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10 janeiro 2023

"Me Chama Que Eu Vou", um passeio pela vida e carreira de Sidney Magal

Documentário foi premiado em Gramado e conta com entrevista inédita com o cantor (Fotos: Rodrigo West/Divulgação)


Marcos Tadeu
Blog Narrativa Cinematográfica


Cantor romântico, apaixonado, louco, maravilhoso, narcisista, um misto de Elvis Presley e John Travolta. Esses são os adjetivos que descrevem Sidney Magal e poderão ser conferidos no documentário "Me Chama Que Eu Vou", que chega aos cinemas nesta quinta-feira (12). 

Um ponto bem positivo da produção foi colocar o próprio Sidney Magal para contar casos e momentos especiais durante os anos dourados de sua carreira. 

Premiada no Festival de Gramado, a obra é dirigida por Joana Mariani e mostra curiosidades do cantor, considerado brega por uns e ídolo por muitos. 


Do artista é mostrada sua excentricidade, explorada de maneira bem divertida. Destaque para Sônia Magalhães, sua mãe, uma grande incentivadora para que ele seguisse o sonho de se tornar cantor. 

Entre as curiosidades relatadas por Magal está a escolha do nome artístico. O primeiro foi Sidney Soni (unindo com o de sua mãe), para depois se tornar Sidney Rossi (graças a um laboratório farmacêutico. 

No início dos anos 1970, graças ao dono de uma boate na Europa, o sobrenome foi reduzido para Magal para facilitar a pronúncia em qualquer lugar do mundo. Nascia Sidney Magal.


No documentário também é apresentada a primeira música de sucesso, gravada no primeiro CD - "Se te Agarro Com Outro te Mato", nos anos de 1980. 

A canção foi inicialmente um desastre, até que foi contratado Robert Livi, um argentino que entendia bem do mercado latino-americano. Na época, ele foi responsável por sucessos de artistas brasileiros como Alcione, Peninha e Sidney Magal. 


Falar de Sidney Magal é falar sobre fenômenos musicais como "Me Chama Que Eu Vou" (que dá nome ao documentário), “Amante Latino”, “Meu Sangue Ferve Por Você”, “Tenho”, “A Moça” e muitos outros sucessos.

Especialmente "Sandra Rosa Madalena" ou "Santa Rosa" como alguns brincam. Essa canção foi o estouro na vida do artista, cuja trajetória foi cercada por polêmicas desde cedo, sobre o jeito de se vestir, à questão da sexualidade e seu estilo de música. 


Em uma das cenas mostradas, quando Sidney Magal muda o cabelo e para de dançar, existe certo estranhamento e mais polêmica. Lembra o que Elvis Presley passou por um momento parecido. 

No lado pessoal do artista somos surpreendidos com uma mudança completa na postura e na forma de vestir. O Magalhães gosta de roupas floridas e bem tropicais. 

Já o Magal usa blazers purpurinados e brilhantes. Isso também é contado nos depoimentos da esposa Magali West e do filho Rodrigo em momentos familiares. 


Outro momento bem engraçado é como Magali e Sidney são bem opostos, ela gosta de vermelho, ele de preto, ele é subjetivo, ela é prática. Talvez a única coisa em comum seja o fato de os dois amarem joias, gosto que vem do sucesso da música "Sandra Rosa Madalena".

Cafona ou cult são partes que deram o que falar sobre a relação do público que escuta o artista. Magal era considerado cafona pela classe média e isso de fato fazia parte da personalidade do artista. 


Após uma publicação na revista Trip em 2003, que elevava e respeitava a carreira do cantor, houve uma ruptura neste conceito. Ele passou a ser ouvido e admirado até pela classe alta, o que reforçou suas excentricidades e ajudou a criar histórias pouco faladas.


"Me Chama Que Eu Vou" é um delicioso passeio sobre a vida de Sidney Magal. Para mim valeu muito, não sabia dessas curiosidades. 

Indico assistir a produção no cinema para os fãs de todas as gerações que queiram saber mais sobre este versátil artista, que passou pela música, cinema (inclusive como dublador de animação), teatro e até novelas.


Ficha técnica:
Direção: Joana Mariani
Produção: Mar Filmes e Maya Filmes, em parceria com a Globo News, Canal Brasil e Globo Filmes
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h10
Classificação: 10 anos
País: Brasil
Gêneros: documentário, biografia

01 outubro 2019

Delicado e terno, "A Vida Invisível" é um filme triste porque fala de mulheres subjugadas

Filme é baseado na obra da escritora Martha Batalha e conta a história de duas irmãs separadas brutalmente pelo destino (Fotos Bruno Machado/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Quem leu o livro pode até se decepcionar ao ver "A Vida Invisível", nosso representante no Oscar no ano que vem. Vencedor do Prêmio Un Certain Regard na mostra paralela do Festival de Cannes desse ano, o longa teve o romance apenas como inspiração e eixo. Na verdade, os roteiristas Murilo Hauser, Inês Bortagaray e o próprio diretor Karim Aïnouz tiveram algum trabalho para transformar a história de Martha Batalha, como se quisessem, da obra, apenas o argumento inicial. 


Nas décadas de 1940 e 1950, no Rio de Janeiro, capital do país, duas irmãs, Eurídice e Guida, são brutalmente separadas por força de um destino que não poupa nem perdoa as rebeldias. Enquanto Eurídice se casa, mesmo sem amor, para cumprir o papel que lhe cabe na vida, Guida some no mundo atrás de uma paixão. 


No filme de Aïnouz, o que move a vida de Eurídice é a busca, quase obsessiva, da irmã sumida. No livro, embora essa procura exista, há outros desencantos da moça que enternecem o leitor e fazem refletir. Casada com um funcionário público burocrata e machista e mãe de dois filhos, essa dona de casa não consegue ser dona de si própria, por mais que invente atividades para preencher a vida. Se no livro, ela não passa de uma pretensa estudante de flauta, no filme, Eurídice vira uma pianista cheia de talentos e objetivos.


No romance de Martha Batalha, a vida verdadeiramente invisível parece ser mesmo a de Eurídice, onde a autora se debruça mais para deixar claras suas dificuldades, limitações e impotências. Guida é apenas um segundo personagem. No filme de Karim Aïnouz, invisível parece ser a trajetória das duas, já que uma está sempre buscando a outra, cada uma com a vida que conseguiu ter. Resultado, talvez, de suas escolhas. 


Embora o livro seja bem melhor do que o filme - sempre é - o longa, ainda assim, merece todas as honras com as quais vem sendo agraciado. Mesmo com as muitas modificações, o que ficou da história das duas irmãs oprimidas por pais, mães, marido e vida machistas resulta num longa terno e afetuoso, às vezes engraçado e - até - caricato, como nas cenas de sexo longas e atrapalhadas entre Eurídice e o marido. É mesmo pra rir? Nesse quesito, os elogios vão para o ator Gregório Duvivier, que interpreta Antenor, o tal marido careta e quase patético. 


As diferenças entre o filme e o livro continuam. Enquanto o primeiro se chama "A Vida Invisível", o segundo é mais completo: "A Vida Invisível de Eurídice Gusmão". O longa inventou uma Eurídice velha que não está no romance, talvez para justificar uma pequena, mas marcante participação da sempre irretocável Fernanda Montenegro. Capaz de preencher todos os espaços, ela brilha como sempre e ajuda a dar outro fechamento na história, talvez mais contundente, mais terno. 

Mas não é só ela. Todo o elenco brilha. Carol Duarte e Julia Stockler, como as irmãs Eurídice e Guida, deixam na tela, com muita naturalidade, um sentimento de laços fortes e indestrutíveis. Bárbara Santos, a ex-prostituta Filomena que socorre Guida em suas necessidades, transparece solidariedade e acolhimento. 



Há também Maria Manoella, como Zélia, a amiga da família que tem participação pequena e correta. Antonio Fonseca e Flávia Gusmão como Manuel e Ana, pais das duas, fazem bem seus papéis: ele, de patriarca impiedoso; ela, de esposa obediente. Como são portugueses, e como o filme é brasileiro - portanto, sem legendas - às vezes fica difícil entender o que falam. O sotaque original da terrinha nem sempre é compreensível.

Embora se passe em outros tempos, "A Vida Invisível" não deixa de ser um recado importante no Brasil e hoje, onde ainda há muitas mulheres que se subjugam - algumas são violentadas pelos maridos - se calam, se retraem, se anulam, morrem. Lamentavelmente, é um filme atual. O filme foi apresentado pela primeira vez no Brasil  na abertura do 13ª CineBH Mostra Internacional de Cinema, ocorrida no dia 17 de setembro, e depois no dia 19 em Fortaleza. A estreia oficial no circuito nacional está marcada para o dia 31 de outubro.


Ficha técnica
Direção: Karim Aïnouz
Distribuição: Sony Pictures e Vitrine Filmes
Duração: 2h20
Classificação: 16 anos

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