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02 maio 2021

“Proibido Nascer no Paraíso" mostra o impedimento de partos e cirurgias em Fernando de Noronha

Documentário de Joana Nin estreia na plataforma Globoplay e no canal GNT (Fotos: Sambaqui Cultural/Divulgação)

Da Redação


Sabia que nascer em Fernando de Noronha é proibido? Entenda mais sobre esta polêmica questão no famoso arquipélago brasileiro no documentário “Proibido Nascer no Paraíso", em cartaz na plataforma Globoplay e com estreia prevista no canal GNT no próximo dia 5 de maio. 

Dirigido por Joana Nin, o documentário foi rodado entre 2017 e 2019 e acompanha três gestantes de famílias tradicionais da ilha, cujo desejo é dar à luz no local onde moram, perto de seus familiares. Há décadas, Ione, Harlene e Babalu são obrigadas a se deslocar para o continente para realizarem seus partos.  A ideia do projeto surgiu a partir da primeira visita dela à ilha quando ouviu a frase: “Aqui é proibido nascer”.


Ao investigar isso, descobriu que as grávidas são obrigadas a ir para Recife 12 semanas antes dos seus partos, que devem ser feitos na capital. Na ilha até existe hospital, mas que não realiza procedimentos obstétricos há quase 20 anos. Há muitos anos a comunidade acredita que os nascimentos foram suspensos para evitar que estes bebês reivindiquem direitos no futuro. 

Como as terras são públicas, os terrenos não podem ser oficialmente vendidos. Eles são concedidos por meio de um Termo de Permissão de Uso – TPU, um documento muito cobiçado. Moradores permanentes – com mais de dez anos de ilha – podem pôr o nome em uma lista e esperar pelo recebimento de um terreno, ou uma casa, já que oficialmente não há compra e venda de imóveis. E disputam espaço com os empresários do turismo.


Para a diretora, o tema é de interesse de todos os moradores e moradoras locais, e, por isso, todo mundo a ajudou muito fornecendo informações. Para realizar o filme, ela também explica que foi preciso conhecer a ilha, suas peculiaridades administrativas. 

Fernando de Noronha, um lugar dentro do Brasil com uma lógica própria, não é um município, é um distrito estadual de Pernambuco. O administrador é um cargo nomeado pelo governador, assim como todo pessoal de apoio. 

A única instância local com eleição democrática é o Conselho Distrital, que não tem função legislativa. A ilha até hoje funciona, de certa forma, como um presídio ou um quartel, a população é tutelada. Tudo é controlado pelo “Palácio”, como os moradores chamam a sede da administração na ilha. 


Em “Proibido Nascer no Paraíso", de acordo com a cineasta, a mulher sequer é considerada, parece ser propriedade de terceiros. Isso tem a ver com um movimento iniciado na década de 1940, quando a gestação passou a ser um tema médico, equiparado a uma doença, e não mais um assunto feminino familiar, como era até então.

"As condições precárias do hospital local, o São Lucas, afetam não apenas as gestantes, mas também os turistas, pois a instituição não está preparada para qualquer intervenção que dependa de um centro cirúrgico, anestesista, banco de sangue, UTI ou qualquer outro tipo de atendimento para além do básico", afirma Nin. 


Joana aponta que um dos objetivos do filme é “fazer o turista entender que a ele também faltará atendimento emergencial, caso precise. É triste pensar isso, mas os visitantes tem muito mais poder de barganha do que as mulheres da comunidade”. 

“Proibido Nascer no Paraíso" tem o poder de sensibilizar e transformar. "O fato de as mulheres não poderem escolher onde e como querem ter seus bebês foi tornado permanente há 17 anos, embora não exista nenhuma lei determinando nada disso. É revelador sobre o quanto ainda teremos que lutar para fazer valer nossos direitos, para ver respeitados nossos desejos. Espero que o filme contribua para essa reflexão e ajude, de alguma forma, em um processo de transformação desta realidade. Para que gestar e parir sejam atos mais respeitosos com as mulheres no futuro, não apenas em Fernando de Noronha, mas em todos os lugares”, conclui a diretora.


Campanha de impacto

O lançamento de “Proibido Nascer no Paraíso" foi planejado para acontecer na sequência de uma campanha de impacto. Desde maio de 2020, a produtora Sambaqui Cultural vem realizando sessões fechadas online com públicos estratégicos ligados diretamente ao tema gravidez e parto, ou ao direito da mulher, sempre seguidas de debate com a diretora e equipe. 

Foram mobilizados parceiros como OAB Mulher, Grupo Curumim, Rehuna, Instituto Aurora, CLAM (Centro Latino Americano em Sexualidade e Direitos Humanos) entre outros, atingindo um público qualificado.

Para o lançamento em maio, a equipe de produção está preparando um "barrigaço do mês das mães" com templates e convites para mulheres de todo o Brasil contarem sobre como tiveram, ou não, suas escolhas de parto respeitadas – a ser postada nas redes sociais do filme. Para saber como foi esse trabalho, acompanhe as redes sociais do filme listadas em https://linktr.ee/proibidonascernoparaiso.


Ficha Técnica
Produção, direção e roteiro - Joana Nin, Ade Muri, Sandra Nodari e Julia Lea de Toledo
Produção: Sambaqui Cultural
Distribuição: Boulevard Filmes
Duração: 1h18 minutos
Gênero: Documentário
Classificação: Livre