Um grupo de moradores argentinos começa a se organizar para criar uma cooperativa e sair do atoleiro (Foto: Alfa Pictures/Divulgação) |
Mirtes Helena Scalioni
É quase que imediata a identificação do público com os
personagens de "A Odisseia dos Tontos", filme argentino em cartaz em
Belo Horizonte e representante dos hermanos no Oscar de 2020. Algum traço dessa
comédia dramática, dessa aventura maluca, faz com que, rapidinho, o espectador
brasileiro se identifique e se coloque entre aqueles tontos, aquele bando de
trabalhadores cumpridores dos seus deveres e pagadores de impostos, cuja
honestidade e esforços nem sempre são reconhecidos pelos engravatados donos do
poder.
A história se passa em 2001, numa pequena vila da Província
de Buenos Aires. O momento é de crise econômica, mas um verdadeiro tonto sempre
acredita que tudo pode melhorar. Capitaneados pelo casal Fermín Perlassi e
Lídia Perlassi (Ricardo Darín e Veronica Llinás), um grupo de moradores começa
a se organizar para criar uma cooperativa e sair do atoleiro. A ideia é
reformar os velhos silos abandonados e, a partir daí, processar e armazenar
grãos. De porta em porta, Fermin e Lídia vão angariando apoios e alguns
trocados para dar vida ao sonho de melhorar a vida do lugar. Mais conhecido por
ter sido um jogador de futebol com alguma importância, Fermin vai à frente,
tornando-se uma espécie de líder.
Aos poucos, juntam-se a eles, sempre depois de muitas
perguntas e explicações, outros tontos tão desiludidos e sem rumo como o casal:
o velho Antonio Fontana (numa brilhante atuação de Luis Brandoni), Belaúnde (Daniel
Aráoz), Rodrigo Perlassi (Chino Darín, filho de Ricardo Darín), e a empresária
Carmem Largio (Rita Cortese) entre outros. Em comum, a esperança de dias
melhores. Um parêntese para destacar a interpretação de Brandoni, que já havia
mostrado seu talento como o artista plástico Renzo Nervi no excelente
"Minha Obra-prima", de 2018, também argentino.
Fica claro, assim que o grupo consegue, a duras penas, reunir
pouco mais de 150 mil dólares, que trata-sede gente, em sua maioria, com pouca
ou nenhuma instrução. E é essa espécie de singeleza, de ingenuidade, que cativa
o público que começa a torcer veementemente para os tontos assim que o dinheiro
deles, depositado num banco, é roubado por Fortunato Manzi (Andrés Parra) um
advogado inescrupuloso que agiu em parceria com o gerente da instituição. Lá,
como cá, as tais informações privilegiadas funcionaram e enriqueceram pessoas
próximas do poder. No Brasil, durante o confisco do governo Collor, no início
de 1990. Na Argentina, no chamado "Corralito", em 2001.
Embora pareça comédia, embora pareça aventura, "A Odisseia
dos Tontos" prende e emociona. Por mérito do diretor Sebastián Borensztein
há um suspense de tirar o fôlego nas cenas de organização e execução do plano
que pretende recuperar o dinheiro roubado do grupo. Há momentos também de muito
riso e trapalhadas, claro, já que aqueles homens e mulheres não são exatamente
especialistas nem experientes em nada. Por outro lado, Fortunato Manzi, o
advogado vilão, carrega as tintas na caricatura e ajuda a aumentar as risadas.
Nesses tempos de vacas magras, crise, corrupção e
injustiças, tanto no Brasil quanto na Argentina, não é difícil entender o
sucesso do filme. Lá, ele já é o longa mais visto do ano. De certa forma,
"A Odisseia dos Tontos" vai à revanche por todos os injustiçados e
desprotegidos. Vinga. Lava a nossa alma.
Confira também a crítica para o blog @cinemanoescurinho da nossa colaboradora Carol Cassese - "A Odisseia dos Tontos" - A 'tolice' como forma de resistência. A produção pode e vale ser conferida nas salas 1 do Belas, sessões às 14 e 19 horas; 2 do Diamond, às 13 horas, e 2 do Net Cineart Ponteio, às 16h15 e 21 horas.
Confira também a crítica para o blog @cinemanoescurinho da nossa colaboradora Carol Cassese - "A Odisseia dos Tontos" - A 'tolice' como forma de resistência. A produção pode e vale ser conferida nas salas 1 do Belas, sessões às 14 e 19 horas; 2 do Diamond, às 13 horas, e 2 do Net Cineart Ponteio, às 16h15 e 21 horas.
Duração: 1h56
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Classificação: 10 anos
Tags: #AOdisseiaDosTontos, #RicardoDarín, #Argentina,
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