Annabelle Wallis é a jovem Madison, que tem visões de crimes brutais cometidos por uma entidade ligada a seu passado (Fotos: Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Aquele terror que faz você ficar grudado na cadeira do
cinema, um roteiro exemplar, uma entidade assustadora em todos os sentidos.
Tudo isso num só filme - "Maligno" ("Malignant"), em cartaz
nos cinemas, sob a direção de James Wan, responsável por sucessos como
(“Aquaman” - 2018 e “Velozes & Furiosos 7” - 2015).
O longa é estrelado por
Annabelle Wallis, que parece estar gostando do gênero terror, tendo participado
de “Annabelle” (2014), “A Múmia” (2017) e, mais recentemente, da ficção
"Mate ou Morra" (2021).
Em "Maligno", ela entrega uma ótima interpretação
de Madison uma mulher que tem visões de assassinatos brutais que ocorrem em
outros lugares, com pessoas desconhecidas. A situação piora quando os sonhos
dos crimes passam a ocorrer durante o dia e intrigam a polícia. Ajudada por sua
irmã Sidney (papel de Maddie Hasson), ela suspeita que o assassino possa estar
ligado a seu passado desconhecido.
Claro, não poderia faltar a casa velha com aspecto de mal
assombrada, a neblina e as luzes piscando anunciando a chegada do mal e os
ambientes escuros - porque as pessoas insistem em andar pela casa sem acender a
luz, só para serem atacadas nos filmes.
"Maligno" tem uma vantagem
sobre outras produções do gênero - as cenas de terror também acontecem durante
o dia, nos lugares mais inesperados. E são ótimas, não perdem o impacto por
ocorrerem em ambientes iluminados.
A violência nos ataques da entidade podem chocar aqueles de
estômago mais fraco, o sangue corre solto e escorre pelas paredes, mas as sequências
das cenas prendem do início ao fim. O roteiro é bem amarrado, fazendo as
conexões necessárias para que o público entenda o que está acontecendo. Mesmo
quando as explicações são óbvias e, às vezes, podem parecer desnecessárias. Mas
não são.
O elenco conta ainda com George Young, Jacqueline McKenzie,
Jake Abel e Ingrid Bisu (no papel da perita forense), que atuou também em
“Invocação do Mal 3: A Ordem do Demônio” (2021) e a “A Freira” (2018), além de
ser uma das roteiristas do longa, juntamente com James Wan e Akela Cooper.
James Wan dá um show de direção. Ele literalmente passeia
pelos espaços da casa de Madison, com destaque das imagens feitas de cima para
baixo, permitindo ao público enxergar o ambiente como num labirinto, à espera
do ataque da entidade. Nos outros locais de ataques, a preocupação com os
detalhes nos cenários chama a atenção, como no subterrâneo de Seattle, ou
acompanhando as vítimas pelos cômodos de suas casas.
O jogo de câmera é perfeito, os efeitos visuais usados na
entidade e nas mudanças de cenários durante as visões de Madison, bem como a,
fotografia e a maquiagem são uma aula da equipe de produção de Wan, que já
participou de outros filmes do gênero, como "Invocação do Mal 2"
(2016) e "Sobrenatural: A Última Chave" (2018).
Sem contar a ótima trilha sonora (que pode ser conferida no
Spotify) composta por Joseph Bishara, responsável por todos os sete filmes da
franquia "Invocação do Mal", iniciada em 2013. Ele compôs ainda a
trilha de "The Prodigy" (2019), que no Brasil recebeu também o nome
de "Maligno".
Enfim, uma produção que reúne várias influências aplicadas
pelo diretor e sua equipe em outros longas, mas que funcionam bem e dão um
ritmo que agrada. Vale muito a pena ser conferido.
Ficha técnica:
Direção: James Wan Roteiro: James Wan, Akela Cooper e Ingrid Bisu Distribuição: Warner Bros. Pictures Exibição: nos cinemas Duração: 1h51 Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Terror /Suspense Nota: 4,5 (de 0 a 5)
Gal Gadot retorna a seu papel de super-heroína e entrega
outra grande produção (Fotos: Clay Enos/ DC Comics)
Maristela Bretas
Patty Jenkins e Gal Gadot provam mais uma vez que duas
mulheres inteligentes e engajadas fazem a diferença. "Mulher-Maravilha
1984" não é mais um filme de super-heroína, mesmo com toda a ação, efeitos
visuais fantásticos, ótimas batalhas e grandes vilões. A famosa personagem que
usa um maiô dourado, vermelho e azul entrega um filme que explora sentimentos,
medos e, principalmente, desejos. Coisas comuns dos seres humanos, mas que agora
atingem uma das maiores guerreiras de Themyscira.
A esperada produção apresenta um equilíbrio pouco visto nos
demais personagens da DC Comics, com a Mulher-Maravilha novamente interpretada
pela bela e carismática Gal Gadot, dividindo o espaço quase que em igualdade
com seus dois arqui-inimigos: Mulher-Leopardo (Kristen Wiig) e Max Lord (Pedro
Pascal). Difícil dizer quem está melhor.
Não espere ver apenas lutas da heroína contra os excelentes
vilões. O forte de todo o enredo é o desejo, para o bem ou para o mal, que move
o ser humano. Diana Prince, mesmo sendo uma semideusa não escapa de sucumbir a
seu mais profundo desejo - o de ter de volta seu grande amor, Steve Trevor
(Chris Pine), morto na 1ª Grande Guerra ("Mulher-Maravilha”- 2017).
E é assim que os fãs vão poder ver o belo e apaixonado casal
junto novamente. Mas como Superman, Trevor é a criptonita de Diana. O público
vai conhecer também a mulher fragilizada e quase sem poderes, capaz de sangrar
e de se ferir, mas nunca de deixar de amar seu piloto e a humanidade, por pior
que ela seja.
Se uma guerreira não resiste a ter um desejo realizado, não
seriam os pobres mortais como Bárbara Minerva (Kristen Wiig) e Maxwell Lord
(Pedro Pascal) que ficariam ilesos. E tudo isso graças a uma misteriosa pedra
do passado. E não só eles, mas todos que são expostos a ela.
Wiig (de "Perdido em Marte" - 2015 e
"Caça-Fantasmas" - 2016) arrasa na transformação de Bárbara, uma
pesquisadora desleixada e quase invisível ao mundo numa poderosa e atraente
mulher, mas sem sentimentos. Para depois se tornar a Mulher-Leopardo, com
poderes semelhantes aos da Mulher Maravilha. Ela está demais, sem ser caricata.
Mas é em Pascal que estão concentradas todas as ações do
filme e ele entrega um vilão excelente, sem ser caricato. O ator, conhecido por
papéis em sucessos como as séries "Narcos" (2015 a 2017), da
@Netflix, e "The Mandalorian", em exibição na @Disney+, interpreta o
empresário de boa lábia, mas falido que se torna o homem mais poderoso do
mundo. Ele muda comportamento e feições, sem alterar sua aparência ou usar
fantasia, como acontece com muitos vilões dos quadrinhos. Seu mal é interior,
faz parte da essência dos seres humanos - a ganância.
O filme traz de volta também duas grandes atrizes do
primeiro filme - Robin Wright, como Antíope, e Connie Nielsen, a rainha
Hippolyta, mãe de Diana. Apesar da participação apenas no início, elas
representam os valores que vão guiar Diana por toda a sua vida e fazer a
diferença na luta contra os inimigos.
Mas e os efeitos visuais? Claro que estão bem presentes e
como era esperado, excelentes e com muita destruição, mas sem matança e sangue
jorrando. Uma característica da Mulher-Maravilha que, como ela mesma diz, não
gosta de armas. O laço dourado é seu aliado contra os bandidos. Tudo se resolve
com charme, um sorriso, uma piscada ou uma boa briga. Tem também perseguição
com tanque, só para ficar diferente.
A ótima trilha sonora foi acertadamente entregue ao grande
Hans Zimmer, responsável por sucessos como "Batman vs Superman - A Origem
da Justiça" (2016), que conta também com a Mulher-Maravilha no elenco,
"Dunkirk" (2017), "O Rei Leão" (2019) e outros inúmeros
sucessos para o cinema. Não poderia ficar de fora a música tema.
Gal Gadot está mais madura, segura de seu papel como super-heroína
e símbolo da força das mulheres. E encontrou em Jenkins, também roteirista do
filme, a parceira ideal para apresentar esta personagem inspiradas nos quadrinhos
da DC Comics. As duas também são produtoras do filme, juntamente com Zack e
Deborah Snyder e Charles Roven.
"Mulher-Maravilha 1984", assim como a primeira, é
outra grande produção e merece ser assistida no cinema, tomando as devidas
medidas de segurança: use máscara durante toda a exibição e não esqueça o
álcool gel antes e depois da sessão.
Ficha técnica: Direção: Patty Jenkins Distribuição: Warner Bros. Pictures Duração: 2h30 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ação / Aventura /Fantasia Nota: 5 (de 0 a 5)
Chadwick Boseman interpreta um policial que caça dois suspeitos de matarem policiais em Nova York (Fotos: Metropolitan Film/Divulgação)
Maristela Bretas
Policiais mortos, Nova York fechada, um assalto suspeito e uma caçada implacável comandada por Chadwick Boseman ("Pantera Negra" - 2018). Esse é o enredo do ótimo suspense policial "Crime Sem Saída" ("21 Bridges"), em cartaz nos cinemas. Com muita ação, do início ao fim, a produção, dirigida por Brian Kirk, conta com atuação marcante de Boseman, como o inspetor de polícia André Davis. Ele quer pegar dois assaltantes e desvendar o que há por trás do crime que deu errado e acabou numa chacina de policiais.
Boseman, além de atuar, é um dos produtores do filme, juntamente com os irmãos Joe e Anthony Russo, com quem trabalhou nos sucessos "Vingadores: Guerra Infinita" (2018) e "Vingadores: Ultimato" (2019). Ótimas perseguições, de carro e a pé, bons efeitos especiais, elenco coadjuvante entregando também boas atuações. É o caso do sempre muito bom J.K.Simmons ("Homem-Aranha: Longe de Casa" - 2019), como o capitão de polícia McKenna. E também, Stephan James (Michael), Taylor Kitsch (Ray) e Sienna Miller, no papel da agente da Divisão de Narcóticos, Frankie Burns.
A trama é ágil, vibrante e preenche bem seu tempo de duração de pouco mais de pouco de 1h41, sem ficar embromando. O policial interpretado por Boseman planeja cada passo que ele e seus suspeitos darão e vai puxando a história para si, sem deixar de dar a devida importância para os demais personagens, em especial Michael e Ray. Os crimes, as fraudes e irregularidades, mesmo que injustificáveis, têm suas justificativas na visão de cada um que os comete.
Após um assalto mal sucedido a um restaurante (que guardava drogas) e oito policiais mortos, dois rapazes passam a ser caçados pela cidade por toda a corporação, chefiada, pelo inspetor André Davis, conhecido por seus colegas por não deixar matador de polícia vivo. Em meio a isso, a cidade que nunca dorme é fechada durante a madrugada e todas as saídas - aeroportos, estações de metrô, de trens e de barcos - bloqueadas. O nome do filme em inglês vem deste bloqueio - "21 Bridges", ou seja, 21 pontes, que são exatamente as saídas por terra de Nova York.
Com toda a polícia nas ruas para tentar capturar a dupla, o inspetor Davis, auxiliado pela agente Burns, só tem seis horas para capturar Michael e Ray e solucionar o crime, antes que a cidade seja reaberta. Mas as investigações vão revelando outras situações e a trama ganha rumos diferentes, interligando e o assunto é apenas uma cortina de fumaça. "Crime Sem Saída" é um ótimo filme, roteiro redondo, ação na medida certa e elenco bem escolhido que entregou boas interpretações. Merece ser assistido.
Kaya Scodelario é a jovem que volta à sua cidade para salvar o pai durante um furacão e ataque de jacarés (Fotos: Paramount Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
Infelizmente pouco divulgado, "Predadores Assassinos" ("Crawl") é um bom filme, melhor que muitos em cartaz e cumpre o que promete - terror e tensão do início ao fim, com boa atuação de Kaya Scodelario. Ela volta a atuar ao lado de Barry Pepper depois da franquia "Maze Runner" - "Prova de Fogo" (2015) e "A Cura Mortal" (2016). Kaya também participou do primeiro filme da trilogia - "Correr ou Morrer" (2014), além de "Ted Bundy - A Irresistível Face do Mal" (2019).
Os efeitos visuais garantem as melhores cenas de ação, desde o furacão que se aproxima da cidade aos ataques dos gigantescos jacarés. Para quem não gosta de ver pessoas sendo devoradas por estes monstros, o conselho é passar longe das salas onde o filme está sendo exibido.
"Predadores Assassinos" não oferece diálogos cômicos em momento algum. É um filme feito para assustar e consegue isso muito bem, mesmo com o público sabendo que vai acontecer alguma coisa perigosa ou devastadora. Existem mocinhos no filme? Com certeza, mas não convencem muito. Os vilões, como sempre são bem mais interessantes. No caso, os jacarés, com sua boca enorme e um apetite voraz, capazes de devorar uma pessoa em poucos minutos.
Não espere um "Sharknado" ou um "Piranhas Assassinas". Esta produção, dirigida por Alexandre Aja, está mais para "Tubarão", com ótimos recursos durante a carnificina geral, porém sem o charme do clássico de 1975 de Steven Spielberg. Até pelo elenco, formado quase em sua totalidade por atores de segundo (ou terceiro) escalão. A impressão que dá é que eles só estão lá para encherem a barriga dos "bichinhos" que ocupam as ruas e prédios da cidade.
Na história, um enorme furacão atinge uma cidade na Flórida. Haley (Kaya Scodelario) ignora as ordens das autoridades para deixar o local e vai procurar seu pai desaparecido (Barry Pepper). Ao encontrá-lo gravemente ferido, os dois ficam presos na inundação. Enquanto o tempo passa, Haley e seu pai descobrem que o aumento do nível da água traz inimigos inesperados: gigantescos jacarés.
"Predadores Assassinos" não escapa dos clichês, comuns nesse tipo de filme. E ainda oferece um final que só faltou mostrar uma bandeira dos EUA tremulando ao fundo, como em "O Ataque" (2013). Palmas para os crocodilos que conseguem diferenciar quem é importante e quem pode ser devorado e para as cenas de tensão que provocam bons sustos no público. Vale a pena conferir.
Ficha técnica: Direção: Alexandre Aja Produção: Paramount Pictures Distribuição: Paramount Pictures Duração: 1h28 Gênero: Terror País: EUA Classificação: 16 anos Nota: 3 (0 a 5)
A maquiagem de palhaço esconde um homem frio e violento, que não se arrepende de seus atos (Fotos: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures)
Maristela Bretas
Falar de Coringa sem citar o Batman é possível? Joaquin Phoenix mostra que sim e está fantástico na pele do maior inimigo do homem morcego, mesmo sem este ainda existir. "Coringa" ("Joker"), que estreia nesta terça-feira, é a consagração do ator, que sofre uma transformação completa, especialmente física (ele está esquálido) e emocional. O personagem ganha um filme à sua altura, brilhando em quase todos os quesitos - fotografia, trilha sonora, figurino e efeitos visuais. Só faltou mais ação. Apesar de várias críticas de que se trata de um filme muito violento, a classificação é 16 anos e, as cenas mais chocantes ocorrem somente nos 15 minutos finais. E ainda ficam bem atrás da violência de "Rambo - Até o Fim" e do brasileiro "Bacurau", ambos em cartaz nos cinemas, com classificação 18 anos. Claro que cada um dentro de seu contexto.
O diretor Todd Phillips conta passo a passo a trajetória de Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem com distúrbios mentais que trabalha como palhaço em eventos. A violência diária, a qual todos nós estamos sujeitos, vai transformando a personalidade do pacato cidadão que cuida da mãe e assiste programas de TV, especialmente o de Murray Franklin (vivido por Robert De Niro). E deixando surgir o Coringa - um psicopata frio, vingativo, explosivo e líder carismático. Mas que ao mesmo tempo gosta de crianças e reconhece aqueles que não o ridicularizaram.
Os momentos de violência contra Fleck chegam a fazer o público se identificar com ele e até justificar muitas das atrocidades que comete ao assumir aos poucos a personalidade do Coringa. O palhaço sem graça, como é chamado por alguns, tem uma raiva contida, sofre com o preconceito, é ridicularizado por seu corpo disforme e a risada insistente e incontrolável. A cada fato novo na vida do Coringa a origem de seu comportamento perturbado vai sendo revelada, aumentando o desprezo dele pelo mundo e pelas pessoas.
Apesar de alongar demais algumas cenas, a trama envolve o espectador. Houve uma grande do diretor e também roteirista Todd Phillips em explicar detalhes mínimos mas importantes da personalidade e da vida do Coringa. Inclusive como surgiu sua ligação com a família Wayne. Em alguns momentos, o filme chega a ficar um pouco repetitivo, como observou um dos convidados da pré-estreia realizada na terça-feira em BH. O que não tira o brilho da atuação soberba de Joaquin Phoenix, que dá ao Coringa a melhor interpretação que ele poderia merecer. Assim como fez Heath Ledger, que conquistou merecidamente o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante, vivendo o vilão em "Batman - O Cavaleiro das Trevas" (2008), de Christopher Nolan.
Na história atual,. Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa se apresentar à agente social, por causa de seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.
E foi o receito de um despertar da massa que deixou autoridades norte-americanas de sobreaviso para uma possível onda de violência pelo país, tomando o filme como modelo. O temor levou alguns donos de salas de cinema a se recusarem exibir o filme. "Coringa" é violento sim. Mas a abordagem psicológica e o que ela é capaz de provocar em pessoas insatisfeitas é muito mais perigosa. Como acontece com os moradores de Gotham City, deixados à própria sorte em uma cidade decadente e sem lei. E o diretor soube dar o peso certo ao assunto. "Coringa" é imperdível e o personagem merece conquistar seu segundo Oscar, desta vez de Melhor Ator para Joaquin Phoenix. Simplesmente perfeito.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Todd Phillips Produção: DC Entertainment / Warner Bros Pictures / Village Roadshow Pictures Distribuição: Warner Bros Pictures Duração: 2h02 Gênero: Drama Países: EUA/Canadá Classificação: 16 anos Nota: 5 (0 a 5)
Andréa Beltrão brilha e entrega uma Hebe Camargo real, com qualidades e defeitos (Fotos: Warner Bros. Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
Muito superficial, sem detalhar datas e pessoas importantes da época, "Hebe - A Estrela do Brasil" o diretor Maurício Farias perde a oportunidade de contar a rica história daquela que foi a maior apresentadora de TV do país. A produção é um recorte de um curto período na vida exótica e polêmica da estrela que passou pelas principais emissoras do país, mas se recusou (e o filme reforça isso) a trabalhar na Rede Globo. Uma pena não ter explorado a infância humilde, a descoberta do talento no rádio, a ascensão à TV até sua morte. Sim, Hebe morreu. No dia 29 de setembro de 2012, vítima de uma parada cardiorrespiratória enquanto dormia. Na época. ela se preparava para retornar ao SBT. Mas esse fato não é citado nem mesmo com a famosa plaquinha nasceu em /faleceu em.
Coube à atriz Andréa Beltrão interpretar Hebe Camargo aos 60 anos. E ela entregou uma excelente atuação, sem se preocupar em ser uma caricatura da apresentadora, com seus RRs arrastados e o sotaque do interior paulista. O período escolhido foi o de maior pressão e perseguição, segundo o filme, quando saiu da Rede Bandeirantes e foi contratada pelo próprio Silvio Santos, no SBT. Enfrentando todos que tentavam mudar sua maneira de apresentar seus programas, ela levava ao palco travestis, gays, negros e minorias, deixando produtores e diretores das emissoras de cabelo em pé, mas garantindo altos índices de audiência.
Fez grandes entrevistas em seu famoso sofá, cantava e provocava usando um forte poder de persuasão. Foi ameaçada de prisão por criticar a corrupção dos políticos, apesar de ser amiga de um dos maiores corruptos do país - o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf (e a esposa dele, Sylvia) e de Antônio Carlos Magalhães (ex-governador da Bahia), citado rapidamente. A Eucatex, maior empresa do setor madeireiro do pais na época, pertencente à família de Maluf, foi anunciante do programa de Hebe durante anos.
A composição do personagem por Andréa Beltrão focou no lado exótico, mas elegante, de Hebe, sem esquecer também a parte sombria. Apesar de estar sempre cercada por amigos e fãs, ter um filho que a adorava e um marido que a idolatrava, ela era uma pessoa solitária. A mansão onde morava, com muitas portas e corredores que mais pareciam um labirinto, confirmava isso. O prazer da atriz em beber muito e sempre é exposto no filme, assim como seu gosto por coisas caras, e a prepotência em mostrar "quem é que mandava".
O filme também não deixou passar em branco a relação conturbada com o segundo marido, Lélio Ravagnani (Marco Ricca). Empresário e também alcoólatra, ele era possessivo ao extremo e não aceitava a vida glamourosa da esposa e as amizades dela, com o cantor Roberto Carlos (Felipe Rocha), com quem ela trocava selinho no programa, e o apresentador Chacrinha (Otávio Augusto).
Mas à medida que o roteiro escrito por Carolina Kotscho vai se desenrolando, a impressão que dá é de que teria sido escrito pela ótica do filho Marcelo, que adorava a mãe, mas que sofria calado pelo pouco tempo que passavam juntos. Ou com as brigas constantes dela com o padrasto. O jovem, homossexual não assumido à época, era tratado como criança por Hebe, estava sempre sozinho, vivendo na imensa mansão da família e tendo como únicos amigos os empregados da casa.
As amigas fiéis e inseparáveis de longas datas - Nair Bello (Claudia Missura) e Lolita Rodrigues (Karine Teles) - foram lembradas duas vezes no filme, Hebe era a mais exótica e elegante das três. Neste ponto a produção brilhou demais. o figurino honrou a rainha da TV., tão chamativos quanto os trajes usados por ela à época. Dona de uma grande fortuna, Hebe exibia joias caríssimas e que teriam sido cedidas pelo filho Marcelo (interpretado por Caio Horowicz). Ele participou da produção juntamente com o primo Claudio Pessutti (papel vivido por Danton Mello), assessor da apresentadora neste período. No filme foram usados por Andréa Beltrão os brincos de diamante, uma medalha de ouro e o vestido preto com abas que ela se apresentou na estreia do programa no SBT.
Além do figurino, a trilha sonora também foi muito bem escolhida, tanto para compor a época, com os Menudos se apresentando no programa para histeria das fãs no auditório, quanto o repertório romântico de Roberto Carlos. Sucessos como "Emoções" e "Cama e Mesa" embalaram os momentos mais expressivos do filme. Mas é Stella Miranda como a saudosa e escrachada Dercy Gonçalves quem oferece a parte mais divertida de toda a história.
Para aqueles que vão ao cinema para saber um pouco mais sobre a grande dama da TV, vale uma explicação antecipada. O filme se passa entre os anos de 1979 e 1986, durante o governo militar do presidente João Batista Figueiredo (uma foto dele e dos também ex-presidentes Ernesto Geisel e Emílio Garrastazu Médici aparece na parede do órgão fiscalizador). Ou seja, em plena censura, que todo mundo negava que ainda existisse, mas que controlava e punia os atores que saíssem da linha.
Pena que a parte mostrada seja muito pouco da história de Hebe Camargo, uma mulher além do seu tempo, provocadora, batalhadora, intransigente, desbocada quando queria, e que se consagrou como uma das apresentadoras mais emblemáticas da televisão brasileira e arrastou uma legião de fãs de uma ponta a outra do país. Apesar de deixar um vazio de informações importantes sobre a vida da "Estrela do Brasil", "Hebe" vale pelo figurino, a trilha sonora e as atuações do ótimo elenco, em especial, Andréa Beltrão.
Ficha técnica: Direção: Maurício Farias Produção: Globo Filmes / Hebe Forever / Labrador Filmes / Loma Filmes Distribuição: Warner Bros. Pictures Duração: 1h52 Gêneros: Drama / Biografia País: Brasil Classificação: 14 anos Nota: 3,5 (0 a 5)
Veveik Kalra interpreta um adolescente britânico, de família paquistanesa, que venera o cantor e compositor Bruce Springsteen (Fotos: Nick Wall/Warner Bros. Pictures)
Carolina Cassese
Depois dos sucessos de “Bohemian Rhapsody” (2018), “Rocketman” (2019) e “Yesterday” (2019), que trouxeram a magia de artistas consagrados (respectivamente da banda Queen, do cantor Elton John e dos Beatles) para as telas, chegou a vez de celebrar a trajetória musical de Bruce Springsteen. No longa “A Música da Minha Vida”, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (19), Jeved (Veveik Kalra) é um adolescente britânico, de família paquistanesa, que vive na cidade de Luton, em 1987.
Naquela época, a Inglaterra era governada pela primeira-ministra Margaret Thatcher, conhecida como “A Dama de Ferro”. Diante de um contexto repleto de tensões econômicas e raciais (nesse mesmo período, o líder sul-africano Nelson Mandela seguia preso, enquanto ativistas do mundo inteiro iam às ruas pedir sua liberdade), acompanhamos a dificuldade do protagonista em encontrar a própria identidade e se livrar das amarras dos pais conservadores.
Dirigido por Gurinder Chadha, o filme (baseado em uma história verídica) foca também no preconceito que alguns britânicos nutrem pelos imigrantes paquistaneses. Assim como nas dificuldades que esses enfrentam para serem inseridos no mercado de trabalho - muitos acabam em posições subalternas e não conseguem ascender socialmente. O longa acerta em mostrar que, em períodos de crise, os grupos minoritários são especialmente afetados e ainda mais atacados por supremacistas. Ao tratar dessa temática, a produção se torna assustadoramente atual.
Javed quer fugir dessa realidade que, para ele, é sombria e sem futuro no horizonte. Quer escrever, o que o pai não considera um ofício. Na escola, um mundo novo se abre. Ao se deparar com a diversidade de tribos, entende que há muita vida lá fora. Com o empurrão da professora de literatura e a dica preciosa do colega e conterrâneo que lhe passa fitas K-7 de Bruce Springsteen, ele amplia seus horizontes. E percebe que as inquietações que atormentam seu interior são compartilhadas por muita gente mundo afora. Até mesmo por Springsteen, esse rapaz de Nova Jersey, que passou para a história da música mundial (o cantor, inclusive, completa 70 anos no próximo dia 23).
A partir do momento que o jovem paquistanês descobre as músicas do “Boss”, sua vida ganha um sentido - e o longa se torna mais envolvente. Ao conhecer Eliza (Nell Williams), ele encontra uma garota para compartilhar suas descobertas e os planos para o futuro. Seu talento para a escrita passa a chamar atenção e sua carreira começa a deslanchar. No entanto, a turbulenta relação com o pai (interpretado por Kulvinder Ghir) cria alguns impedimentos - e é responsável pela maior parte dos momentos de tensão.
Em algumas cenas, o filme pode parecer literal demais, como nas vezes em que palavras-chave das músicas de Springsteen aparecem na tela. O recurso parece desnecessário, já que a conexão entre a letra das canções e a vida de Javed já é bem evidente. Pode-se pontuar também que, ao passo que o longa acerta em muitas críticas sociais, há uma idealização dos Estados Unidos.
Em certo momento, o protagonista afirma que os principais males da Inglaterra (como a xenofobia), praticamente não existem na terra de Springsteen. No entanto, sabe-se que os EUA têm um histórico considerável de intolerância contra outras nacionalidades (especialmente em se tratando de países mais periféricos). As atuações são, sem dúvida, o ponto alto do filme, com destaque para Veveik Kalra e a maior parte do elenco jovem.
No fim das contas, “A Música da Minha Vida” pode ser classificado como um “feel-good movie”, daqueles que assistimos com um sorriso no rosto. Faz divertir e cantar, mas não deixa de tocar em temas sérios que, relevantes naquele hoje distante 1987, ainda soam dolorosamente pertinentes em pleno 2019.
Classificação: 12 anos Duração: 1h57 Distribuição: Warner Bros. Pictures
Sasha Luss é a agente russa Anna Poliatova, uma temida e implacável assassina da KGB (Fotos: Europacorp/ TF1 Films Production)
Maristela Bretas
Em seus segundo trabalho, Sasha Luss é a protagonista de "Anna - O Perigo Tem Nome", em cartaz nos cinemas. A atriz russa, que poucos vão se lembrar de ter participado de "Valerian e a Cidade dos Mil Planetas" (também dirigido por Luc Besson), está mais bela e entrega uma interpretação bem melhor neste filme de ação. Ela é Anna Poliatova, uma espiã russa disfarçada de modelo internacional. Claro, que somente o rostinho bonito e o corpo de Luss não salvariam a produção se o elenco não contasse com a participação da excelente Helen Mirren, que faz toda a diferença quando entra em cena - ela sim é a atriz principal.
A britânica vencedora do Oscar dá vida à Olga, uma das chefes da KGB que vai contratar a jovem Anna para a organização. Em recente entrevista, Mirren declarou ser fascinada pelo universo dos espiões (atuou em "RED: Aposentados e Perigosos" - 2010 e "Red 2 - Aposentados e Ainda Mais Perigosos" - 2013). E conta também como foi a relação de sua personagem com a novata. Confira o vídeo clicando aqui.
A trama, como em outros sucessos do diretor Luc Besson (como "Lucy", de 2014), é bem amarrada, mas com alguns momentos monótonos. Inicialmente confusos, os flashbacks ao longo do filme passam a ser essenciais ao fazerem as conexões e darem uma reviravolta na história, entregando um final muito bom. Figurino e locações também foram escolhas acertadas. Mas são as cenas de lutas de Anna que prendem o espectador na cadeira, especialmente aqueles que gostam de ação e muito sangue. A melhor é a da luta dentro de um restaurante.
De beleza incomparável, a modelo Anna Poliatova esconde um segredo conhecido por poucos. A profissão é apenas uma fachada para seu trabalho principal. Ela é uma implacável e temida assassina russa da KGB com uma história de violência, sedução e envolvimento com pessoas pouco confiáveis. O elenco conta ainda com os experientes Luke Evans, como o espião russo Alex Tchenkov, e Cillian Murphy, no papel de Lenny Miller, agente da CIA que quer trazer a jovem russa para "o lado dos mocinhos". "Anna" é um bom filme de espionagem que vale a pena ser conferido.
Ficha Técnica Direção e roteiro: Luc Besson Produção: EuropaCorp / Canal + / TF1 Films Production / Summit Entertainment Distribuição: Paris Filmes Duração: 1h58 Gênero: Ação País: França Classificação: 16 anos Nota: 3 (0 a 5)
Himesh Patel é o desconhecido que vai se transformar no maior astro do mundo usando as composições da banda britânica (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)
Carolina Cassese
"Yesterday" é uma declaração aos Beatles e mostra que, sem o talento de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o mundo não teria, definitivamente, a mesma graça. O longa, dirigido por Danny Boyle (“Quem Quer Ser um Milionário?”), chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira para mostrar que manter vivo o legado do icônico quarteto britânico é uma tarefa de todos que amam a música.
No roteiro, escrito por Richard Curtis, veterano em comédias românticas, Liverpool é apenas mais uma cidade chuvosa da Inglaterra. Sem "Hey Jude", "Let It Be" e "Here Comes The Sun". Sem a marcante fotografia da Abbey Road. Sem submarinos amarelos. Depois de um apagão, a existência dos Beatles é apagada. Apenas Jack Malik (Himesh Patel), um músico humilhado por (quase) todos ao seu redor, consegue se recordar do legado do quarteto.
"Yesterday" é centrado na história desse músico que, ao ser atropelado por um ônibus, acorda em uma cama de hospital e se surpreende ao perceber que seus amigos mais próximos não compreendem nenhuma das referências feitas ao maior quarteto britânico da história da música. Ele pesquisa no Google e, para sua surpresa, não encontra resultado algum - quando digita “Beatles”, aparecem apenas fotos do inseto.
Ao procurar em sua casa algum vestígio dos álbuns do quarteto, é igualmente mal sucedido na missão. Jack finalmente percebe que há uma falha no sistema enxerga uma oportunidade: mostrar ao mundo as geniais canções de John, Paul, George e Ringo - fingindo, no entanto, que essas são de sua autoria. Como é de esperar, o músico não demora muito a se tornar um sucesso.
Ed Sheeran, que interpreta a si mesmo na produção, é determinante na ascensão da carreira de Jack, pois o convida para abrir os shows de sua turnê. Após tamanha visibilidade, o protagonista é praticamente intimado pela agente Debra Hammer (Kate McKinnon) a ir para Los Angeles.
Desde o início de sua carreira, a principal parceira de Jack é Ellie Appleton (Lily James), uma professora que, nas horas vagas, também trabalhava como agente musical. A partir do momento que Jack decide ir para Los Angeles a fim de focar em sua carreira, os dois acabam se afastando. A relação entre eles é central para a trama - o longa é, acima de tudo, uma comédia romântica.
O filme se preocupa também em apresentar uma crítica à própria indústria fonográfica. Sabe-se que o apelo comercial muitas vezes é privilegiado em detrimento da originalidade e das reais intenções de um artista. A preocupação recorrente da agente Debra em relação à aparência de Jack é um claro exemplo de como, muitas vezes, o conteúdo fica em segundo plano.
Principalmente a partir do terceiro ato, o longa apresenta algumas falhas de execução. Parece que a premissa fica em segundo plano: o romance dos personagens principais recebe um demasiado destaque e tem um desenrolar previsível. As atuações são boas, mesmo que alguns personagens sejam pouco explorados. "Yesterday", no entanto, não parece pretensioso e cumpre a função de divertir e também emocionar.
Ficha técnica: Direção: Danny Boyle Produção: Working Title Films Distribuição: Universal Pictures Duração: 1h57 Gêneros: Comédia / Musical / Romance País: Reino Unido Classificação: 12 anos Nota: 4 (0 a 5)