Tim e Kayoko tentam encontrar um sósia para trocar a identidade do amigo Boris, interpretado por Dominique Abel (Fotos: Pandora Filmes)
Eduardo Jr.
Chega aos cinemas no dia 16 de maio o longa “A Estrela Cadente” ("L´Étoile Filante"). Dominique Abel e Fiona Gordon protagonizam e ainda assinam o roteiro e a direção do longa. Distribuída pela Pandora Filmes, esta é uma comédia que se pretende paródia de filmes policiais. E fica mesmo na pretensão. O filme poderá ser conferido no Centro Cultural Unimed-BH Minas.
O longa conta a história de Boris, um fugitivo que leva uma vida tranquila atrás do balcão de um bar. Até que o passado o encontra, na forma de um assassino amputado que carrega uma arma no braço mecânico - e perde esse braço quando tenta atirar em Boris.
Este cartão de visitas parece dizer que o filme será uma comédia. Mas o flerte com o cinema mudo, com cenas alongadas, de trabalho corporal dotado de um certo exagero e recheado de caras e bocas, tiram a graça de cena para dar lugar ao cansaço.
A promessa de reviravolta vem quando Tim (Philippe Martz) e Kayoko (Kaori Ito), amigos do protagonista, encontram Dom, um homem idêntico a Boris, e trocam os dois de lugar.
O que teria tudo pra ser um pastelão e arrancar risos, acaba perdendo força, pois em certos momentos os dois homens (vividos por Dominique Abel) parecem se adaptar às novidades.
Em linhas gerais, o filme reúne um grande esforço pra colocar tudo na conta do destino (que faz com que a detetive do caso, Fiona, interpretada por Fiona Gordon, seja justamente a ex-mulher do fugitivo).
Atuações que parecem misturar mímica e palhaçada, e uma junção de personagens estranhos em cenas que não têm muito pra contar. Se o resultado desejado era se aproximar do ridículo, o longa consegue abraçar com louvor esse objetivo.
Se na história do cinema temos obras que trazem detetives atrapalhados, situações non sense, e roteiros de comédia afiados, aqui não é exatamente o caso.
“A Estrela Cadente” é um filme sonso. Tem a intenção de ser uma paródia de filmes policiais e investigativos, mas é apenas mais uma cópia fraca. Se você tem 98 minutos disponíveis, boa sorte.
Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Dominique Abel e Fiona Gordon Distribuição: Pandora Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h38 minutos Classificação: 12 anos Países: Bélgica, França Gêneros: comédia, policial
A brasileira Leona Cavalli e o argentino Roberto Birindelli estão no elenco desta coprodução multinacional (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)
Maristela Bretas
Longas sequências e ótimas imagens aéreas como fundo para um assassinato a ser desvendado são os primeiros atrativos de "Águas Selvagens", coprodução entre Brasil e Argentina que estreou nesta quinta-feira no Una Cine Belas Artes. A região escolhida para locação do filme foi o Sul do Brasil, na fronteira com Argentina e Paraguai. E já seria um ótimo cartão de visitas para o filme, dirigido pelo argentino Roly Santos, baseado no livro "El Muertito", do escritor Oscar Tabernise.
O longa conta a história do investigador particular e ex-policial Lúcio Gualtieri (o argentino radicalizado no Brasil Roberto Birindelli) contratato para solucionar o assassinato de um morador influente numa pequena cidade argentina, na fronteira com o Brasil e Paraguai. Durante a investigação, ele acaba se envolvendo com uma rede de prostituição, tráfico de bebês e abuso sexual de crianças. Passa então a ser perseguido pela organização criminosa, colocando a sua vida e a das vítimas em perigo.
Contando assim, parece um filme eletrizante e o trailer também leva o espectador a essa conclusão. Mas "Águas Selvagens" é o contrário disso. Tem uma narrativa arrastada, com pouca ação para um filme que se classifica como policial - a primeira das duas cenas com tiros acontece após 1h23 e a segunda 26 minutos depois. E só.
A trama explora mais a investigação, mas mesmo essa é cheia de furos mal explicados. O investigador Gualtieri, do nada, consegue uma pista de um fato que ele nem estava investigando. Não há uma explicação de como essa pista surgiu e assim como veio é esquecida ou a história não aprofunda. São vários crimes levantados, mas apenas um é tratado até o final, mesmo assim de uma maneira bem fraca.
Apesar de ter uma boa proposta, especialmente por reunir atores de três países, o longa peca também nos poucos e curtos diálogos, intercalados com legendas em português para as falas dos intérpretes argentinos e uruguaios que dividem o elenco com alguns brasileiros.
Entre eles estão Mayana Neiva (a misteriosa Rita Benitez, com quem Gualtieri se envolve), Leona Cavalli (que interpreta muito bem a prostituta Débora Shuster), Allana Lopes (a jovem prostituta Blanca), Luiz Guilherme (como o empresário Dalmácio Quiroga, que contrata Gualtieri para investigar a morte do irmão), entre outros.
Do lado argentino, além de Roberto Birindelli, destaque para Juan Manuel Tellategui, como o garçom Fábian, muito importante na trama, e Daniel Valenzuela, como Fabro, um policial argentino corrupto. Por mais que o elenco se esforce, a trama não consegue causar impacto.
As cenas de lutas e de crimes também deixam muito a desejar. "Águas Selvagens" poderia ter focado em um tema e explorado melhor o assunto e o talento dos protagonistas, mas isso não aconteceu. Uma pena.
Ficha técnica:
Direção: Roly Santos Produção: Laz Audiovisual / Romana Audiovisual / De La Tierra Produtora Distribuição: Imagem Filmes Exibição: Una Cine Belas Artes - Rua Gonçalves Dias, 1581 - Lourdes - sessões 16h20 e 18h20 Duração: 1h43 Classificação: 16 anos Países: Argentina e Brasil Gêneros: drama / policial
Kevin Hart e Wesley Snipes interpretam os dois irmãos em conflito nessa produção de sete episódios sobre dinheiro e traição (Fotos: Adam Rose/Netflix)
Mirtes Helena Scalioni
Por mais que uma ou outra sequência possa parecer improvável, não se pode negar que “A Mais Pura Verdade” ("True Story") é uma série surpreendente que prende o espectador do começo ao fim, com viradas de tirar o sono.
Com sete episódios e em cartaz no Netflix, a história gira em torno de questões tão antigas quanto importantes: que preço alguém pode pagar para se manter no topo do sucesso? Ou: o que pode despertar a extrema violência de um homem sabidamente pacífico e honesto?
Criada por Eric Newman (que produziu "Power" - 2020 e “Narcos” - 2017 e 2018) e dirigida por Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper, a minissérie apresenta um recorte na vida de Kid, comediante de muito sucesso, daqueles que fazem stand-ups e filmes que agradam toda a família, de crianças a adolescentes e adultos.
Negro, ele valoriza cada conquista e deixa claro, sempre que pode, que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Interpretado por Kevin Hart (“Jumanji - Próxima Fase” - 2019) em uma de suas primeiras incursões pelo drama, o ator convence na pele do bom moço que, se preciso for, perde a humanidade e a ética.
Tudo caminhava muito bem na turnê de muito sucesso que Kid fazia pelo país, com shows, eventos filantrópicos e entrevistas até que a trupe chega à Filadélfia, exatamente a terra do comediante.
E é lá, no luxuoso hotel Four Seasons, que ele tem um conturbado reencontro com seu irmão Carlton, que lhe apresenta Daphne (Ash Santos). A primeira surpresa a bagunçar a cabeça do espectador acontece logo no primeiro episódio, um pouquinho maior do que os outros seis.
Mas “A Mais Pura Verdade” não seria tão recomendável se não fosse a participação de Wesley Snipes (“Mercenários 3” - 2014), que interpreta Carlton, o irmão enrolado e meio bandido de Kid, capaz de tudo para tirar algum dinheiro do mano bem-sucedido. Em atuação perfeita, ele imprime um cinismo tal em seu personagem que chega a despertar a raiva do espectador na medida em que suas tramoias vão sendo expostas.
Merecem atenção também as atuações de todo o staff do artista que, claro, é assessorado por uma equipe de primeira. Estão lá a autora de textos e piadas, Billie (Tawny Newsome), o segurança fiel Herschel (William Catlett) e o administrador de tudo, Todd (Paul Adelstein). Não falta nem mesmo o superfã Gene (Theo Rosssi), jovem ingênuo e meio infantil que faz de tudo para se aproximar do ídolo e tem grande importância na trama.
Do lado bandido, destaque para os perversos irmãos gregos Ari (Billy Zane), Savvas (Chris Diamontopoulos) e Nikos (John Ales). “A Mais Pura Verdade” é tão surpreendente e criativa que pode ser uma temeridade partir para uma segunda temporada, totalmente desnecessária.
O velho drama dos dois irmãos completamente diferentes um do outro e a ideia de que uma simples escolha pode transformar – e transtornar – a vida de uma pessoa estão muito bem amarrados e fechados nesses sete episódios. Se tentar melhorar, pode atrapalhar.
Ficha técnica:
Criação: Eric Newman Direção: Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper Produção: Netflix / Harbeat Productions Exibição: Netflix Duração: 1ª Temporada - 7 episódios (média de 30 minutos cada) Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Drama / Policial / Minissérie / Suspense
Ryan Reynolds, Dwayne Johnson e Gal Gadot esbanjam carisma e simpatia em comédia de ação (Fotos: Netflix/Divulgação)
Jean Piter Miranda
O melhor agente especial do FBI, John Hartley (Dwayne Johnson), recebe a missão de prender um dos criminosos mais procurados do planeta: "O Bispo" (Gal Gadot), a maior ladra de obras de arte da história. Mas, para chegar até ela será preciso contar com a ajuda de Nolan Booth (Ryan Reynolds), um cara que busca se tornar o ladrão mais famoso do mundo.
Essa é a história de “Alerta Vermelho” ("Red Notice"), filme de ação disponível na Netflix e também o projeto mais caro do serviço de streaming - teria custado em torno de US$ 200 milhões.
Tudo começa quando uma peça é roubada de um museu em Roma: um dos três ovos de Cleópatra, uma joia de valor inestimável. O item vai parar nas mãos do Bispo. Hartley e Booth levam a culpa e vão presos. E é aí que a aventura se inicia. Eles precisam fugir da prisão, recuperar o ovo e prender o Bispo. Tarefa que não será fácil. Ainda mais porque, nesse mundo do crime, ninguém confia em ninguém.
É bom encarar o filme como uma comédia. Tem muita ação, mas acima de tudo é uma comédia. São várias piadas, referências a filmes e à cultura nerd, e muitas cenas engraçadas e inteligentes. Podemos dizer que são boas sacadas. E em tudo isso o trio funciona muito bem. Ryan Reynolds, Gal Gadot e Dwayne Johnson esbanjam carisma e simpatia, a ponto de o espectador torcer pelos três ao mesmo tempo.
Reynolds mandou muito bem em "Deadpool", de 2016. Um filme da Marvel com uma pegada de humor, sem perder a ação e sem cair no besteirol. Agora ele acerta de novo, dosando bem as cenas e os diálogos engraçados em "Alerta Vermelho". Dwayne Johnson não destoa e, mesmo fazendo um papel praticamente repetido, consegue ser original. E Gal Gadot rouba toda a atenção quando entra em cena. É daqueles casos em que a gente gosta mais do vilão que do mocinho.
As cenas de ação são muito boas. Tem tiros, perseguição de carros, brigas, reviravoltas. Os cenários são lindos. O filme foi gravado em vários países. As cenas em plano sequência são bem utilizadas, assim como outros efeitos especiais. É um filme bom se ver. Não gasta cérebro. É leve, divertido e engraçado. É uma boa pedida pra quem gosta do gênero.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Rawson Marshall Thurber Exibição: Netflix Duração: 1h58 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: Ação / Comédia / Policial Nota: 3,5 (de 0 a 5)
Lázaro Ramos protagoniza o detetive Espinosa, personagem do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e adaptado para o cinema (Fotos: Mariana Vianna)
Carolina Cassese
Estamos habituados a ver um Rio de Janeiro diurno e repleto de cores. No entanto, logo na primeira cena de "O Silêncio da Chuva" (2020), longa assinado por Daniel Filho, nos damos conta de que aquele cenário está muito mais sombrio do que de costume. O filme é uma das estreias da semana e está em exibição no Cineart Cidade.
Além da atmosfera misteriosa, apresentada para nós em tons de sépia, temos todos os elementos de um clássico policial: um provável assassinato, uma investigação, vários suspeitos que escondem muitos segredos, femmes fatales e uma dupla de detetives bastante entrosada. O filme protagonizado por Lázaro Ramos é uma adaptação do consagrado livro homônimo de 1996 escrito por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que recebeu os prêmios Nestlé e Jabuti e foi publicado em nove países.
Além de Lázaro, que interpreta o conhecido detetive Espinosa, o elenco conta com nomes como Cláudia Abreu (que interpreta Bia, a viúva), Thalita Carauta (Daia, que compõe a dupla de detetives com Espinosa), Mayana Neiva (Rose, que era amante da vítima), Guilherme Fontes (Ricardo, o executivo morto), entre outros.
Podemos perceber que houve uma atualização do texto, escrito há 22 anos. A personagem de Daia é uma das que melhor exemplifica essa renovação, já que é uma mulher que integra a polícia. E ainda, não se sente impelida a esconder seus desejos. O próprio fato de o personagem principal ser negro já representa uma mudança significativa em relação ao livro original.
Para os que estão acostumados a ver filmes policiais, talvez "O Silêncio da Chuva" não pareça exatamente inovador. Um de seus diferenciais, no entanto, reside justamente no fato de que a produção não é hollywoodiana e apresenta elementos bastante brasileiros. Em entrevista ao site C7nema, Lázaro Ramos definiu o longa como um noir.
“O Brasil, infelizmente, insiste em vender seu cinema para o público sem comunicar as especificidades de cada gênero. É como se ‘cinema brasileiro’ fosse um gênero em si, e não é. Este nosso filme tem uma cara e uma comunicação de gênero, e sem perder o jeito brasileiro de ser”, declarou o ator.
Sabemos que, no Brasil, o termo “policial” muitas vezes ganha conotações violentas: programas policialescos são aqueles que falam de crimes bárbaros, reportagens “policiais” muitas vezes são sensacionalistas… O longa de Daniel Filho, no entanto, não sucumbe à lógica "pinga-sangue". Por mais que algumas cenas sejam mais explícitas, a produção está longe de ser apelativa e tem muito mais o que oferecer.
Do começo ao fim, "O Silêncio da Chuva" é bastante eficiente em prender a nossa atenção. Repleto de boas atuações, o longa diverte na medida certa e, apesar de fazer uso de alguns arquétipos, não incorre demasiadamente em estereótipos. Que, daqui pra frente, o cinema brasileiro aposte em mais filmes ditos “de gênero” - temos sim muitos profissionais qualificados para contar novas histórias.
Ficha técnica:
Direção: Daniel Filho Roteiro: Lusa Silvestre Produção: Globo Filmes / Lereby Distribuição: ELO Company Exibição: Cineart Cidade - sala 1 - sessões às 16h40 e 20h40 // Una Cine Belas - sala 3 - sessão 20h10 Duração: 1h36 Classificação: 16 anos País: Brasil Gêneros: Drama / Policial
Série tem como pano de fundo a investigação do assassinato de uma jovem numa pequena cidade da Pensilvânia (Fotos: HBO/Divulgação)
Carolina Cassese
“Neste drama policial original da HBO, a vencedora do Oscar,
Kate Winslet ("Titanic" - 1997 e "A Despedida" - 2021), interpreta Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da
Pensilvânia que deve investigar um violento assassinato local”. A partir dessa
premissa presente na descrição oficial da série, poderíamos facilmente
classificar "Mare of Easttown" como mais uma produção do estilo “quem
matou”.
No entanto, a HBO apresenta mais uma vez (assim como fez em "Big
Little Lies", "Sharp Objects" e, mais recentemente, com
"The Undoing") uma trama complexa, repleta de camadas e dramas
humanos.
A minissérie também está disponível no serviço HBO Max, que
estreou no Brasil em 29 de junho. Como já explicitado, os acontecimentos da
série são desencadeados a partir do assassinato da jovem Erin McMenamin (Caille
Spaeny). A detetive encarregada do caso é Mare Sheehan (Kate Winslet, principal
nome por trás da série), que ainda sofre com o luto pela morte de seu filho,
Kevin. Na medida em que conhecemos os núcleos familiares dos moradores da
cidade, observamos que todos estão lidando com questões complicadas. Todos são
suspeitos.
"Mare of Easttown" quebra uma velha premissa de muitas produções de
suspense - a de que “absolutamente tudo que o diretor escolhe mostrar precisa
ser relevante para a resolução do mistério”. Diversos acontecimentos da
história são, na verdade, pistas falsas (a técnica de misleading, bastante
utilizada pela rainha do crime Agatha Christie) ou informações que contribuem
consideravelmente para a construção dos personagens, mas não para o desenlace da
investigação.
Até mesmo o personagem Richard Ryan, par romântico de Mare
interpretado pelo ótimo Guy Pearce, não tem aquela função clássica de amor
romântico da protagonista. “Não é preciso ser para sempre para significar
algo”, destaca a namorada da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice), filha
de Mare.
O produtor-executivo da série reforça que a trama é pouco
centrada em homens ou no amor romântico. “A maioria dos personagens masculinos
nesse programa são maus. Não quero dizer todos, mas a maioria. Assim que
comecei a escrever o roteiro, queria escrever sobre a minha casa e eu cresci
rodeado de mulheres. Foi essa força e essa solidariedade entre elas que me
inspirou”, declarou Brad Ingelsby ao podcast Still Watching.
As relações de amizade e de família são mais do que
suficientes para sustentar a série e contar excelentes histórias. Temos de fato
a sensação de que os moradores da pequena cidade já se conhecem há bastante
tempo e são verdadeiramente familiarizados uns com os outros. Os sentimentos,
tanto os de amor quanto os de ódio, parecem ter raízes.
Tal percepção se deve muito ao excelente elenco da produção.
É inclusive uma tarefa difícil destacar apenas um nome, ao passo que é
necessário citar o maravilhoso trabalho de Winslet, encarregada de interpretar
nossa adorável (“pero no mucho”) protagonista. “Pero no mucho” pelo simples
motivo de que Mare é real: comete erros, muitas vezes é seca com a mãe (que
também pode ser bem direta com ela), nem sempre dá a devida atenção para sua
filha, se recusa a cumprir ordens do chefe. Em meio a todas essas contradições,
Mare pode ser adoravelmente desagradável ou desagradavelmente adorável. Ela é
crível, quase existe, quase tem vida própria.
Além dos excelentes veteranos James McArdle (Deacon Burton),
Jean Smart (Helen) e Robert Tann (Billy Ross), o elenco mais jovem de "Mare of Easttown" também não deixa a
desejar e protagoniza momentos carregados de dor. Prepare-se: seu emocional
provavelmente não ficará intacto com o fim que leva um dos personagens jovens.
Outro nome responsável por dilacerar nossos corações é o de Julianne Nicholson
(Lori Ross), excelente atriz que entrega muito em cenas difíceis.
O último episódio da minissérie, intitulado
"Sacrement", é um show de duas atrizes que, justamente por serem tão
espetaculares, nos fazem esquecer que Winslet e Nicholson estão em cena.
Naquele momento, vemos apenas Mare e Lori, duas amigas que sofrem, se protegem
e se amam. A emocionante cena final é um lembrete importante de que muitas
vezes precisamos de tempo (e também de escuta) para lidarmos com nossos
machucados e encararmos sótãos empoeirados.
Levando em conta o fato de Damon Lindelof, produtor da série
"Watchmen", ser fã assumido de "Mare of Easttown" (há ainda
uma gratificante piscadela da série para o Dr. Manhattan), é válido pegar carona
numa frase dessa outra excelente produção da HBO. Afinal de contas, “feridas
precisam de ar, não de máscaras”.
Ficha técnica: Direção: Craig Zobel Criação: Brad Ingelsby Exibição: HBO e HBO Max Duração: média de cada episódio de 60 minutos (1ª Temporada - 7 episódios) Classificação: 16 anos País: EUA Gêneros: Drama / Policial
Após 25 anos, o golpista Assane Diop vai usar sua experiência para se vingar daqueles que levaram seu pai à morte (Fotos: Emmanuel Guimier/Netflix)
Maristela Bretas
Uma série envolvente, recheada de mistérios e golpes
aplicados com muita sutileza, dignos de um excelente vigarista que conhece bem
suas vítimas e inimigos. Essa é história de "Lupin", cujo papel
principal é interpretado com excelência por Omar Sy, o mesmo de
"Intocáveis" (2012), e direção de George Kay. A primeira temporada,
com apenas cinco capítulos, foi de roer as unhas.
A Netflix, que exibe a produção, já confirmou para o
primeiro semestre deste ano a estreia da segunda parte desta série francesa,
que vem se mantendo entre as mais vistas da plataforma. E não é sem razão. Na
trama, baseada nos romances policiais de Maurice Leblanc, Assane Diop (Omar Sy)
é um homem que tenta provar que o pai, Babakar Diop (Fargass Assandé), que se
matou na prisão, era inocente e não roubou uma joia valiosa da família
Pellegrini, para quem trabalhava.
Durante 25 anos, Assane estuda cada passo e golpe do famoso
e gentil vigarista Arsène Lupin, conhecido como o "ladrão de casaca"
da literatura francesa, que se tornou um gênio do crime na Paris do início do
século 20 . E seus planos começam a ser colocados em prática exatamente com um
grande furto em um dos lugares mais seguros do mundo - o Museu do Louvre.
Belos cenários tendo como fundo a cidade de Paris e mais no
final o litoral francês. As cenas de perseguição são comuns, típicas de um
filme policial, algumas inclusive sobre telhados, no estilo "Missão
Impossível". Omar Sy conquista o público com seu sorriso e simpatia desde
o primeiro episódio.
Mesmo deixando bem claro que só quer vingança contra
aqueles que destruíram sua vida e a de seu pai e agora retornam com novas
ameaças a todos que estão ligados a ele, especialmente sua família.
A bela fotografia vem acompanhada de trilha sonora de
músicas francesas muito bem escolhidas utilizadas - até mesmo quando assoviada
por um preso num momento de tensão. O roteiro mesclando passado e presente com
harmonia, explicam bem a trama e cada movimento que Assane irá tomar, sempre
tendo à mão ou em mente alguma história dos livros sobre Lupin para guiá-lo.
Somente o detetive Youssef Guedira (Soufiane Guerrab) é capaz de fazer a
ligação entre o golpista e o personagem literário, mas não é levado a sério
pelos colegas.
Para quem ainda não viu, "Lupin" é imperdível. Só
a atuação de Omar Sy já vale a primeira temporada. A escolha do ator foi
perfeita e merecida. O restante do elenco também está fazendo bem a sua parte.
Destaque para Hervé Pierre, que interpreta o inescrupuloso milionário Hubert
Pellegrini, responsável pela morte do pai de Assane.
Ludivine Sagnier, que faz
o papel de Claire, ex-mulher de Assane, também começa a aparecer mais do quarto
episódio em diante e deve receber mais espaço na sequência, devido aos
acontecimentos que fecham a primeira temporada.
"Lupin" é uma série que faz você pular para o
próximo episódio, antes mesmo de os créditos finais aparecerem. E a segunda
parte promete ser tão empolgante quanto a primeira, e deve ser novamente motivo
para ficar grudada na tela da TV pela madrugada à espera do desfecho. Enquanto
não chega, confira o teaser oficial abaixo lançado pela Netflix.
Ficha técnica:
Direção: George Kay Exibição: Netflix Duração: média de 45 minutos (1ª parte - 5 episódios) Classificação: 16 anos País: França Gêneros: Policial / Drama / Suspense Nota: 4,8 (de 0 a 5)
O @cinemanoescurinho consultou seus seguidores sobre as
séries que mais gostaram de assistir em 2020. Não precisava que tivessem sido
lançadas no ano passado. Na lista entraram diversos gêneros: policial, aventura,
ação, ficção, drama, suspense e até documentário. Os títulos com link você encontra crítica no blog.
Todas as indicações estão em exibição nas várias plataformas
de streaming disponíveis no Brasil. E se a sua série preferida ficou de fora,
envie um comentário que ela será acrescentada na listagem. Muito obrigada a
todos que participaram, vocês foram as estrelas desta postagem.
Terceiro filme e seus antecessores estão disponíveis somente na plataforma de streaming (Fotos: Netflix/Divulgação)
Maristela Bretas
Uma das postagens que mais despertou interesse dos seguidores do blog @cinemanoescurinho nos últimos dias ganha uma sequência. Já está em exibição na @Netflix, "Oferenda à Tempestade" ("Ofrenda a la Tormenta"), filme que encerra a ótima "Trilogia do Baztán", adaptada dos best-sellers homônimos da escritora espanhola de sucesso, Dolores Redondo.
Novamente, o diretor Fernando González Molina conduz de maneira envolvente este terceiro suspense policial, tão bom quanto seu antecessor, "Legado nos Ossos" (2019), apresentado na postagem do blog do dia 4 de junho, juntamente com o primeiro filme da trilogia, "O Guardião Invisível" (2017). As três produções estão disponíveis e merecem ser conferidas seguindo a sequência.
A estreia de "Oferenda à Tempestade" era aguardada desde meados de junho, mas somente no dia 24 de julho o filme foi colocado no catálogo da plataforma. Para surpresa de vários fãs, que esperavam ansiosamente o desfecho das investigações da inspetora Amaia Salazar (muito bem interpretada por Marta Etura) sobre os diversos assassinatos e suicídios ocorridos na província de Navarra, no norte da Espanha.
A história do terceiro filme se passa um mês após a policial ter solucionado os crimes de "Legado nos Ossos". Sem acreditar na morte da mãe Rosário (vivida por Susi Sánchez), cujo corpo nunca foi localizado, Amaia ainda está atrás dos integrantes de uma seita, da qual a mãe fazia parte, que sacrifica bebês em rituais macabros.
Enquanto tenta desvendar os casos, a inspetora precisa dividir as atenções dentro de casa com o filho bebê e o marido, e ainda evitar a aproximação, cada vez maior, do juiz Markina, papel de Leonardo Sharaglia. Repetindo a participação no elenco estão Carlos Librado (policial Jonan Etxaide), Patrícia Lopez Arnaiz (Rosaura Salazar), Elvira Minguez (Flora Salazar) e Paco Tous, como o médico forense Dr. San Martín.
"Oferenda à Tempestade" encerra muito bem a "Trilogia do Baztán", mantendo uma duração muito próxima de seus antecessores. Novamente as locações na cidade e redondezas de Elizondo são uma atração à parte, menos exploradas neste longa que em "O Guardião Invisível". O período chuvoso, mesclado com a neve do inverno e as matas fechadas rodeando as estradas completam o cenário ideal para a trama.
São poucos os momentos de menor suspense e mesmo dando dicas claras do desfecho, este thriller psicológico prende até o final e é tão bom quanto o segundo. Mas os três filmes merecem ser vistos. Para saber mais, confira a crítica e os trailers no post do blog. E tem mais: há informações de que "Oferenda à Tempestade" pode ter uma continuação. Mas só assistindo para saber o que ficou sem solução que merece mais investigações de Amaia Salazar.
Ficha técnica:
Direção: Fernando González Molina Classificação: 16 anos Duração: 2h19 País: Espanha Gêneros: Policial / Suspense
Alma Solares e Darío Guerra vivem um tórrido romance na nova série da Netflix (Fotos: Netflix/Divulgação)
Silvana Monteiro
"Desejo Sombrio" ("Oscuro Deseo") é uma série mexicana produzida pela Argos Comunicación que estreou, dia 15 de julho, a 1ª Temporada no catálogo da Netflix. O suspense dramático já está entre os títulos mais assistidos do momento. A fotografia da série é impecável. As locações são perfeitas e rendem quadros maravilhosos. Alma Solares (Maite Perroni, ex-integrante do grupo
musical RBD) é uma mulher bem sucedida, professora universitária de
Direito, mãe de Zoe (Regina Pavon), uma jovem irreverente e cheia de
conflitos internos, e esposa fiel do famoso e incorruptível juiz
Leonardo Solares (Jorge Poza).
O casamento, até então perfeito, começa a dar sinais de
alerta. A professora aproveita uma viagem do marido como um vale night.
Ela vai chorar as mágoas com Brenda, sua melhor amiga há décadas. São
cúmplices, confidentes e parceiras. Mas será que essa amizade é isso
tudo mesmo? Nessa saída noturna, ambas conhecem Darío Guerra (Alejandro Speitzer), um jovem estudante de Direito. Alma passa a noite com ele, mas apesar de ter se deliciado do corpo viril e ardente do moço, ela quer que o fato seja esquecido.
Ah! Mas o destino é traiçoeiro. Na manhã seguinte, a Dra. Solares não vai ter que lidar só com a culpa da infidelidade. Ela terá também que conviver com o fato de que sua amiga está morta e que, de alguma forma, o rapaz nunca antes visto, pode estar ligado ao crime. A partir daí, uma trama cheia de suspense vai se desenrolar.
Brenda cometeu suicídio? Foi morta? Por quem e por quê?
Quem é Darío Guerra? Um amante apaixonado ou um sociopata? Essas
perguntas são parte do clímax da série. E mesmo atormentando a todos, a
Dra. Solares estará loucamente apaixonada pelo misterioso e onipresente
estudante.
Traições, crimes, verdades, mentiras, muito sexo, amor e ódio. Histórias e mortos do passado serão desenterrados. Mais mortes podem acontecer e verdades ocultas virão à tona. Qual a ligação entre Darío Guerra e Brenda e casos investigados no passado pelo juiz Leonardo Solares e seu irmão Esteban?
O enredo é ultra envolvente e tem conexões perfeitas que fazem o telespectador não querer se desligar. É o tipo de história que faz querer ver tudo, sem parar nem mesmo para comer. Ah! Mas de água você vai precisar, pois fogo é o que não falta, tanto no sentido literal, quanto no sentido figurado. Abasteça o squeeze!
A outra parte do clímax da série é o envolvimento de Darío com a família Solares, sobretudo com a jovem Zoe. A dúvida que paira sobre a honestidade do Sr. Juiz e de seu irmão, membro da polícia judicial, faz o telespectador coçar a cabeça e roer as unhas. Se você gosta de tramas forenses, casos policiais, romances proibidos e passionais, provavelmente vai suar com "Desejo Sombrio". Beba muita água e respire fundo: nada é o que parece ser.
Ficha técnica: Criação: Leticia López Margalli Exibição: Netflix Duração: 35 minutos em média cada episódio Classificação: 16 anos País: México Gêneros: Suspense / Erótico / Série de TV
"O Guardião Invisível" e "Legado nos Ossos" são boas opções para assistir na Netflix (Fotos: Divulgação)
Maristela Bretas
Para quem ainda não teve oportunidade de ler a Trilogia do
Baztán, da escritora espanhola Dolores Redondo, a Netflix disponibilizou para
seus assinantes as produções cinematográficas "O Guardião Invisível"
("El Guardián Invisible"), de 2017 e "Legado nos Ossos"
("Legado en los Huesos"), de 2019, baseados nos famosos best-sellers
homônimos. São duas boas opções para assistir em casa, o segundo ainda
melhor, do tipo que deixa a gente roendo as unhas aguardando o desfecho. Fui
conferir após indicação do meu amigo e editor do @jornaldebelo, Robhson
Abreu.
O desfecho da obra no cinema, assim como na literatura, será
com "Oferenda à Tempestade" ("Ofrenda a la Tormenta"), o
terceiro e último filme, cujo lançamento na Espanha foi adiado por causa da
pandemia do Covid-19 e agora está previsto para este mês. A autora conquistou
com os três livros e outros na mesma linha de suspense policial mais de dois
milhões de leitores, atingiu 193 edições e foi traduzida em mais de 30 países.
"Oferenda À Tempestade" (Divulgação)
A Trilogia do Baztán é ambientada em Elizondo e cidades
vizinhas, na Província de Navarra, norte da Espanha. O local inclusive virou
ponto turístico de leitores que querem conhecer os detalhes apresentados nas
obras de Dolores Redondo e vividos pela personagem principal, a inspetora Amaia
Salazar (vivida por Marta Etura). A policial tenta solucionar uma série de
assassinatos cometidos nos arredores do Vale de Baztán ao longo dos três
filmes.
O diretor Fernando González Molina foi fiel à trilogia
literária, mesclando os mesmos elementos reais de uma investigação - crime
bárbaro, tensão, suspense e perseguições - a fatos fantásticos, como bruxaria,
e dramas pessoais. Ao retornar a sua cidade, a inspetora terá de rever parentes
e velhos conhecidos que a fazem lembrar a todo o momento porque deixou Elizondo
e nunca mais quis voltar, especialmente o contato com Rosário sua mãe, a
personificação do mal.
"Legado nos Ossos" (Divulgação)
O Guardião Invisível
Em "O Guardião Invisível", a fotografia é o
destaque, explorando bem as belezas naturais da região cercada por rios, matas,
montanhas e estradas margeadas de muito verde. Um cenário atraente, mas ao
mesmo tempo sombrio por causa da chuva e da neblina.
'O Guardião Invisível (Foto: Manolo Pavón /Divulgação)
O filme peca pela
narrativa arrastada, que chega a ser cansativa em algumas partes. Mas não a
ponto de tirar o interesse na trama, que ganha mais agilidade da segunda metade
pra frente, oferecendo um bom desfecho, que faz querer ver a sequência -
"Legado nos Ossos".
No filme, assim como no livro homônimo que vendeu mais de um
milhão de cópias, a inspetora Amaia é apresentada ao espectador. Ela tem de
voltar a sua terra natal para desvendar as mortes de várias adolescentes na
região cometidas por um serial killer. As vítimas sempre são encontradas da
mesma maneira: asfixiadas, nuas e com um doce típico da região pousado na
região do púbis.
Legado nos Ossos
Dando sequência, encontramos Amaia Salazar, um ano depois de
solucionar os crimes em Elizondo e prestes a dar a luz a um bebê. Mas um novo
mistério ligado à trama anterior fará com que ela retorne ao Vale de Baztán
para investigar outra série de assassinatos e suicídios. As vítimas são
encontradas com bilhetes apontando para uma figura do folclore da região basca
- o Tartalo.
Com o nascimento do filho, a inspetora e o marido decidem ir
morar na cidade natal dela. No entanto, cada vez mais os crimes parecem estar
relacionados à sua família. O filme é tenso, com um bom suspense que prende na
cadeira, mesmonão se preocupando em
apontar quem são os mocinhos e os vilões e o que esperar de cada um deles.
Misticismo e rituais de bruxaria estão entre os destaques, mas o roteiro não
deixa de lado assuntos polêmicos como a violência contra a mulher e a
dificuldade de conciliar o trabalho e maternidade. Não é a toa que a produção
chegou a ficar entre os dez conteúdos mais procurados na Netflix.
Oferenda à Tempestade
Para encerrar a Trilogia do Baztán temos o aguardado
"Oferenda à Tempestade", sequências direta de "Legado nos
Ossos". A história se passa um mês após a inspetora ter solucionado os
crimes dos ossos. A morte de um bebê dá início a uma nova investigação e Amaia
Salazar vai enfrentar as origens de seus pesadelos, enquanto desvenda segredos
obscuros do vale de Baztán. Ela tem certeza que tudo está relacionado com sua
mãe Rosário, interpretada por Susi Sánchez.
O elenco, além de Marta Etura, conta também nos três filmes
com Leonardo Sharaglia, como o juiz Markina, Carlos Librado (policial Jonan
Etxaide), Patrícia Lopez Arnaiz (Rosaura Salazar), Elvira Minguez (Flora
Salazar) e Paco Tous, como o médico forense dr. San Martín. A expectativa agora
é de que esta produção encerre tão bem a trilogia como aconteceu na obra
literária.
Ficha técnica:
Direção: Fernando González Molina
Classificação: 16 anos
Duração: O Guardião Invisível: 2h09 // Legado nos Ossos:
2h01