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29 abril 2024

Documentário “Verissimo” adentra a intimidade do tímido e excepcional escritor gaúcho

Produção de 2016 dirigida por Angelo Defanti é definida como "coerente" com a personalidade do escritor (Fotos: Boulevard Filmes)


Eduardo Jr.


Há quase oito anos, o escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo teve seu cotidiano retratado em um documentário dirigido por Angelo Defanti. Sua primeira exibição ao público foi na Mostra Competitiva de Longas Brasileiros no Festival É Tudo Verdade. 

Agora, “Verissimo”, chega aos cinemas nesta quinta-feira (2), distribuído pela Boulevard Filmes, para mostrar a rotina do introvertido autor de algumas das mais engraçadas crônicas já publicadas. 

Mas não espere muitos momentos de humor dessa produção. Para quem se encanta e se diverte com os textos saídos da mente criativa do autor de “Comédias da Vida Privada”, “Ed Mort” e “Todas as Histórias do Analista de Bagé”, o longa pode ser decepcionante.


O diretor e suas câmeras se instalaram na casa do escritor para acompanhar a rotina do cronista, em setembro de 2016, 15 dias antes do aniversário de 80 anos de Verissimo. 

E não há muita emoção em assistir um octogenário caladão observar sentado à movimentação da casa, fazendo fisioterapia ou escrevendo ao computador. 

Para alguns pode ser uma resposta para o questionamento sobre como Verissimo consegue ser tão engraçado e observador. Talvez por seu jeito, de falar menos e ouvir mais, o escritor consiga captar tantas coisas e elaborar respostas bem-humoradas. 


Aliás, o humor aparece nas entrevistas. O escritor se diz desconfortável em ser entrevistado, mas não sabe dizer não, e as perguntas algumas vezes rendem respostas engraçadas. 

A sabedoria para preencher páginas também serve para divertir platéias. Mas parece não salvar o gaúcho do desconforto nas sessões de autógrafos. 


No final das contas, talvez o documentário possa ser definido como ‘coerente’ com a personalidade do retratado. É calmo, leve. Até na própria festa de 80 anos, Verissimo só interage quando perguntado. 

É mais dado a expor suas ideias digitando no computador, em noites silenciosas como ele mesmo. Continua morando em Porto Alegre e cuidando da saúde.


Ficha técnica:
Direção: Angelo Defanti
Produção: Sobretudo Produções, Lacuna Filmes, Canal Brasil
Distribuição: Boulevard Filmes, Vitrine Filmes e Spcine
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h27 minutos
Classificação: livre
País: Brasil
Gênero: documentário

30 agosto 2023

Comédia de humor refinado, “O Porteiro” quer levar brasileiros de volta ao cinema

Produção nacional que não recorre à apelação, arranca risos do público (Fotos: Laura Campanella)


Eduardo Jr.


Marque em sua agenda: nesta quinta-feira, 31 de agosto, estreia nos cinemas a comédia nacional “O Porteiro”. Acompanhamos a live realizada com o elenco e a pré-estreia do longa em uma das salas da rede Cineart. Dirigido por Paulo Fontenelle (realizador de “Blitz, o filme”, 2019) e distribuído pela Imagem Filmes, a produção arranca risos do público sem dificuldades, por trazer atuações muito boas.

No filme, o porteiro Waldisney (personagem de Alexandre Lino) é mais um nordestino que migrou para o Rio de Janeiro com a família. Morando no “cafofo” dentro do prédio onde trabalha, ele não tem como evitar as situações (cômicas) que complicam sua vida. 


Ele é um homem simples, que não tem habilidade nem pra acalmar a estourada esposa Laurizete, vivida por Daniela Fontan (“A Sogra que te Pariu”, 2022, disponível na Netflix), que dirá capacidade para driblar os problemas. 

Waldisney inicia sua saga na delegacia, prestando depoimento ao delegado, personagem de Maurício Manfrini (“Os Farofeiros”, 2018), que tem na mão um personagem bem diferente dos papéis costumeiros. O que aconteceu e virou caso de polícia, descobrimos ao longo do filme.


Os flashbacks (que a gente esquece que são flashbacks) vão nos contando como as situações foram se amarrando até aquele ponto. E aí os moradores do edifício Clímax vão sendo apresentados. Destaques para a excelente Dona Alzira, vivida por Suely Franco ("Minha Mãe é uma Peça 2", 2016) e a surpreendente e engraçada presença do lutador José Aldo.   

Além destes nomes, a produção conta ainda com Cacau Protásio (“Juntos e Enrolados”, 2022), Aline Campos (“Um Dia Cinco Estrelas”, 2023), Bruno Ferrari (“O Buscador”, 2021), Rosane Gofman (“Confissões de uma Garota Excluída”, 2021) e Heitor Martinez (“Um Natal Cheio de Graça”, 2022). 


O elenco se reuniu em 2022 para as gravações. Se havia alguma insegurança com o período pós-pandemia, não se percebe isso na tela. A atriz Aline Campos revelou que o entrosamento foi tão grande que o diretor precisava pedir silêncio durante as filmagens, de tanto que a equipe se divertia. 

O desafio agora é trazer de volta aos cinemas um público que parece ter se habituado a assistir tudo em casa e não percebeu que o poder do controle remoto de pausar, voltar cenas, interrompe as emoções, faz perder o clima. Sem contar a perda da experiência coletiva nas salas de exibição. 


Outra intenção do filme é reforçar a necessidade de cordialidade para com os porteiros. Embora não seja um filme de militância, algumas pautas não têm como ser omitidas. 

O protagonista Alexandre Lino é natural de Pernambuco e sabe como é ser um migrante nordestino em um grande centro urbano, que muitas vezes apaga essas identidades. Seja pela grosseria de não dar um bom dia, seja sob a desculpa da piada (que geralmente é só manifestação de preconceito). 

Além disso, Lino nos disse que trazer às telas uma comédia nacional, sem o mesmo aparato de marketing de um filme como “Barbie”, por exemplo, é mais desafiador ainda. Principalmente neste momento em que se discute a cota de tela e a necessidade de mais salas exibindo produções brasileiras. 


A aposta de “O Porteiro” é na simplicidade. E o humor chega a ser refinado, já que não apela para o besteirol. A construção da simplicidade de Waldisney vem dos seis anos em que a peça é realizada nos palcos do país. E também é fruto de pesquisa. A equipe visitou portarias de diversos prédios em São Paulo e Rio de Janeiro para ouvir histórias dos profissionais e pedir permissão para retratar isso na telona. 


O resultado é um filme leve, que peca apenas por permitir que algumas cenas se alonguem e pela falta de mais músicas originais (Marília Mendonça nem sempre combina com as cenas). Mas diverte e retrata bem alguns aspectos da cultura brasileira e nordestina. 

"O Porteiro" já se equipara com produções da Marvel, porque tem até cenas pós-créditos. Então, depois que as letrinhas começarem a subir, se prepare pra rir mais um pouquinho. 


Ficha técnica:
Direção: Paulo Fontenelle
Produção: Rubi Produções
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h23 minutos
Classificação: 14 anos
País: Brasil
Gênero: comédia