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12 junho 2024

“13 Sentimentos” - um olhar sobre o envolvimento emocional em tempos de relações efêmeras

Daniel Ribeiro volta às telonas com filme que aborda relacionamentos amorosos e temáticas LGBT
(Fotos: Thi Santos e Luiza Aron)


Eduardo Jr.


Chega nesta quinta-feira (13) aos cinemas brasileiros o longa "13 Sentimentos”, de Daniel Ribeiro. Distribuído pela Vitrine Filmes, o longa confirma o gosto do diretor em abordar relacionamentos amorosos e temáticas LGBT, como ocorreu no romance adolescente “Hoje Eu Quero Voltar Sozinho”, de 2014. 

A diferença é que, desta vez, o brasileiro desenvolve uma história sobre namoro, aplicativos de relacionamento e controle sobre a vida com personagens já adultos.       


A estreia, marcada para o dia seguinte ao Dia dos Namorados, pode animar na busca pela metade da laranja. No filme, João (Artur Volpi) é um cineasta recém-saído de um namoro de dez anos com Hugo (Sidney Santiago), do qual sobrou como recordação um cubo mágico (sim, aquele brinquedo desafiante para girar, mexer, mudar o ponto de vista em busca de uma suposta harmonia). 

O jovem busca um novo amor e, quando acha que encontrou, tenta conduzir essa relação como se fosse o novo filme que está escrevendo - e é claro, se a arte imita a vida, esse romance não vai obedecer a um roteiro. 


Uma das coisas interessantes sobre “13 Sentimentos” é que o longa é uma resposta de Daniel a outro filme, “45 Dias Sem Você” (2018), que foi realizado por seu ex, Rafael Gomes, baseado no término da relação dos dois. 

Agora, Daniel se debruça sobre seus próprios sentimentos, sobre a possibilidade de se abrir para uma nova relação e sobre se enxergar, se conhecer.  

Nessa jornada, o protagonista João conta com o apoio da amiga lésbica que não quer morar com a namorada e do amigo que tem pavor de relacionamentos. Os dois parecem ambientados à modernidade dos aplicativos de relacionamento, e João também embarca nessa onda. 

A edição do longa se aplica nessa tendência, apresentando telas divididas, que se movimentam de forma ágil, tal qual o texto se desenvolve na obra. 


Dentro do longa, o protagonista escreve um filme que, a cada momento, parece ser um equívoco. Até que o surgimento de um affair vai transformando os dias do cineasta e suas ideias sobre o que está escrevendo. Mas as tentativas de conduzir a paquera como se estivesse construindo um roteiro se mostram infrutíferas. 

O namoro dá errado, o projeto do filme vai naufragando, e as contas pra pagar também começam a tirar a paz de João. Como num simulacro da vida amorosa, a vida profissional também parece desmoronar, até que um novo campo de trabalho se abre. 

Neste ponto, o filme vai se desconectando da modernidade das telas dos smartphones e ganhando um tom mais reflexivo. As metáforas escolhidas pelo diretor revelam que talvez algumas relações sejam idealizadas e que não se conhece tanto assim o outro (ou a si mesmo). 


Mas para recuperar essa chacoalhada no público (e amenizar algumas cenas com cenários que deixam os olhos incomodados tamanha a falta de zelo com a estética), a música de Tim Bernardes se encaixa na trama, quase traduzindo o filme - ou nos dando um aprendizado sobre a vida. 

Pois ela também depende de mexer aqui, ajustar ali, mudar o ponto de vista até que os quadradinhos do cubo mágico estejam em harmonia (ou será que, melhor que um cubo montado é o caminho até chegar a esse momento?). Só indo aos cinemas pra conferir e encontrar a melhor resposta pra você. 


Ficha Técnica:
Direção: Daniel Ribeiro
Produção: Lacuna Filmes, Claraluz Filmes, Canal Brasil, Telecine
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h40
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: romance, comédia

22 dezembro 2022

"Smiley", uma comédia romântica que está dando o que falar

Carlos Cuevas e Miki Esparbé são os protagonistas desta divertida série espanhola (Fotos: Netflix)


Eduardo Jr.


O mês de dezembro é marcado não só pelas festas, mas também pela temporada de filmes de Natal. Entre novidades e títulos já conhecidos, uma série ambientada na Espanha, perto do Réveillon, chega para trazer refresco a essa lista de produções de fim de ano. 

Com o aval de ter chegado rapidamente ao top 10 da Netflix, “Smiley” promete figurar entre as mais divertidas da plataforma. 


Nesta comédia romântica LGBTQIA+, vários casais lidam com os prazeres e dificuldades de um relacionamento. Ceia de Natal, amigo oculto da empresa, a vontade de começar o ano com um novo amor, tudo se torna ingrediente para balançar ou acertar a vida amorosa das personagens. 

No centro da trama estão dois homens, Álex (Carlos Cuevas, já conhecido pela série Merlí) e Bruno (Miki Esparbé, que atuou em ‘O Inocente’). Ambos querem encontrar alguém especial, mas como sabemos, histórias de amor não são fáceis. 


Depois de mais um namoro fracassado, Álex resolve telefonar e dizer poucas e boas para o ex. Mas o recado cai na secretária eletrônica de Bruno. Ao se conhecerem pessoalmente, apesar das muitas diferenças entre eles, uma conexão acontece. 

Mas em uma troca de mensagens, um emoji de um sorriso (smiley), que poderia fazer a relação decolar, é interpretado de forma inesperada. Aí o romance não só estaciona, como parece dar marcha à ré.  


A falta de comunicação entre os casais dá a tônica da série, seja realçando dramas, ou divertindo o espectador. A rotina que afasta marido e mulher um do outro - e também de atividades que gostam - ampliando o abismo da falta de diálogo, encontra remédio na conversa. 

Os textos de apresentação nos sites de relacionamento, incapazes de explicar a complexidade humana, mostram com humor que precisamos nos expressar melhor e também dar essa chance aos outros. Comunicação clara (e não só por emojis). 


A apresentação de relacionamentos LGBTQIA+ não deixa de lado a militância. Com sutileza e talento, pautas como a interiorização da liberação feminina por mulheres lésbicas, os medos da população gay e os preconceitos dentro da própria comunidade estão lá. E promovem a reflexão para que não se tornem muros, e sim pontes que nos aproximem. 

O receio de assumir quem se é de verdade, de revelar sentimentos, e dar como certa a ideia de que envelhecer impede a construção de novos laços, nos tornando feios e incapazes de despertar desejo são questionados e respondidos com firmeza e também doçura. 


Um leve suspense também marca presença. A mãe do protagonista recebe a visita de um velho conhecido. As conversas pouco reveladoras entre eles vão criando um clima que não permite saber o que aconteceu anos atrás e muito menos qual será o desfecho dessa história. Mas a resposta vem. 

A série é eficiente também em mostrar que não é preciso dizer muito pra dar o recado. Os oito episódios são curtos e têm, em média, 35 minutos de duração. São cativantes e entretêm - principalmente por apresentarem telas divididas entre as personagens, mensagens de celulares ampliadas na cena e outros recursos que fazem o público se identificar, deixando o conteúdo ágil e convidativo. 


Talvez o único contra esteja no idioma, já que os capítulos trazem, por muitas vezes, diálogos acelerados (a maioria das cenas foi gravada em catalão). 

A série é uma aposta da Netflix que já começa a dar resultados mais vistosos do que “Uncoupled”, outra trama cômica sobre desventuras amorosas do mundo gay. “Smiley” atingiu a lista de melhores programas da plataforma com agilidade. Talvez por ter credenciais de respeito. 

Baseada em uma peça de teatro, todos os episódios foram roteirizados pelo autor do texto, Guillem Clua. O jovem dramaturgo também roteirizou a série “O Inocente”, baseada no livro de Harlan Coben, autor que vem se firmando como um dos queridinhos da literatura de suspense e da Netflix. 


Embora a série não fique devendo um final ao público, a expectativa é de que “Smiley” ganhe uma nova temporada. Em entrevistas, o diretor e roteirista já andou dizendo que existe uma segunda peça escrita, dando sequência à história dos personagens centrais. 

Portanto, caso seja batido o martelo sobre uma continuação, ela se basearia neste material. Para quem encerrou o ano assistindo “Smiley”, certamente deu vontade de pedir ao Papai Noel “ano novo, temporada nova”. 


Ficha técnica:
Direção: Guillem Clua
Produção: Minoria Absoluta
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada = 8 episódios/média de 35 minutos cada
Classificação: 16 anos
País: Espanha
Gêneros: comédia / romance / série

15 setembro 2022

Comédia "Uma Pitada de Sorte" trata do sonho nosso de cada dia

Fabiana Karla e Mouhamed Harfouch entregam bons momentos de comicidade como o casal nada romântico (Fotos: Fábio Bouzas/Paris Filmes)


Maristela Bretas


Com estreia nesta quinta-feira (15), "Uma Pitada de Sorte" chega aos cinemas com uma pegada leve, um pouco de romance e situações atrapalhadas que valem pela distração, especialmente pela sintonia da dupla principal, Fabiana Karla e Mouhamed Harfouch. Dirigido por Pedro Antônio, o filme busca mostrar que vale a pena correr atrás dos sonhos, mesmo quando a vida passa muitas rasteiras.

Fabiana interpreta a quase chef Pérola Brandão, uma mulher batalhadora, que sonha um dia ter seu próprio restaurante. Está sempre tentando emplacar suas receitas nos restaurantes onde trabalha e acaba se dando mal por isso. 


Nada parece que vai dar certo para a moça. Uma virada em sua vida a torna um sucesso de TV, ao lado do famoso chef francês Diego Gomes (Ivan Espeche, que segura bem seu papel). Mas isso pode afastá-la ainda mais de seu sonho. 

Companheiro inseparável, mas escondendo seu amor platônico pela amiga de infância está Lugão (Harfouch), ele é o amigo de todas as horas e da vizinhança (faz de tudo e ajuda todo mundo, quase um Homem-Aranha sem teia).


Correndo de um lado para outro, entre a função de sous-chef (auxiliar do chef) e as festas infantis organizadas pela empresa da mãe, Pérola vive esgotada e, além de Lugão, só tem o irmão Fred (JP Rufino) para desabafar. 

A simpatia e o sorriso largo de Fabiana são o maior diferencial de seu personagem. Pena que o roteiro não tenha explorado mais seu lado cômico, bem conhecido de outras produções.


A parte mais engraçada do filme é a seleção da pessoa que irá auxiliar o chef Diego no programa. Há outros bons momentos cômicos, garantidos por  Mouhamed Harfouch como o bombadão apaixonado, a veterana e sempre ótima Jandira Martini (como Dona Gina, mãe de Pérola) e Pedroca Monteiro como Bob, o assistente de produção da TV. 


O jovem JP Rufino começa tímido e vai se soltando já na primeira metade do filme. No elenco estão também Regiane Alves, como Margô, diretora de TV linha dura que não gosta de Pérola; Flávia Reis, a vizinha fofoqueira Raylane; Pablo Sanabio no papel de Vicente, também assistente de produção e vários outros atores conhecidos do público. Até mesmo o cantor Thiaguinho tem participação ultrarrápida e se sai bem. 


Um dos pontos especiais do longa foi a escolha do local para locação: Jurujuba, bairro de Niterói (RJ) de frente para a Baía da Guanabara. Com um visual lindo do mar no fim de tarde, a fotografia ganha destaque na produção. Imagens muito belas. 

O final é previsível como esperado, mas não atrapalha. Para quem procura um filme leve, sem muita pretensão, "Uma Pitada de Sorte" entrega o que se propõe - ser uma comédia romântica.


Ficha técnica:
Direção:
Pedro Antonio
Produção: Melodrama Produções / Globo Filmes / Telecine
Distribuição: Downtown Filmes / Paris Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h33
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: comédia romântica

30 dezembro 2021

"O Festival do Amor" - uma apologia ao cinema do genial Woody Allen

San Sebastian, na Espanha, é o palco desta produção que trata de arte, família, casamento, traições e ciúmes (Fotos: Victor Michels)

Mirtes Helena Scalioni


Primeiro, é preciso dizer que, talvez com mais veemência do que os demais, o filme "O Festival do Amor" (“Rifkin’s Festival”) é uma apologia ao cinema. Mais do que uma homenagem, uma apologia. E como são muitas as citações e referências a clássicos, principalmente europeus, cada um vai encontrar os seus preferidos. 

De “Um Homem, Uma Mulher” (1966) a “Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois” (1962), passando por “O Anjo Exterminador” (1962), está tudo lá para quem se dispuser a descobrir. O filme estreia dia 06 de janeiro nos cinemas, mas a partir desta quinta-feira (30/12) acontecem várias pré-estreias, inclusive em salas de Belo Horizonte.


Mas não se engane. Não é preciso ser cinéfilo de carteirinha para apreciar o sempre genial Woody Allen, que desta vez usa o protagonista Mort Rifkin, seu alter-ego, para viajar numa história que junta arte, família, casamento, traições e ciúmes. A mistura, balanceada com maestria, promete e insinua, desde o início, uma boa história que, claro, só podia sair da cabeça de Allen. 


Inseguro em relação à fidelidade de sua bela mulher, a publicitária Sue, o crítico e professor de cinema Mort Rifkin (Wallace Shawn), desconfia que ela, interpretada por Gina Gershon, está tendo um caso com o charmoso diretor Philippe (Louis Garrel). 

Afinal, eles estão num “San Sebastian Film Festival”, na encantadora cidade litorânea espanhola que faz fronteira com a França. O cenário paradisíaco, com suas praias, ilhas e construções históricas, é um convite constante à paixão.


Enquanto defende com unhas e dentes a supremacia artística do cinema europeu com seus Godard, Truffaut, Fellini, Bergman, Buñel e demais, Mort usa sua eloquência intelectual – às vezes carregada de prepotência – para humilhar os ignorantes ou os que pensam diferentemente dele. E enquanto lida com seus sonhos e pesadelos em preto e branco – como convém a um legítimo Woody Allen – visita e tenta prestar contas com o passado.


Não por acaso, acontece que Mort é levemente hipocondríaco e acaba se apaixonando pela médica Jo Rojas, vivida pela bela Elena Anaya, que ele procura por causa de uma dor no peito. Ela, por sua vez, vive um casamento confuso e sofrido com um artista plástico espanhol, do qual não consegue se desvencilhar. Está armada a rede de desencontros e confusões.

Quem não quiser se arriscar a buscar as referências e citações de “O Festival do Amor”, vai se deliciar da mesma forma com mais um típico e autêntico Woody Allen, com suas eternas questões existenciais e filosóficas sobre a vida e a morte e, principalmente, sobre a sempre questionável transitoriedade do  amor.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Woody Allen
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: Somente nos cinemas
Duração: 1h32
Classificação: 14 anos
Países: Espanha / EUA / França
Gêneros: drama, comédia romântica

03 setembro 2021

Com Nathalia Dill e Marcos Veras, “Um Casal Inseparável” é uma comédia romântica boa de assistir

Produção nacional dirigida por Sérgio Goldenberg estreia exclusivamente nos cinemas (Fotos: Rachel Tanugi e Reprodução)


Jean Piter Miranda


Manuela (Nathalia Dill) é jogadora e professora de vôlei de praia. Léo (Marcos Veras) é um médico pediatra bem sucedido. Ela é independente e tem personalidade forte. Ele é do tipo certinho, boa praça. Apesar das diferenças, eles se apaixonam e começam um relacionamento. Mas um mal entendido pode colocar tudo a perder. Essa é a história de “Um Casal Inseparável”, nova comédia romântica nacional que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 09 de setembro.


A história dos dois começa por acaso. Ele parece se apaixonar à primeira vista e faz de tudo para se aproximar. Ela não está em busca de um relacionamento e nem tem isso como prioridade. Mas dá uma chance para o cara. Manu, por sinal, é bem focada no trabalho, determinada e não abre mão das suas convicções. Léo faz o tipo mocinho, um tanto romântico e engraçado. E mesmo com essas diferenças, elas acabam formando um belo casal.

O casal tem química, funciona bem junto. O resto é tudo clichê. Não que isso seja ruim. Apenas típico de comédias românticas. Os pais da menina são engraçados e fazem de tudo para ajudar o casal. Claro, ela tem sua melhor amiga e ele tem seu melhor amigo. E estão quase sempre juntos. Tem ainda os coadjuvantes que sempre aparecem para dar bons conselhos, pra render bons diálogos, participações importantes.


O filme é bem leve. Dá pra gostar do casal e torcer por eles logo de cara. As partes de humor são bem dosadas e não deixam a história cair no besteirol. É previsível que haverá uma separação e está aí o ponto fraco. A confusão que põe fim ao relacionamento de Léo e Manu é um tanto forçada. Os mais exigentes vão apontar isso como furo de roteiro. Mas é perfeitamente aceitável para quem vê o filme como entretenimento.


As atuações são muito boas. Nathalia Dill e Marcos Veras mandam muito bem, inclusive nos momentos de emoção. Sim dá pra se emocionar e também pra rir de várias situações. É uma comédia romântica boa de se ver, muito bem produzida e que acerta inclusive na trilha sonora. O elenco tem ainda Danni Suzuki, Stepan Nercessian e Totia Meirelles (os pais de Manu), Claudio Amado, Ester Dias, Carlos Bonow, Junno de Andrade e Cridemar Aquino.


O diretor de “Um Casal Inseparável” é Sérgio Goldenberg, que também assina o roteiro em parceria com George Moura. Os dois fizeram juntos as séries de TV “O Canto da Sereia” (2013), “Amores Roubados” (2014) e “Onde Nascem os Fortes” (2018), além da minissérie “Onde Está Meu Coração” (2021). A produção é da TvZERO com Trópico Arte & Comunicação, Globo Filmes e Telecine e distribuição da H2O Films.


Ficha técnica:
Direção: Sérgio Goldenberg
Roteiro: Sérgio Goldenberg e George Moura
Produção: TVZero
Distribuição: H2O Films
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gêneros: comédia // romance
Nota: 4 (de 0 a 5)

24 março 2019

"Um Amor Inesperado": comédia romântica inteligente que faz rir e pensar

Crédito: Divulgação
Ricardo Darin e Mercedes Morán fisgam o público com interpretações cheias de naturalidade, talento e charme (Fotos: Filmax/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Difícil entender o raciocínio dos que traduzem títulos de cinema. "Um Amor Inesperado" é um bom nome para um filme que trata das dúvidas e consequente separação de um casal que vive, depois de 25 anos de união, a síndrome do ninho vazio. Mas, diante das muitas conversas e reflexões entre Ana (Mercedes Morán) e Marcos (Ricardo Darin) até se decidirem pelo divórcio, talvez fosse mais adequado ao longa a simples e literal tradução do castelhano: "El Amor Menos Pensado". Afinal, o que fica no final é a pergunta: será que é preciso pensar tanto, raciocinar, dialogar, buscar?

Crédito: Filmax/Divulgação

Em Buenos Aires, Ana e Marcos - ele professor de Literatura e ela psicóloga que trabalha com grupos de pesquisa - parecem viver bem e normalmente como tantos e tantos casais, entre o trabalho e os muitos amigos, até a ida do filho Luciano (Andrés Giul) para a Espanha. Primeiro ela, depois ele, ambos começam a se questionar sobre o desafio de construir um novo cotidiano. Estabelece-se um mal-estar, são longas as conversas e muitas as perguntas que deságuam numa separação civilizada, moderna, madura. Ou seja: pensaram e falaram tanto de amor que optaram por ficar sem ele. 

Crédito: Filmax/Divulgação - 2

É com muita empatia e carisma que Mercedes Morán e Ricardo Darin envolvem o espectador nos muitos paradoxos do amor, nas boas conversas e dúvidas. Mérito, claro, de dois grandes atores que são o cerne do filme, fisgando o público com interpretações cheias de naturalidade, talento e charme. Mesmo algumas cenas que soam superficiais e repletas de caricaturas, como as dos primeiros encontros de ambos assim que ficam livres das amarras do casamento, mesmo essas, convencem e encantam. É como se todos torcessem para que eles encontrem algum caminho para fugir do medo da solidão.

Crédito: Filmax/Divulgação - 3

"Um amor inesperado" é o filme de estreia do argentino Juan Vera, que também assina o roteiro. Os diálogos e as situações, embora bizarros em alguns momentos, são sempre instigantes, enriquecidos por outros atores experientes que todos já viram em alguma produção argentina como Cláudia Fontán, Andréa Pietra, Jean Pierre Noher e Juan Minujin, que interpretam alguns dos parceiros de Ana e Marcos na busca de ambos por novas paixões, vertigens, suspiros, prazer, emoções. 

Classificado por alguns como comédia dramática, "Um Amor Inesperado", faz rir e pensar. É muito calcado no humor, mas mesmo que seja chamado pelo desgastado nome de "comédia romântica", pode ser considerado o primeiro filme inteligente do gênero. E, por que não dizer, cult. Afinal, não é todo dia que um filme argentino desse nível tem, na sua trilha uma canção do Wando. Acredite se quiser. O filme pode ser conferido na Sala 3 do Cineart Ponteio, sessões às 13h30, 16 horas e 18h40.
Duração: 2h16
Classificação: 14 anos



Tags: #UmAmorInesperado, #ElAmorMenosPensado, #RicardoDarin, #MercedesMorán, #comediaromantica, @cinemanoescurinho

 

03 fevereiro 2019

“Uma Nova Chance” - comédia romântica com Jennifer Lopez no estilo sessão da tarde

Filme conta, com humor, como uma simples vendedora se torna a alta executiva de uma empresa de cosméticos (Fotos: Motion Picture Artwork/Divulgação)

Maristela Bretas


Bem leve e sem grandes pretensões, a comédia romântica “Uma Nova Chance” ("Second Art") tem Jennifer Lopez como protagonista e principal atração. A atriz retoma o estilo que lhe garantiu bons filmes ao longo de 20 anos, como "Encontro de Amor" (2002), "A Sogra" (2005) ou "Plano B" (2010). 

Porém ficou muito limitada pelo fraco roteiro, recheado de clichês, em que a fórmula humor e seriedade não foi bem empregada, resultando num personagem muito comum em alguns momentos. Diria até que a Maya Vargas vivida por Lopez seria uma versão 2018 de Marisa Ventura, interpretada por ela em "Encontro de Amor".

Lopez é a principal vendedora de uma loja de cosméticos e produtos de beleza e está insatisfeita com sua vida profissional. Esta primeira parte da produção apresenta bons momentos cômicos, com o suporte de Leah Rimini (como Joan, sua melhor amiga), Charlyne Yi (Ariana, a funcionária atrapalhada) e Alan Aisenberg (Chase, o químico nerd).

Na segunda parte, Vanessa Hudgens (a estrela de "High School Musical") é Zoe, chefe de Maya, que inicialmente não aceita, mas depois cria laços de amizade com ela. Melodramática a aproximação, mas a química entre as duas atrizes até funciona. O ator Milo Ventimiglia ("Creed II") que faz Trey, o "namorido" sem tempero de Maya, também foi mal aproveitado - entra, some e volta e ninguém nem notou que ele saiu. Até Treat Williams foi tirado do baú e faz um empresário de sucesso que contrata a vendedora.

Com uma história que gira em torno de Maya, "Uma Nova Chance" começa abordando a a insatisfação da vendedora, que não tinha sua competência reconhecida na empresa em que trabalhava. Namorava um cara legal que gostava dela e queria que eles se casassem. Sempre rejeitada por não ter uma graduação, Maya vê sua vida dar uma reviravolta ao ter um perfil profissional falso criado nas redes sociais por seu afilhado, apresentando-a como uma destacada consultora de venda de cosméticos.

Por causa disso, é convidada por uma multinacional do ramo a prestar serviços para a empresa e cai nas graças do dono, desagradando à filha dele. Em meio a novos desafios, ela terá de provar que a experiência adquirida com anos de trabalho e contato direto com o público vale tanto quanto um diploma universitário. No entanto, toda essa mentira e o passado mal resolvido de Maya podem atrapalhar sua ascensão social. O filme é todo ambientado em Nova York e parece um outdoor multimarcas de cosméticos.

Claro que por ser uma comédia romântica o final feliz é esperado, com direito a mensagens do tipo - "a verdade é melhor que a mentira", "as coisas só acontecem quando as pessoas correm atrás de seus sonhos" ou "o amor supera tudo". Mas é graças a Lopez que "Uma Nova Chance" consegue, pelo menos, ser indicado para uma sessão em tarde chuvosa.


Ficha técnica:
Direção: Peter Segal
Produção: STX Films / H. Brothers
Distribuição: Diamond Films
Duração: 1h44
Gêneros: Comédia / Romance
País: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

Tags: #UmaNovaChance, #JenniferLopez, #VanessaHudgens, #DiamondFilms, #comediaromantica, @cinemanoescurinho