Ambientado nos anos 1980, longa-metragem francês é um verdadeiro mosaico do cotidiano (Fotos Vitrine Filmes) |
Carolina Cassese
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“Noites de Paris” (“Les Passagers de la Nuit”), dirigido por Mikhaël Hers, longa que chega nesta quinta-feira (20) na sala 2 do Una Cine Belas Artes, é um verdadeiro mosaico do cotidiano. O ponto de partida do filme é a reconstrução da vida de Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), que acaba de passar por um divórcio e atravessa dificuldades financeiras.
Para se adaptar ao novo estilo de vida, a personagem começa a trabalhar em um programa de rádio noturno, chamado "Passageiros da Noite".
É nessa circunstância que ela conhece Talulah (Noée Abita), uma adolescente problemática que conta sua história para a apresentadora Vanda (Emanuelle Béart).
A personagem principal não consegue deixar de se comover com o depoimento da garota, que vive sem domicílio fixo, e decide convidá-la para passar uns dias em sua casa, onde também moram os filhos Judith e Mathias (Megan Northam e Quito Rayon-Richter).
Apesar de abordar temas como divórcio, maternidade, dependência química e ativismo (a história tem início na noite da eleição de 1981, quando o socialista François Mitterrand se tornou presidente), o filme não é de fato centrado em alguma dessas pautas.
Tampouco é melodramático ou panfletário. Como pontuou o veículo Variety, o longa trata de "pedaços de vida", primordialmente por meio da visão de Elizabeth.
A presença de Gainsbourg na tela realmente é a alma do filme: a atuação da atriz é impecável e exala sensibilidade. Acreditamos na força e também nas vulnerabilidades de Elisabeth, que acaba se tornando uma mãe para Talulah, já que a garota é dependente química e tem pais relapsos.
O trabalho da protagonista combina bastante com o próprio "Noites de Paris", considerando que é um exercício de escuta. Os convidados do programa "Passageiros da Noite" não necessariamente contam casos extraordinários: são divagações típicas da madrugada, focadas primordialmente no cotidiano, na história de pessoas comuns.
Se a cineasta Agnès Varda considerava que o artista é um "catador de histórias da vida real", o filme cumpre muito bem essa função de reunir narrativas simples numa obra cheia de significado. O uso de diferentes lentes e de imagens de arquivo granuladas enriquecem visualmente a produção, que de fato "é a cara" dos anos 80.
A excelente trilha sonora nos ajuda a voltar no tempo e garante a carga emotiva de algumas cenas. Além de acompanhar a história da família, o longa homenageia o próprio cinema.
A jovem Talulah é a mais fascinada com os filmes e faz da sétima arte uma forma de escapismo, já que consegue esquecer da vida (e de todos os seus consideráveis problemas) quando está numa sala de cinema.
A própria performance de Abita dialoga com o trabalho da atriz francesa Pascale Ogier, que morreu tragicamente em 1984. O filme "Noites de Lua Cheia", um dos principais trabalhos estrelados por Ogier, é bastante citado na produção.
Ao falar sobre o longa de Éric Rohmer, Talulah diz que conseguimos apreciar melhor alguns filmes depois de certo tempo ou quando os vemos duas vezes.
Possivelmente influenciada por essa reflexão, a pessoa que vos escreve assistiu à "Noites de Paris" duas vezes. Se a obra é tocante e significativa logo "de primeira", da segunda vez nos deixamos levar ainda mais pela sensibilidade da narrativa e conseguimos apreciar melhor os respiros do filme.
Nesse trabalho de Mikhaël Hers, muitas cenas não cumprem uma função narrativa pragmática - basta a vida como ela é, sem grandes acontecimentos em cada tomada.
Ficha técnica:
Produção: Nord-Ouest Films / Arte France Cinéma
Distribuição: Vitrine Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes (sala 2, sessões 16 horas e 18h15)
Duração: 1h51
Gênero: drama
Classificação: 16 anos
País: FrançaGênero: drama