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27 abril 2021

“Minari – Em Busca da Felicidade”: o sonho americano não é para todos

Uma família sul-coreana se muda da Califórnia para o interior do país na ilusão de iniciar um negócio (Fotos: Josh Ethan Johnson e Melissa Lukenbaugh / Prokino/ A24)


Mirtes Helena Scalioni


Alguém já disse que “Minari – Em Busca da Felicidade” é um filme sobre a imigração e suas consequências como a falta de adaptação e a sensação de não pertencimento a um grupo. Já foi dito que é sobre a sabedoria da maturidade, mas também definido como uma história familiar, com todas as nuances, afetos, diferenças e conflitos que isso costuma ter. Talvez seja melhor aceitar, então, que o longa dirigido pelo coreano americano Lee Isaac Chung é, na verdade, um pouco disso tudo, além de ser um filme de memórias de sua infância.


Autor também do roteiro, Chung se inspirou na trajetória do próprio pai, que se mudou da Coreia do Sul para os Estados Unidos em busca de alcançar o tão falado sonho americano. Na história, ambientada na década de 80, Jacob (Steven Yeun, um dos produtores executivos junto com Brad Pitt) arrasta sua mulher Mônica (Ye-Ri Han) mais dois filhos da Califórnia para a zona rural do Arkansas, com o firme propósito de cultivar ali vegetais utilizados na culinária coreana, de olho num mercado que ele acredita ser promissor.


Acontece que Jacob se esqueceu de combinar com a esposa, que detestou o lugar e só fala em retornar ao seu emprego de classificar o sexo de pintinhos na granja onde trabalhava na Califórnia. Além de não acreditar no sonho do marido, ela se preocupa também com o filho David (Alan S. Kim) que, aos sete anos, sofre de um problema cardíaco e pode precisar de socorro médico urgente naquele fim de mundo.

Nem mesmo a chegada de Soonja (Yuh-Jung Youn), mãe de Mônica, faz melhorar as relações da família. Embora cooperativa e disposta a ajudar, a avó de David e de Anne (Noel Cho) não consegue harmonizar o ambiente, apesar de a presença sábia ter desencadeado mudanças importantes na trama.


A atuação da sul-coreana Yuh-Jung Youn, de 73 anos, é um capítulo à parte e fez por merecer o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do Oscar deste ano. Dizem que se trata da Fernanda Montenegro de seu país e não parece exagero. Ela está realmente fantástica no papel de uma velha discreta e equilibrada, que sabe até onde pode chegar para ajudar. Cabe ao seu personagem, a certa altura, esclarecer ao público que minari é um vegetal comestível tipicamente coreano que nasce em lugares úmidos.


Outro destaque é o menino Alan S. Kim. Seu David brilha e convence como uma criança contida e tímida, consciente de suas limitações por causa da doença, mas sempre atento ao que está acontecendo a sua volta. E é utilizando mais olhares e gestos do que palavras que ele e Soonja estabelecem, depois de muitos conflitos, uma relação de cumplicidade entre neto e avó. Anne faz um contraponto ao personagem.

E, correndo por fora, tem Will Patton fazendo Paul, uma espécie de empregado da fazenda que, pateticamente, nas horas vagas, vira um fanático religioso tão bizarro quanto triste de se ver.


“Minari...” não é definitivamente um filme de ação. O longa se arrasta lento, simples, mas prende, graças também à envolvente trilha sonora de Emile Mosseri. Em alguns momentos, o espectador pode até pensar que a trama vai cair no óbvio caso do marido sonhador versus mulher ranzinza pé no chão. Só impressão. 

A história toma outros rumos, surpreende, emociona. E o público fica com a nítida sensação de que não é preciso muito malabarismo para contar a saga de uma família, falar de imigração, xenofobia, sonhos, lembranças, raízes, maturidade, sabedoria...


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Lee Isaac Chung
Produção: A24 e Plan B
Distribuição: Diamond Films
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h55
Classificação: 12 anos
País: EUA
Gênero: Drama