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25 janeiro 2023

"Até o Fim" é sobre lembranças, conflitos do passado e irmandade

Longa foi apresentado na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, na categoria Mostra Homenagem
(Fotos: Rosza Filmes)



Marcos Tadeu
Narrativa Cinematográfica


Com uma direção muito afinada e um texto primoroso, a obra "Até o Fim" (2020) é um dos longas que compõem a 26º Mostra de Tiradentes na categoria Mostra Homenagem. 

Para saber mais sobre esta e outras produções do evento, basta entrar no link www.mostratiradentes.com.br. A programação, que segue até o dia 28 de janeiro, é online e presencial, totalmente gratuita.


Os diretores Ary Rosa e Glenda Nicácio são os homenageados da edição deste ano e levaram para o evento outras cinco obras - "Voltei" (2021), "Café com Canela" (2017), "Ilha" (2018), "Mugunzá" e "Na Rédea Curta", produções de 2022 que abriram a Mostra no dia 21.

"Até o Fim" é uma obra que se passa quase todo o tempo na mesa do quiosque à beira de uma praia, no Recôncavo Baiano. A dona é Geralda, uma mulher humilde, trabalhadora, que recebe um telefonema do hospital dizendo que seu pai pode morrer a qualquer momento. 


Ela convoca as três irmãs para aguardarem a morte e o quiosque se torna o ponto de encontro. A conversa é repleta de desabafos e lembranças. Geralda é a protagonista, mas divide bem o tempo de tela com as irmãs, expondo seus traumas, lembranças, culpa e arrependimentos.

Ao compartilhar tudo isso com Rose, Bel e Vilmar, a irmandade se torna o elo principal do filme. Cada irmã tem um diferencial, Rose é mais leve e para cima, lembra de histórias engraçadas do pai, apesar do passado complicado com Geralda.


Bel se tornou atriz e até separou, mas tem boas lembranças tanto da mãe, quanto do pai. E Vilmar, o caçula, que agora se chama Ana. Ela é a personagem com mais problemas por causa de sua transexualidade e ainda carrega muita mágoa do pai. Muitas vezes desejou que ele estivesse morto.

O encontro de Ana e Geralda é o ponto de maior conflito do filme. A caçula questiona a irmã sobre como o pensamento radical e atrasado fez com que ela perdesse muito de sua vida e da relação entre elas. E que agora tem a chance de fazer melhor e aceitar.  


Aninha agora é publicitária e se posiciona sobre os lugares que precisa e quer estar e deixa isso muito claro para sua irmã. Mesmo após 15 anos da morte da mãe, ela e Geralda não conseguem dizer as palavras "mãe" e "filha". 

No desabafo entre irmãs, ela fala das dores para se tornar uma pessoa transgênero e, principalmente, ao contar que quando foi violentado, em nenhum momento o pai decidiu defendê-la.


Talvez o maior defeito do filme sejam os cortes repetitivos, falas que voltam sem nenhuma necessidade, fazendo com que o ritmo fique um pouco truncado. 

Mesmo assim, ainda é agradável de se ver. "Até o Fim" é daquelas obras que você sai orgulhoso por ter a marca do cinema nacional, o tempero da Bahia e a força de quatro mulheres. 

Sobre os diretores

Mineiros de nascimento - Glenda Nicácio é de Poços de Caldas e Ary Rosa, de Pouso Alegre -, radicaram-se em Cachoeira (BA) em 2010, quando foram estudar cinema na Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB). 

Glenda Nicácio e Ary Rosa (Foto: Leo
Lara/Universo Produção)

A homenagem à dupla na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes é também estendida à produtora Rosza Filmes, fundada por eles e responsável por alguns dos títulos mais celebrados do cinema brasileiro contemporâneo. Construíram uma vasta comunidade local de realizadores, inclusive em projetos de educação audiovisual.

Glenda e Ary assinaram a direção conjunta de cinco longas-metragens em cinco anos: “Café com Canela” (2017), “Ilha” (2018), “Até o Fim” (2020), “Voltei!” (2021), “Mugunzá” (2022) e “Na Rédea Curta” (2022). Glenda ainda dirigiu um projeto solo, o média-metragem “Eu não Ando Só” (2021). 


Ficha técnica:
Direção: Ary Rosa e Glenda Nicácio
Produção: Rosza Filmes
Duração: 1h33
Classificação: 14 anos
País: Brasil (feito na Bahia)
Gênero: Ficção

23 janeiro 2023

“Entre a Colônia e as Estrelas” revela um universo distópico não muito longe de nós

Média-metragem está em exibição na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes (TV Coragem/Reprodução)


Larissa Figueiredo - Correspondente na Mostra


Sob a ótica poética e metafórica do diretor Lorran Dias, “Entre a Colônia e as Estrelas” (2022), em cartaz na 26ª Mostra de Cinema de Tiradentes, narra a trajetória de Estelar (Timbuca Hai), uma técnica em enfermagem que trabalha em um hospital psiquiátrico e tem o dom de ver o passado. 


Durante uma crise hídrica no estado do Rio de Janeiro, ela recebe Kalil (Lorre Motta), seu irmão mais novo, para morar em sua casa. Em meio às divergências políticas e identitárias entre ambos, a protagonista irá enfrentar uma jornada de autoconhecimento rumo ao local onde moram todas as diferenças, literalmente. 


A obra se apoia em fatos históricos como o antigo “manicômio” Colônia Juliano Moreira e a crise hídrica do Rio de Janeiro em 2020 para construir um cenário distópico em que a protagonista se isenta de discutir as questões sociais que a cercam e, que com o tempo, passam a ser a causa para o desaparecimento das pessoas que conhece, incluindo Kalil. 


O roteiro intercala as visões de um passado que Estelar não viveu com o difícil presente. As antigas e reais imagens turvas do manicômio lotado se mesclam à ficção, quando os enfermeiros militam contra a volta do tratamento de choque nos pacientes do atual hospital. 

A presença de um tempo pretérito que se mistura à atualidade é um lembrete de que a luta precisa continuar, além de relevar uma montagem primorosa e sensível. 


A sonoplastia do média-metragem traz um toque especial às cenas de suspense, junto aos planos de filmagem mais longos e uma trilha sonora marcante que embala os mais diversos cenários da obra. 

Em 49 minutos, o filme fala com primor e afetuosidade sobre diferenças, resistência, família e divisões econômicas em um Rio de Janeiro ficcional, mas não muito distante do que conhecemos, ou deveríamos conhecer. 


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Lorran Dias
Disponível: até 24/01 às 18 horas em: www.mostratiradentes.com.br/filmes/mostra-cinema-mutirao/
Produção: TV Coragem
Distribuição: Fistaile
Duração: 49 minutos
Classificação: 10 anos
País: Brasil (produzido no Rio de Janeiro)
Gênero: Ficção
Avaliação: 4/5

Serviço:
26ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Período: até o dia 28 de janeiro de 2023
Exibição: em formato online e presencial
Programação: totalmente gratuita
Maiores informações: www.mostratiradentes.com.br