Atuações do jovem Jules Lefebvre e do experiente Benoit Poelvoordesão destaques desta produção francesa (Fotos: Caroline Bottaro) |
Mirtes Helena Scalioni
Para início de conversa, é difícil entender por que "As Histórias de Meu Pai" ("Profession du Pére") é classificado, inicialmente, como comédia. Não é. Embora o espectador possa até rir ao longo do filme, dirigido por Jean-Pierre Améris (“A Linguagem do Coração”- 2014), na maior parte do tempo, a produção francesa que entra em cartaz nesta quinta-feira (9) transmite mesmo é espanto diante da estranha relação entre pai e filho, intermediada por uma silenciosa omissão da mãe.
Logo no início, fica claro que André Choulans, magistralmente interpretado por Benoit Poelvoorde (“Mentiras Secretas” -2021), é um mentiroso compulsivo, um típico e perigoso mitômano que, com sua autoridade de pai, vai envolvendo o pequeno Emile, de 11 anos, em seus delírios e bizarrices.
Inocente, o menino parece ter adoração por aquele pai herói que diz já ter sido paraquedista, campeão de judô, amigo de Édith Piaf e até conselheiro do general Charles De Gaulle.
A história se passa em Lyon, na década de 1960, quando André, dizendo-se traído pelo presidente, envolve o filho num projeto para matar De Gaulle.
Afirmando ser membro de uma OAS, espécie de organização clandestina que se opõe à independência da Argélia, ele vai transformando o filho num agente secreto, a quem são dadas missões perigosas como colocar cartas anônimas nas caixas de correio de autoridades ou pichar muros da cidade.
Mas o grande trunfo do longa francês é, sem dúvida, a atuação de Jules Lefebvre como Emile. Inacreditável e encantadora a expressão do pequeno ator diante do “heroísmo” do pai, sua alegria e determinação diante das missões que tenta cumprir e até a aceitação submissa dos castigos que recebe quando o pai acha que ele não foi eficiente.
Chama atenção também a graça com que ele, fazendo ar de mistério, tenta cooptar seu colega de sala, Lucas (Tom Levy) para a organização secreta com o objetivo de eliminar o presidente da França.
Em seu papel de mãe que nada pode fazer para estancar as loucuras do marido, Audrey Dana, como Denise Choulans tem interpretação correta e na medida.
Ao final, quando a história dá um salto de cerca de 20 anos, o público pode, inclusive, compreender melhor sua omissão diante dos exageros do marido.
Mesmo não sendo comédia – talvez exatamente por isso – "As Histórias de Meu Pai" vale a pena ser visto, até para que se entenda o poder e a responsabilidade de um pai em sua relação com os filhos.
Também pode levar a alguma reflexão sobre os perigos que chegam a representar as ideias e ideologias extremistas, tão em voga no mundo de hoje.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Jean-Pierre AmérisProdução: France 3 Cinéma
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: França
Gêneros: comédia, drama