Naomi Watts e Laura Harring são as protagonistas deste clássico do cinema contemporâneo lançado em 2001 (Fotos: Divulgação)
Da Redação
Uma grande oportunidade de assistir a um clássico do cinema contemporâneo dirigido por David Lynch. Neste sábado,12 de abril, 20 salas de cinema diferentes localizadas em 14 cidades brasileiras, recebem a pré-estreia de "Cidade dos Sonhos" (“Mulholland Drive”).
Em Belo Horizonte, o Cine Una Belas Artes e o Centro Cultural Unimed-BH Minas foram os escolhidos para esta exibição especial. Os ingressos já podem ser adquiridos por meio dos sites ou bilheterias dos próprios cinemas.
O filme, lançado originalmente em 2001, é uma oportunidade para rever ou conhecer, agora em alta definição, uma das obras mais aclamadas do cinema moderno. A estreia nos cinemas acontece dia 17 de abril.
Na trama, Betty/Diane Selwyn (papel de Naomi Watts) é uma jovem aspirante a atriz que viaja para Hollywood e se vê emaranhada numa intriga secreta com Rita/Camila Rhodes (Laura Harring), uma mulher que escapou por pouco de ser assassinada, e que agora se encontra com amnésia devido a um acidente de carro.
O mundo de Diane se torna um pesadelo e as duas passam a procurar pistas por Los Angeles sobre o que ocorreu com Rita e desvendar sua identidade. O elenco conta ainda com Justin Theroux, Billy Ray Cyrus, Ann Miller, Robert Forster, Patrick Fischler, entre outros. A bela trilha sonora ficou a cargo do compositor Angelo Badalamenti.
Com distribuição da Retrato Filmes, as pré-estreias representam não apenas a volta de uma obra-prima ao circuito cinematográfico, mas também a renovação do diálogo entre o cinema e o público que poderá redescobrir um dos maiores filmes do século XXI de forma única.
O relançamento de "Cidade dos Sonhos" nos cinemas é uma celebração da obra-prima de David Lynch, que volta às telas com uma nova remasterização digital, oferecendo aos espectadores uma experiência visual e sonora inédita.
A versão restaurada em 4K traz uma clareza impressionante para a cinematografia única de Lynch, revelando detalhes sutis da obra que antes passavam despercebidos. Uma mixagem sonora aprimorada intensifica a atmosfera de mistério e tensão que caracteriza o filme, tornando-se uma experiência cinematográfica imersiva e inesquecível.
"Cidade dos Sonhos" conquistou o troféu de Melhor Direção no Festival de Cannes de 2001, entregue a David Lynch, e no ano seguinte foi indicado na mesma categoria ao Oscar. Além da direção, o filme é elogiado pela fotografia, trilha sonora e montagem.
Ficha Técnica
Direção e roteiro: David Lynch Produção: Studio Canal, The Picture Factory, Les Films Alain Sarde, Asymmtrical Productions, Touchstone Television e Imagine Television Distribuição: Retrato Filmes Duração: 1h27 Exibição: Cine Una Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas Classificação: 16 anos Países: EUA e França Gêneros: drama, fantasia, suspense
Rami Malek é o protagonista do longa que resolve fazer justiça com as próprias mãos contra quadrilhas internacionais (Fotos: 20th Century Studios)
Maristela Bretas
Em cartaz nos cinemas a partir desta quinta-feira (10), "Operação Vingança" ("The Amateur") mergulha na jornada sombria de Charles Heller (Rami Malek, de "Bohemian Rhapsody" - 2018), um criptógrafo da CIA devastado pela perda da esposa Sarah (Rachel Brosnahan) em um atentado terrorista em Londres.
Diante da inércia da agência e da corrupção interna, Heller toma uma atitude desesperada: chantageia seus superiores para ser treinado como agente de campo e buscar vingança por conta própria.
A premissa, adaptada do romance homônimo de 1981 de Robert Littell, carrega um potencial dramático inegável, explorando a fragilidade de um homem comum lançado ao brutal mundo da espionagem.
Contudo, a execução de James Hawes, embora construa uma atmosfera de tensão e suspense, peca pelo ritmo arrastado em diversos momentos. O filme parece mais interessado em detalhar o sofrimento de Heller do que em impulsionar a narrativa com sequências de ação mais dinâmicas.
Um dos maiores tropeços do roteiro de Ken Nolan e Gary Spinelli reside na inverossímil transformação de Heller. A ideia de um burocrata brilhante em códigos e mensagens criptografadas se transformar em um agente de campo altamente capacitado com pouquíssimo treinamento chega a ofender a inteligência do espectador.
A comparação nostálgica com os cursos rápidos online ilustra bem a incredulidade que essa transição pode gerar. Até mesmo o treinador de Heller afirma que ele nunca será capaz de matar uma pessoa. É muito difícil aceitar essa situação de virar um 007de um dia para outro, criada pelo escritor e reproduzida no roteiro.
Apesar das ressalvas, a presença magnética de Rami Malek confere intensidade ao protagonista, transmitindo a angústia e a obsessão de Heller. No entanto, nem mesmo seu talento consegue suprir as falhas de um roteiro que força a barra em sua improvável metamorfose.
Um ponto positivo é a participação de Laurence Fishburne ("John Wick - Um Novo Dia Para Matar" - 2017) como o Coronel Henderson, o agente da CIA encarregado do treinamento de Heller. Sua presença em tela injeta uma dose de experiência e pragmatismo à narrativa, oferecendo um contraponto interessante ao idealismo ferido do protagonista.
Outro ponto que agrada são as locações em Londres, em junho de 2023, no sudeste da Inglaterra, França e Turquia. No elenco, outros nomes conhecidos como Jon Bernthal ("O Contador" - 2016), Caitriona Balfe, Juliane Nicholson, Holt McCallany, entre outros.
"Operação Vingança" se esforça para ser um thriller de espionagem "eletricamente carregado", como sugere o material de divulgação. No entanto, a lentidão da narrativa e a forçada conversão do protagonista em super agente diluem a tensão e comprometem a imersão.
O filme levanta questões sobre lealdade e a tênue linha entre justiça e vingança, mas a execução vacilante impede que essas reflexões alcancem seu potencial máximo.
Em suma, "Operação Vingança" entrega uma proposta interessante, um ator talentoso no papel principal, mas esbarra em um ritmo irregular e em soluções de roteiro pouco convincentes, com um final de impacto menor que a história merecia. Mesmo assim, o filme vale ser conferido no cinema.
Ficha técnica:
Direção: James Hawes Roteiro: Ken Nolan e Gary Spinelli Produção: Hutch Parker Entertainment, 20th Century Studios Distribuição: Disney Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 2h03 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: ação, drama, suspense
Apesar da pouca experiência, o jovem Owen Cooper entrega uma interpretação carregada de verdades e vulnerabilidades (Fotos: Netflix)
Equipe do Cinema no Escurinho
A equipe do Cinema no Escurinho assistiu a nova minissérie da Netflix, "Adolescência" ("Adolescence"), e se juntou para abordar a essência desta produção. E concordam que se trata de uma produção impactante, atual e que serve de alerta para pais e educadores para o problema da violência contra as mulheres, não importando a idade.
Para o parceiro e colaborador Marcos Tadeu, do blog Jornalista de Cinema, até o momento é uma das séries mais necessárias e impactantes do ano. Ela se destaca pela urgência do tema e pela capacidade de provocar discussões importantes sobre juventude, violência, papel da escola, da família e as estruturas que nos cercam.
Desde que chegou ao catálogo da Netflix em 13 de março, "Adolescência" viralizou rapidamente e ultrapassou a marca de 66,3 milhões de visualizações, deixando o público em choque — e cheio de perguntas.
A produção começa com a brutal interrupção da rotina da família Miller, quando a polícia invade sua casa à procura de Jamie (Owen Cooper), acusado de esfaquear a colega de escola Katie Leonard (Emilia Holliday).
O que poderia parecer um caso direto de violência entre adolescentes se transforma, aos poucos, em uma trama densa, repleta de nuances e contradições.
À medida que os detetives Luke Bascombe (Ashley Walters) e Misha Frank (Faye Marsay) avançam na investigação, segredos vão surgindo e abalam não só o núcleo familiar, mas também a comunidade escolar e os demais envolvidos.
O maior trunfo da série está na forma como a história é contada: a narrativa recorre a diferentes pontos de vista — da polícia, da escola, dos amigos de Jamie, da psicóloga e da família — e evita qualquer tipo de resposta fácil.
Em vez de dizer o que o público deve pensar "Adolescência" o convida a refletir: o ambiente em que o adolescente está inserido contribui para afastá-lo ou aproximá-lo da violência?
Para amplificar esse efeito, mais do que apostar no plano-sequência como um artifício estético, a minissérie usa a câmera em movimento constante como um observador silencioso, que se infiltra nos espaços, capta as tensões e torna a experiência do espectador mais íntima e visceral.
As atuações acompanham o rigor da proposta. Stephen Graham (Eddie Miller, pai de Jamie), Erin Doherty (Briony) e o jovem Owen Cooper entregam interpretações carregadas de verdade e vulnerabilidade.
O texto, bem escrito e afiado, ganha ainda mais potência com a escolha precisa do elenco. Nada soa artificial ou encenado — é como se estivéssemos acompanhando tudo de dentro, em tempo real.
No entanto, nem tudo é acerto. Um dos pontos mais frágeis da narrativa é justamente a construção da vítima. Katie Leonard quase não tem voz própria: seu ponto de vista aparece apenas por meio da amiga Jade (Fatima Bojang), e seus pais ou outras pessoas próximas sequer são mostrados. Isso enfraquece a complexidade emocional que a série poderia ter explorado.
Além disso, o desfecho sem um julgamento formal pode soar frustrante para quem esperava um posicionamento mais claro. O final aberto, ao invés de corajoso, parece fugir da responsabilidade de encerrar a história com uma decisão.
Cada vez mais perto de nós
Para Jean Piter Miranda, a essência de “Adolescência” deixa bem claro que jovens bem criados podem cometer atrocidades. E que isso está mais perto de todos nós do que podemos imaginar.
O menino Jamie de apenas 13 anos é branco, de família de classe média na Europa, tem bom relacionamento com os pais e com a irmã e ainda é bom aluno. Um jovem acima de qualquer suspeita. Entretanto, ele é acusado de matar a facadas uma menina da mesma idade que ele. O motivo? Ódio pelas mulheres.
Jamie participava de comunidades online que pregam ódio às mulheres, os chamados "incels". Grupos esses que têm membros de todas as idades. Se dizem vítimas do feminismo, se sentem rejeitados pelo sexo oposto. Por isso, se acham no direito de cometer todo tipo de violência contra o sexo feminino.
"Adolescência" retrata um problema social silencioso, que vem crescendo em todo o mundo. Um problema social ligado a outros problemas. Pais que trabalham demais e que estão sempre ausentes. Como você vai educar seus filhos se nunca está presente? Crianças que desde muito cedo passam bastante tempo diante de telas, expostas a vários riscos sem que os pais desconfiem de algo.
A minissérie também mostra vulnerabilidades das instituições. As escolas e a polícia não estão preparadas para lidar com esse problema. Não há política pública estruturada para o enfrentamento e prevenção desses casos.
A obra propõe reflexões e, acertadamente, não tem a pretensão de indicar soluções. Não há sensacionalismo de mostrar violência explícita, ao mesmo tempo em que constrói um ambiente de tensão.
As atuações são ótimas, muitas delas carregadas de emoção, porém, sem exageros, sem perder a mão. A filmagem em plano sequência prende o expectador, dando a impressão de que tudo está acontecendo naquele exato momento.
São apenas quatro episódios, o que não deixa a série ser cansativa. O desfecho fica subentendido, sem reviravoltas e sem desgastes com cenas clichês de tribunais. E cada um é feito na medida, com abordagem específica. Tudo isso faz da produção uma obra excelente que merece ser vista e debatida por todos.
Misoginia
Silvana Monteiro tem opinião semelhante. As mulheres enfrentam um tratamento desrespeitoso nas comunidades virtuais, refletindo a desvalorização que também ocorre na sociedade. O chamado "clube do bolinha", para determinados assuntos, pode representar um risco maior do que muitos imaginam.
As pessoas aparentemente comuns podem praticar as piores atrocidades. Famílias perfeitas não existem. Filhos não são o que os pais tentam, pensam ou querem. Mentes sagazes não têm idade. Pais não se prepararam para o mundo e o submundo da web. E criminoso não vem com estrela na testa.
Estamos vendo uma grande número de meninas de 11, 12, 13 e 14 sendo assassinadas todos os dias, a maioria por marmanjos ordinários. É chocante, virou uma coisa sem tamanho, uma situação desesperadora. Antes mesmo de atingir a adolescência plena, as meninas estão se tornando números. Estão tendo donos, "donos" que tiram suas vidas a qualquer espirro.
Para Carol Cassese é uma tristeza como essas meninas já são objetificadas. É toda uma cultura mesmo. Uma existência que fica associada à estética, à ideia de agradar ou não homens. Essa (a objetificação) é uma parte do problema, definitivamente não é apenas isso. Mas faz parte do problema também.
Mirtes Helena Scalioni gostou muito de “Adolescência” e afirma que a produção fez acender luzinhas nas cabeças de pais, filhos e professores. As plataformas não são o que parecem ser. Meninos estão sim fazendo cursos de misoginia na internet. E aprendendo a odiar e matar mulheres e meninas. O último capítulo da série é, para mim, uma pequena obra-prima de reflexão. E o pior de tudo é que as meninas estão sendo, de novo, apontadas como culpadas.
Segunda temporada?
Há rumores de que a série pode ganhar uma nova temporada, não como continuação direta do caso de Jamie, mas com uma nova história e a mesma abordagem. Se mantiver essa profundidade e cuidado na construção narrativa, ela tem tudo para seguir como um dos projetos mais relevantes da Netflix.
Ficha técnica:
Direção: Philip Barantini Roteiro: Jack Thorne e Stephen Graham Produção: Warp Films, Plan B Entertainment e Matriarch Productions Distribuição: Netflix Exibição: Netflix Duração: 4 episódios Classificação: 14 anos País: Reino Unido Gêneros: drama, policial, suspense
"MMA: Meu Melhor Amigo", novo longa protagonizado por Marcos Mion e direção de José Alvarenga Jr., estreou no Disney+ e na Globoplay após ficar pouco tempo nos cinemas. Trazendo uma combinação inusitada de luta e discussão sobre o autismo, o filme aborda, de forma sensível, os desafios e as singularidades das pessoas com este transtorno de espectro, além de conscientizar o público sobre a importância do afeto e da paciência no relacionamento com elas.
Na trama, conhecemos Max Machadada (Marcos Mion), um renomado campeão de MMA em declínio, afastado dos ringues devido a uma séria lesão no ombro. No momento em que descobre ser pai de Bruno, um menino autista de oito anos, Max enfrenta dois desafios cruciais: aprender a compreender e conquistar o carinho de seu filho e se preparar para a luta mais importante de sua vida — o retorno definitivo a sua carreira.
Entre o treinamento físico e emocional, Max se esforça para se transformar no pai que Bruno precisa, enquanto tenta reerguer sua própria história. Marcos Mion entrega uma atuação segura, fugindo de seus bordões habituais e se dedicando a nuances que aproximam o espectador do personagem.
O filme faz referências sutis a Rocky Balboa, mas se afasta do universo do boxe para mergulhar na luta livre. Mion também contribui no roteiro, reforçando seu compromisso com a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA), tema que ele conhece bem por ter um filho na vida real, Romeo, com este distúrbio do neurodesenvolvimento.
O elenco de apoio brilha ao complementar a jornada de Max. Vanessa Giácomo tem um papel pequeno, mas significativo, ajudando a trama a avançar. Antônio Fagundes, como o pai de Max, constrói uma relação complexa marcada por conflitos e resquícios do passado.
Andréia Horta interpreta Laís, mãe do garoto, uma figura forte e cheia de camadas, que oferece suporte prático e emocional ao protagonista, além de educá-lo sobre as necessidades de Bruno.
A direção acerta ao equilibrar o drama familiar com as cenas de treinamento e luta. O roteiro de José Alvarenga Jr. aprofunda o conflito entre as responsabilidades de Max como pai e atleta, enquanto explora temas como a interação de Bruno (interpretado por Guilherme Tavares) com outras crianças, sua percepção sensorial diferenciada, e a importância do cuidado paciente e amoroso. O jovem acrescenta leveza e humanidade à narrativa.
Os pontos fracos do filme são as coreografias mal feitas das lutas e a conclusão da história. Apesar de coesa, a narrativa finaliza de forma abrupta, deixando em aberto a evolução dos personagens após a tão aguardada luta. O desfecho, ao focar na relação de Max com seu filho, poderia ter explorado mais o impacto dessa jornada na vida dos dois.
"MMA: Meu Melhor Amigo" é um filme simples, repleto de clichês, mas que se destaca pela humanidade e sensibilidade com que aborda o universo autista. Marcos Mion se firma como um porta-voz da causa, transmitindo uma mensagem poderosa sobre convivência, empatia e superação.
A obra não só conscientiza o público, mas também celebra as diferenças, mostrando que lidar com pessoas no espectro autista exige paciência, respeito e, acima de tudo, amor.
Ficha técnica:
Direção: José Alvarenga Júnior Roteiro e Argumento/Criação: Marcos Mion e Paulo Cursino Produção: Globo Filmes, Formata Produções e Conteúdo, Star Original Productions Distribuição: Star Distribution Brasil Exibição: Globoplay e Disney+ Duração: 2 horas Classificação: 12 anos País: Brasil Gêneros: drama, ação
Atriz transforma sua expressão para levar o espectador a uma infinita gama de emoções (Fotos: Sony Pictures)
Mirtes Helena Scalioni
No filme "Vitória", em cartaz nos cinemas, Fernanda Montenegro faz jus - com louvor - ao apelido que recebeu, anos atrás, de um crítico: "cara de borracha".
A alcunha, justificada pela facilidade e naturalidade com que a atriz transforma sua expressão para levar o espectador a uma infinita gama de emoções, tem, no longa dirigido por Andrucha Waddington uma amostra perfeita.
O caso da mulher corajosa que, da janela de sua pequena quitinete em Copacabana, filma o movimento cotidiano de traficantes de drogas, usuários e policiais na favela ao lado, é, lógico, uma ótima história.
Mas talvez não tivesse se transformado no excelente filme que é se não tivesse a nossa Fernandona no papel principal. Há sim, pequenas e valiosas participações, mas a atriz, da altura dos seus 95 anos, consegue se superar, mesmo estando sozinha na tela na maior parte da produção.
Estão no elenco Linn da Quebrada, Sacha Bali, Silvio Quindane, Laila Garin, Thelmo Fernandes, Alan Rocha, Thawan Lucas e outros. Raras atrizes conseguiriam o feito de Fernanda em "Vitória". É que ela, mesmo estando só, faz o jogo de cena - se é que isso seja humanamente possível.
Não bastasse o talento da artista exibido em simples e corriqueiros diálogos com a caixa do supermercado, o sargento que a atende numa delegacia ou o porteiro do seu prédio, há situações em que ela, mesmo em silêncio, atua.
Sim, Fernanda Montenegro consegue - acreditem - contracenar com um bolo, uma xícara, uma janela. Olhares, expressões de corpo, meneios e jeitos permitem que o espectador leia - e sinta - com ela: compaixão, medo, angústia, raiva, afeto, pavor, desconfiança, abandono.
"Eles Não Usam Black-tie"(Reprodução)
Muito se fala da tal cena do feijão, do filme "Eles Não Usam Black-tie", quando Fernanda Montenegro (sempre ela) e Gianfrancesco Guarnieri, sentados à mesa, num momento delicado e carregado de conflitos para aquela família, e em silêncio, escolhem e separam feijões antes de colocá-los na panela.
O filme, de 1981, foi dirigido por Leon Hirszman e essa espécie de pausa se transformou numa das tomadas mais famosas e icônicas do cinema brasileiro.
Pois em "Vitória", pode-se dizer que há algo semelhante, em um momento também cheio de significados para a história de solidão e abandono da personagem.
Lentamente, ela vai até uma vitrolinha num canto da sala e, com cuidado, leva o braço do aparelho até um LP. Pequenos acordes de violão e o que se ouve a seguir é Nelson Cavaquinho, com aquela sua voz característica e cansada cantando pausadamente: "quando eu piso em folhas secas/caídas de uma mangueira/ penso na minha escola/ e nos poetas da minha Estação Primeira....."
Não se sabe se andando ou dançando, Vitória chega até uma pequena mesa, puxa a cadeira, senta-se, pega uma embalagem de cola e começa a colar os cacos de uma xícara antiga de porcelana que, parece, é para ela um objeto de estimação e lembranças. Impossível não chorar.
Leia no blog a crítica de "Vitória", filme que já alcançou a marca de 500 mil espectadores e arrecadou mais de R$ 10 milhões até o momento.
Ficha técnica:
Direção: Andrucha Waddington Roteiro: Paula Fiuza e Breno Silveira Produção: Conspiração Filmes e coprodução MyMama Entertainment e Globoplay Distribuição: Sony Pictures Exibição: Redes Cineart e Cinemark, Centro Cultural Unimed-BH Minas e Una Cine Belas Artes Duração: 1h52 Classificação: 16 anos País: Brasil Gênero: drama criminal
Dirigido por Rosane Svartman, “Câncer com Ascendente em Virgem”, estrelado por Suzana Pires, em cartaz nos cinemas, aborda a importância da prevenção contra o câncer de mama e de acreditar em si próprio.
Na trama, Clara (Suzana Pires) é professora de matemática e influenciadora educacional, acostumada a ter tudo sob controle. No entanto, ao receber o diagnóstico de câncer de mama, ela precisa aprender a lidar com a incerteza da vida e aceitar que nem tudo pode ser planejado.
Um dos pontos altos do filme é como ele se conecta com as mulheres, promovendo a conscientização sobre a importância da detecção precoce e dos cuidados preventivos. A produção não apenas sensibiliza o público, mas também oferece um processo de cura e reflexão para aqueles que necessitam.
Além de Suzana Pires, o elenco conta com Marieta Severo, Natalia Costa, Carla Cristina Cardoso, Fabiana Carla, Maria Gal, Giovana Lima, Mariana Costa, Ângelo Paes Leme, Arêne Souza, Júlio Conrad, Heitor Martinez e Yuri Marçal.
Cada um deles imprime grande profundidade a seu personagem, tocando o coração do espectador e reforçando a importância de discutir o tema.
O longa-metragem é inspirado na história da produtora de cinema Clélia Bessa. Durante o tratamento que a curou de um câncer de mama em 2008, ela criou o blog “Estou Com Câncer e Daí”, transformado em livro, publicado pela Editora Cobogó.
A produção também destaca a importância do apoio de familiares e amigos durante o tratamento, abordando a questão do abandono de mulheres com câncer por parte de seus parceiros.
Esse é um tema delicado, que não poder ser ignorado, pois a solidão de quem enfrenta a doença pode agravar ainda mais a situação.
É imprescindível que todos os postos médicos ofereçam o tratamento adequado e os exames fundamentais. O filme também aborda sobre a importância de lutar pelos direitos e de não deixar para trás algo tão crucial como a saúde.
A música “Tudo Vai Passar”, de Preta Gil, faz parte da trilha sonora do filme. Em janeiro de 2023, a cantora foi diagnosticada com adenocarcinoma no intestino. Após um tratamento intensivo, que incluiu quimioterapia, radioterapia e cirurgia, ela compartilhou sua experiência e lançou a canção, que se tornou um símbolo de superação.
Mart'Nália também deixa seu recado ma trilha sonora com o sucesso "Fullgás", de Marina Lima.
Vale a pena conferir “Câncer com Ascendente em Virgem” nos cinemas. O longa vai além de um tema popular. Ele explora a importância de cuidar da saúde, de buscar a felicidade e de estar ao lado de quem amamos. Mais do que um filme sobre a mulher, é uma obra emocionante, inspiradora e indispensável.
Ficha técnica:
Direção: Rosane Svartman Roteiro: Suzana Pires, Martha Mendonça e Pedro Reinato Produção: Raccord Produções, com coprodução da Globo Filmes e RioFilme Distribuição: Downtown Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h40 Classificação: 14 anos País: Brasil Gêneros: drama, comédia
Protagonista, interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado entrando num trem misterioso (Fotos: Pandora Filmes)
Mirtes Helena Scalioni
É possível imaginar, mesmo sem nunca ter dirigido um filme, que retratar a obra de Murilo Rubião no cinema é tarefa difícil, quase impossível, mesmo que seja apenas uma homenagem.
Ao que parece, Eder Santos tentou fazer isso, mesmo caindo na tentação de realizar um longa pesado, até certo ponto incompreensível, obscuro e misterioso, muitas vezes pecando pelo excesso de metáforas.
Definitivamente, "Girassol Vermelho", livremente inspirado no mineiro Rubião, considerado o precursor do realismo fantástico, não é um filme fácil de assistir. O longa poderá ser conferido a partir do dia 3 de abril nos cinemas.
Se alguém se der ao trabalho de ler a sinopse do filme antes de vê-lo, vai ficar sabendo que Romeu, personagem interpretado na medida por Chico Díaz, tenta fugir do seu passado, entra num trem misterioso, mas para em algum lugar onde, desde o início, é questionado, maltratado e torturado por um sistema opressor que o espectador imagina - apenas imagina - qual seja. Um governo autoritário? A própria consciência de Romeu? Realidade ou pesadelo?
Os personagens vão entrando na história - que não é história - aos poucos. Da mulher de vermelho interpretada por Luiza Lemmertz que faz a dama fatal que atrai o homem para uma armadilha, até uma espécie de Grande Irmão, feito por Daniel Oliveira e que só aparece numa tela.
Até os indefectíveis homens e mulheres da lei - interpretados por Bárbara Paz, Renato Parara e outros. Também não faltam cenas que parecem ser julgamentos, em que as testemunhas acusam Romeu de ser o homem que pergunta, que questiona, que quer saber.
Saliente-se que o calvário do personagem central se passa em um mesmo local, uma espécie de galpão industrial, constantemente envolto em fumaça - ou seria névoa?
Com cara de filme experimental, "Girassol Vermelho" parece pecar pelas cenas longas, como a de um jantar onde todos estão sufocados dentro de sacos plásticos, menos Romeu, enquanto garçons servem e retiram pratos e copos.
Se o objetivo era causar estranheza, o filme codirigido por Thiago Villas Boas atinge sua meta com louvor. Mas dificilmente vai conseguir conquistar o público médio de cinema.
Mesmo reconhecendo que não se pode esperar algo verossímil a partir da obra de Murilo Rubião, que encantou e encanta leitores mundo afora com seus contos ao mesmo tempo belos e absurdos. No caso do longa, sobraram absurdos, faltou beleza.
PS: há uma única menção ao conto "A Casa do Girassol Vermelho", de Murilo Rubião, bem no início do filme, quando uma mulher lê um primeiro parágrafo para Romeu, assim que ele entra no trem.
Ficha técnica:
Direção: Eder Santos e codireção de Thiago Villas Boas Roteiro: Mônica Cerqueira Distribuição: Pandora Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h50 Classificação: 16 anos País: Brasil Gênero: drama
François Ozon volta às telonas com um drama para prender o público com mistérios intrigantes (Fotos: Pandora Filmes)
Eduardo Jr.
No outono caem as folhas que mascaram as árvores, e o clima festivo e solar do verão começa a esmaecer. Em "Quando Chega o Outono" ("Quand Vint L'Automne") novo filme de François Ozon, essa metáfora nos provoca sobre as máscaras de cada personagem e a opção por não jogar luz sobre determinados atos. O longa chega aos cinemas brasileiros dia 27 de março, com distribuição da Pandora Filmes.
O diretor francês, que já filmou comédias, suspenses e musicais, agora oferece um drama que se debruça sobre a complexidade das relações humanas, promovendo um jogo sobre os segredos, traumas e atitudes de cada um perante determinadas situações. Destaque também para a bela fotografia, que explora muito bem as paisagens e cores fortes do Outono.
Na trama, as histórias de duas famílias se entrelaçam por conta de acontecimentos que deixam o público em suspense. De um lado está Michelle (personagem da ótima Hélène Vincent). Moradora de um vilarejo da Borgonha, ela está ansiosa para passar alguns dias na companhia do neto, Lucas (Garlan Erlos).
Quem vai levar o garoto para a casa da avó é a mãe dele, Valérie (Ludivine Sagnier, que trabalhou com Ozon em "Swimming Pool - À Beira da Piscina" - 2003). Na casa próxima está Marie Claude (Josiane Balasko), melhor amiga de Michelle, que a ajuda a colher cogumelos para o almoço das visitas.
A relação entre Michelle e Valérie não é nada boa, e piora quando a filha vai parar num hospital após acidentalmente comer cogumelos envenenados na casa da mãe. Quem apoia a avó de Lucas neste episódio é Marie-Claude, cujo filho acaba de sair da prisão, o misterioso Vincent (Pierre Lottin), personagem central no andamento da trama.
Vincent conhece Valérie desde a infância e vai atrás dela para tentar ajudar Michelle, que o acolheu e ofereceu trabalho ao ex-presidiário. Mas o encontro entre os dois é o ponto que vai movimentar a vida de todas as personagens.
Por que mãe e filha têm uma relação tão difícil? Existe de fato um culpado nos eventos do filme? Será que as consequências foram todas planejadas ou são apenas frutos do destino? Proteger alguém é algo que se faz naturalmente ou por interesse? Será que a inocência das pessoas apenas parece estar presente ou é genuína? Ozon provoca o espectador a refletir sobre os mistérios ali contidos, questionar, duvidar - e até julgar, afinal, é o que todos fazemos.
Atos do passado, culpa, solidão, amizade, manipulação, crime, segredos, velhice, afeto, redenção... Tudo isso compõe o pacote de reflexões que François Ozon nos lança nesta obra. E as respostas podem estar não no fim, mas no início do filme (fica a dica).
Assim como na estação em que as folhas caem, reduzindo a sombra da copa das árvores, em "Quando Chega o Outono" resta aos personagens aceitar que não há sombra que os impeça de encarar seus próprios segredos.
Ficha Técnica:
Direção: François Ozon Roteiro: François Ozon e Philippe Piazzo Duração: 1h42 Produção: Foz Distribuição: Pandora Filmes Classificação: 14 anos País: França Gêneros: drama, suspense
A protagonista, que dá nome ao longa, é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta a partir da adolescência (Fotos: Paris Filmes)
Mirtes Helena Scalioni
Impossível sair impune depois de assistir a "Parthenope: Os Amores de Nápoles", não por acaso um filme que tem sua origem na Itália, não por acaso a terra das artes e da beleza. Em uma direção tão peculiar quanto estranha, o não por acaso napolitano Paolo Sorrentino ("A Mão de Deus" - 2021) mistura mitologia, moralidade, filosofia, maternidade, hipocrisia, tempo, religião, academicismo, antropologia, suicídio e alguma bizarrice para fazer um recorte na vida da bela Parthenope, jovem que, de certa forma, carrega a própria beleza quase como um fardo.
A personagem é interpretada pela modelo Celeste Dalla Porta e, na maturidade, por Stefania Sandrelli. A jovem carrega em seu nome a lenda mitológica da sereia que dá origem ao nome da cidade de Nápoles. Ela usa a sedução para conquistar os homens ao seu redor, incluindo os proibidos.
Junte-se a tudo isso, paisagens deslumbrantes daquela região, com suas praias e rochas, além de exploração quase abusiva de belos corpos expostos ao sol - às vezes lembrando peças de propaganda.
Para completar, uma trilha sonora que inclui "Gira", um samba-batuque do Trio Ternura de 1973; "My Way", na voz inconfundível de Frank Sinatra, e, claro, lindas canções italianas embalando casais em noites enluaradas.
No que você está pensando? Essa é a pergunta mais frequente do filme, que acompanha a trajetória de Parthenope em busca não só de uma carreira acadêmica como professora de Antropologia, mas também de respostas para a própria vida.
Enquanto estuda e se diverte, ela convive com o cínico escritor norte-americano John Cheever, vivido por Gary Oldman, e seu professor e orientador da faculdade, Devoto Marotta, interpretado por Silvio Orlando.
Misterioso e, às vezes, irônico, o longa, roteirizado pelo próprio Sorrentino, é repleto de frases de efeito, como se o objetivo fosse confundir o espectador ou - quem sabe - fazê-lo pensar. A heroína, nascida na década de 1950, é libertária e dona absoluta da própria vida.
Mas ela carrega uma culpa pela morte do irmão Raimondo (Daniele Rienzo) com quem mantinha uma relação incestuosa e dividida com o amigo de infância Sandrini (Dario Aita).
Nápoles é, de certa forma, uma personagem do filme com seus conflitos e dualidades. Além das paisagens enfatizando um azul profundo do mar, não faltam ruelas, casebres, gente feia e miséria.
Em certo momento, a diva do cinema Greta Cool (Luisa Ranieri), em discurso que parece ser a inauguração de um navio, decreta, com todas as letras: "Vocês, napolitanos, são deprimidos e não sabem. São pobres, desgraçados e retrógrados e se orgulham disso".
Estão ainda no elenco, em participações ao redor de Parthenope, Antonino Annina como Raimondo criança, Rivardo Copolla como Sandrino criança, Peppe Lanzetta, no papel do bispo, entre outros nomes do cinema italiano.
Outro personagem forte do filme é o cigarro, constantemente nas mãos e bocas de quase todos os personagens, sejam eles velhos ou jovens. Há quem enxergue traços até de Fellini em "Parthenope: Os Amores de Nápoles".
Teatral e fantasioso, o longa de Paolo Sorrentino pode chocar com suas bizarrices, causando inevitável estranhamento no espectador. Mas, certamente, o público vai sair do cinema bastante comovido. Além de cheio de perguntas.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Paolo Sorrentino Produção: Pathé Films, A24, FremantleMedia, The Apartment Pictures Distribuição: Paris Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 2h17 Classificação: 16 anos País: Itália Gêneros: drama, romance, fantasia