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19 março 2024

“O Primeiro Dia da Minha Vida” é drama filosófico sobre assunto tabu

Quatro pessoas, unidas pelo mesmo objetivo, são orientadas por um estranho para que possam rever suas escolhas (Fotos: Maria Marin PH)


Eduardo Jr.


Chega aos cinemas brasileiros no dia 21 de março um longa de temática “ousada” - afinal, suicídio é assunto delicado. O autor da proeza é o diretor Paolo Genovese que, baseado em um romance de sua própria autoria, traz no longa “O Primeiro Dia da Minha Vida” ("Il Primo Giorno Della Mia Vita") quatro pessoas que recebem a chance de rever suas escolhas (não necessariamente em vida). A distribuição é da Pandora Filmes. 

Na trama, os quatro indivíduos são abordados pelo protagonista, vivido por Toni Servillo. Para definir esse protagonista, “misterioso” seria a palavra ideal, pois nem nome ele tem. Mas sua chegada tem um propósito: fazer essas pessoas que optaram pelo autoextermínio avaliarem se irão, de fato, prosseguir com isso, ou se darão uma chance a uma nova vida, sem o peso dessa escolha drástica. 


A partir da relação entre os quatro suicidas, se abrem pautas polêmicas (principalmente para a nossa cultura), como, por exemplo, o que acontece após a morte, qual destino nos espera depois do fim, e as motivações e consequências ligadas à escolha de encerrar antes da hora sua passagem nessa terra.

Essas questões partem das dores que levaram cada uma das personagens àquele lugar. No grupo estão uma ginasta paraplégica, presa a uma cadeira de rodas, um youtuber mirim que não queria a fama, uma mãe que perdeu a filha e um coach motivacional que não vivia aquilo que pregava. 


E quem os orienta é o protagonista, uma espécie de anjo ou agente da morte. Tudo se passa em uma Itália que se afasta dos famosos cartões postais - talvez uma alusão do diretor a uma cidade não identificada, tal qual o além para nós, que aqui estamos. 

Se o tema parece denso, a direção consegue inserir leveza, reflexões e uma pitada de humor. Não só por conta do roteiro, mas pelas personagens construídas e por algumas interpretações. Destaque para o carismático garoto Gabriele Cristini. Não é uma obra que leva a um clímax exuberante, mas também não provoca sono. 


Embora a música marque presença sem muita originalidade (talvez até meio clichê), a acidez do texto em certos momentos e algumas escolhas de filmagem, como a câmera que passeia acima do cemitério, exibindo uma “cidade dos mortos” tiram o espectador do marasmo. 

Pode ocorrer também um incômodo diante dos diálogos e provocações acerca das motivações, das convenções sociais e morais. E aí “O Primeiro Dia da Minha vida” cumpre seu papel. Faz com que o público saia diferente do cinema com essa experiência, ou leve consigo algo dessa obra. 

Concordando ou não com a resposta apresentada em certo diálogo do filme sobre a vida e o autoextermínio, o longa traz questões filosóficas a partir do carisma do elenco e de uma proposta interessante.      


Ficha técnica:
Direção: Paolo Genovese
Produção: Lotus Production
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h01
Classificação: 16 anos
País: Itália
Gênero: Drama

12 agosto 2021

“O Labirinto” fisga pela retórica. E só.

Thriller de terror é baseado na obra do escritor Donato Carrisi, que também roteiriza e dirige a produção para o cinema (Fotos: Loris T. Zambelli)


Wallace Graciano


A última sexta-feira 13 de 2021 terá um motivo a mais para amantes da sétima arte irem ao cinema. Isso porque nesta quinta, 12, logo na véspera do dia mais “sombrio” do ano, estreia “O Labirinto” ("L'uomo del Labirinto”, no título original) nas salas de todo o Brasil. 

Adaptada da obra literária homônima de Donato Carrisi, que também dirige o filme, a película tem em seu elenco nomes consagrados como Dustin Hoffman e Toni Servillo para levar ao espectador a mergulhar em um labirinto de suspense, onde cada porta se mostra indecifrável, apesar de sua obviedade constante na sequência. 


Sim, parece estranho misturar dois conceitos tão antagônicos, como o óbvio e o suspense, mas é a premissa da película de Carrisi. Nela, Doutor Green (Dustin Hoffman) presta seus cuidados a Samantha (Valentina Bellè), uma jovem que ainda tenta se recuperar de uma incômoda amnésia pós-traumática. 

E a partir desse momento, o espectador mergulha em uma narrativa regressiva na qual aos poucos é bombardeado com informações que levaram a mulher até aquele estado, tentando encaixar as peças do quebra-cabeça em um caminho tortuoso e dúbio de um sequestro que durou 15 minutos.


Paralelamente, Bruno Genko (Toni Servillo) foge dos atributos médicos para procurar o sequestrador de Samantha. Investigador nato, passa a procurar evidências em camadas para solucionar o mistério de quem manteve a jovem em cárcere privado.


Nesse ritmo, os caminhos e motivações se cruzam e Carrisi passa a bagunçar a cabeça do espectador, como se o filme um labirinto fosse. O diretor vai trabalhando conceitos como o suspense, a aflição, a inocência e a maldade em linhas paralelas, que tornam-se perpendiculares em determinados momentos, caminhando para um plot twist iminente. 


Essa narrativa difusa faz com que até mesmo o caráter de vítima da paciente e de investigador de Bruno sejam colocados em xeque durante a narrativa. 

Essa narrativa perturbadora  –  e excitante  – merecia melhor ser combinada com a estética da película, que exagera nas cores quentes e filtros, perdendo todo o teor de suspense que o filme poderia trazer. Ao invés do caráter claustrofóbico que um labirinto poderia trazer, somos levados a sensação que estamos em um pub ‘inferninho” pós-pandemia de Covid.


Em síntese, “O Labirinto” é um filme que te fisga pela narrativa, mas peca demais ao associá-la ao aspecto visual. É um bom entretenimento, mas certamente você verá algum fã da obra literária afirmar que “no livro foi melhor”. E ele terá razão. 


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Donato Carrisi
Distribuição: Pandora Filmes
Gêneros: suspense / terror
Exibição: nos cinemas
País: Itália
Duração: 2h10
Classificação: 16 anos