Mostrando postagens com marcador #TomHanks. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador #TomHanks. Mostrar todas as postagens

10 agosto 2023

As cores (e humores) de Wes Anderson estão de volta em “Asteroid City”

Novo longa recebeu indicação em Cannes, mas não é claro em sua proposta (Fotos: Universal Pictures)


Eduardo Jr.


Wes Anderson está de volta. Estreia nesta quinta-feira nos cinemas seu mais novo longa, “Asteroid City”. A produção, distribuída pela Universal Pictures, põe na tela 105 minutos de uma obra fiel às características do cinema do diretor norte-americano. 

E ainda vem com uma chancela importante: a indicação à Palma de Ouro no 76º Festival de Cinema de Cannes de 2023. Filmado na Espanha, em uma paisagem rural desértica, a obra pode fazer tanto sentido quanto uma imensidão de areia. Mas diverte o público em alguns momentos. 


No filme, uma convenção de observadores de astronomia em uma cidade no deserto norte-americano ganha novos contornos após um evento marcante (e cômico). A história se passa na década de 1950 e parece confusa em alguns momentos, por pincelar vários temas de uma vez. 

Também por ser uma produção que avisa ao espectador que a trama vai ser apresentada em um programa de TV, mas tudo não passa de uma encenação teatral (oi?). Tem ainda uma família com o carro estragado que ficou presa em Asteroid City, cuja população se dedica a observar nossa galáxia após a queda de um meteorito tempos atrás. 


Apesar da presença dessa família, não dá pra dizer que o longa tenha um protagonista. É típico dos filmes de Wes Anderson um elenco digno de novela de Glória Perez, com dezenas de personagens. 

Pela tela desfilam nomes famosos e de peso como Tom Hanks, Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tilda Swinton, Jeffrey Wright, Bryan Cranston, Edward Norton, Liev Schreiber, Adrien Brody, Jeff Goldblum, Margot Robbie, Willem Dafoe, Matt Dillon, Steve Carell, Maya Hawke e Rita Wilson - e mesmo que eles não tenham uma história pra desenvolver, a lista segue aumentando. 


Se o diretor já adotou esse expediente de riqueza de elenco, como em “O Grande Hotel Budapeste” (2014), por que não repetir também as participações especiais? Em “A Vida Marinha com Steve Zissou” (2004), o cantor Seu Jorge participou do longa. 

E agora, o brasileiro retorna em “Asteroid City” como integrante de um grupo de músicos - e reforçando a amizade de longa data que mantém com Wes Anderson. 


A cena musical em que Seu Jorge aparece com seu violão e sua voz grave é hilária. Aliás, o filme como um todo parece um grande deboche do diretor com relação ao comportamento americano em situações diversas. Mas também traz pitadas de drama e de romance (que não funciona, você vai ver). 

Provavelmente é uma comédia com uma história incompleta, um pouco maluca. Nota dez, só para os enquadramentos e cores do longa, embora isso não seja nenhuma novidade a respeito de um cineasta que já se tornou até trend top no TikTok, com usuários fazendo vídeos do cotidiano como se estivessem em uma obra do americano. 


Fiel a sua estética e a sua forma de conduzir, Wes Anderson entrega um filme que se pretende divertido, com fotografia apurada, figurinos com vários modelos e designs clássicos dos anos 1950 e uma paleta de cores pastel. 

A divisão em atos, o deslizar das câmeras nos planos-sequência e a mudança do colorido para o preto e branco são bem ajustados. 


Ainda assim, é difícil resumir, de forma clara, do que se trata o longa quando assuntos como luto, alienígenas, romance e autoridades estúpidas são misturados. 

A experiência de “Asteroid City”, no entanto, pode valer a pena. Faz o público sair da sala escura levando algumas dúvidas e muitos risos. 


Ficha técnica:
Direção: Wes Anderson
Produção: Universal Pictures, Focus Features, American Empirical, Indiam Paintbrush
Distribuição: Universal Pictures   
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 14 anos
País: Estados Unidos
Gêneros: comédia, drama

05 fevereiro 2023

Tom Hanks emociona e faz rir como "O Pior Vizinho do Mundo"

Comédia dramática envolve o público pelo roteiro bem conduzido e ótimas atuações do elenco
(Fotos: Sony Pictures)


Maristela Bretas


Poderia ser mais uma comédia dramática comum, daquelas que a gente vê em sessão da tarde. Mas "O Pior Vizinho do Mundo" ("A Man Called Otto") entrega muito mais que isso e, além de tudo, tem Tom Hanks como protagonista. 

Ele interpreta um homem rabugento e antipático, capaz de fazer o público ter birra dele no início e se encantar no final, graças à ótima performance do tarimbado ator.


A produção ainda tem um agravante: é preciso levar um lencinho, pois é quase certo sair do cinema com os olhos bem vermelhos. O roteiro, apesar de lento e previsível no início, entrega um desfecho que prende e emociona. 

Especialmente pelas atuações de Hanks como Otto, o vizinho ranzinza, e de Mariana Treviño, como a nova vizinha Marisol, que valem cada centavo do ingresso.


A história se passa, basicamente, num condomínio fechado, que um dia teve Otto como administrador (tipo um síndico). Apesar de não ocupar mais o cargo, ele continua vigiando todas as coisas erradas dos demais moradores, visitantes e entregadores. 

Mas seu principal alvo é a incorporadora que insiste em tirar os antigos proprietários para derrubar seus imóveis e iniciar um novo empreendimento.


Tudo seguia bem na rotina de resmungos de Otto, sem dar conversa a ninguém ou cumprimentar as pessoas. Até uma nova família se mudar como inquilina para uma das casas. 

Marisol, uma mulher cheia de vida e de bom astral, é casada com Tommy (Manuel Garcia-Rulfo), mãe de duas simpáticas meninas e está grávida do terceiro filho. 

Apesar das grosserias e do mau humor do vizinho, ela resolve mostrar a ele que ninguém pode viver sozinho no mundo.


"Entre tapas e beijos", nasce uma grande amizade entre eles, capaz de transformar a vida do ermitão e de toda a comunidade. Apesar do comportamento arredio e chato, Otto sempre ajuda os demais vizinhos, especialmente Marisol.

Um dos pontos que chama a atenção é o fato de Otto não aceitar a perda da esposa, sua única e grande paixão na vida. E por essa razão, só pensa em tirar a própria vida para reencontrá-la. Não são poucas as tentativas sem sucesso, que acabam entregando a parte cômica do longa.


Mesmo sendo uma boa comédia, "O Pior Vizinho do Mundo" tem também um lado dramático que dá um nó na garganta. O filme conta a história de Otto em flashbacks, especialmente a partir do dia em que conheceu e se apaixonou à primeira vista por Sonya (papel de Rachel Keller). 

A personagem tem um papel fundamental na trama, apesar de estar presente apenas na memória do viúvo.


Destaque no elenco também para o simpático Jimmy (Cameron Britton), também morador. Mesmo sempre sendo evitado por Otto, gosta muito do vizinho, com quem convive desde que Sonya era viva. Ele também ajuda a cuidar dos mais velhos do condomínio.

Adaptado do livro "Um Homem Chamado Ove", de Fredrik Backman, que rendeu um filme sueco com o mesmo nome em 2015, "O Pior Vizinho do Mundo" conta com direção de Marc Forster e um roteiro bem conduzido de David Magee. Vale a pena conferir e se emocionar.


Ficha técnica:
Direção: Marc Forster
Produção: Playtone
Distribuição: Sony Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h07
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: comédia, drama

14 julho 2022

Caótico e frenético, “Elvis” reafirma a força do mítico e verdadeiro Rei do Rock, primeiro e único

Austin Butler no papel do cantor entrega uma interpretação capaz de fazer o público se derreter de emoção (Fotos: Kane Skennar/Warner Bros. Entertainment)


Mirtes Helena Scalioni


Talvez a grande unanimidade de “Elvis” seja mesmo a constatação, mais uma vez, do grande ator que é Tom Hanks, que arrasa no papel do "Coronel" Tom Parker, o principal empresário do cantor, responsável, segundo muitos, pelo seu sucesso. E responsável também, segundo outros, pela morte prematura do artista, aos 42 anos, já no ostracismo e dependente de remédios. 

O filme, dirigido por Baz Luhrmann (“O Grande Gatsby” - 2013), entra hoje em cartaz nos cinemas de todo o Brasil, e promete incendiar o público e emocionar jovens e maduros com o inegável talento e carisma do Rei do Rock.


Impecável como o empresário malandro e enigmático, Hanks revela, sem muito esforço, as artimanhas que o coronel usou, com Elvis Presley e sua família, para convencer o artista a fazer o que ele queria. Cheio de lábia e armações conseguiu, por exemplo, barrar a carreira do roqueiro no exterior.

A performance brilhante do ator, transformado ao final do longa numa quase caricatura de si mesmo, já tem sido apontada como forte candidata ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Merecidamente, diga-se.


Os fãs mais ardorosos de Elvis Presley podem achar, no início, que Austin Butler (da série “O Diário de Carrie" - 2013) não se parece muito com o Rei do Rock, jovem de olhos azuis e beleza estonteante. Mas aos poucos, o trabalho do ator se torna tão convincente que, ao final, o público certamente vai se derreter de emoção, hipnotizado com a semelhança. 

Não são apenas os requebros, gestos vigorosos e trejeitos. A entrega ao papel é total, com nuances que revelam o homem por trás do mito. Quase uma incorporação.


Além do papel político de Elvis, que com sua rebeldia e carisma quebra a rigidez de uma América careta e moralista, o longa revela o lado bom-moço do artista, seu amor incondicional pela mãe Gladys (Helen Thomson), a relação com o pai e também empresário Vernon (Richard Roxburgh), o casamento apaixonado com Priscilla (Olivia DeJonge) e seu jeito quase ingênuo de se deixar explorar até prejudicar a própria saúde.


Quem assistiu ao documentário de dois episódios “Elvis Presley – The Searcher”, no Netflix, vai se lembrar que a infância e adolescência do cantor foram impregnadas da chamada música negra, do gospel ao blues, do country ao jazz. 

E o filme de Luhrmann confirma isso de maneira inquestionável, dando uma conotação quase mística ao menino diante da cantoria fervorosa nas igrejas. 


Elvis preferia estar entre os pretos e era com eles e elas que realimentava sua arte. São dignas de atenção suas conversas com B.B King (Kelvin Harrison Jr). O longa deixa claro também que o artista pagou caro por isso, ao desobedecer às leis de segregação vigentes nos Estados unidos.


Que ninguém se engane: “Elvis” não é exatamente uma cinebiografia tradicional. Segundo tem definido o diretor, é uma história de super-herói. Trata-se de um filme frenético, caótico e pop, como os escandalosos movimentos de quadris do roqueiro, magistralmente repetidos por Butler. Impossível não aplaudir no final.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Baz Luhrmann
Produção: Bazmark Films / Warner Bros. Pictures
Distribuição: Warner Bros. Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h39
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gêneros: musical, biografia, drama

26 março 2021

"Relatos do Mundo" explora belas paisagens e diálogos de poucas palavras

Atriz alemã Helena Zengel divide o brilho da produção com Tom Hanks em faroeste dirigido por Paul Greengrass
 (Fotos: Universal Pictures / Divulgação)


Maristela Bretas


Filme com Tom Hanks, até mesmo se for mediano, é chamariz para o público. Não seria diferente com "Relatos do Mundo" ("News of The World"), produção que está em exibição na Netflix. Mas a novidade desta vez é que o astro divide o estrelato (e em alguns momentos perde) com uma jovem atriz alemã de 12 anos - Helena Zengel. Com apenas quatro produções em sua carreira - duas ainda por estrear - já se destacou em seu país com o filme "System Crasher" ("Transtorno Explosivo") de 2019, e indicações para o Globo de Ouro e SAG Awards deste ano na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante.


Hanks e Zengel dividem o assento de uma carroça pelas estradas poeirentas do Oeste dos EUA no filme dirigido por Paul Greengrass, responsável por "Capitão Phillips" (2013), também com Tom Hanks, "22 de Julho" (2020 - Netflix) e a franquia "Jason Bourne" com Matt Damon, inclusive o último, de 2016.

A produção concorre a quatro estatuetas no Oscar 2021 - Melhor Trilha Sonora, Melhor Design de Produção, Melhor Som, Melhor Trilha Sonora e Melhor Fotografia. Esta última indicação muito merecida. O diretor fez uma escolha perfeita de luz, cor e locações que garantem um dos principais destaques do filme. As cenas mais bonitas são exatamente as do deserto, pela manhã ou ao entardecer.
 

A narrativa é lenta, acompanhando o ritmo do trotar dos cavalos, representando bem a jornada do solitário capitão Jefferson Kyle Kidd (papel de Tom Hanks), um veterano de duas guerras que viaja pelo Texas, parando de cidade em cidade para ler as notícias do mundo para seus habitantes. 

Um homem sereno, de poucas palavras - no estilo Tom Hanks de atuar. Pelo caminho, um encontro inesperado vai mudar sua rotina. Johanna (Helena Zengel), uma menina alemã criada pela tribo Kiowa após a morte dos pais, é encontrada perdida no deserto, não fala inglês, apenas um dialeto que mistura as duas línguas.


Apesar da hostilidade da criança, Kidd decide levá-la em seu trajeto, enquanto busca familiares. No percurso, a agressividade da jovem passageira de poucas palavras vai se desfazendo com a atenção e a proteção que recebe do capitão. Um forte vínculo passa a unir os dois. E é esta amizade que vai também ajudá-los a enfrentar os perigos do percurso. Apesar de solitário, ele é um contador de histórias que encanta seu público e à jovem Johanna.


A história de "Relatos do Mundo" é adaptada do livro escrito por Paulette Jiles e se passa em 1870, pouco depois da Guerra de Secessão. E claro, não podia deixar de citar, mesmo que superficialmente em algumas falas, o fim da escravatura que não era aceita no sul do país e a violência contra as tribos indígenas. Mas é pelas notícias narradas como um conto de fadas que os habitantes passam a saber mais sobre o progresso que está chegando. Mesmo que isso desagrade alguns.


Além da fotografia, o filme também entrega um figurino de época bem elaborado e fiel e uma trilha sonora composta por James Newton Howard ("Operação Red Sparrow" - 2018, "Animais Fantásticos e OndeHabitam" - 2016, "Malévola" - 2014 e muitos outros sucessos), que justifica a indicação ao Oscar 2021.


Não espere um faroeste no estilo John Wayne. "Relatos do Mundo" é mais um drama que se passa no Velho Oeste e já no encontro dos personagens principais é possível prever o final. Mas não tira o interesse pelo filme que, como um bom bang-bang tem tiros, brigas de bar, tocaias no morro e ataques. E tem Tom Hanks com sua jovem parceira Helena Zengel, um quase par romântico - Mrs. Gannett (Elizabeth Marvel) - e uns vilões razoáveis. Vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Paul Greengrass
Exibição: Netflix
Produção: Universal Pictures
Duração: 1h59
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Faroeste
Nota: 3,8 (de 0 a 5)

21 julho 2020

"Greyhound - Na Mira do Inimigo": um ótimo filme de guerra digno de uma tela de cinema


Tom Hanks brilha como o comandante de um navio de guerra que enfrenta submarinos alemães (Fotos: AppleTv+/Divulgação)

Maristela Bretas


Com mais uma grande atuação de Tom Hanks, que também participa como roteirista, "Greyhound - Na Mira do Inimigo" é um dos lançamentos que chegam diretamente para o streaming e está em exibição na plataforma Apple TV+. Um ótimo filme de guerra, com combates do início ao fim, mas que, devido à pandemia do coronavírus, perdeu parte do impacto das batalhas com a exibição transferida para a tela de TV. Merecia estar no cinema, como aconteceu com outros do gênero, como "Pearl Harbor" (2001), "Midway - Batalha em Alto Mar" (2017), "Dunkirk" (2018) e o recente "1917" (2020).

A produção da Sony Pictures, em parceria com a FilmNation, Bron Studios e a Playtone Pictures (do próprio Tom Hanks) é tensa e prende o espectador com muita ação e boas batalhas no mar. São poucos os momentos de paz do capitão Ernest Krause, vivido por Hanks, e sua tripulação. 

Poderia ser somente mais um filme ambientado na 2ª Guerra Mundial - ele se passa em 1942, no Atlântico Norte. Mas a riqueza de detalhes e a atuação de todo o elenco, especialmente do protagonista, além de Stephen Graham (como o imediato Charlie Cole) e de Rob Morgan (o marinheiro Cleveland) fazem a diferença. Elizabeth Shue faz pequena participação, mas é sempre bem vinda. Também o filho caçula de Hanks, Chet Hanks, participa do elenco como Bushnell, o especialista em radar.


Um amigo colecionador de objetos da 2ª Guerra e estudioso do período gostou muito do filme e foi quem me indicou. Ele e outros colecionadores ficaram surpresos com a preocupação do diretor com os detalhes. As imagens internas e externas do navio foram feitas em um destróier classe Fletcher de verdade, que está em um museu nos EUA e foi todo reformado para o filme, inclusive os canhões. Eles também elogiaram o figurino, que seguiu fielmente os uniformes e armamentos da época.


Ele só alertou para o símbolo dos lobos nos submarinos alemães - os originais eram bem pequenos. Eles foram aumentados, possivelmente, para uma melhor visualização nas cenas travadas entre as embarcações no ambiente escuro do oceano.

Tom Hanks entrega um personagem sério, de poucos sorrisos,  mas sempre simpático, extremamente religioso e preocupado com a vida humana, até mesmo do inimigo, mesmo estando em combate. Em sua primeira missão comandando um comboio, o capitão Krause deverá, junto com outros três destróieres, escoltar 37 navios aliados com cargas de mantimentos e soldados pelo Atlântico Norte, sem apoio aéreo em um longo trecho.


Eles se tornam alvo fácil dos submarinos alemães, chamados Lobos Cinzas, que fazem uma verdadeira caçada. As cenas do cerco no mar agitado são semelhantes a uma matilha ao redor de sua presa. Por quase 48 horas, o comandante luta contra os inimigos, o sono, a fome e a dor de horas em pé sem abandonar o posto, sempre à espera de um novo ataque.


"Greyhound" tem alguns furos no roteiro, mas nada que comprometa o resultado final. Adaptado do romance "The Good Shepherd", de CS Forrester, o longa dirigido por Aaron Schneider soube aproveitar bem a computação gráfica nas cenas de batalhas, especialmente quando navios e submarinos ficam emparelhados. Vale a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção: Aaron Schneider
Roteiro: Tom Hanks
Exibição: Apple TV+
Produção: Sony Pictures / FilmNation Entertainment / Playtone Pictures
Duração: 1h31
País: EUA
Classificação: 12 anos
Gêneros: Guerra / Ação / Drama

Tags: #GreyhoundNaMiraDoInimigo, #Greyhound, #TomHanks, #guerra, #ação, #cinema, #filme, #AppleTV+, #SonyPictures, @cinemanoescurinho, @cinemaescurinho

12 fevereiro 2018

"The Post - A Guerra Secreta" - Lembrar para não esquecer

Tom Hanks e Meryl Streep são os protagonistas deste drama que denuncia o jogo de interesses na Guerra do Vietnã (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)

Patrícia Cassese


Volta e meia, o universo das redações de jornais entra na mira dos estúdios de cinema pela participação efetiva desse dito "quarto poder" nos grandes acontecimentos da história recente. É fato: muitas vezes, sua participação se dá apenas no sentido de reportar o ocorrido - a cobertura de uma grande tragédia natural, por exemplo, como o tsunami de 2004. Em outras, porém, o papel da imprensa se amplia no sentido de tornar público o que, de outra forma, fatalmente ficaria circunscrito ao conhecimento de um círculo bem limitado de pessoas - e, neste espectro, entram os chamados segredos de estado, por exemplo.

"The Post - A Guerra Secreta", de Steven Spielberg, filme que está no páreo do Oscar - concorre a Melhor Atriz (Meryl Streep) e Melhor Filme - se debruça sobre um desses momentos nos quais o jornalismo assume o protagonismo ao revelar fatos que abalaram dois dos alicerces do mundo ocidental: a Casa Branca e o Pentágono. Em cena, a publicação de documentos secretos sobre a Guerra do Vietnã, que elevaram o "The Washington Post" ao panteão dos jornais mais influentes (e lidos), deliberada após uma série de discussões entre a proprietária do veículo, Kay Graham (Meryl Streep), e seu editor, Ben Bradlee (Tom Hanks).

Recuemos a 1971. Em meio ao conflito que se desenrolava no sudeste asiático, e que, num escopo mais amplo, reverberava ali, naquele pedaço do mapa, a Guerra Fria, um dos maiores jornais norte-americanos, o "New York Times", recebe (de um ex-colaborador do governo, Daniel Ellsberg, interpretado por Matthew Rhys) os chamados "Documentos do Pentágono". Os papéis deflagravam a verdade sobre a não necessidade do conflito, que se estendeu até 1975, tolhendo a vida de milhares de soldados de ambos os lados (no caso dos americanos, 58 mil) e provocando uma derrama de dinheiro público. O jornal, claro, deu início à publicação desse material explosivo, até que veio o recado, de certa forma edulcorado, sob a alegação de a segurança nacional estar em risco: o governo de Richard Nixon não iria tolerar que o restante do material fosse veiculado.

Ocorre que o incipiente "The Washington Post" também tinha esse material "nitroglicerina pura" em seu poder. E os documentos - encomendados por Robert McNamara (Bruce Greenwood), ex-secretário de Defesa dos EUA nos governos anteriores, de John F. Kennedy e de Lyndon Johnson - haviam chegado a um momento emblemático do periódico, que, na luta pela ampliação de público, abria seu capital, disponibilizando ações no mercado. Não bastasse se Katharine "Kay" Graham, a publisher, já vivia aí a tormenta de ter assumido o controle do jornal após a morte súbita do marido, a situação ganha contornos mais complicados quando se flagra em meio à difícil decisão de publicar ou não o material (inclusive diante de possibilidade real de ser presa, assim como dos laços que mantinha com alguns dos envolvidos).

Como se trata de um fato histórico, o desenrolar desse imbróglio não é mistério para ninguém: o material foi publicado e o "Washington Post" alçado a outro patamar. À imprensa, o diretor Steven Spielberg declarou que se viu impelido a passar esse projeto a frente de outros, dada a inquietação que o acomete, referente aos rumos que o atual governo de seu país vem tomando - está aí a troca de provocações com a Coreia do Norte que não nos deixa mentir. Pontuou, ainda, a honra de ter pela primeira vez, sob sua batuta, esses dois ícones do cinema dividindo o set - sim, qualquer cinéfilo que se preze sabe que ele dirigiu Hanks em "Ponte dos Espiões" (2015) e, com Meryl, estabeleceu colaboração em "A.I. Inteligência Artificial". Mas até então, os três não tinham dividido o set.

O filme tem fortes pilares. O primeiro, claro, o elenco e o diretor, já apontados. E sim, em um momento em que o protagonismo feminino é palavra de ordem, ver a personagem avant la lettre Kay Graham lutando para conciliar o lado mãe e avó com a recente viuvez e a dificuldade em se impor num ambiente então ainda predominantemente masculino é outro aspecto que certamente vai provocar empatia no público.

Mas o grande trunfo da empreitada é recuperar o tempo em que os jornais eram a fonte de informação à qual a população devotava legitimidade - e o poder público, justificado temor. Uma época de ouro que parece cada vez mais distante, diante da avalanche das novas mídias e na era das fake news. 
E se os acadêmicos do Oscar optaram por deixar de fora os nomes de Hanks e Spielberg na corrida para as estatuetas de ator e diretor, isso não diminui o mérito dessa empreitada que, de forma precisa (um pouco didática, talvez, mas válida), volve seu olhar sobre um episódio cujo paulatino distanciamento temporal não deve, jamais, minimizar o alerta que reside em seu bojo: guerras custam a vida de milhares de inocentes. E passam, para as páginas da história, como desnecessárias medidas advindas da ganância da indústria bélica aliadas à sanha pelo poder de insanos governantes. Os tais podres poderes aos quais Caetano Veloso se referia na música homônima.

Em tempo: palmas para Michel Stulbargh, ator que está presente em nada menos que três dos filmes do Oscar 2018: "The Post" (como Abe Rosenthal, editor-executivo do "The New York Times"), "Me Chame Pelo Seu Nome" (pai do personagem principal, Elio) e "A Forma da Água" (Robert Hoffstetler, o espião russo). "The Post - A Guerra Secreta" pode ser conferido nas salas das redes Cineart - Del Rey (5) e Ponteio Lar Shopping (3) - e Cinemark - Diamond Mall (4 e 5) e Pátio Savassi (1).



Ficha técnica:
Direção e produção: Steven Spielberg
Produção: DreamWorks Pictures / 20th Century Fox / Amblin Entertainment
Distribuição: Universal Pictures
Duração: 1h57
Gêneros: Drama / Suspense
País: EUA
Classificação: 12 anos

Tags: #ThePostAGuerraSecreta, #ThePost, #StevenSpielberg, #TomHanks, #MerylStreep, #AmblinEntertainment #20thCenturyFox, #UniversalPictures, #drama, #suspense, #GuerradoVietna, #Oscar2018, #cinemas.cineart, #CinemanoEscurinho