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17 fevereiro 2021

Arrastado, unindo ficção e realidade, “Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo” promete, mas não diz a que veio

Josefina Ramirez faz uma atuação com dignidade e talento a protagonista (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Qualquer pessoa minimamente interessada em cinema fica imediatamente curiosa ou interessada ao ler a sinopse de "Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo" (“Nona, si me mojan, los quemo”), filme chileno em coprodução com Brasil, França e Coreia do Sul. Ou seja: não se trata de uma empreitada qualquer. A estreia está prevista para quinta-feira (18) nos cinemas.

“Aos 66 anos, Nona decide finalmente se vingar de seu ex-amante e comete um atentado que a obriga a fugir para que não seja presa. Depois de se estabelecer em uma cidade costeira do Chile, um incêndio de grandes proporções obriga seus vizinhos a deixarem suas casas, mas estranhamente sua moradia é a única a não ser afetada”.


Mas, verdade seja dita: “Nona...” não é um filme fácil de ver. Arrastado, arrastadíssimo, parece, a princípio, um filme caseiro. Na verdade é, pelo menos em parte. A diretora, Camila José Donoso, que também assina o roteiro, mistura ficção com vídeos domésticos de sua avó real, Nona, mulher misteriosa e guerreira que militou na resistência da ditadura de Augusto Pinochet.

Acontece que esses filmetes são talvez utilizados em excesso, em várias situações, e sempre por longos períodos de tempo. Outro detalhe: cenas que poderiam ser facilmente resolvidas com começo e fim se alongam infinitamente no miolo, no processo, sem nenhuma necessidade. Além de distrair, desconcentra o espectador. Cansa.
 
 
O que salva no longa chileno é a atuação de Josefina Ramirez, que faz com dignidade e talento a protagonista Nona, de quem o espectador fica sabendo pouquíssimas coisas: que gosta de dançar, que costuma mentir, que é meio dissimulada, quase bipolar. E que aprendeu, na ditadura, a fabricar artesanalmente e com certa destreza, coquetéis molotov capazes de fazer grande estrago em um carro, destruir casas ou de tocar fogo em florestas.
 

Chama atenção também a participação – pequena, mas marcante para nós, brasileiros – de Du Moscovis, que entra meio sem aviso nem explicação, atua quase como um figurante de luxo, aumentando ainda mais as dúvidas do espectador. Há coisas no filme que o público desconfia, mas não consegue ter certeza quando termina a
história. Para os que gostam desse tipo de jogo, "Nona: Se Me Molham, Eu Os Queimo" é um prato cheio.

Por uma questão de justiça, registre-se também a atuação dos demais que aparecem no filme: Gigi Reyes, Paula Dinamarca e Nancy Gomez, além de outros, não atores, com participações irrisórias. Fora Josefina Ramirez e Du Moscovis, ninguém mais se destaca na trama.
 

Pode ser que os cinéfilos mais ligados nos chamados filmes de arte apreciem o longa e toda a simbologia que há embutida nele. Mas não se trata de uma trama fácil de ser assimilada. Ao final da história, o espectador fica sabendo, concretamente, que Nona se muda de Santiago para a cidade costeira de Pichilemu, vive sozinha numa casa relativamente grande e com quintal cheio de plantas, e que, entre outros detalhes, convive relativamente bem com os constantes incêndios na sua vizinhança. Mais do que isso, impossível.


Ficha técnica
Direção e Roteiro:
Camila José Donoso
Distribuição: Vitrine Filmes
Países: Chile / Brasil / França / Coreia do Sul
Duração: 1h26
Classificação: 12 anos
Gêneros: Documentário / Ficção