como dos laços que mantinha com alguns dos envolvidos).

Como se trata de um fato histórico, o desenrolar desse imbróglio não é mistério para ninguém: o material foi publicado e o "Washington Post" alçado a outro patamar. À imprensa, o diretor Steven Spielberg declarou que se viu impelido a passar esse projeto a frente de outros, dada a inquietação que o acomete, referente aos rumos que o atual governo de seu país vem tomando - está aí a troca de provocações com a Coreia do Norte que não nos deixa mentir. Pontuou, ainda, a honra de ter pela primeira vez, sob sua batuta, esses dois ícones do cinema dividindo o set - sim, qualquer cinéfilo que se preze sabe que ele dirigiu Hanks em "Ponte dos Espiões" (2015) e, com Meryl, estabeleceu colaboração em "A.I. Inteligência Artificial". Mas até então, os três não tinham dividido o set.

O filme tem fortes pilares. O primeiro, claro, o elenco e o diretor, já apontados. E sim, em um momento em que o protagonismo feminino é palavra de ordem, ver a personagem avant la lettre Kay Graham lutando para conciliar o lado mãe e avó com a recente viuvez e a dificuldade em se impor num ambiente então ainda predominantemente masculino é outro aspecto que certamente vai provocar empatia no público.

Mas o grande trunfo da empreitada é recuperar o tempo em que os jornais eram a fonte de informação à qual a população devotava legitimidade - e o poder público, justificado temor. Uma época de ouro que parece cada vez mais distante, diante da avalanche das novas mídias e na era das fake news. 
E se os acadêmicos do Oscar optaram por deixar de fora os nomes de Hanks e Spielberg na corrida para as estatuetas de ator e diretor, isso não diminui o mérito dessa empreitada que, de forma precisa (um pouco didática, talvez, mas válida), volve seu olhar sobre um episódio cujo paulatino distanciamento temporal não deve, jamais, minimizar o alerta que reside em seu bojo: guerras custam a vida de milhares de inocentes. E passam, para as páginas da história, como desnecessárias medidas advindas da ganância da indústria bélica aliadas à sanha pelo poder de insanos governantes. Os tais podres poderes aos quais Caetano Veloso se referia na música homônima.

Em tempo: palmas para Michel Stulbargh, ator que está presente em nada menos que três dos filmes do Oscar 2018: "The Post" (como Abe Rosenthal, editor-executivo do "The New York Times"), "Me Chame Pelo Seu Nome" (pai do personagem principal, Elio) e "A Forma da Água" (Robert Hoffstetler, o espião russo). "The Post - A Guerra Secreta" pode ser conferido nas salas das redes Cineart - Del Rey (5) e Ponteio Lar Shopping (3) - e Cinemark - Diamond Mall (4 e 5) e Pátio Savassi (1).



Ficha técnica:
Direção e produção: Steven Spielberg
Produção: DreamWorks Pictures / 20th Century Fox / Amblin Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Drama / Suspense
País: EUA
Classificação: 12 anos

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