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31 março 2025

"Girassol Vermelho": um exagero de estranhezas, metáforas e absurdos que cansam o espectador

Protagonista, interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado entrando num trem misterioso (Fotos: Pandora Filmes)


Mirtes Helena Scalioni


É possível imaginar, mesmo sem nunca ter dirigido um filme, que retratar a obra de Murilo Rubião no cinema é tarefa difícil, quase impossível, mesmo que seja apenas uma homenagem. 

Ao que parece, Eder Santos tentou fazer isso, mesmo caindo na tentação de realizar um longa pesado, até certo ponto incompreensível, obscuro e misterioso, muitas vezes pecando pelo excesso de metáforas. 


Definitivamente, "Girassol Vermelho", livremente inspirado no mineiro Rubião, considerado o precursor do realismo fantástico, não é um filme fácil de assistir. O longa poderá ser conferido a partir do dia 3 de abril nos cinemas.

Se alguém se der ao trabalho de ler a sinopse do filme antes de vê-lo, vai ficar sabendo que Romeu, personagem interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado, entra num trem misterioso, mas para em algum lugar onde, desde o início, é questionado, maltratado e torturado por um sistema opressor que o espectador imagina - apenas imagina - qual seja. Um governo autoritário? A própria consciência de Romeu? Realidade ou pesadelo?


Os personagens vão entrando na história - que não é história - aos poucos. Da mulher de vermelho interpretada por Luiza Lemmertz que faz a dama fatal que atrai o homem para uma armadilha, até uma espécie de Grande Irmão, feito por Daniel Oliveira e que só aparece numa tela. 

Até os indefectíveis homens e mulheres da lei - interpretados por Bárbara Paz, Renato Parara e outros. Também não faltam cenas que parecem ser julgamentos, em que as testemunhas acusam Romeu de ser o homem que pergunta, que questiona, que quer saber.


Saliente-se que o calvário do personagem central se passa em um mesmo local, uma espécie de galpão industrial, constantemente envolto em fumaça - ou seria névoa? 

Com cara de filme experimental, "Girassol Vermelho" parece pecar pelas cenas longas, como a de um jantar onde todos estão sufocados dentro de sacos plásticos, menos Romeu, enquanto garçons servem e retiram pratos e copos. 


Se o objetivo era causar estranheza, o filme codirigido por Thiago Villas Boas atinge sua meta com louvor. Mas dificilmente vai conseguir conquistar o público médio de cinema. 

Mesmo reconhecendo que não se pode esperar algo verossímil a partir da obra de Murilo Rubião, que encantou e encanta leitores mundo afora com seus contos ao mesmo tempo belos e absurdos. No caso do longa, sobraram absurdos, faltou beleza.

PS: há uma única menção ao conto "A Casa do Girassol Vermelho", de Murilo Rubião, bem no início do filme, quando uma mulher lê um primeiro parágrafo para Romeu, assim que ele entra no trem.


Ficha técnica:
Direção: Eder Santos e codireção de Thiago Villas Boas
Roteiro: Mônica Cerqueira
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama

13 abril 2023

“O Lodo” promete encantar e instigar plateias Brasil afora

Estranho, forte, real, contundente e mágico, filme dirigido por Helvécio Ratton é baseado no conto homônimo de Murilo Rubião (Fotos: Bianca Aun e Lauro Escorel)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. O filme “O Lodo”, baseado no conto homônimo de Murilo Rubião, que estreia nesta quinta-feira (13) em todo o Brasil, não tem nada de leve e divertido como pode parecer no início, quando muita gente ri da insistência meio pegajosa do psiquiatra Dr. Pink.

Ele quer, a todo custo, continuar cuidando do seu novo cliente Manfredo, já que ele, embora deprimido, desiste do tratamento na primeira sessão. 

A cena dos dois discutindo naquele consultório – um no divã e o outro de costas, no sofá – leva o público a inevitáveis risadas. Puro engano.


O grande mérito do filme dirigido pelo mineiro Helvécio Ratton talvez seja este: enlevar, quase enfeitiçar o público até transportá-lo, com destreza e maestria, para um outro lugar.

Devagar, o riso vai virando um sorriso amarelo e, bem aos poucos, uma espécie de desconforto vai sendo construído na cabeça e no corpo do espectador, que acaba atolado num lamaçal – lodo? - que mais parece uma areia movediça.

Roteiro, direção, iluminação, fotografia, edição, tudo parece ter sido minuciosamente pensado para quebrar as estruturas do público.


Dita assim, rasteiramente, a história poderia ser simplesmente resumida como: Manfredo, funcionário burocrático de uma empresa de seguros, anda se sentindo desanimado e procura um especialista com o objetivo de obter um remedinho e voltar à normalidade.

Só que, desde a primeira consulta, o Dr. Pink insiste, de maneira incisiva e autoritária, que seu cliente precisa de novas sessões para falar do passado e, só assim, se livrar do lodo interno que o corrói e adoece.


Quem conhece o escritor sabe que “O Lodo” é essencialmente Murilo Rubião, com seus absurdos concretamente reais, seus delírios solidamente palpáveis.

Sem nenhum estranhamento, o público do filme de Ratton assimila – e aceita – a mágica fantasia dos personagens e acontecimentos. De bom grado e com naturalidade, como se tudo aquilo fizesse parte da vida.

As atuações de “O Lodo” são um capítulo à parte, assim como o cenário, a região mais central de Belo Horizonte, com locais facilmente reconhecíveis por quem conhece a cidade.


Assim como a maioria do elenco, Eduardo Moreira, que interpreta magistralmente o protagonista, faz parte do Grupo Galpão. 

Ele entrega um Manfredo trabalhador, burocrático, solteiro convicto, paquerador e mulherengo, sem nenhuma disposição para remexer o passado, talvez por medo das próprias lembranças.

Renato Parara, outro ator experiente, faz com brilho o esquisitíssimo psiquiatra que passa a perseguir seu cliente tanto em pesadelos como na vida real.


Estão ainda no elenco, todos com atuações perfeitas e na medida, Teuda Bara como D. Sirlene, a dedicada empregada de Manfredo; Maria Clara Strambi e Inês Peixoto como Epsila, a irmã adolescente e depois adulta do protagonista; Rodolfo Vaz como Xavier, o colega de trabalho de caráter duvidoso; Thaís Mazzoni como a colega de trabalho gostosinha Ana.

Temos também Fernanda Vianna como a amante Laura; Samira Ávila como a sedutora secretária do Dr. Pink; Mário César Camargo (que nos deixou há pouco tempo), como o chefe da seguradora; e Claudio Márcio como o estranho menino que chega a Beagá com Epsila.


Também é preciso citar a fotografia ora onírica, ora real, de Lauro Escorel, e a participação de L.G Bayão como roteirista parceiro de Helvécio Ratton a partir do conto. 

Com facilidade, ao final, o público vai sair com a certeza de que o grupo foi cuidadosamente montado para que a magia do filme pudesse acontecer. Imperdível!


Ficha técnica:
Direção: Helvécio Ratton
Produção: Quimera Filmes
Distribuição: Cineart Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h34
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: drama