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30 maio 2023

“O Último Ônibus” é um road movie cativante que aborda velhice, nostalgia, amor e empatia

Levando apenas uma maleta, Timothy Spall embarca em uma jornada inesperada até o fim do mundo
(Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Nos primeiros minutos do filme, uma mulher convoca o marido para irem embora pra longe. Eles vão. E este é o ponto de partida para a história da longa viagem de volta deste homem, décadas depois. Em "O Último Ônibus", o protagonista é Tom Harper, vivido por Timothy Spall (“Harry Potter e as Relíquias da Morte” - 2010). 


No longa do diretor escocês Gillies MacKinnon, que estreia nesta quinta-feira (1º de junho) nos cinemas brasileiros, distribuído pela Pandora Filmes, Spall (66 anos), volta às telonas com uma maquiagem que o transforma em um aposentado de 90 anos. 

Tom é um viúvo que atravessa o país de ônibus para cumprir uma promessa feita à esposa Mary (Phyllis Logan) antes de ela morrer. A história se inicia como um romance, com as cenas do cotidiano ilustrando a rotina que o casal construiu e manteve ao longo de décadas. 


Essa sutileza também está na forma de mostrar que Tom ficou viúvo e fará uma viagem de 1.400 quilômetros sozinho - mesmo que o personagem diga “nosso destino”, no plural. 

Com apenas duas coisas - um passe-livre de ônibus e um objetivo - Tom se apega ao mapa e às coordenadas do trajeto. E aí o filme começa a flertar com o gênero drama. 


A princípio pode parecer um filme “sessão da tarde”, mas é uma obra tocante. Na cena em que Tom está deixando sua casa no nordeste da Escócia pra chegar ao extremo sul da Inglaterra, é bonita e delicada a metáfora que o diretor propõe. 

Crianças chegando para aprender na escola, enquanto um velho está indo embora. Uma representação sensível do fluxo da vida. 


A viagem para atravessar o país é também um passeio entre memórias. As camadas do protagonista vão sendo reveladas nos flashbacks, que instigam o telespectador e vão ajudando a desvendar o motivo dessa viagem e o que espera Tom em seu destino, a cidade de Land’s End (Fim das Terras). 

Nas diversas paradas e nos ônibus em que embarca, Tom vai atravessando as vidas de outras pessoas e também sendo impactado por elas. Embora carregue um semblante amargurado, ele consegue sorrir e despertar empatia. 


O nonagenário acaba se tornando uma celebridade ao ser filmado por câmeras de celulares em algumas situações em que se envolve - cenas que chegam a cansar um pouco, de tão repetitivas. 

No trajeto, Tom compartilha aquilo que tem: sabedoria. Nessas interações, vai se intensificando no telespectador (em mim, pelo menos) a ideia de que pessoas vêm e vão, mas as marcas que deixamos em cada uma delas podem ser transformadoras. 

Com isso, “O Último Ônibus” se apresenta como um filme rico em reflexões. Se não é perfeito, consegue durante seus quase 90 minutos ser divertido e cativante.


Uma curiosidade: O longa foi filmado em Glasgow (Escócia) e seus arredores e boa parte da trama se passa no Glasgow Vintage Vehicle Trust, um museu dedicado a meios de transportes escoceses. 

O exterior foi usado para a construção de diversos pontos de ônibus, enquanto o interior serviu de estúdio para a arquitetura de cenários.


Ficha técnica:
Direção: Gillies MacKinnon
Roteiro: Joe Ainsworth
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h26
Classificação: 12 anos
Países: Reino Unido e Emirados Árabes Unidos
Gênero: drama