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05 janeiro 2024

Aclamado pela crítica, "Folhas de Outono" impressiona pela sensibilidade

Novo longa de Aki Kaurismäki está na shortlist do Oscar 2024 e foi nomeado ao Globo de Ouro (Fotos: Pandora Film/Sputnik Oy)

Carolina Cassese


Comédias românticas geralmente apresentam uma estrutura similar: o par se conhece aleatoriamente, passa por uma série de desencontros e luta para finalmente ter uma chance de testar o tal do “felizes para sempre”. 

Apesar de dialogar com essa tradição, “Folhas de Outono” ("Kuolleet Lehdet"), o mais novo filme de Aki Kaurismäki, está longe de ser apenas mais um filme do gênero. O longa, que integra a shortlist do Oscar e foi indicado a diversas premiações da temporada, impressiona por tratar de temas densos e variados com uma sutileza ímpar.


Atualmente em cartaz no UNA Cine Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas (e, em breve, disponível na plataforma de streaming Mubi), a produção é centrada nos personagens Ansa (Alma Pöysti) e Holappa (Jussi Vatanen), dois moradores de Helsinque. 

Eles se conhecem num karaokê e, a partir desse encontro, começam a se esbarrar em diferentes pontos da cidade. Ao longo da narrativa, nos deparamos com diversos quadros que exibem um esquema de cores impressionante e, ainda, cenas que referenciam clássicos como “Rocco e Seus Irmãos” - 1960 (Luchino Visconti) e “Pierrot, Le Fou” (“O Demônio das Onze Horas”) - 2002 (Jean-Luc Godard).


Kaurismãki é conhecido por tratar de temas sociais e, mais especificamente, assuntos relacionados ao mundo do trabalho. “Folhas de Outono” não é uma exceção: os protagonistas do filme vivem e trabalham em condições bastante precárias. 

Os acenos da narrativa a Charles Chaplin também podem ser entendidos como uma possível alusão a "Tempos Modernos" (1936), já que, em pleno século XXI, os personagens realizam tarefas bastante repetitivas em seus empregos e são frequentemente desrespeitados pelos patrões.

Em determinado momento, a personagem principal é humilhada na fábrica por comer um sanduíche que seria jogado fora; “Isso deveria estar no lixo”, diz o chefe. Ansa responde: “Pelo visto, eu também”.


Quando a protagonista liga o rádio para buscar alguma distração de seu duro cotidiano, acaba se deparando com os horrores da guerra entre Rússia e Ucrânia. Em diferentes momentos, Ansa demonstra incômodo e muda a estação para poder ouvir música. 

Ao ler críticas de “Folhas de Outono” em sites de notícias, é extremamente significativo o fato de logo nos deparamos com notificações das abas “Guerra Israel-Hamas”, “Explosões no Irã” e “Acidente de avião no Japão”. A guerra entre Rússia e Ucrânia agora fica sem destaque não por ter acabado, mas por infelizmente ter se tornado um acontecimento “banal” em meio a tantas outras tragédias. 


Nesse sentido, a perspectiva da personagem Ansa se torna ainda mais evidente: tentamos nos distrair com a arte, mas a dureza da realidade por vezes se impõe. Como escapar desse sentimento de impotência diante de sucessivos horrores?

Claro, o filme de Kaurismäki não está interessado em fornecer respostas prontas. Mas, ao longo da narrativa, os dois personagens conseguem encontrar bonitos momentos de respiro em meio aos problemas sociais e questões particulares, como a depressão e a dependência alcoólica.

Em comparação a longas-metragens de grande orçamento e com inúmeros efeitos especiais, “Folhas de Outono” pode parecer um filme pequeno - inclusive por durar “apenas” 81 min. No entanto, como pontuou a crítica Stephanie Zacharek na revista Time, “às vezes pequenos milagres aparecem em forma de filmes”. Ao considerarmos todos os méritos do longa e o quanto ele consegue nos tocar, essa fábula do cotidiano se torna grandiosa.



Ficha técnica
Direção e roteiro:
Aki Kaurismäki
Produção: Sputnik Films e Pandora Film Produktion
Distribuição: O2 Play
Exibição: sala 3 do UNA Cine Belas Artes (sessão 14 horas) e sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas (sessão 21 horas)
Classificação: 14 anos
Duração: 1h21
País: Finlândia
Gêneros: comédia, drama, romance

19 abril 2023

Expedição do Dr. Lund pelo Brasil é contada em "O Homem de Lagoa Santa"

“Docudrama” gira em torno da trajetória do paleontólogo pelo interior do país no século XIX (Fotos: Leonardo Barcelo/ Helvécio Martins e Divulgação)


Da Redação


Estreia nesta quinta-feira (20), às 19 horas, no Una Cine Belas Artes, a exibição inédita do longa-metragem "O Homem de Lagoa Santa". O “docudrama” é roteirizado e dirigido pelo diretor Renato Menezes.

Com produção do Grupo Novo de Cinema e TV, Tarcísio Vidigal e Lúcia Fares, o longa ficará em cartaz até o dia 26 de abril, sempre no mesmo horário.

O filme reproduz a trajetória do naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, interpretado pelo experiente ator mineiro Chico Aníbal. As pesquisas do paleontólogo, que viveu no Brasil durante 45 anos, abriram caminho para Charles Darwin dar prosseguimento à teoria da origem das espécies. 


As semelhanças físicas de Chico Aníbal e Luiz Hippert com Lund e seu secretário Andreas Brandt são surpreendentes. Coube a Helena Penna o papel de Luzia, cozinheira do pesquisador.

Também estão no elenco outros atores conhecidos do teatro mineiro como Carl Shumacher, Célio Scarpa, Neuza Rocha, Rafael Neumayr, Charles Fagundes, Gercino Alves.


As grutas Rei do Mato, em Sete Lagoas, e Maquiné, em Cordisburgo, além de Ouro Preto, Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Matozinhos foram utilizadas como locações. 

O documentário recebeu assessoria técnico-científica de Rosângela Albano, diretora do Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (Caale), de Lagoa Santa, e do professor e paleontólogo da PUCMinas, Castor Castelle.


Os fósseis de Lagoa Santa

Misto de obra ficcional e documentário, o filme gira em torno da expedição botânica que Peter Lund realizou ao interior do Brasil, em 1833. 

No trajeto, ele se encontrou com o também dinamarquês Peter Claussen e o norueguês Andreas Brandt levando uma amostra de fósseis encontrados em rochas calcárias da região de Lagoa Santa (MG). 

Lund acreditava que esses ossos poderiam ter sido contemporâneos dos animais da Megafauna que há muito pesquisadores acreditavam terem sido extintos durante o dilúvio da Arca de Noé.


Em 1840, a descoberta do “Homem de Lagoa Santa”, o hominídeo mais antigo da América do Sul, derruba as convicções científicas do pesquisador. Elas eram fundamentadas em anos de estudos ao lado de George Cuvier – fundador da paleontologia.

O achado inaugurou o debate e as contradições entre ciência e religião. Colocava em xeque a teoria cristã de que o dilúvio havia dizimado todos os seres vivos na Terra. A teoria de Lund, porém, só chegou a ser confirmada muito tempo depois, em 2002, com base em análises das ossadas.


Filmado em Super 16mm e finalizado em digital, "O Homem de Lagoa Santa" tem direção de arte de Sergio Silveira. Ele reconstitui a arquitetura de meados do século XIX e cenários repletos de detalhes. Entre eles, fósseis originais, as gravuras de Brandt e objetos levados pelos tropeiros da época.

A equipe de produção foi formada por 50 técnicos do Grupo Novo de Cinema e TV e mais de 60 figurantes. 

Com narração de Marcos Caruso e Otávio Augusto, a equipe técnica conta ainda com Silviano Santiago, no texto; Luis Abramo, na fotografia; Marta Luz, na montagem, e música de Guilherme Vaz.


SERVIÇO
Data: 20 a 26 de abril
Horário: 19 horas
Local: Cine Belas Artes – Rua Gonçalves Dias, 1581, Lourdes, BH
Duração: 1h12
Classificação: Livre

21 janeiro 2023

"Aftersun" é um filme pra ser visto pelo menos duas vezes

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual (Créditos: Sarah Makharine/Divulgação)


Jean Piter Miranda


No final da década de 1990, Sophie (Frankie Corio), de 11 anos, e seu pai Calum (Paul Mescal) passam férias no litoral da Turquia. Os dois se dão muito bem. São companheiros, amigos. Ele faz de tudo para ser o melhor pai. Ela está em uma fase de descobertas e amadurecimento. 

E há uma câmara entre eles, gravando vários momentos que vão ecoar no futuro. Passados 20 anos, em meio a muitas lembranças, Sophie tenta lidar com tudo o que naquela época não sabia sobre o próprio pai. Esse é "Aftersun", da diretora Charlotte Wells, disponível na plataforma Mubi e ainda em cartaz em salas alternativas de cinema. 


Sophie e Calum estão hospedados em um hotel que não é nada luxuoso. Mas é o suficiente para que eles possam curtir o sol e a piscina. Eles passeiam por vários locais. Fazem piadas, dão risadas e, no meio de tudo isso, a menina sai fazendo perguntas ao pai. Hora sobre a vida deles, hora sobre curiosidades. 


É tudo muito leve, descontraído. Estão curtindo férias em um lugar legal, como planejaram. E a câmera deles vai filmando pequenos momentos dos dois juntos. A partir daí, o filme vai tomando três caminhos. 

Sophie está numa fase de descobertas. É uma pré-adolescente. Ela fica observando as conversas e as brincadeiras dos outros jovens um pouco mais velhos. 


Meninas que aparentam ter 15 ou 16 anos e seus namoradinhos. Todos muito eufóricos. Sophie, mais contida e observadora, fica próxima, buscando ser convidada para participar das brincadeiras no clube com essa turma. 

Ao mesmo tempo, ela se aproxima de um menino de sua idade, com quem passa a interagir mais e mais. 


Calum não está bem. Hora parece que falta a ele paciência, hora ele parece ansioso, preocupado. Presente de corpo e com a cabeça longe. Tentando com todas as forças não transparecer suas aflições. 

Vida pessoal, vida profissional, sonhos, expectativas. E ele segue se esforçando para dar bons momentos a sua filha. Situações que vão sendo percebidas em cada um dos diálogos entre eles. 


Entre uma cena e outra surgem filmagens que foram feitas pela câmera de Sophie e Calum. Imagens tremidas, por vezes sem foco, sem o devido enquadramento, o que dá um ar perfeito de amadorismo, de vídeo caseiro. 

É aí que percebemos que as férias estão no passado. Sophie está adulta, relembrando tudo, revendo as gravações, só que não está feliz. Está angustiada, inquieta, em uma atmosfera que transmite tristeza e incapacidade. 


"Aftersun" passa aquela sensação de nostalgia. Quem viajou em família com uma câmera nos anos 1990 poderá se identificar e se emocionar. Quem é apaixonado por audiovisual e entende essa potência que as filmagens têm de eternizar momentos, também vai se emocionar. Ainda mais quando o filme termina e as peças são ligadas. 

É sobre paternidade, memórias, amizade de pai e filha. É sobre as dores e delícias da vida. É sobre a vontade de voltar no tempo para mudar alguma coisa, pra reviver um abraço, ou pra ficar um pouco mais. 

Charlotte Wells de boné preto

O longa marca a estreia da jovem diretora escocesa Charlotte Wells (35 anos). Filme que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, vencendo vários prêmios

Entre eles, o British Independent Film Awards, nas categorias de Melhor Filme Independente Britânico, Melhor Direção, Roteiro, Diretor estreante, Fotografia, Edição e Supervisão de música. Charlotte também foi reconhecida na categoria de direção inovadora no Gotham Awards 2022. 

Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual. "Aftersun" é uma obra de arte agridoce, que a gente vê uma vez e gosta, pede mais, assiste outra vez e multiplica as emoções. 


Ficha técnica:
Direção: Charlotte Wells
Produção: BBC Film, BFI e Screen Scotland, em associação com a Tango
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: plataforma Mubi e nas salas 3, do Una Cine Belas Artes (sessão das 16h30) e sala 2, do Minas Tênis Clube (sessão das 20h10)
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido e EUA
Gênero: drama

29 setembro 2022

“Marte Um”: de Contagem para o mundo, com esperança e afeto

É no personagem Deivinho e seu sonho de ser astrofísico que a história marca seu diferencial (Fotos: Embaúba Filmes)



Mirtes Helena Scalioni


O filme é meio triste, mas terno. Talvez se possa resumir assim o longa “Marte Um”, mais um trabalho produzido pela Filmes de Plástico, da turma de Contagem, desta vez dirigido por Gabriel Martins (“No Coração do Mundo” - 2019). 

Incensado pela crítica e aprovado pelo público, o filme foi pré-selecionado para representar o Brasil no Oscar 2023 depois de abocanhar prêmios em Gramado. 


Sem suspenses nem sustos, sem sequências de ação ou cenas de grandes reviravoltas dramáticas, a vida de uma família de negros da periferia da Região Metropolitana de BH é contada como se deve: naturalmente, sem enfatizar alegrias nem dores. Sem carregar nas tintas.


A família comandada por Wellington (Carlos Francisco, “Arábia” - 2017 e “Bacurau” - 2019) e Tércia (Rejane Faria, “No Coração do Mundo”) é como tantas outras na sua estrutura e cotidiano. Ele é porteiro e zelador de um condomínio de classe média alta, e ela é faxineira diarista. 

Ambos parecem cientes dos seus deveres e em paz com as limitações impostas pela dureza da vida. Os filhos - a jovem universitária de Direito Eunice (Camila Damião) e o menino Deivinho (Cícero Lucas) - vivem suas rotinas de escola, futebol, baladas, cervejas, estudos, paqueras, redes sociais e, claro, sonhos - de um jeito que parece equilibrado.


É no personagem Deivinho que a história marca seu diferencial. Como pode um menino negro e pobre querer ser astrofísico em vez de jogador de futebol como deseja com empenho seu pai? 

Que direito tem esse pirralho de querer chegar tão alto, sonhando, inclusive, fazer parte da comitiva que, no ano 2030, vai sair da Terra embarcada num foguete rumo à colonização do planeta vermelho? Pois esse menino míope e franzino quer nada mais, nada menos, do que fazer parte da missão Marte Um.


A grande magia do trabalho de Gabriel Martins, que também cuidou do roteiro, é que tudo, desde os pequenos conflitos, dúvidas, doenças, vícios, diferenças e celebrações, absolutamente tudo é administrado com amor e união. 

Reside aí o encantamento de “Marte Um”, que não se parece em nada com outras tantas produções que têm favelas e periferias como cenário. Trata-se de um filme sincero e honesto.


É tudo tão natural que há momentos em que o espectador pode ter a sensação de estar vendo um documentário. As interpretações, todas irrepreensíveis, fortalecem essa ideia. Nada se fala de política, mas a TV, ligada em alguns momentos, deixa escapar que estamos vivendo no início da era Bolsonaro. 

Ninguém discute nem faz discursos, nem mesmo quando Eunice revela sua vontade de sair de casa para viver a própria vida, ou quando Tércia, traumatizada depois de ter sido vítima de uma brincadeira de mau gosto, decide fazer uma viagem para simplesmente descansar.


Os cenários, figurinos e trilha sonora garantem a veracidade das cenas, tanto na casa da família, que não deixa de festejar aniversários, apesar do arrocho financeiro, quanto nas baladas frequentadas por Eunice ou nas reuniões de Alcoólicos Anônimos, onde Wellington aparece periodicamente. 

Ao mesmo tempo, nada peca pelo exagero, não há clichês ou estereótipos. Tudo está na medida da verossimilhança.


Em tempos de polarização, radicalismos e violências, “Marte Um” fisga o público, mas cai leve no coração do espectador, como se quisesse mostrar que pode haver outro caminho e que há sim, espaço para a fé no outro. Como já disse o conhecido poeta e cordelista Bráulio Bessa, “enquanto houver um abraço, há de haver esperança”.


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Gabriel Martins
Produção: Filmes de Plástico / coprodução Canal Brasil
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: nas salas Cineart Ponteio (sessões 18h30 e 21 horas), Cinemark Pátio Savassi (sessão 15h30) e UNA Cine Belas Artes (sessões 14h, 16h20, 18h20 e 20h30)
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama

02 setembro 2022

"Marte Um" entra na disputa para representar o Brasil no Oscar 2023

Produção mineira é dirigida por Gabriel Martins e trata de sonhos e realidades (Fotos: Embaúba Filmes)


Da Redação


Na próxima segunda-feira (5) será selecionada uma das seis produções nacionais escolhidas para disputar a vaga de representante do Brasil no Oscar 2023 como Melhor Filme de Língua Estrangeira. "Marte Um", do cineasta, roteirista, montador e diretor de fotografia Gabriel Martins está nessa disputa. 

O anúncio foi feito pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais. Os demais concorrentes são "Carvão", "Pacificado", "Paloma" , "A Viagem de Pedro" e "A Mãe". Os seis foram pré-selecionados de uma lista de 28 filmes inscritos no processo.

Cineasta Gabriel Martins

"Marte Um" teve sua estreia mundial no Festival de Sundance, em janeiro deste ano, e sua primeira sessão no Brasil aconteceu no dia 17/08, na Mostra Competitiva do Festival de Gramado, onde foi bem recebido pelo público. 

Ainda foi exibido em 35 festivais internacionais, ganhando prêmios de melhor longa no OutFest, no Black Star e no San Francisco Film Festival. "Marte Um" tem produção assinada pela Filmes de Plástico e coprodução do Canal Brasil, com distribuição da Embaúba Filmes. 


Este é o segundo longa do diretor (o primeiro solo, sem a parceria de Maurílio Martins, com quem fez o belo “No Coração do Mundo” - 2019), e tem, como um de seus temas centrais, a realização de um sonho infantil. O filme traz o cotidiano de uma família da periferia de um grande centro urbano nos últimos meses de 2018, pouco depois das eleições presidenciais. 

O garoto Deivid (Cícero Lucas), caçula da família Martins, sonha em ser astrofísico e participar de uma missão que em 2030 irá colonizar Marte. Ele sabe que, por suas condições, não há muitas chances para isso acontecer, mas mesmo assim, não desiste. Passa horas assistindo vídeos e palestras sobre astronomia na internet.


O pai, Wellington (Carlos Francisco, de “Bacurau” - 2019, e da Companhia do Latão de teatro), é porteiro em um prédio de elite, e há um bom tempo está sem beber, uma informação que compartilha com orgulho em sessões do AA. Ele quer ver o filho virar jogador de futebol profissional. 

Tércia (Rejane Faria, da série “Segunda Chamada”) é a mãe que, depois de um incidente envolvendo uma pegadinha de televisão, acredita que está sofrendo de uma maldição. Por fim, a filha mais velha é Eunice (Camilla Damião), que pretende se mudar para um apartamento com sua namorada (Ana Hilário), mas não tem coragem de contar aos pais.


O diretor conta que o filme foi desenvolvido entre 2015 e 2018. "Foi um período de muitas mudanças abruptas nos campos social e político do país. Vários movimentos nos fizeram confrontar com o que pensávamos sobre raça, gênero, economia e muitos aspectos da sociedade". 

"Produzimos o filme graças a um fundo para diretores negros, e isso sempre me trouxe um senso de responsabilidade muito grande, com honestidade e compreensão de que esse filme pode ser uma forte representação de uma cultura da qual faço parte”, explica Gabriel Martins.


De acordo com o produtor do filme, Thiago Macêdo Correia, da Filmes de Plástico, ele foi procurado por Gabriel o procurou com a ideia para "Marte Um" quando o país ainda estava sob o comando de Dilma Rousseff, um período de prosperidade, e incentivo e investimentos na cultura. 

“O filme foi produzido graças a um fundo público de 2016 voltado para diretores negros e narrativas de temática negra com o intuito de levar às telas cineastas de grupos minoritários. Obviamente, esse fundo não existe mais. Rodamos o longa em outubro de 2018, durante as eleições, o que acabou influenciando também a narrativa. Não tínhamos ideia do que viria depois.”


“Embora se passe num contexto político turbulento – sendo a eleição de Bolsonaro um ponto baixo para nós –, esse não é um filme que tenta chegar a um veredito sobre o estado político do país. Por outro lado, é inevitável que o público o intérprete como um chamado para não nos deixarmos abater pelas agitações sociais que estamos enfrentando.”

"Marte Um" é assinado pela produtora mineira Filmes de Plástico, fundada por Gabriel, Thiago, André Novais Oliveira e Maurilio Martins, em 2009, e que tem em sua filmografia longas premiados como “Temporada”, “Ela Volta na Quinta”, “No Coração do Mundo” e “Contagem”. Suas produções também foram destaque em festivais como Cannes, Roterdã, Brasília e Tiradentes.


Ficha Técnica
Direção e roteiro: Gabriel Martins
Produção: Filmes de Plástico / coprodução Canal Brasil
Distribuição: Embaúba Filmes
Exibição: nas salas Cineart Shopping Contagem (sessão 19h35) e UNA Cine Belas Artes (sessões 14h, 16h20, 18h20 e 20h30)
Duração: 1h54
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gênero: drama