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10 agosto 2024

"Saideira" se apresenta como comédia, mas não consegue fazer rir

Longa mistura em um caldeirão reconciliação familiar, caça ao tesouro e aula sobre cachaça, mas não adiciona tempero algum (Fotos: Elo Studios)


Eduardo Jr.


É uma comédia nacional em cartaz nos cinemas, mas não espere dar gargalhadas com "Saideira", dos diretores Júlio Taubkin e Pedro Arantes. Com distribuição Elo Studios, o longa mostra a história de duas irmãs em busca de uma cachaça com status de lenda. As protagonistas, uma ambiciosa e uma artista meio hippie, não imprimem a graça esperada.   


Penélope (Luciana Paes) volta a Paraty para o enterro do avô Honório (Tonico Pereira), mas deseja mesmo é encontrar uma rara cachaça que o falecido deixou. No reencontro com a irmã Joana (Thati Lopes), que não via há muitos anos, fica claro que há um conflito familiar pendente de solução. 

Neste cartão de visita, as tentativas do filme de arrancar risos falham. Sucesso mesmo, só a curta participação de Suely Franco, que está segura no papel. No elenco estão ainda Ary França, Matheus Abreu, Jackson Antunes, Rogério Fróes e Teca Pereira.


Daí começa uma sequência de clichês: a perseguição pela herança após a abertura do testamento, duas irmãs que precisam se unir no mesmo objetivo, e "looongas” cenas que poderiam facilmente serem encurtadas. 

O espírito road movie toma conta do longa, com as personagens cruzando a Estrada Real rumo a Minas Gerais, em busca de resgatar um passado. 

Enquanto isso, o texto desenrola uma aula sobre a cachaça. E nessa ode à famosa "branquinha", uma violeira aterrissa no filme, mais cenas longas ocupam a tela e mais explicações sobre a aguardente. Resumo: chato. 


E o longa segue misturando ainda mais elementos, talvez na tentativa de conquistar o público pela identificação. Entram em cena o esoterismo de São Tomé das Letras, poemas de Drummond, e até uma amostra de feminismo, com mulheres descobrindo e superando as lambanças dos homens. 

Nessa confusão, não se espante se você sentir sono. Você não será o único (pois eu cochilei). 


Ficha Técnica:
Direção: Júlio Taubkin e Pedro Arantes
Produção: Glaz com coprodução da Massa Real
Distribuição: Elo Studios
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h52
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia, drama

15 março 2023

Com pegada feminina, “La Situación” é inteligente, perspicaz e não tem nada de comédia romântica

Uma viagem à Argentina coloca Thati Lopes, Natália Lage e Júlia Rabello  entre as mais procuradas pela polícia (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. O filme “La Situación”, dirigido por Tomás Portella, não tem nada da tradicional comédia romântica como pode parecer na sinopse ou no início da projeção. 

Trata-se de uma produção deliciosamente inteligente e engraçada, capaz de provocar muitas risadas com os perrengues vividos por três mulheres cujas vidas não andam excitantes nem felizes.

No elenco, Natália Lage (Ana), Júlia Rabello (Letícia) e Thati Lopes (Yovanka), se encarregam de imprimir uma pegada ágil de humor bem ao estilo Porta dos Fundos. A estreia nos cinemas é dia 23 de março.


Letícia e Ana são duas amigas que não estão vivendo exatamente os melhores momentos de suas vidas. 

A primeira vive um casamento morno com um marido zen (Marcelo Gonçalves) e está sempre às voltas com o cuidado com os filhos, uma criançada teimosa e bagunceira.

A segunda tem um trabalho burocrático, anda solitária e sofre horríveis cólicas menstruais que limitam sua vida. 

Para complicar, está hospedando em sua casa, a mais tempo do que gostaria, uma prima jovem, Yovanka, mocinha atrevida e meio maluquete, sempre envolvida com todo tipo de medicamento e drogas ilícitas.


Férias alucinadas

A aventura das três – duas amigas e uma intrusa – começa quando Ana, interpretada na medida por Natália Lage, recebe a notícia de que sua avó teria deixado de herança um valiosíssimo terreno na Argentina, para onde ela deveria ir tomar posse da propriedade.

Claro que a amiga Letícia – numa atuação cheia de nuances de Júlia Rabello - se oferece para acompanhá-la visando, quem sabe, a umas breves férias de marido e filhos.


Para completar o trio, Yovanka se intromete na viagem. O papel é feito por Thati Lopes, talvez a mais engraçada das três e responsável pelas mais inusitadas situações vividas por elas. Estão ainda no elenco Roberto Soares e Soledad Pelayo.

Só para dar ao espectador a falsa impressão de que esta será mais uma comédia romântica, logo no início, já dentro do avião, as três conhecem Antônio, interpretado por Dudu Azevedo, que imprime a seriedade possível dentro de tantas gargalhadas.


Traficantes, drogas e perseguição

Na viagem, as três se envolvem com traficantes violentos - quase um clichê quando se trata de América Latina - correm riscos e se metem em fugas perigosas. 

Detalhes maliciosos como uma falsificadíssima logomarca da Apple numa loja em algum canto do Paraguai, e o chefão do tráfico completamente gago tentando ser mau, são nuances que ajudam a enriquecer o filme.


Não seria exagero dizer que “La Situación” é um filme feminino. Afinal, embora dirigido por um homem, o roteiro foi escrito por duas mulheres: Carolina Castro e Natália Klein. 

Há entraves e perrengues íntimos vividos por elas, os quais só as mulheres são capazes de compreender e, consequentemente, rir.

Os diálogos ligeiros e a forma como as jovens vivem situações inusitadas antes mesmo de embarcar rumo à Argentina fazem desse road movie rodado no Uruguai uma imperdível e oportuna comédia.


Ficha técnica:
Direção:
 Tomás Portella
Produção: Migdal Filmes / Caravela Filmes
Distribuição: Star Distribuction
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: Brasil, Argentina, Uruguai
Gêneros: comédia, aventura