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16 abril 2025

Emocionante e perturbador, "A Mais Preciosa das Cargas" faz o coração bater mais forte

Ambientado durante a 2ª Guerra Mundial, animação trata de humanidade e amor ao próximo, contrastando com a dor e a crueldadedo ser humano (Fotos: StudioCanal)
  
  

Maristela Bretas

 
Impactante, sensível, arrebatadora. São alguns dos adjetivos para descrever um pouco a animação "A Mais Preciosa das Cargas" ("La Plus Précieuse Des Marchandises"). O coração bate mais forte e as lágrimas descem pelo rosto já no início do filme, que estreia nesta quinta-feira (17), em versão legendada, no Cinemark Pátio Savassi. O que posso garantir é que dificilmente quem assistir não sairá tocado pela história.

O drama se passa durante a 2ª Guerra Mundial, em um lugar isolado no meio de uma floresta, durante o rigoroso inverno da Europa Central. O frio e a fome são constantes na vida dos poucos moradores, como o humilde lenhador e sua esposa (vozes de Grégory Gadebois e Dominique Blanc). A única distração desta vida dura, cercada pelo conflito armado, é a passagem diária de um trem que corta a mata em alta velocidade, sem nunca parar. 


Até que um dia, a mulher escuta o choro de um bebê atirado de um dos trens e o encontra em meio ao gelo. Ela resolve ficar com a criança, mesmo contra a vontade do marido que a considera amaldiçoada por pertencer aos chamados "sem coração" que ocupavam os trens. 

O que o casal não imaginava era que este bebê iria mudar por completo suas vidas. E que eles seriam capazes de tudo para protegê-la da desumanidade do mundo.

Baseada no conto homônimo escrito por Jean-Claude Grumberg e que no Brasil foi publicado como "A Mercadoria Mais Preciosa", a animação brilha em todos os sentidos ao abordar o amor materno, humanidade, dor, sofrimento, guerra e, especialmente, o holocausto.


A narrativa começa trazendo as questões da solidão, da pobreza e do isolamento em meio à guerra. O pouco que o casal consegue conquistar com a lenha vendida mal dá para alimentá-los. E o pouco de luxo, como uma cabra que produz leite, é algo a ser escondido de todos. 

Os diálogos do casal são curtos e diretos, com uma carga pesada de dor e rancor contra o mundo externo e as perdas diárias. Sem acesso à informação correta do que ocorre além da floresta, consideram todos inimigos. Mas por mais dura que seja a realidade, o lenhador e sua esposa ainda conseguem resgatar o pouco de humanidade que ainda resta em suas vidas com a chegada do bebê. 

O "serzinho" fofo, de bochechas rosadas, jogado do trem e encontrado enrolado num cobertor (que vai dar a primeira dica direta da temática da história) será capaz de amolecer o mais duro dos corações com seu olhar e gargalhadas. E mostrar ao velho e rabugento lenhador que nem todo mundo que está no trem é um "sem coração".


Além do casal, outro personagem que tem importante papel na trama é o também morador da floresta e dono da cabra conhecido como o homem do rosto quebrado, na voz de Denis Podalydès. Ele e Dominique Blanc são atores do Comédie-Française. A narração do conto, em francês, foi entregue a ninguém menos que o famoso ator francês Jean-Louis Trintignant.

Outro ponto que mexe com os sentidos do espectador é a parte gráfica. O diretor emprega um traço leve e cores pastéis que variam do cinza e branco da neve, aos tons mais escuros e carregados como a escuridão da floresta ou das luzes de velas que mal iluminam a casa do lenhador. 

Até mesmo a passagem do trem reforça a escuridão do ambiente e da narrativa, especialmente pela fumaça preta de suas chaminés e seu aspecto sombrio, sem indicar o tipo de carga que transporta.


Ao mesmo tempo em que a escuridão é parte da composição para tornar o ambiente sombrio e preparar para o rumo que vai tomar a narrativa da metade para frente, ela também atrapalha. A cópia que assisti estava tão escura em algumas partes que mal dava para distinguir a cena. No cinema a situação deverá ser diferente. 

Talvez o propósito do diretor Michel Hazanavicius e do escritor Jean-Claude Grumberg, que atuou como roteirista, seja exatamente mostrar quão sombrio, cruel e desumano foi este período da história: o massacre de judeus nos campos de concentração. 

O diretor soube fazer uma abordagem equilibrada do tema Holocausto, chamado pelos judeus de Shoah, para que fosse compreensível para todas as idades. Usou uma linguagem simples e sensível, ilustrada com imagens gráficas de cenas marcantes da história. Emprega o preto e branco em momentos críticos, além de diálogos repletos de ódio e ignorância, que contrastam com momentos de amor e ternura de uma família simples. 


Mas o que seria de uma narrativa sem uma boa trilha sonora. A animação não deixou por menos e o responsável, Alexandre Desplat, incluiu obras como "La Berceuse" (Schluf Je Iedele), e "Chiribim, Chiribom", ambas interpretadas em iídiche, idioma usado pelos judeus da Europa Central.

Assistir à animação foi capaz de me fazer retomar o bom e velho hábito da leitura, abandonado há tempos pela correria diária. Por indicação da amiga e grande colaboradora, Carolina Cassese, que leu o livro e também viu o filme, acabei comprando a obra. 

"A Mais Preciosa das Cargas" é imperdível, para ser vista com o coração e um lencinho do lado. Certeza de muita emoção, o longa é merecedor de todos os prêmios de cinema que vier a concorrer este ano.


Ficha técnica:
Direção, criação gráfica dos personagens e montagem: Michel Hazanavicius
Roteiro: Michel Hazanavicius e Jean-Claude Grumberg
Produção: Ex Nihilo, Les Compagnons Du Cinéma, com coprodução de StudioCanal, France 3 Cinéma, Les Films Du Fleuve, Radio Télévision Belge Francophone (RTBF)
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: Cinemark Pátio Savassi
Duração: 1h21
Classificação: 12 anos
Países: França e Bélgica
Gêneros: animação, drama, história

03 abril 2025

"Desconhecidos", um suspense brutal que revela a reviravolta antes da hora

Willa Fitzgerald é a jovem caçada por um homem misterioso após uma noite de sexo (Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


"Desconhecidos" ("Strange Darling"), suspense do diretor e roteirista J.T. Moliner, que chega aos cinemas nesta quinta-feira, mergulha o espectador em uma perseguição implacável de um desconhecido a uma jovem, com momentos de terror e violência extrema. 

Após um encontro aparentemente casual e uma noite de muito sexo, Lady, papel de Willa Fitzgerald, se vê implacavelmente caçada por um homem (Kyle Gallner) com intenções sinistras. 

Paralelo a isso, a polícia está à procura por um serial killer que já matou várias pessoas pelo país com requintes de crueldade e que consegue fugir deixando um banho de sangue por onde passa.


Gostou da premissa? Mas ela pode mudar completamente. A trama é contada em capítulos intercalados, formando um flashback confuso inicialmente, mas que vai ganhando consistência à medida que avança. 

A crescente sensação de perigo é palpável desde os primeiros momentos. E as cenas de violência e caçada aumentam o suspense e a dúvida: quem é o gato e quem é o rato?

No entanto, a narrativa dá uma escorregada ao entregar muito cedo ao público a principal reviravolta da história. Essa revelação precoce pode ter sido intencional por parte do diretor para adicionar uma camada de tensão dramática, mas acaba por minar significativamente o impacto da história. 


O que poderia ser uma surpreendente guinada nos acontecimentos se torna uma mera confirmação do que já se suspeitava, reduzindo o mistério envolvendo os protagonistas. 

O filme só não se torna desinteressante graças às cenas de suspense e violência, construídas com competência, utilizando a trilha sonora e a cinematografia para criar uma atmosfera ameaçadora. São cenas cruas e impactantes que podem chocar o espectador.


A atuação de Willa Fitzgerald, mais conhecida por sua participação em várias séries de TV, também é outro trunfo de "Desconhecidos". A atriz entrega uma interpretação muito convincente como a jovem aterrorizada, carregando grande parte da carga emocional da narrativa. 

Ela consegue transmitir bem a angústia e o desespero da protagonista, tornando sua luta pela sobrevivência envolvente, mesmo quando o roteiro vacila. E ainda conta com um sucesso dos anos de 1970 para embalar sua personagem - "Love Hurts", da banda Nazareth.


Participam também do elenco Barbara Hershey, Ed Begley Jr., Jason Patric, entre outros.

"Desconhecidos" tem uma premissa interessante e a promessa de uma reviravolta cria expectativa. Contudo, a decisão de revelar cedo demais o plot twist principal enfraquece a experiência geral. 

Mesmo assim, o terror e o suspense são eficazes, e fazem com que o público espere por um final tão tenso quanto foi o restante da trama, mesmo que a surpresa tenha chegado antes da hora.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: J.T. Moliner
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h36
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense

17 março 2025

"Parthenope - Os Amores de Nápoles": estranho, mas belo e comovente

A protagonista, que dá nome ao longa, é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta a partir da adolescência (Fotos: Paris Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


Impossível sair impune depois de assistir a "Parthenope: Os Amores de Nápoles", não por acaso um filme que tem sua origem na Itália, não por acaso a terra das artes e da beleza. Em uma direção tão peculiar quanto estranha, o não por acaso napolitano Paolo Sorrentino ("A Mão de Deus" - 2021) mistura mitologia, moralidade, filosofia, maternidade, hipocrisia, tempo, religião, academicismo, antropologia, suicídio e alguma bizarrice para fazer um recorte na vida da bela Parthenope, jovem que, de certa forma, carrega a própria beleza quase como um fardo. 


A personagem é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta e, na maturidade, por Stefania Sandrelli. A jovem carrega em seu nome a lenda mitológica da sereia que dá origem ao nome da cidade de Nápoles. Ela usa a sedução para conquistar os homens ao seu redor, incluindo os proibidos.

Junte-se a tudo isso, paisagens deslumbrantes daquela região, com suas praias e rochas, além de exploração quase abusiva de belos corpos expostos ao sol - às vezes lembrando peças de propaganda. 

Para completar, uma trilha sonora que inclui "Gira", um samba-batuque do Trio Ternura de 1973; "My Way", na voz inconfundível de Frank Sinatra, e, claro, lindas canções italianas embalando casais em noites enluaradas.


No que você está pensando? Essa é a pergunta mais frequente do filme, que acompanha a trajetória de Parthenope em busca não só de uma carreira acadêmica como professora de Antropologia, mas também de respostas para a própria vida. 

Enquanto estuda e se diverte, ela convive com o cínico escritor norte-americano John Cheever, vivido por Gary Oldman, e seu professor e orientador da faculdade, Devoto Marotta, interpretado por Silvio Orlando.


Misterioso e, às vezes, irônico, o longa, roteirizado pelo próprio Sorrentino, é repleto de frases de efeito, como se o objetivo fosse confundir o espectador ou - quem sabe - fazê-lo pensar. A heroína, nascida na década de 1950, é libertária e dona absoluta da própria vida. 

Mas ela carrega uma culpa pela morte do irmão Raimondo (Daniele Rienzo) com quem mantinha uma relação incestuosa e dividida com o amigo de infância Sandrini (Dario Aita).

Nápoles é, de certa forma, uma personagem do filme com seus conflitos e dualidades. Além das paisagens enfatizando um azul profundo do mar, não faltam ruelas, casebres, gente feia e miséria. 


Em certo momento, a diva do cinema Greta Cool (Luisa Ranieri), em discurso que parece ser a inauguração de um navio, decreta, com todas as letras: "Vocês, napolitanos, são deprimidos e não sabem. São pobres, desgraçados e retrógrados e se orgulham disso". 

Estão ainda no elenco, em participações ao redor de Parthenope, Antonino Annina como Raimondo criança, Rivardo Copolla como Sandrino criança, Peppe Lanzetta, no papel do bispo, entre outros nomes do cinema italiano.


Outro personagem forte do filme é o cigarro, constantemente nas mãos e bocas de quase todos os personagens, sejam eles velhos ou jovens. Há quem enxergue traços até de Fellini em "Parthenope: Os Amores de Nápoles". 

Teatral e fantasioso, o longa de Paolo Sorrentino pode chocar com suas bizarrices, causando inevitável estranhamento no espectador. Mas, certamente, o público vai sair do cinema bastante comovido. Além de cheio de perguntas.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Paolo Sorrentino
Produção: Pathé Films, A24, FremantleMedia, The Apartment Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h17
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gêneros: drama, romance, fantasia

04 março 2025

"O Macaco" é um terror violento, com muito sangue e situações tão bizarras que são engraçadas

Com uma cara assustadora e ataques macabros, o "brinquedo assassino" pode se tornar o novo
sucesso do gênero entre os fãs (Fotos: Paris Filmes)


Maristela Bretas


Poderia ser somente um filme de terror, que lembra "Premonição" em alguns momentos, quando as pessoas sabem o que vai acontecer, mas mesmo assim não se cuidam. E, claro, as tragédias acontecem. 

Este é "O Macaco" ("The Monkey"), produção que estreia nesta quinta-feira (06) nos cinemas, adaptado do conto do mestre do suspense e terror Stephen King.

Osgood Perkins é o diretor e roteirista, repetindo a receita de "Longlegs - Vínculo Mortal" (2024), porém com mais cenas violentas que, de tão bizarras, chegam a provocar risos e comentários de engraçados e de espanto em alguns momentos. 

Oz Perkins (como é mais conhecido), que atuou em outro sucesso do terror/suspense, "Não! Não Olhe!" (2022), de Jordan Pelle, também faz um pequeno papel em "O Macaco", como o tio dos protagonistas. 


Para dar ainda mais peso à produção, ela conta com a produção e experiência em terror do aclamado diretor e produtor James Wan, responsável por "Maligno" (2021), "Invocação do Mal 2" (2016) e "Sobrenatural" (2011) e "Sobrenatural: Capítulo 2" (2013), além de outros do gênero.

Para quem gosta do gênero, os ataques, apesar de previsíveis, agradam e o pulo na cadeira do cinema é certo. Só de olhar a cara assustadora do macaco, um boneco que toca um tambor e faz as tragédias acontecerem, já é o suficiente para provocar tensão. É o tipo de brinquedo que um pai, com um mínimo de sensatez, jamais daria para uma criança.


O filme conta a história dos gêmeos Bill e Hal, que encontram um velho macaco de brinquedo no sótão da casa de seu pai. Aparentemente inofensivo, basta ele começar a tocar o tambor que passam a acontecer mortes terríveis, das mais variadas formas. 

Os irmãos decidem jogar o macaco fora e seguir em frente, mas anos depois as mortes voltam a ocorrer e eles precisam se reencontrar para acabar com o brinquedo. 

O diretor não economizou no sangue e nem na violência nos crimes cometidos pelo macaco, que apesar da cara assustadora, não desperta a desconfiança de ninguém. 


Exceto dos gêmeos, interpretados por Theo James (da trilogia "Divergente" (2014), "Insurgente" (2015) e "Convergente" (2016). Estão também no elenco nomes conhecido como Elijah Wood, Tatiana Maslany e Christian Convery.

Os efeitos visuais são bons, mas a história tem vários furos ao não explicar a origem do personagem macabro, nem o que aconteceu no período que os gêmeos ficaram separados e como o macaco aparece locais diferentes. 

Não chega a ser um clássico do terror, mas tem a marca de Stephen King, o que pode agradar aos fãs do gênero, que poderão relembrar o estilo de filmes do passado, que já começavam com a "ação" com poucos minutos de projeção. 


Outra vantagem de "O Macaco", talvez por economizar no enredo e focar nos ataques, é que as aparições e mortes não se restringem a locais fechados e escuros. Podem ocorrer a qualquer hora do dia ou da noite. E sim, como o próprio cartaz do filme avisa: "Todo mundo morre. E isso é uma m*rda!"

O espectador não deve esperar muitas explicações do porque o "brinquedo assassino" sai matando aleatoriamente. Ele vai entrar no cinema sem saber como as vítimas são escolhidas e sair com a mesma interrogação - será uma entidade incorporada, ele foi amaldiçoado, haverá uma continuação do filme para esclarecer todas as dúvidas? 

Muitas perguntas, sem respostas, mas mesmo assim o filme vale a pena porque "toca o terror" literalmente e está atraindo um bom público por onde estreia. 


Ficha técnica:
Direção: Oz Perkins
Roteiro: Oz Perkins e Stephen King
Produção: Neon, Atomic Monster, Black Bear Pictures, Range Media Partners, Stars Collective Films, C2 Motion Picture Group e Oddfellows Entertainment
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, comédia


03 março 2025

Deu Brasil! "Ainda Estou Aqui" ganha o Oscar de Melhor Filme Internacional

Filme de Walter Salles conquistou a estatueta pela primeira vez para o Brasil e tem Fernanda Torres e
Selton Mello no elenco (Montagem sobre foto de Alile Dara Onawales)


Maristela Bretas


Brasil, Brasil, Brasil. E não é com "Z", mas com "S". "Ainda Estou Aqui" conquista seu primeiro Oscar e é eleito "Melhor Filme Internacional" na 97ª edição. A atriz Penélope Cruz entregou a estatueta ao diretor Walter Salles, que a dedicou a Eunice Paiva e Fernanda Torres, que a interpretou na produção.

"Ainda Estou Aqui" concorreu também nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz, com Fernanda Torres. A obra já levou mais de 5 milhões de pessoas aos cinemas e concorreu com “Emilia Pérez” (França), “Flow” (Letônia), “A Garota da Agulha” (Dinamarca) e “A Semente do Fruto Sagrado” (Alemanha).

"Ainda Estou Aqui" (Foto: Alile Dara Onawales)

O filme brasileiro é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice e Rubens Paiva. Ele trata da força da mãe em assumir a liderança da família de cinco filhos e sua resistência para lutar em busca de informações sobre o marido (interpretado por Selton Mello), levado pelas forças da Ditadura Militar dos anos 1970 e que nunca foi encontrado.

Pouco antes da cerimônia, no Tapete Vermelho, Fernanda Torres, que ganhou o Globo de Ouro de Melhor Atriz de Drama, agradeceu o apoio dos brasileiros e elogiou Eunice Paiva e Walter Salles. Ela disse que "o Brasil é um país muito afetuoso e no filme de Walter Salles as pessoas são tocadas". 

Walter Salles também falou que "Ainda Estou Aqui" é uma celebração da cultura brasileira e que estava muito honrado em representar esse Brasil que vale a pena.


A cerimônia do Oscar

O Oscar 2025 foi realizado nesse domingo de carnaval, diretamente do Teatro Dolby, em Los Angeles, na Califórnia. A cerimônia foi aberta com uma bela montagem de antigos e novos filmes vencedores da premiação. 

Ariana Grande interpretou "Somewhere Over the Rainbow", tema de "O Mágico de Oz", e Cynthia Erivo cantou "Home". A dupla encerrou as performances musicais com "Defying Gravity", da trilha sonora de "Wicked", e foi aplaudida de pé.

"Wicked" (Fotos: Universal Pictures)

Utilizando imagens do filme "A Substância", o comediante nada engraçado Conan O'Brien foi o apresentador da solenidade pela primeira vez. Ele chamou Robert Downey Jr. para anunciar o primeiro vencedor, Kieran Culkin, como Melhor Ator Coadjuvante pelo filme "A Verdadeira Dor'.

Goldie Hawn e Andy Garfiled anunciaram o Melhor Filme de Animação e, como era esperado, a estatueta saiu para "Flow", produzido na Letônia. Também entregaram o prêmio de Melhor Curta-Metragem em Animação para o iraniano "In the Shadow of the Cypress".

A estatueta de Melhor Figurino saiu para Paul Tazewell, do filme "Wicked", que agradeceu pela honra de ser o primeiro figurinista negro a receber este prêmio na categoria.

"Flow" (Foto: Sacrebleau Productions)

Halle Berry anunciou os homenageados de Hollywood deste ano - os produtores Barbara Broccoli e Michael G. Wilson -, responsáveis pela franquia 007. 

Foi apresentada uma coletânea dos 62 anos de filmes do espião James Bond, além de performances das trilhas sonoras com diversas cantoras. Em toda a sua trajetória, o famoso espião com licença para matar foi vivido por sete atores diferentes e conquistou seis Oscars. 

Mike Jagger foi uma das surpresas da noite, subindo ao palco para anunciar "El Mal", da trilha sonora de "Emilia Pérez" como Melhor Canção Original. 

"Duna: Parte 2" (Foto: Warner Bros. Pictures)

Representantes do Corpo de Bombeiros de Los Angeles também foram chamados e aplaudidos de pé numa homenagem da Academia por seu trabalho no combate aos incêndios que atingiram a cidade em janeiro deste ano.

"Duna: Parte 2" confirmou as apostas que davam como certa sua vitória em duas categorias técnicas, como Melhor Som e Melhores Efeitos Visuais.

Morgan Freeman apresentou o quadro In Memorian, que relembrou nomes de astros, diretores e pessoas do cinema que faleceram em 2024 e 2025. Como o de seu grande amigo Gene Hackman, falecido na semana passada, além de Maggie Smith, Kris Kristofferson, Louis Gosset Jr., Gena Rowland, James Earl Jones, David Linch, entre outros.

"Anora" (Foto: Universal Pictures)

Outro homenageado da noite, desta vez por Oprah Winfrey e Woopy Goldberg, foi o produtor musical, compositor, empresário e maestro Quincy Jones. Coube a Queen Latifah a interpretação de "Ease On Down the Road", uma das composições de Jones. 

Quentin Tarantino anunciou o Melhor Diretor, entregando a estatueta a Sean Baker por "Anora". A duplamente vencedora do Oscar, Emma Stone, anunciou Mikey Madison como Melhor Atriz em "Anora". O filme também conquistou a maior categoria do Oscar, vencendo como Melhor Filme.

Confira a lista dos vencedores

Melhor Filme: "Anora"
Melhor Filme Internacional: "Ainda Estou Aqui" (Brasil)
Melhor Direção: Sean Baker - "Anora"
Melhor Atriz: Mikey Madison - "Anora"
Melhor Ator: Adrien Brody - "O Brutalista"

"Emilla Pérez" (Foto: Paris Filmes)

Melhor Atriz Coadjuvante: Zoe Saldaña - "Emilia Pérez"
Melhor Ator Coadjuvante: Kieran Culkin - "A Verdadeira Dor"
Melhor Roteiro Original: "Anora"
Melhor Roteiro Adaptado: "Conclave"
Melhor Montagem: "Anora"
Melhor Figurino: Paul Tazewell - "Wicked"
Melhor Maquiagem e Cabelo: "A Substância"
Melhor Trilha Sonora Original: "O Brutalista"

"A Substância" (Foto: Universal Pictures)

Melhor Canção Original: "El Mal" - "Emilia Pérez"
Melhor Animação: "Flow"
Melhor Design de Produção: "Wicked"
Melhor Som: "Duna: Parte 2"
Melhores Efeitos Visuais: "Duna: Parte 2"
Melhor Fotografia: "O Brutalista"
Melhor Documentário: "No Other Land"
Melhor Documentário em Curta-Metragem: "A Única Mulher na Orquestra"
Melhor Curta-Metragem: "I'm Not a Robot" (Irlanda)
Melhor Curta-Metragem Animado: "In the Shadow of the Cypress"


"O Brutalista" (Foto: Universal Pictures)

03 fevereiro 2025

"Emília Pérez" estreia nos cinemas brasileiros carregado de polêmicas

Considerado um dos favoritos ao Oscar 2025, filme recebeu 13 indicações e tem no elenco Karla Sofía 
Gascón e Zoe Sandaña  (Fotos: Paris Filmes)


Jean Piter Miranda


Nas últimas décadas, muitos criminosos ligados ao tráfico de drogas fizeram cirurgias plásticas para mudar de rosto e de identidade. São muitas histórias que ocorreram em diversos países. Tudo para poder driblar a polícia e a justiça. Sumir do mapa e começar uma nova vida em outro lugar. 

Parece roteiro de cinema e agora se torna a trama central de “Emília Pérez”, filme que recebeu 13 indicações ao Oscar 2025 e estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (6). 

O traficante mexicano Manitas Del Monte (Karla Sofía Gascón) procura a ajuda da advogada Rita (Zoe Saldaña). Ele quer fazer uma cirurgia de mudança de sexo, trocar de identidade e abandonar o mundo do crime. 


Manitas, chefe do cartel Juan Del Monte, vira Emília Pérez. Mas há um preço a pagar por isso. Não apenas em dinheiro. Para começar uma nova vida, é preciso deixar tudo para trás. É preciso ter um bom plano e seguir tudo à risca. 

Rita, a advogada, vive frustrada com sua profissão. Por ganhar pouco e, principalmente, por sentir que não atua em favor da justiça. Ela então recebe a proposta para fazer todos os trâmites para que Manitas faça a troca de gênero. 

Pesquisar clínicas, preços, conversar com médicos, ver questões bancárias, entre outras coisas. Claro, para isso, vai receber uma boa grana. 


Os procedimentos são feitos. Rita segue sua nova vida. Emília também. Mas elas se cruzam novamente. Não por acaso. Mais uma vez, Emília quer a ajuda de Rita. Agora para recuperar parte do que era importante para ela, de quando ainda era Manitas. Aí as coisas começam a se complicar. 

A trama é bem envolvente. Emília tem que lidar com um novo mundo a sua volta, com a nova aparência, sua sexualidade, seus afetos, amores, paixões. E isso traz muitos conflitos, muitos dilemas. Inclusive para Rita.

Vale destacar que "Emília Pérez" é um musical. Ou talvez seja um “meio musical”. Diferente de obras em que são feitas quase totalmente em canções e coreografias, o longa tem apenas algumas poucas cenas cantadas. Com o desenrolar da história, a gente até esquece que se trata de um musical. 


Além dos conflitos pessoais e familiares dos personagens, o filme também aborda brevemente questões que são caras para os mexicanos. A busca pelas milhares de pessoas desaparecidas por conta do tráfico de drogas e o drama das famílias que sofrem sem saber se um dia serão encontradas ou se foram mortas. 

O filme teve ótima aceitação pelos festivais e recebeu boas críticas por onde passou. Exceto no México. Por lá, os espectadores e a imprensa especializada vêm detonando o longa. Eles alegam que o filme é superficial e carregado de clichês e estereótipos que não retratam a cultura mexicana. 

Também reclamam do fato de o elenco ser composto por estrangeiros. Karla é espanhola, Zoe e Selena são estadunidenses. Edgar Ramirez é venezuelano e apenas Adriana Paz é mexicana. Isso sem falar que o diretor, Jacques Audiard, é francês. 


Selena Gomez, embora tenha ascendência mexicana, vem recebido muitas críticas por não falar o espanhol fluente e por ter um sotaque “americanizado”. Algo que só é perceptivo para os mexicanos. É como se pegássemos a maravilhosa argentina Eva de Dominici para interpretar uma brasileira. Certamente, faria sucesso mundo afora, mas, o público brasileiro nunca iria engolir. 

Karla Sofía é a primeira mulher trans a ser nomeada para o Oscar. Ela e Zoe Saldaña estão ótimas. Não por menos, foram indicadas aos prêmios de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante. Edgar Ramirez e Adriana Paz também têm atuações muito boas. 


O longa também concorre nas principais categorias do Oscar: Melhor Filme, Filme Internacional e Direção. Além disso, está na disputa de Melhor Roteiro Adaptado, Canção Original ("Mi Camino" e "El Mal"), Trilha Sonora Original, Edição, Som, Fotografia e Cabelo e Maquiagem. 

São 13 indicações ao Oscar! Isso faz de Emília Pérez o filme de língua não-inglesa a conseguir o maior número de indicações na premiação. O recorde anterior era de “O Tigre e o Dragão” (2000) e “Roma” (2018), ambos com 10. 

Em meio a polêmicas, "Emília Pérez" já faz história e chega como favorito ao Oscar 2025. Uma narrativa diferente, quase um gênero novo, que conta bem a história que propõe. Vale a pena ver na telona. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jacques Audiard
Produção: Pathé Films, France 2 Cinéma, Saind Laurent Productions, Page 114, Why Not Productions, Pimenta Films
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos
País: França
Gêneros: musical, comédia, drama

09 janeiro 2025

“Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”: uma jornada pela simplicidade da vida no sertão

Live-action tem o simpático e espevitado Isaac Amendoim como protagonista (Fotos: Paris Filmes)


Filipe Matheus
Parceiro Blog Maravilha de Cinema


Imagina a surpresa de Chico Bento ao descobrir que sua goiabeira preferida será derrubada para a construção de uma nova estrada nas terras de Nhô Lau (Luis Lobianco). Esse é o ponto de partida do filme “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa”, que estreia nesta quinta-feira (9) nos cinemas. 

Dirigido por Fernando Fraiha, o live-action tem o simpático e espevitado Isaac Amendoim como protagonista. A atuação de Isaac Amendoim é um deleite para o espectador. Parece que o ator nasceu para viver o personagem, trazendo uma performance genuína, como se Chico Bento fosse uma pessoa real. Sua atuação brilhante dá vida ao personagem de forma natural e envolvente.



Criado em 1961 pelo cartunista Maurício de Sousa, Chico Bento é facilmente reconhecível pelo chapéu de palha, camiseta amarela, calça listrada rasgada e pés descalços. Com seu jeito simples e carismático, conquista fãs por onde passa, e é impossível esquecer o clássico “Ara, sô!” — uma marca registrada que encanta gerações.

Na trama, Chico leva uma vida tranquila na Vila Abobrinha, rodeado de amigos e goiabas, até que a construção de uma estrada, que vai derrubar seu pé de goiaba preferido, na fazenda do Nhô Lau, mobiliza toda sua turma.


Rosinha (vivida por Anna Júlia Dias) tem um papel fundamental na história, ao lado de Chico, fortalecendo o enredo da amizade e da preservação da natureza. No elenco jovem temos ainda Pedro Dantas (Zé Lelé, primo de Chico), Lorena de Oliveira (Tábata, melhor amiga de Rosinha), Davi Okabe e Guilherme Tavares como os inseparáveis amigos Hiro e Zé da Roça.

Débora Falabella interpreta a professora Marocas, e Taís Araújo traz uma nova perspectiva à trama, enriquecendo a história com um papel importante. Além de Augusto Madeira, como o coronel Dotô Agripino, e Enzo Henrique, como Genesinho, filho dele, que querem derrubar a goiabeira.


Após “Bem-Vinda, Violeta!” (2022), com Débora Falabella, o diretor Fernando Fraiha continua a mostrar sua sensibilidade, exibindo a vida no sertão, e mostrando a realidade vivida pelos personagens.

A fotografia de Gustavo Hadba, a atmosfera lúdica e as cores quentes do filme destacam sua importância para adultos e crianças, tocando o espectador com nostalgia.

Um dos grandes destaques do filme é a beleza da narrativa, que flui de maneira natural, sem forçar situações, e nos lembra da importância de apreciar as pequenas coisas e do valor essencial do ser humano. 


O longa combina ainda a inocência dos gibis com as belas ideias das graphic novels do personagem, agora ganhando vida nas telonas.

Com sua narrativa encantadora e personagens inesquecíveis, “Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa” toca o coração de quem assiste, mostrando a beleza das coisas simples e a importância de preservar o que amamos. 

Uma ótima opção para levar a criançada, especialmente aquelas que não conhecem este encantador personagem de Maurício de Sousa e um dos integrantes da Turma da Mônica.


Ficha técnica:
Direção: Fernando Fraiha
Roteiro: Elena Altheman, Fernando Fraiha e Raul Chequer
Produção: Biônica Filmes, coprodução Maurício de Sousa Produções, Paris Entretenimento, Paramount Pictures
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h30
Classificação: livre
País: Brasil
Gêneros: aventura, comédia, família

21 novembro 2024

"A Linha da Extinção" traz suspense, ação e fragilidade no protagonismo

Longa tem como protagonistas Anthony Mackie e Morena Baccarin e lembra outros filmes sobre ataques de monstros extraterrestres (Fotos: Divulgação)


Eduardo Jr.


O diretor norte-americano George Nolfi ("The Banker" - 2020) volta à cena. Desta vez, com o filme "A Linha da Extinção" ("Elevation"). A produção estrelada por Anthony Mackie (que trabalhou com Nolfi em"The Banker"e participou de "Capitão América 2: O Soldado Invernal" - 2014) e Morena Baccarin ("Deadpool" - 2016), chega às telonas nesta quinta-feira (21), distribuído pela Paris Filmes.    

Na trama, 95% da população mundial foi exterminada quando crateras se abriram em todo o mundo, e dela emergiram criaturas que matam os humanos. 

A única forma de se proteger foi buscar locais acima de 2.400 metros de altitude. Nas montanhas, Will (Mackie) cuida sozinho do filho Hunter, vivido pelo pequeno Danny Boyd Jr. (da série "Watchmen" - 2019). 


Os problemas respiratórios do garoto e o iminente término dos remédios dele obrigam Will a descer a montanha para tentar pegar medicamentos no que sobrou do hospital da cidade. 

A jornada de Will é compartilhada com Nina, vivida por Morena Baccarin, e Katie, interpretada por Maddie Hasson (da série "The Finder"- 2012). E aí começam os problemas. A personagem de Anthony Mackie tem um arco dramático fraco. 

Tão fraco que o espectador pode criar mais interesse e curiosidade pela personagem de Morena Baccarin, a cientista que procura uma forma de matar os monstros e que tem camadas e trajetória mais ricas. 


A proposta de um mundo destruído após o ataque de criaturas estranhas não é inédita. As notícias de ataques contra humanos são noticiadas em rádios e TVs. A origem das criaturas é desconhecida e a sobrevivência depende de um afastamento de determinadas áreas. 

Elementos que remetem à série "The Last of Us" (HBO - 2023). E como "A Linha da Extinção" conta com os mesmos produtores de "Um Lugar Silencioso" (2018), também é possível ver pontos de semelhança entre essas duas obras. 

O longa teve orçamento de US$ 18 milhões. Mesmo com cenas aéreas valorizando a paisagem das montanhas e ampliando a sensação de isolamento, ainda é possível tecer críticas sobre aspectos técnicos da obra de George Nolfi. 


Em certos momentos, a edição de som derrapa ao trazer ruídos que podem prenunciar um perigo (que demora um pouco a surgir) e que não representam a passagem por um ambiente hospitalar em ruínas, por exemplo. Há também momentos de ação onde a tela escurece e a movimentação da câmera confunde o espectador. 

Os diálogos também são rasos. O melhor do texto fica para a cientista Nina. Mas no meio disso tudo, o desenho das criaturas do mal é interessante. O suspense entretém na sua uma hora e meia de exibição. 

Fica a expectativa de uma continuação de "A Linha da Extinção" que explique por que os 2.400 metros de altura garantem a salvação e revele a origem e motivação dos monstros destruidores de humanos. De zero a dez, nota 6 para o filme. 


Ficha técnica:
Direção: George Nolfi
Produção: North.Five.Six
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h35
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: ação, suspense