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14 novembro 2024

“Gladiador 2” é tão bom quanto o primeiro e conta com Denzel Washington brilhante

Paul Mescal e Pedro Pascal protagonizam a nova obra do diretor Ridley Scott (Fotos: Paramount Pictures)


Wallace Graciano


Continuações de grandes obras nasceram fadadas ao fracasso. Também pudera, meu caro amigo leitor. Elas são muitas vezes elevadas a uma expectativa que trama alguma conseguiria suprir. Por isso, antes de falar sobre “Gladiador 2” ("Gladiator II"), em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, eu o convido para se despir de seus sentimentos em relação à obra icônica de Ridley Scott. Você não vai se decepcionar.

Se outrora Russell Crowe se consagrou no papel de “Maximus Decimus”, um poderoso general romano amado pelo povo e por Marcus Aurelius, agora o protagonista não tem nenhuma alta patente no Império. Seu nome é Hanno (ou Lucius…), interpretado por Paul Mescal, e ele se encontra na África, onde vê seu povo atacado por Roma e ser dominado.


Buscando vingança após ser capturado como prisioneiro de guerra pelo general Acacius (Pedro Pascal), que agia sob as ordens dos gêmeos imperadores Greta (Joseph Quinn) e Caracala (Fred Hechinger), ele cai nas mãos de Macarius (Denzel Washington). Macarius, que outrora era um mercenário, deseja transformar os prisioneiros em gladiadores e usá-los em busca de sua ascensão política. Ao conhecer Hanno, vê nele sua grande oportunidade de fazer um movimento certeiro. 

E é nesse momento que a trama começa a se mostrar forte. Aproveitando a sede de vingança do até ali Hanno, Macarius atiça a ira de seu prisioneiro ao seu favor enquanto começa a explorar o desejo de Greta e Caracalla por novos jogos no Coliseu. 


Paralelamente, Acacius e sua mulher, Lucilla (Connie Nielsen), que fora casada com Maximus, tramam uma operação para tentar derrubar a tirania dos gêmeos imperadores.

Fugindo dos clichês, mas explorando ao máximo a narrativa épica que o período pode trazer, "Gladiador 2" passa a te sugar neste momento. Apesar de ser repleto de batalhas espetaculares e paisagens grandiosas, a continuação se destaca por ter uma trama de fundo envolvente, com a profundidade que te faz prender o ar não somente nas cenas de ação. 


A direção de Ridley Scott é magistral, com cenas de batalha visceralmente realistas e uma fotografia impecável que transporta o espectador para a antiga Roma. Somado a isso, temos a atuação magistral de Denzel Washington, que é, sem dúvida, o melhor personagem de toda a trama. 

Porém, precisamos dizer que a história, embora complexa, peca por não desenvolver suficientemente os personagens secundários e por ter uma duração excessiva. A atuação de Paul Mescal é competente, mas não consegue alcançar a intensidade de Russell Crowe. O personagem mais carismático da obra, dessa forma, vem de Washington. 


Ainda assim, precisamos dizer que a comparação com o primeiro filme é inevitável, mas que Scott acertou ao explorar desta vez temas como poder, honra e vingança de forma mais ampla, englobando elementos políticos e sociais. 

É uma sequência muito boa, que seria uma obra de grande impacto na história, mas existe o primeiro, que, sim, está em um degrau superior. O que não é nenhum demérito. 

Curiosidades

- "Gladiador 2" surge 24 anos após o filme original, também dirigido por Ridley Scott, que arrecadou mais de US$ 460 milhões nas bilheterias e conquistou cinco Oscars.

- Pedro Pascal, das séries "The Last of Us" e "The Mandalorian", atuou ao lado de Denzel Washington, em "O Protetor 2" (2018), e de Connie Nielsen, em "Mulher Maravilha 1984" (2020).


Ficha técnica
Direção: Ridley Scott
Roteiro: David Scarpa
Produção: Paramount Pictures, Red Wagon Entertainment, Scott Free Productions
Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h30
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: ação, drama, épico

21 janeiro 2023

"Aftersun" é um filme pra ser visto pelo menos duas vezes

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual (Créditos: Sarah Makharine/Divulgação)


Jean Piter Miranda


No final da década de 1990, Sophie (Frankie Corio), de 11 anos, e seu pai Calum (Paul Mescal) passam férias no litoral da Turquia. Os dois se dão muito bem. São companheiros, amigos. Ele faz de tudo para ser o melhor pai. Ela está em uma fase de descobertas e amadurecimento. 

E há uma câmara entre eles, gravando vários momentos que vão ecoar no futuro. Passados 20 anos, em meio a muitas lembranças, Sophie tenta lidar com tudo o que naquela época não sabia sobre o próprio pai. Esse é "Aftersun", da diretora Charlotte Wells, disponível na plataforma Mubi e ainda em cartaz em salas alternativas de cinema. 


Sophie e Calum estão hospedados em um hotel que não é nada luxuoso. Mas é o suficiente para que eles possam curtir o sol e a piscina. Eles passeiam por vários locais. Fazem piadas, dão risadas e, no meio de tudo isso, a menina sai fazendo perguntas ao pai. Hora sobre a vida deles, hora sobre curiosidades. 


É tudo muito leve, descontraído. Estão curtindo férias em um lugar legal, como planejaram. E a câmera deles vai filmando pequenos momentos dos dois juntos. A partir daí, o filme vai tomando três caminhos. 

Sophie está numa fase de descobertas. É uma pré-adolescente. Ela fica observando as conversas e as brincadeiras dos outros jovens um pouco mais velhos. 


Meninas que aparentam ter 15 ou 16 anos e seus namoradinhos. Todos muito eufóricos. Sophie, mais contida e observadora, fica próxima, buscando ser convidada para participar das brincadeiras no clube com essa turma. 

Ao mesmo tempo, ela se aproxima de um menino de sua idade, com quem passa a interagir mais e mais. 


Calum não está bem. Hora parece que falta a ele paciência, hora ele parece ansioso, preocupado. Presente de corpo e com a cabeça longe. Tentando com todas as forças não transparecer suas aflições. 

Vida pessoal, vida profissional, sonhos, expectativas. E ele segue se esforçando para dar bons momentos a sua filha. Situações que vão sendo percebidas em cada um dos diálogos entre eles. 


Entre uma cena e outra surgem filmagens que foram feitas pela câmera de Sophie e Calum. Imagens tremidas, por vezes sem foco, sem o devido enquadramento, o que dá um ar perfeito de amadorismo, de vídeo caseiro. 

É aí que percebemos que as férias estão no passado. Sophie está adulta, relembrando tudo, revendo as gravações, só que não está feliz. Está angustiada, inquieta, em uma atmosfera que transmite tristeza e incapacidade. 


"Aftersun" passa aquela sensação de nostalgia. Quem viajou em família com uma câmera nos anos 1990 poderá se identificar e se emocionar. Quem é apaixonado por audiovisual e entende essa potência que as filmagens têm de eternizar momentos, também vai se emocionar. Ainda mais quando o filme termina e as peças são ligadas. 

É sobre paternidade, memórias, amizade de pai e filha. É sobre as dores e delícias da vida. É sobre a vontade de voltar no tempo para mudar alguma coisa, pra reviver um abraço, ou pra ficar um pouco mais. 

Charlotte Wells de boné preto

O longa marca a estreia da jovem diretora escocesa Charlotte Wells (35 anos). Filme que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, vencendo vários prêmios

Entre eles, o British Independent Film Awards, nas categorias de Melhor Filme Independente Britânico, Melhor Direção, Roteiro, Diretor estreante, Fotografia, Edição e Supervisão de música. Charlotte também foi reconhecida na categoria de direção inovadora no Gotham Awards 2022. 

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual. "Aftersun" é uma obra de arte agridoce, que a gente vê uma vez e gosta, pede mais, assiste outra vez e multiplica as emoções. 


Ficha técnica:
Direção: Charlotte Wells
Produção: BBC Film, BFI e Screen Scotland, em associação com a Tango
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: plataforma Mubi e nas salas 3, do Una Cine Belas Artes (sessão das 16h30) e sala 2, do Minas Tênis Clube (sessão das 20h10)
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido e EUA
Gênero: drama

12 janeiro 2022

Fiel ao livro, o filme “A Filha Perdida” perturba, provoca, incomoda, instiga e faz pensar no tabu da maternidade

Olivia Colman dá vida a Leda, uma professora que aos 50 anos precisa rever e confrontar seu passado (Fotos: Yannis Drakoulidis/Netflix) 


Mirtes Helena Scalioni


Historicamente, livros são sempre melhores do que filmes. Na maioria das vezes, infinitamente melhores. Esse não é o caso, porém, de “A Filha Perdida” ("The Lost Daughter"), em exibição no Netflix, baseado na história de mesmo nome da escritora Elena Ferrante. Aqui, ambos são excelentes, igualmente complexos, instigantes e desconfortáveis, exatamente por tocar num tema sacralizado, e quase sempre romantizado: a maternidade e seus tabus.

A culpa dessa espécie de empate entre as duas obras cabe a três mulheres: à roteirista e diretora Maggie Gyllenhaal, que soube transformar com maestria o texto em filme sem que nada da ideia original se perdesse, e às atrizes Olivia Colman e Jessie Buckley, que dão vida à protagonista Leda na maturidade e na juventude. A interpretação das duas dá o tom e o ritmo do filme.


A professora universitária de Literatura Comparada beirando os 50 anos (Colman) chega a uma ilha da Itália aparentemente para descansar e - quem sabe? - estudar. Hospeda-se num apartamento alugado, cujo caseiro é o simpático e solícito Lyle (Ed Harris). 

Só que em sua primeira ida à praia, depois de conhecer rapidamente Will (Paul Mescal), o dono do café-restaurante, ela se surpreende com a chegada de uma família americana, tão numerosa quanto ruidosa, e descobre, aos poucos, que seu sossego acabou.


A forma como Leda observa e interage com os componentes daquela família, vai se transformando, aos poucos, em perguntas, dúvidas e até certo ponto, em incômodo. Principalmente quando ela se aproxima de Nina (Dakota Johnson), a jovem e angustiada mãe da pequena Helena, sempre às voltas com sua boneca. 

E quando essa relação vai sendo intercalada com flashbacks de suas próprias lembranças de estudante e profissional ávida por conhecimento, novidades e paixões, em confronto com seu ofício de mãe de duas filhas pequenas, o desconforto pode virar aflição.


A entrada do personagem da professora jovem parece confundir mais ainda – e talvez seja esse o objetivo do longa. Com precisão e muito brilho, ambas as atrizes entregam uma Leda pulsante, mas partida, às vezes disposta ao grito, às vezes ao riso. 

Mas são os olhares, as expressões, gestos e até o andar de Leda na pele de Olívia Colman que conduzem o espectador, de um jeito torto, à estranheza, a algum lugar semelhante a uma angústia. Que atriz extraordinária! E que pode ser novamente indicada ao Oscar 2022 como Melhor Atriz.


Em algum momento, às voltas com um casamento complicado, Nina se abre com Leda e pergunta: quando essa angústia vai passar? Ao final do filme, a questão permanece sólida. Assim como continua a ideia de que ser mãe é tão difícil – quase impossível - quanto descascar uma laranja sem romper a casca.

 
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Maggie Gyllenhaal
Exibição: Netflix
Duração: 2h02
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gênero: Drama