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20 maio 2024

"Amigos Imaginários" é o reencontro com as emoções da infância que faz a gente chorar

Longa tem roteiro simples e bem conduzido, que remete a um mundo de fantasia (Fotos: Paramount Pictures)


Maristela Bretas


Se a intenção do diretor, roteirista e produtor John Krasinski era fazer com que uma história simples levasse às lágrimas apenas explorando as emoções e a imaginação, ele conseguiu bem demais. Impossível não tirar o lencinho da bolsa e ficar imune ao longa "Amigos Imaginários" ("If"), em cartaz nos cinemas.

O filme demora para entrar no mundo da fantasia dos personagens que um dia ocuparam a vida de milhões de crianças. Mas a partir do momento que surge o mais fofo deles - Blue (que é roxo), não tem como não se envolver com a história. 


Krasinski também tem importante papel no longa, como o pai da adolescente Bea (Cailey Fleming). Ele e a esposa criaram a filha mostrando que a fantasia e a imaginação são importantes na vida, especialmente nos momentos difíceis. 

Tudo começa quando a jovem precisa se mudar para a casa da avó (a veterana atriz Fiona Shaw) onde passou a infância com os pais. Após a morte da mãe e a doença do pai, Bea se sente deslocada e é incentivada pelo pai a reencontrar sua criatividade. 


Sem perceber o que estava acontecendo, ela começa a ver e interagir com os "migs", que só podem ser vistos por quem abre seu coração para as lembranças e emoções do passado. O encontro com Cal, que tem a aparência humana, vai mudar sua vida e a de todos à sua volta.

Ryan Reynolds está muito bem no papel de Cal, um cara que guarda mágoas do passado, mas que tenta ajudar os migs a reencontrarem seus amigos. O ator deixa de lado a ironia de "Deadpool" para apresentar um personagem que tenta recuperar a alegria de um dia ter sido amado por alguém. A presença de Bea faz com que ele deixe de ser o adulto antipático e mal-humorado para voltar a ficar de bem com a vida.


Destaque para Cailey Fleming, que entrega uma Bea abalada com a perda da mãe e a doença do pai. Mas que reencontra a felicidade ao ajudar os novos amigos diferentões. A jovem atriz (que interpretou a personagem Rey quando menina em "Star Wars: A Ascenção Skywalker" - 2019) se sai muito bem e vai conquistando o público ao longo da trama.

Mas as estrelas da produção são realmente os "Amigos Imaginários". Cada um, com sua história, só quer voltar a ser feliz junto com suas crianças, que agora cresceram e não se lembram mais deles. 

As personalidades são as mais diversas, reproduzindo o que cada uma de suas crianças sentia na época - alegres, faladoras, tímidas, medrosas, ousadas, histéricas, atrapalhadas, mas, acima de tudo, confiantes em seus migs.


O filme é colorido, vibrante, especialmente por causa dos personagens do mundo da fantasia. Enquanto os migs com suas trapalhadas encantam as crianças na plateia, é a pureza das boas lembranças do passado e os reencontros com seus antigos amigos que fazem os adultos se emocionarem e as lágrimas brotarem nos olhos.

Na versão dublada, a voz de Blue é do ator Murilo Benício, enquanto a boneca bailarina Blossom é dublada por Giovanna Antonelli. Até o filho do casal, Pietro, tem participação dando voz ao amigo Fantasma.

Na legendada, grandes nomes do cinema emprestam suas vozes aos "Amigos Imaginários": Emily Blunt (Unicórnio); Matt Damon (Sully); Steve Carell (o fofíssimo e engraçado Blue); Phoebe Waller-Bridge (a boneca Blossom), além de Brad Pitt, Bradley Cooper, George Clooney, Awkwafina, Sam Rockwell, Maya Rudolph, e muitos outros. 


A trilha sonora ganhou a batuta de Michael Giacchino, responsável por sucessos como as franquias "Jurassic World" (2015 a 2022), "Homem-Aranha" (2017 a 2021), "Planeta dos Macacos" (2014 a 2017), "Star Trek" (2009 e 2016), "Missão Impossível" (2006 a 2011), além de animações como "Divertida Mente" (2015), "Ratatouille" (2007) e "Viva - A Vida é Uma Festa"(2017) e dezenas de trilhas de outras obras cinematográficas.

Fica um alerta: após todos os créditos há uma homenagem especial ao ator Louis Gossett Jr., que faleceu em março deste ano, e fez a voz do sábio urso de pelúcia Lewis. 

Não perca a oportunidade de se emocionar e até lembrar de seu Amigo Imaginário da infância. Ah, não se esqueça de levar um lencinho. E se alguém descobrir quem foi a criança de Lewis, me conte, por favor.


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: John Krasinski
Produção e Distribuição: Paramount Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: família, fantasia, comédia, aventura

10 agosto 2023

As cores (e humores) de Wes Anderson estão de volta em “Asteroid City”

Novo longa recebeu indicação em Cannes, mas não é claro em sua proposta (Fotos: Universal Pictures)


Eduardo Jr.


Wes Anderson está de volta. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas seu mais novo longa, “Asteroid City”. A produção, distribuída pela Universal Pictures, põe na tela 105 minutos de uma obra fiel às características do cinema do diretor norte-americano. 

E ainda vem com uma chancela importante: a indicação à Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes de 2023. Filmado na Espanha, em uma paisagem rural desértica, a obra pode fazer tanto sentido quanto uma imensidão de areia. Mas diverte o público em alguns momentos. 


No filme, uma convenção de observadores de astronomia em uma cidade no deserto norte-americano ganha novos contornos após um evento marcante (e cômico). A história se passa na década de 1950 e parece confusa em alguns momentos, por pincelar vários temas de uma vez. 

Também por ser uma produção que avisa ao espectador que a trama vai ser apresentada em um programa de TV, mas tudo não passa de uma encenação teatral (oi?). Tem ainda uma família com o carro estragado que ficou presa em Asteroid City, cuja população se dedica a observar nossa galáxia após a queda de um meteorito tempos atrás. 


Apesar da presença dessa família, não dá pra dizer que o longa tenha um protagonista. É típico dos filmes de Wes Anderson um elenco digno de novela de Glória Perez, com dezenas de personagens. 

Pela tela desfilam nomes famosos e de peso como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber, Adrien Brody, Jeff Goldblum, Margot Robbie, Willem Dafoe, Matt Dillon, Steve Carell, Maya Hawke e Rita Wilson - e mesmo que eles não tenham uma história pra desenvolver, a lista segue aumentando. 


Se o diretor já adotou esse expediente de riqueza de elenco, como em “O Grande Hotel Budapeste” (2014), por que não repetir também as participações especiais? Em “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), o cantor Seu Jorge participou do longa. 

E agora, o brasileiro retorna em “Asteroid City” como integrante de um grupo de músicos - e reforçando a amizade de longa data que mantém com Wes Anderson. 


A cena musical em que Seu Jorge aparece com seu violão e sua voz grave é hilária. Aliás, o filme como um todo parece um grande deboche do diretor com relação ao comportamento americano em situações diversas. Mas também traz pitadas de drama e de romance (que não funciona, você vai ver). 

Provavelmente é uma comédia com uma história incompleta, um pouco maluca. Nota dez, só para os enquadramentos e cores do longa, embora isso não seja nenhuma novidade a respeito de um cineasta que já se tornou até trend top no TikTok, com usuários fazendo vídeos do cotidiano como se estivessem em uma obra do americano. 


Fiel a sua estética e a sua forma de conduzir, Wes Anderson entrega um filme que se pretende divertido, com fotografia apurada, figurinos com vários modelos e designs clássicos dos anos 1950 e uma paleta de cores pastel. 

A divisão em atos, o deslizar das câmeras nos planos-sequência e a mudança do colorido para o preto e branco são bem ajustados. 


Ainda assim, é difícil resumir, de forma clara, do que se trata o longa quando assuntos como luto, alienígenas, romance e autoridades estúpidas são misturados. 

A experiência de “Asteroid City”, no entanto, pode valer a pena. Faz o público sair da sala escura levando algumas dúvidas e muitos risos. 


Ficha técnica:
Direção: Wes Anderson
Produção: Universal Pictures, Focus Features, American Empirical, Indiam Paintbrush
Distribuição: Universal Pictures   
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: comédia, drama

20 julho 2022

"Minions 2 - A Origem de Gru" garante boas gargalhadas, vilões divertidos, ótima trilha sonora e até homenagem ao kung-fu

Os amarelinhos mais divertidos do planeta e seu malvado chefe favorito estão de volta numa batalha divertida contra supervilões (Fotos:Universal Pictures)


Maristela Bretas


Pode até parecer que "Minions 2 - A Origem de Gru" ("Minions: The Rise of Gru"), a nova animação da Universal Pictures, é uma continuação da franquia "Meu Malvado Favorito". Mas o segundo filme com os amarelinhos mais loucos do planeta é tão divertido ou mais que seu antecessor, "Minions", de 2015. Prova disso é o sucesso de bilheteria da produção, que atingiu a casa dos 400 milhões de dólares desde sua estreia no dia 30 de junho, ameaçando inclusive a liderança de "Top Gun: Maverick".


Nossos amiguinhos de olhos grandes estão mais atrapalhados que nunca, especialmente porque finalmente se uniram a seu líder definitivo, Gru (novamente com excelente dublagem em português de Leandro Hassum e na versão legendadas com a voz do indicado ao Oscar, Steve Carell). 

A nova produção dá continuidade à história que começou no primeiro filme. O vilão, com apenas 12 anos, quer provar que pode ser o maior de todos e entrar para uma quadrilha de grandes vilões - a Vicious 6.


Os Minions (cujas vozes inconfundíveis são do diretor da franquia, Pierre Coffin) continuam fofos e encantadores e o enredo do filme foca em quatro deles - Stuart, Kevin, Bob e Otto. Este último é um jovem que usa aparelho nos dentes, se distrai com qualquer coisa diferente ou colorida e tem uma necessidade desesperada de agradar.

Junto com os demais irmãos, eles constroem o primeiro esconderijo de seu adorado chefe, projetam suas primeiras armas e unem forças para executar as primeiras missões sob as ordens do nosso adolescente malvado favorito, que não lhes dá o devido valor.


Gru tem outros planos e tenta se separar de seus aliados para entrar no sexteto de supervilões que tinha acabado de expulsar seu líder Wild Knuckles, considerado muito velho para continuar no grupo. Recusado e humilhado pelo grupo por ser considerado criança e baixinho, ele rouba da gangue um importante artefato que dá poderes a quem o possuir.

Um pequeno "deslize" do inocente, mas divertidamente desastrado Oto faz com que Gru também perca o objeto e tem adiado seus planos de se tornar um supervilão. Para piorar, passa a ser perseguido, junto com seus amiguinhos amarelos, pelos integrantes da Vicious 6.


Essa perseguição é uma das mais loucas e engraçadas e atravessa o país. Gru, separado de seus amigos, procura um mestre que lhe ensine a arte da vilania. Enquanto isso, Kevin, Stuart e Bob tentam achar seu chefe e até kung-fu eles irão aprender. Essa é uma das partes mais hilárias do filme. E o fofo Oto, separado de todos, vai viver inesquecíveis aventuras, enquanto tenta recuperar o objeto que perdeu.

"Minions 2 - A Origem de Gru" explica várias situações do primeiro filme da franquia "Meu Malvado Favorito" (2010) - quem assistiu vai entender. Em meio a situações engraçadas, o filme explora também as fraquezas dos personagens. Especialmente Gru, que sente a falta de uma figura paterna que lhe ensine e o apoie em suas descobertas no mundo das malvadezas.


Já os Minions continuam querendo agradar e proteger seu líder, mas precisam encontrar sua força interior. Para isso vão contar com a acupunturista Master Chow (voz de Michelle Yeoh) os ensinamentos do kung fu. O filme também presta homenagem a esta arte marcial e ao trabalho no cinema de artistas como Jackie Chan, em “O Mestre Invencível”, e Stephen Chow, em “Kung-Fusão” e “Kung Fu Futebol Clube”.

Até mesmo o ex- líder do Vicious 6 sofre por ter sido abandonado por seus antigos comparsas por ser considerado velho. Ele também quer encontrar quem lhe dá valor, apesar da idade e divida os momentos de vilania. Ninguém melhor para dar voz ao personagem Wild Knuckles do que o vencedor do Oscar, Alan Arkin. 

O filme também vai apresentar o jovem Dr. Nefário, aspirante à cientista maluco que ninguém dá crédito, estrelado por Russell Brand, e a atriz vencedora do Oscar, Julie Andrews, como a mãe egocêntrica de Gru, outro de seus traumas.


Na versão legendada de "Minions 2 - A Origem de Gru" o expectador poderá conferir as vozes de grandes astros, emprestadas aos personagens. No Vicious 6, Taraji P. Henson é a líder descolada e confiante Belle Bottom, cujo cinto de correntes funciona como um globo de discoteca letal. 

Jean-Claude Van Damme é o niilista Jean Clawed, armado com uma garra robótica gigante; Lucy Lawless é Nunchuck, cujo hábito de freira esconde seus mortais bastões nun-chuck; Dolph Lundgren é o campeão sueco de patins Svengeance, que elimina seus inimigos com chutes giratórios de seus patins afiados; e Danny Trejo é Stronghold, cujas mãos de ferro gigantes são uma ameaça para os outros e um fardo para ele próprio.


Outro ponto superpositivo é a trilha sonora arrebatadora dos anos 1970, quando a era Disco estava arrasando. A produção musical ficou sob a responsabilidade do vencedor do Grammy, Jack Antonoff. A trilha sonora do filme está disponível nas principais plataformas digitais: Confira um pouco clicando aqui

Diana Ross ft. Tame Impala lidera o álbum com o alegre e dançante primeiro single, “Turn Up The Sunshine”. O clipe da música já está com mais de 3,3 milhões de visualizações no Youtube. 

"Minions 2 - A Origem de Gru" é acima de tudo um filme muito divertido sobre amizade, lealdade e respeito, com vilões e monstros coloridos e personagens engraçados. Uma diversão para a família toda e todas as idades. Imperdível.


Ficha técnica:
Direção:
Kyle Balda e Brad Ableson
Produção: Illumination Entertainment / Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h28
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, família, ação

30 janeiro 2019

Original e criativo, "Vice" é, antes de tudo, um filme cínico

O diretor Adam McKay fez a escolha acertada ao chamar Christian Bale para viver o personagem Dick Cheney (Fotos: Universum Film/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Não há como negar: é muito criativa a forma que o diretor Adam McKay encontrou para mostrar como o jovem beberrão e mau elemento Dick Cheney se transformou, durante um tempo, no homem mais poderoso do mundo. A história do vice-presidente de George W. Bush, que ficou no poder de 2001 a 2009, é contada de um jeito original e único no filme "Vice", em que o diretor convida constantemente o espectador a observar, refletir, participar.

A narração em "off" e o depoimento direto para a câmera de alguns dos coadjuvantes da vida de Dick ajudam a carregar na ironia, quase caindo na galhofa. Não faltam piadas entre uma e outra cena, algumas ridicularizando figuras conhecidas da política norte-americana.

Não é por acaso que "Vice" é classificado por muitos como "comédia dramática". Na verdade, Dick Cheney parece ter nascido personagem. Coube a Adam McKay a difícil tarefa de mostrar ao público de forma inteligente o verdadeiro tabuleiro de xadrez da política e a falta de escrúpulos do segundo homem dos Estados Unidos quando se tratava de atingir seus objetivos. Principalmente no episódio das Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001, que acabou desencadeando a questionável Guerra do Iraque.

Outro acerto de McKay foi a escolha de Christian Bale para viver o protagonista. Como sempre faz, Bale entrou de cabeça, emprestando seu corpo às transformações necessárias para dar credibilidade a um Dick contraditório, ambicioso, vaidoso e prepotente, porém escorregadio e evasivo. O ator se transforma diante dos olhos do espectador na medida em que o tempo passa, num jogo de expressão corporal e composição perfeitas do personagem. É assim que ele cativa o público e dá credibilidade às manobras e manipulações do vice.

Assim como a mulher de Dick, Lynne Cheney, foi fundamental na vida e na carreira política do marido, a atriz Amy Adams é de fundamental importância em "Vice", interpretando a típica esposa que age nos bastidores, aconselha, joga e, acima de tudo, também ama o poder. A química entre o casal é visível e passa verdade e cumplicidade.


Steve Carell, que faz o deputado Donald Rumsfeld, com quem Dick começa sua carreira, também brilha como o político esperto sempre disposto a atingir seus objetivos. Sam Rockwell dá seu recado como um George W. Bush tão manipulável quanto perigoso, e Jesse Plemons enche o filme de interrogações como Furt, o "doador do coração" - pra não dar spoiler.

"Vice" está indicado ao Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Diretor", e Christian Bale concorre a "Melhor Ator" - entre outras indicações. Merecidamente, diga-se. Ao final surpreendente do filme fica no público a certeza de como somos todos manipulados pelos políticos e pela mídia. A ideia que passa, por mais cínica que possa parecer, é: somos todos otários.
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
Produção: Imagem Filmes


Tags: #Vice, #ChristianBale, #SamRockwell, #AmyAdams, #SteveCarell, #drama, #biografia, @ImagemFilmes, @cineart_cinemas, @cinemanoescurinho

25 março 2018

"A Melhor Escolha" - Um drama sensível e crítico sobre amizade, convenções e a hipocrisia da guerra

Bryan Cranston, Steve Carell e Laurence Fishburne se reencontram para após 30 anos para enterrar o filho de um deles (Fotos: Metropolitan FilmExport/Divulgação)

Maristela Bretas


Três ex-fuzileiros navais que lutaram no Vietnã, três vidas que tomaram rumos diferentes e que agora se reencontram para relembrar coisas boas e ruins do passado. Trinta anos depois, a guerra une este trio em "A Melhor Escolha" ("Last Flag Flying"), filme que tem grandes interpretações de Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne.

Carell é Larry "Doc" Shepherd, um vendedor de loja triste e solitário que sai a procura dos amigos do tempo da guerra usando a internet. O primeiro a ser localizado é Salvatore "Sal" Nealon (papel de Cranston), dono de um bar decadente que vai ajudá-lo a encontrar Richard Mueller (interpretado por Fishburne), agora um respeitável reverendo numa cidade do interior dos EUA.

Estes três homens totalmente diferentes terão de reaprender o significado de amizade e união para ajudar Larry a enfrentar seu maior drama - enterrar o único filho, morto na Guerra do Iraque. Entre recordações, piadas e críticas às convenções militares e até mesmo religiosas, e à hipocrisia criada para justificar a participação dos EUA em conflitos que não diziam respeito, "A Melhor Escolha" tem uma ótima direção de Richard Linklater (o mesmo de "Boyhood - Da Infância à Juventude" - 2014) e é baseado no livro homônimo do escritor Darryl Ponicsan, que auxiliou na condução do roteiro.

O filme oferece momentos de comicidade bem mesclados com o drama, sem cair na pieguice. O personagem de Cranston é aquele que fala o que pensa, é inconveniente às vezes, mas e também o mais engraçado e não aceita mentiras para justificarem um erro. Carell deixa seu lado comediante e entrega ótima interpretação do pai amargurado com a morte do filho, mas que vê nos momentos com os amigos uma luz no fim do túnel para retomar sua vida. O Mueller, de Fishburne, que um dia foi o maior "aprontador" da tropa e que deu uma reviravolta, precisa aprender a aplicar na vida real os ensinamentos que prega a seus fiéis.

Destaque para Yul Vazquez como o Coronel Willits, que recebe os pais dos soldados mortos e tem de preparar todo o procedimento do funeral seguindo as normas das Forças Armadas. E também Cicely Tyson, que teve participação pequena mas marcante como a Sra. Hightower, mãe de um soldado morto no Vietnã.

Claro que não falta a exaltação aos símbolos dos EUA, como a bandeira e às forças armadas. Até porque, é uma história com três ex-combatentes. Mas "A Melhor Escolha" explora as consequências da guerra (não importa qual), como ficam aqueles que lutaram, suas famílias. Alfineta, mesmo sem aprofundar, a capa de mentiras e meias verdades do que acontece com quem está ou passou pelo campo de batalha e o porquê de participar de um conflito armado. Ao mesmo tempo em que usa a necessidade de uma mentira para evitar um sofrimento maior.

Cada um dos amigos carrega consigo uma lembrança dos tempos de Marinha - humilhação, honra por ter pertencido aos fuzileiros e grandes farras e bebedeiras. Em comum,apenas o que os separou: uma grande culpa. Este é um dos pontos falhos do roteiro de Linklater e Ponicsan. O assunto é mencionado em situações diferentes mas não há uma explicação direta e clara. Os três conversam, há pedidos de desculpa, mas não é esclarecido o que realmente aconteceu que levou Larry à prisão e à expulsão da Marinha. E você sai do cinema com dúvida sobre a origem do fim de uma amizade. Se o objetivo do diretor era reunir os amigos e "colocar tudo em pratos limpos", isso ficou a desejar.

Em compensação, a jornada de reencontro para enterrar o filho de Larry ficou ótima. Uma grande aventura com boas risadas, situações semelhantes ao tempo em que eram jovens e até o reconhecimento de um erro, mesmo que tardio. O diretor soube dar a sensibilidade na medida certa para mostrar o amor de pai e filho, a lealdade entre amigos e a tradição militar para entregar um final que emociona.

"A Melhor Escolha" é um drama muito interessante que trata principalmente de valores, independentemente do estilo de vida de cada um. O filme vale a pena ser conferido, com excelentes atuações do trio principal, fotografia impecável e uma ótima trilha sonora de Graham Reynolds.



Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: Richard Linklater
Produção: Amazon Studios / FilmNation Entertainment / Detour Pictures
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 2h04
Gêneros: Comédia / Drama
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 3,8 (0 a 5)

Tags: #AMelhorEscolha, #SteveCarell, #BryanCranston, #LaurenceFishburne, #drama, #comédia, #amizade, #guerra, #ImagemFilmes, #espaçoz, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho