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12 abril 2025

"Força Bruta: Punição" é pancadaria com toques de humor e denúncia contra os jogos online ilegais

Quarto filme da franquia traz de volta o detetive Ma Seok-do vivido pelo famoso ator sul-coreano Don Lee (Fotos: Sato Company)


Marcos Tadeu
Parceiro do blog
Jornalista de Cinema


"Força Bruta: Punição" ("Beomjoidosi 4") chegou ao cinema oferecendo uma explosão de ação de primeira linha e se consolidando como uma excelente porta de entrada para quem deseja conhecer o cinema sul-coreano. 

Dirigido por Heo Myeong-haeng, o quarto capítulo da famosa franquia traz de volta o detetive Ma Seok-do vivido por Don Lee, agora envolvido em uma nova investigação ligada ao submundo digital.


A trama começa com Ma Seok-do rastreando um aplicativo ligado ao tráfico de drogas, o que o leva a descobrir uma teia de crimes que se estende até as Filipinas, onde um desenvolvedor foi assassinado. 

A investigação coloca o detetive frente a frente com uma organização internacional de apostas ilegais, liderada pelo impiedoso Baek Chang-gi (Kim Mu-yeol). Ele é um ex-soldado de elite que domina o mundo dos jogos online com uma combinação de sequestros, chantagens e assassinatos.


Confesso que não conhecia a franquia antes, mas esse capítulo despertou em mim um interesse imediato em assistir os filmes anteriores. A narrativa é amarrada de forma envolvente e vai ganhando intensidade a cada revelação.

"Força Bruta: Punição" consegue equilibrar muito bem o ritmo de ação com momentos de crítica social, apontando para um submundo ainda pouco retratado no cinema: o das apostas ilegais digitais.


Heo Myeong-haeng, em sua estreia na direção da franquia, traz consigo anos de experiência como coordenador de cenas de luta e dublês. Isso se reflete nas coreografias precisas e brutais, com destaque especial para o duelo entre Ma Seok-do e Baek Chang-gi — uma pancadaria visceral, com pegada realista e forte influência do boxe.

Don Lee mais uma vez se impõe como protagonista. Seu personagem é uma força da natureza - e o ator entrega cenas que vão da tensão ao alívio cômico com habilidade. Do outro lado, Kim Mu-yeol constrói um vilão frio, calculista e profundamente irritante, o tipo de antagonista que provoca ódio desde a primeira aparição.


O grande mérito do filme é não se contentar apenas com a ação frenética. Ele mergulha de cabeça no universo das apostas online, escancarando como esse sistema opera em diversas camadas da sociedade: dentro de presídios, envolvendo menores de idade e manipulando figuras de alto escalão. 

A narrativa não hesita em denunciar a lógica perversa do dinheiro fácil, evidenciando práticas como as dos jogos “bets” e do famoso “tigrinho”, que se tornaram populares no Brasil.


"Força Bruta: Punição" funciona como uma denúncia embalada em entretenimento. É uma história que prende a atenção pela violência estilizada e ao mesmo tempo faz pensar sobre os bastidores sombrios do crime organizado digital. É pancadaria com propósito: crítica social embalada em golpes precisos.

Vale cada minuto, cada pipoca e, quem sabe, a curiosidade para maratonar os filmes anteriores. Os três primeiros filmes - "Cidade do Crime" (2017); "Força Bruta" (2022) e "Força Bruta: Sem Saída (2023) - este a maior bilheteria da história do K-Action na Coreia do Sul - estão disponíveis no Prime Video. Uma verdadeira aula de ação com a assinatura única do cinema sul-coreano.


Ficha técnica:
Direção:
Heo Myeong-haeng
Distribuição: Sato Company
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h44
Classificação: 16 anos
País: Coreia do Sul
Gêneros: ação, policial, suspense

09 abril 2025

Polêmico e atual, "Adolescência" alerta para um perigo real e crescente

Apesar da pouca experiência, o jovem Owen Cooper entrega uma interpretação carregada de verdades e vulnerabilidades (Fotos: Netflix)


Equipe do Cinema no Escurinho


A equipe do Cinema no Escurinho assistiu a nova minissérie da Netflix, "Adolescência" ("Adolescence"), e se juntou para abordar a essência desta produção. E concordam que se trata de uma produção impactante, atual e que serve de alerta para pais e educadores para o problema da violência contra as mulheres, não importando a idade.

Para o parceiro e colaborador Marcos Tadeu, do blog Jornalista de Cinema, até o momento é uma das séries mais necessárias e impactantes do ano. Ela se destaca pela urgência do tema e pela capacidade de provocar discussões importantes sobre juventude, violência, papel da escola, da família e as estruturas que nos cercam.

Desde que chegou ao catálogo da Netflix em 13 de março, "Adolescência" viralizou rapidamente e ultrapassou a marca de 66,3 milhões de visualizações, deixando o público em choque — e cheio de perguntas.


A produção começa com a brutal interrupção da rotina da família Miller, quando a polícia invade sua casa à procura de Jamie (Owen Cooper), acusado de esfaquear a colega de escola Katie Leonard (Emilia Holliday). 

O que poderia parecer um caso direto de violência entre adolescentes se transforma, aos poucos, em uma trama densa, repleta de nuances e contradições. 

À medida que os detetives Luke Bascombe (Ashley Walters) e Misha Frank (Faye Marsay) avançam na investigação, segredos vão surgindo e abalam não só o núcleo familiar, mas também a comunidade escolar e os demais envolvidos.


O maior trunfo da série está na forma como a história é contada: a narrativa recorre a diferentes pontos de vista — da polícia, da escola, dos amigos de Jamie, da psicóloga e da família — e evita qualquer tipo de resposta fácil. 

Em vez de dizer o que o público deve pensar "Adolescência" o convida a refletir: o ambiente em que o adolescente está inserido contribui para afastá-lo ou aproximá-lo da violência?

Para amplificar esse efeito, mais do que apostar no plano-sequência como um artifício estético, a minissérie usa a câmera em movimento constante como um observador silencioso, que se infiltra nos espaços, capta as tensões e torna a experiência do espectador mais íntima e visceral.

As atuações acompanham o rigor da proposta. Stephen Graham (Eddie Miller, pai de Jamie), Erin Doherty (Briony) e o jovem Owen Cooper entregam interpretações carregadas de verdade e vulnerabilidade. 


O texto, bem escrito e afiado, ganha ainda mais potência com a escolha precisa do elenco. Nada soa artificial ou encenado — é como se estivéssemos acompanhando tudo de dentro, em tempo real.

No entanto, nem tudo é acerto. Um dos pontos mais frágeis da narrativa é justamente a construção da vítima. Katie Leonard quase não tem voz própria: seu ponto de vista aparece apenas por meio da amiga Jade (Fatima Bojang), e seus pais ou outras pessoas próximas sequer são mostrados. Isso enfraquece a complexidade emocional que a série poderia ter explorado. 

Além disso, o desfecho sem um julgamento formal pode soar frustrante para quem esperava um posicionamento mais claro. O final aberto, ao invés de corajoso, parece fugir da responsabilidade de encerrar a história com uma decisão.


Cada vez mais perto de nós

Para Jean Piter Miranda, a essência de “Adolescência” deixa bem claro que jovens bem criados podem cometer atrocidades. E que isso está mais perto de todos nós do que podemos imaginar. 

O menino Jamie de apenas 13 anos é branco, de família de classe média na Europa, tem bom relacionamento com os pais e com a irmã e ainda é bom aluno. Um jovem acima de qualquer suspeita. Entretanto, ele é acusado de matar a facadas uma menina da mesma idade que ele. O motivo? Ódio pelas mulheres. 

Jamie participava de comunidades online que pregam ódio às mulheres, os chamados "incels". Grupos esses que têm membros de todas as idades. Se dizem vítimas do feminismo, se sentem rejeitados pelo sexo oposto. Por isso, se acham no direito de cometer todo tipo de violência contra o sexo feminino. 


"Adolescência" retrata um problema social silencioso, que vem crescendo em todo o mundo. Um problema social ligado a outros problemas. Pais que trabalham demais e que estão sempre ausentes. Como você vai educar seus filhos se nunca está presente? Crianças que desde muito cedo passam bastante tempo diante de telas, expostas a vários riscos sem que os pais desconfiem de algo. 

A minissérie também mostra vulnerabilidades das instituições. As escolas e a polícia não estão preparadas para lidar com esse problema. Não há política pública estruturada para o enfrentamento e prevenção desses casos. 


A obra propõe reflexões e, acertadamente, não tem a pretensão de indicar soluções. Não há sensacionalismo de mostrar violência explícita, ao mesmo tempo em que constrói um ambiente de tensão. 

As atuações são ótimas, muitas delas carregadas de emoção, porém, sem exageros, sem perder a mão. A filmagem em plano sequência prende o expectador, dando a impressão de que tudo está acontecendo naquele exato momento. 

São apenas quatro episódios, o que não deixa a série ser cansativa. O desfecho fica subentendido, sem reviravoltas e sem desgastes com cenas clichês de tribunais. E cada um é feito na medida, com abordagem específica. Tudo isso faz da produção uma obra excelente que merece ser vista e debatida por todos.


Misoginia

Silvana Monteiro tem opinião semelhante. As mulheres enfrentam um tratamento desrespeitoso nas comunidades virtuais, refletindo a desvalorização que também ocorre na sociedade. O chamado "clube do bolinha", para determinados assuntos, pode representar um risco maior do que muitos imaginam.

As pessoas aparentemente comuns podem praticar as piores atrocidades. Famílias perfeitas não existem. Filhos não são o que os pais tentam, pensam ou querem. Mentes sagazes não têm idade. Pais não se prepararam para o mundo e o submundo da web. E criminoso não vem com estrela na testa.

Estamos vendo uma grande número de meninas de 11, 12, 13 e 14 sendo assassinadas todos os dias, a maioria por marmanjos ordinários. É chocante, virou uma coisa sem tamanho, uma situação desesperadora. Antes mesmo de atingir a adolescência plena, as meninas estão se tornando números. Estão tendo donos, "donos" que tiram suas vidas a qualquer espirro.


Para Carol Cassese é uma tristeza como essas meninas já são objetificadas. É toda uma cultura mesmo. Uma existência que fica associada à estética, à ideia de agradar ou não homens. Essa (a objetificação) é uma parte do problema, definitivamente não é apenas isso. Mas faz parte do problema também.

Mirtes Helena Scalioni gostou muito de “Adolescência” e afirma que a produção fez acender luzinhas nas cabeças de pais, filhos e professores. As plataformas não são o que parecem ser. Meninos estão sim fazendo cursos de misoginia na internet. E aprendendo a odiar e matar mulheres e meninas. O último capítulo da série é, para mim, uma pequena obra-prima de reflexão. E o pior de tudo é que as meninas estão sendo, de novo, apontadas como culpadas.

Segunda temporada?

Há rumores de que a série pode ganhar uma nova temporada, não como continuação direta do caso de Jamie, mas com uma nova história e a mesma abordagem. Se mantiver essa profundidade e cuidado na construção narrativa, ela tem tudo para seguir como um dos projetos mais relevantes da Netflix.


Ficha técnica:
Direção: Philip Barantini
Roteiro: Jack Thorne e Stephen Graham
Produção: Warp Films, Plan B Entertainment e Matriarch Productions
Distribuição: Netflix
Exibição: Netflix
Duração: 4 episódios
Classificação: 14 anos
País: Reino Unido
Gêneros: drama, policial, suspense

12 dezembro 2024

"Agente das Sombras" e "211: O Grande Assalto" entram no catálogo do Adrenalina Pura

Catálogo do canal reúne quase 400 produções originais com grandes astros de Hollywood (Fotos: Divulgação)


Maristela Bretas


O canal de streaming Adrenalina Pura passa a contar em seu catálogo com dois filmes de ação: "Agente das Sombras" (2022), protagonizado por Liam Nieeson, e "211: O Grande Assalto" (2018), com Nicolas Cage. 

Nos próximos dias, outros longas protagonizados por grandes astros de Hollywood serão inseridos na programação de dezembro. O Adrenalina Pura está disponível na Prime Vídeo, Apple TV e Claro TV+, com assinatura mensal de R$ 14,90. O canal reúne em seu catálogo quase 400 produções originais de ação, aventura e suspense.


Em "Agente das Sombras" ("Blacklight"), Liam Neeson interpreta o agente Travis Block que trabalha para o FBI com a função de extrair outros agentes em apuros. Até que descobre um programa sombrio chamado Operação Unidade, sob o comando de seu chefe Robinson (Aidan Quinn), com agentes matando cidadãos comuns inocentes. 

A partir daí, ele se torna alvo, juntamente com as pessoas próximas e uma jornalista (Raver-Lampman) que resolve investigar as mortes.


Sob a direção de Mark Williams, Liam Neeson segue o estilo que adotou em outros filmes de ação e espionagem, com muito tiro, porrada e bomba. Ele é aquele espião com cara de avozão, com poucas falas, mas que não tem escrúpulos em colocar uma bomba num acampamento ou descarregar pentes de balas de metralhadora nos inimigos.

"Agente das Sombras" tem muita ação em seus 108 minutos de duração, mas não apresenta nada de novo, tudo muito previsível. Ele deixa vários furos, especialmente o final, após uma cena com Neeson e Quinn, que do nada pula para um "felizes para sempre". Sem explicação do que realmente aconteceu. 

Não espere muito do roteiro, que entrega um filme comum como outros do gênero protagonizados por Liam Neeson. O longa atende como entretenimento para quem gosta do ator.


211: O Grande Assalto

A outra estreia, "211: O Grande Assalto" ("211"), com Nicolas Cage, desmerece o ator. Ele está apático, com cara de cachorro que caiu da mudança. Participa da ação, mas o roteiro não permite que entregue todo o seu talento. 

Apesar de ser inspirado em fatos reais, o diretor e roteirista York Alec Shackleton não aprofunda na história, deixa muitas pontas soltas e aproveita mal o elenco. 

Cage é o policial Mike Chandler, que junto com seu parceiro e genro Steve MacAvoy (Dwayne Cameron) tem de levar um aluno negro, Kenny (Michael Rainey Jr,) como passageiro durante uma ronda diária, como uma punição imposta pela escola. 


No entanto, os policiais, despreparados e sem armas suficientes, são surpreendidos com um assalto a banco em andamento cometido por um grupo de mercenários. A dupla policial terá de enfrentar os bandidos e salvar o jovem.

O elenco tem ainda o ator búlgaro Velizar Binev, que participou de filmes como "Os Mercenários 3" (2014) e "Dupla Explosiva" (2017). Mas como Cage, é só mais um nas cenas de ação. O restante do grupo é pouco. Tem até uma agente da Interpol, que não acrescenta muito à trama.


Tiros e explosões de sobra, mas chega a irritar a total falta de pontaria, tanto dos bandidos quanto da polícia. Há também dramas familiares, mas são pouco explorados, chegando a ser dispensáveis quando, na verdade, deveriam dar força ao enredo. 

A duração de 1h26 do longa, pelo que entrega, poderia ser menor. Vale para os fãs de Nicolas Cage, que até tenta, mas não consegue salvar a produção. 



14 maio 2024

“A Estrela Cadente” é tentativa de paródia que não chega onde deseja

Tim e Kayoko tentam encontrar um sósia para trocar a identidade do amigo Boris, interpretado por Dominique Abel (Fotos: Pandora Filmes)
   

Eduardo Jr.


Chega aos cinemas no dia 16 de maio o longa “A Estrela Cadente” ("L´Étoile Filante"). Dominique Abel e Fiona Gordon protagonizam e ainda assinam o roteiro e a direção do longa. Distribuída pela Pandora Filmes, esta é uma comédia que se pretende paródia de filmes policiais. E fica mesmo na pretensão. O filme poderá ser conferido no Centro Cultural Unimed-BH Minas.

O longa conta a história de Boris, um fugitivo que leva uma vida tranquila atrás do balcão de um bar. Até que o passado o encontra, na forma de um assassino amputado que carrega uma arma no braço mecânico - e perde esse braço quando tenta atirar em Boris. 


Este cartão de visitas parece dizer que o filme será uma comédia. Mas o flerte com o cinema mudo, com cenas alongadas, de trabalho corporal dotado de um certo exagero e recheado de caras e bocas, tiram a graça de cena para dar lugar ao cansaço. 

A promessa de reviravolta vem quando Tim (Philippe Martz) e Kayoko (Kaori Ito), amigos do protagonista, encontram Dom, um homem idêntico a Boris, e trocam os dois de lugar. 

O que teria tudo pra ser um pastelão e arrancar risos, acaba perdendo força, pois em certos momentos os dois homens (vividos por Dominique Abel) parecem se adaptar às novidades. 


Em linhas gerais, o filme reúne um grande esforço pra colocar tudo na conta do destino (que faz com que a detetive do caso, Fiona, interpretada por Fiona Gordon, seja justamente a ex-mulher do fugitivo). 

Atuações que parecem misturar mímica e palhaçada, e uma junção de personagens estranhos em cenas que não têm muito pra contar. Se o resultado desejado era se aproximar do ridículo, o longa consegue abraçar com louvor esse objetivo.   


Se na história do cinema temos obras que trazem detetives atrapalhados, situações non sense, e roteiros de comédia afiados, aqui não é exatamente o caso. 

“A Estrela Cadente” é um filme sonso. Tem a intenção de ser uma paródia de filmes policiais e investigativos, mas é apenas mais uma cópia fraca. Se você tem 98 minutos disponíveis, boa sorte.  


Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Dominique Abel e Fiona Gordon
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h38 minutos
Classificação: 12 anos
Países: Bélgica, França
Gêneros: comédia, policial

12 maio 2022

"Águas Selvagens" - drama policial sem ação e com poucos diálogos

A brasileira Leona Cavalli e o argentino Roberto Birindelli estão no elenco desta coprodução multinacional (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)


Maristela Bretas


Longas sequências e ótimas imagens aéreas como fundo para um assassinato a ser desvendado são os primeiros atrativos de "Águas Selvagens", coprodução entre Brasil e Argentina que estreou nesta quinta-feira no Una Cine Belas Artes. A região escolhida para locação do filme foi o Sul do Brasil, na fronteira com Argentina e Paraguai. E já seria um ótimo cartão de visitas para o filme, dirigido pelo argentino Roly Santos, baseado no livro  "El Muertito", do escritor Oscar Tabernise.


O longa conta a história do investigador particular e ex-policial Lúcio Gualtieri (o argentino radicalizado no Brasil Roberto Birindelli) contratato para  solucionar o assassinato de um morador influente numa pequena cidade argentina, na fronteira com o Brasil e Paraguai. Durante a investigação, ele acaba se envolvendo com uma rede de prostituição, tráfico de bebês e abuso sexual de crianças. Passa então a ser perseguido pela organização criminosa, colocando a sua vida e a das vítimas em perigo.

Contando assim, parece um filme eletrizante e o trailer também leva o espectador a essa conclusão. Mas "Águas Selvagens" é o contrário disso. Tem uma narrativa arrastada, com pouca ação para um filme que se classifica como policial - a primeira das duas cenas com tiros acontece após 1h23 e a segunda 26 minutos depois. E só. 

A trama explora mais a investigação, mas mesmo essa é cheia de furos mal explicados. O investigador Gualtieri, do nada, consegue uma pista de um fato que ele nem estava investigando. Não há uma explicação de como essa pista surgiu e assim como veio é esquecida ou a história não aprofunda. São vários crimes  levantados, mas apenas um é tratado até o final, mesmo assim de uma maneira bem fraca.


Apesar de ter uma boa proposta, especialmente por reunir atores de três países, o longa peca também nos poucos e curtos diálogos, intercalados com legendas em português para as falas dos intérpretes argentinos e uruguaios que dividem o elenco com alguns brasileiros. 

Entre eles estão Mayana Neiva (a misteriosa Rita Benitez, com quem Gualtieri se envolve), Leona Cavalli (que interpreta muito bem a prostituta Débora Shuster), Allana Lopes (a jovem prostituta Blanca), Luiz Guilherme (como o empresário Dalmácio Quiroga, que contrata Gualtieri para investigar a morte do irmão), entre outros. 


Do lado argentino, além de Roberto Birindelli, destaque para Juan Manuel Tellategui, como o garçom Fábian, muito importante na trama, e Daniel Valenzuela, como Fabro, um policial argentino corrupto. Por mais que o elenco se  esforce, a trama não consegue causar impacto. 

As cenas de lutas e de crimes também deixam muito a desejar. "Águas Selvagens" poderia ter focado em um tema e explorado melhor o assunto e o talento dos protagonistas, mas isso não aconteceu. Uma pena.


Ficha técnica:
Direção: Roly Santos
Produção: Laz Audiovisual / Romana Audiovisual / De La Tierra Produtora
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: Una Cine Belas Artes - Rua Gonçalves Dias, 1581 - Lourdes - sessões 16h20 e 18h20
Duração: 1h43
Classificação: 16 anos
Países: Argentina e Brasil
Gêneros: drama / policial

02 fevereiro 2022

“A Mais Pura Verdade”: ótima minissérie com drama e suspense de perder o sono

Kevin Hart e Wesley Snipes interpretam os dois irmãos em conflito nessa produção de sete episódios sobre dinheiro e traição (Fotos: Adam Rose/Netflix)


Mirtes Helena Scalioni


Por mais que uma ou outra sequência possa parecer improvável, não se pode negar que “A Mais Pura Verdade” ("True Story") é uma série surpreendente que prende o espectador do começo ao fim, com viradas de tirar o sono. 

Com sete episódios e em cartaz no Netflix, a história gira em torno de questões tão antigas quanto importantes: que preço alguém pode pagar para se manter no topo do sucesso? Ou: o que pode despertar a extrema violência de um homem sabidamente pacífico e honesto?


Criada por Eric Newman (que produziu "Power" - 2020 e “Narcos” - 2017 e 2018) e dirigida por Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper, a minissérie apresenta um recorte na vida de Kid, comediante de muito sucesso, daqueles que fazem stand-ups e filmes que agradam toda a família, de crianças a adolescentes e adultos. 

Negro, ele valoriza cada conquista e deixa claro, sempre que pode, que trabalhou muito para chegar aonde chegou. Interpretado por Kevin Hart (“Jumanji - Próxima Fase” - 2019) em uma de suas primeiras incursões pelo drama, o ator convence na pele do bom moço que, se preciso for, perde a humanidade e a ética.


Tudo caminhava muito bem na turnê de muito sucesso que Kid fazia pelo país, com shows, eventos filantrópicos e entrevistas até que a trupe chega à Filadélfia, exatamente a terra do comediante. 

E é lá, no luxuoso hotel Four Seasons, que ele tem um conturbado reencontro com seu irmão Carlton, que lhe apresenta Daphne (Ash Santos). A primeira surpresa a bagunçar a cabeça do espectador acontece logo no primeiro episódio, um pouquinho maior do que os outros seis.


Mas “A Mais Pura Verdade” não seria tão recomendável se não fosse a participação de Wesley Snipes (“Mercenários 3” - 2014), que interpreta Carlton, o irmão enrolado e meio bandido de Kid, capaz de tudo para tirar algum dinheiro do mano bem-sucedido. Em atuação perfeita, ele imprime um cinismo tal em seu personagem que chega a despertar a raiva do espectador na medida em que suas tramoias vão sendo expostas.


Merecem atenção também as atuações de todo o staff do artista que, claro, é assessorado por uma equipe de primeira. Estão lá a autora de textos e piadas, Billie (Tawny Newsome), o segurança fiel Herschel (William Catlett) e o administrador de tudo, Todd (Paul Adelstein). Não falta nem mesmo o superfã Gene (Theo Rosssi), jovem ingênuo e meio infantil que faz de tudo para se aproximar do ídolo e tem grande importância na trama.


Do lado bandido, destaque para os perversos irmãos gregos Ari (Billy Zane), Savvas (Chris Diamontopoulos) e Nikos (John Ales). “A Mais Pura Verdade” é tão surpreendente e criativa que pode ser uma temeridade partir para uma segunda temporada, totalmente desnecessária. 

O velho drama dos dois irmãos completamente diferentes um do outro e a ideia de que uma simples escolha pode transformar – e transtornar – a vida de uma pessoa estão muito bem amarrados e fechados nesses sete episódios. Se tentar melhorar, pode atrapalhar.


Ficha técnica:
Criação: Eric Newman
Direção: Stephen Williams e Hanelle M. Culpepper
Produção: Netflix / Harbeat Productions
Exibição: Netflix
Duração: 1ª Temporada - 7 episódios (média de 30 minutos cada)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial / Minissérie / Suspense

24 novembro 2021

"Alerta Vermelho" mistura ação e comédia na medida certa

Ryan Reynolds, Dwayne Johnson e Gal Gadot esbanjam carisma e simpatia em comédia de ação (Fotos: Netflix/Divulgação)


Jean Piter Miranda


O melhor agente especial do FBI, John Hartley (Dwayne Johnson), recebe a missão de prender um dos criminosos mais procurados do planeta: "O Bispo" (Gal Gadot), a maior ladra de obras de arte da história. Mas, para chegar até ela será preciso contar com a ajuda de Nolan Booth (Ryan Reynolds), um cara que busca se tornar o ladrão mais famoso do mundo. 

Essa é a história de “Alerta Vermelho” ("Red Notice"), filme de ação disponível na Netflix e também o projeto mais caro do serviço de streaming - teria custado em torno de US$ 200 milhões.


Tudo começa quando uma peça é roubada de um museu em Roma: um dos três ovos de Cleópatra, uma joia de valor inestimável. O item vai parar nas mãos do Bispo. Hartley e Booth levam a culpa e vão presos. E é aí que a aventura se inicia. Eles precisam fugir da prisão, recuperar o ovo e prender o Bispo. Tarefa que não será fácil. Ainda mais porque, nesse mundo do crime, ninguém confia em ninguém.  


É bom encarar o filme como uma comédia. Tem muita ação, mas acima de tudo é uma comédia. São várias piadas, referências a filmes e à cultura nerd, e muitas cenas engraçadas e inteligentes. Podemos dizer que são boas sacadas. E em tudo isso o trio funciona muito bem. Ryan Reynolds, Gal Gadot e Dwayne Johnson esbanjam carisma e simpatia, a ponto de o espectador torcer pelos três ao mesmo tempo.  


Reynolds mandou muito bem em "Deadpool", de 2016. Um filme da Marvel com uma pegada de humor, sem perder a ação e sem cair no besteirol. Agora ele acerta de novo, dosando bem as cenas e os diálogos engraçados em "Alerta Vermelho". Dwayne Johnson não destoa e, mesmo fazendo um papel praticamente repetido, consegue ser original. E Gal Gadot rouba toda a atenção quando entra em cena. É daqueles casos em que a gente gosta mais do vilão que do mocinho.  


As cenas de ação são muito boas. Tem tiros, perseguição de carros, brigas, reviravoltas. Os cenários são lindos. O filme foi gravado em vários países. As cenas em plano sequência são bem utilizadas, assim como outros efeitos especiais. É um filme bom se ver. Não gasta cérebro. É leve, divertido e engraçado. É uma boa pedida pra quem gosta do gênero.  


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Rawson Marshall Thurber
Exibição: Netflix
Duração: 1h58
Classificação: 14 anos
País: EUA
Gêneros: Ação / Comédia / Policial
Nota: 3,5 (de 0 a 5)

24 setembro 2021

"O Silêncio da Chuva" chega às telas atualizado, sem perder a atmosfera de um policial clássico

Lázaro Ramos protagoniza o detetive Espinosa, personagem do livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza e adaptado para o cinema (Fotos: Mariana Vianna)


Carolina Cassese


Estamos habituados a ver um Rio de Janeiro diurno e repleto de cores. No entanto, logo na primeira cena de "O Silêncio da Chuva" (2020), longa assinado por Daniel Filho, nos damos conta de que aquele cenário está muito mais sombrio do que de costume. O filme é uma das estreias da semana e está em exibição no Cineart Cidade.

Além da atmosfera misteriosa, apresentada para nós em tons de sépia, temos todos os elementos de um clássico policial: um provável assassinato, uma investigação, vários suspeitos que escondem muitos segredos, femmes fatales e uma dupla de detetives bastante entrosada. O filme protagonizado por Lázaro Ramos é uma adaptação do consagrado livro homônimo de 1996 escrito por Luiz Alfredo Garcia-Roza, que recebeu os prêmios Nestlé e Jabuti e foi publicado em nove países.


Além de Lázaro, que interpreta o conhecido detetive Espinosa, o elenco conta com nomes como Cláudia Abreu (que interpreta Bia, a viúva), Thalita Carauta (Daia, que compõe a dupla de detetives com Espinosa), Mayana Neiva (Rose, que era amante da vítima), Guilherme Fontes (Ricardo, o executivo morto), entre outros.

Podemos perceber que houve uma atualização do texto, escrito há 22 anos. A personagem de Daia é uma das que melhor exemplifica essa renovação, já que é uma mulher que integra a polícia. E ainda, não se sente impelida a esconder seus desejos. O próprio fato de o personagem principal ser negro já representa uma mudança significativa em relação ao livro original.


Para os que estão acostumados a ver filmes policiais, talvez "O Silêncio da Chuva" não pareça exatamente inovador. Um de seus diferenciais, no entanto, reside justamente no fato de que a produção não é hollywoodiana e apresenta elementos bastante brasileiros. Em entrevista ao site C7nema, Lázaro Ramos definiu o longa como um noir. 

“O Brasil, infelizmente, insiste em vender seu cinema para o público sem comunicar as especificidades de cada gênero. É como se ‘cinema brasileiro’ fosse um gênero em si, e não é. Este nosso filme tem uma cara e uma comunicação de gênero, e sem perder o jeito brasileiro de ser”, declarou o ator.


Sabemos que, no Brasil, o termo “policial” muitas vezes ganha conotações violentas: programas policialescos são aqueles que falam de crimes bárbaros, reportagens “policiais” muitas vezes são sensacionalistas… O longa de Daniel Filho, no entanto, não sucumbe à lógica "pinga-sangue". Por mais que algumas cenas sejam mais explícitas, a produção está longe de ser apelativa e tem muito mais o que oferecer.

Do começo ao fim, "O Silêncio da Chuva" é bastante eficiente em prender a nossa atenção. Repleto de boas atuações, o longa diverte na medida certa e, apesar de fazer uso de alguns arquétipos, não incorre demasiadamente em estereótipos. Que, daqui pra frente, o cinema brasileiro aposte em mais filmes ditos “de gênero” - temos sim muitos profissionais qualificados para contar novas histórias.


Ficha técnica:
Direção: Daniel Filho
Roteiro: Lusa Silvestre
Produção: Globo Filmes / Lereby
Distribuição: ELO Company
Exibição: Cineart Cidade - sala 1 - sessões às 16h40 e 20h40 // Una Cine Belas - sala 3 - sessão 20h10
Duração: 1h36
Classificação: 16 anos
País: Brasil
Gêneros: Drama / Policial

02 julho 2021

Crime em "Mare of Easttown" expõe o lado obscuro de uma comunidade

Série tem como pano de fundo a investigação do assassinato de uma jovem numa pequena cidade da Pensilvânia (Fotos: HBO/Divulgação)


Carolina Cassese


“Neste drama policial original da HBO, a vencedora do Oscar, Kate Winslet ("Titanic" - 1997 e "A Despedida" - 2021), interpreta Mare Sheehan, uma detetive de uma pequena cidade da Pensilvânia que deve investigar um violento assassinato local”. A partir dessa premissa presente na descrição oficial da série, poderíamos facilmente classificar "Mare of Easttown" como mais uma produção do estilo “quem matou”. 

No entanto, a HBO apresenta mais uma vez (assim como fez em "Big Little Lies", "Sharp Objects" e, mais recentemente, com "The Undoing") uma trama complexa, repleta de camadas e dramas humanos.


A minissérie também está disponível no serviço HBO Max, que estreou no Brasil em 29 de junho. Como já explicitado, os acontecimentos da série são desencadeados a partir do assassinato da jovem Erin McMenamin (Caille Spaeny). A detetive encarregada do caso é Mare Sheehan (Kate Winslet, principal nome por trás da série), que ainda sofre com o luto pela morte de seu filho, Kevin. Na medida em que conhecemos os núcleos familiares dos moradores da cidade, observamos que todos estão lidando com questões complicadas. Todos são suspeitos.


"Mare of Easttown" quebra uma velha premissa de muitas produções de suspense - a de que “absolutamente tudo que o diretor escolhe mostrar precisa ser relevante para a resolução do mistério”. Diversos acontecimentos da história são, na verdade, pistas falsas (a técnica de misleading, bastante utilizada pela rainha do crime Agatha Christie) ou informações que contribuem consideravelmente para a construção dos personagens, mas não para o desenlace da investigação.

Até mesmo o personagem Richard Ryan, par romântico de Mare interpretado pelo ótimo Guy Pearce, não tem aquela função clássica de amor romântico da protagonista. “Não é preciso ser para sempre para significar algo”, destaca a namorada da personagem Siobhan Sheehan (Angourie Rice), filha de Mare.


O produtor-executivo da série reforça que a trama é pouco centrada em homens ou no amor romântico. “A maioria dos personagens masculinos nesse programa são maus. Não quero dizer todos, mas a maioria. Assim que comecei a escrever o roteiro, queria escrever sobre a minha casa e eu cresci rodeado de mulheres. Foi essa força e essa solidariedade entre elas que me inspirou”, declarou Brad Ingelsby ao podcast Still Watching.

As relações de amizade e de família são mais do que suficientes para sustentar a série e contar excelentes histórias. Temos de fato a sensação de que os moradores da pequena cidade já se conhecem há bastante tempo e são verdadeiramente familiarizados uns com os outros. Os sentimentos, tanto os de amor quanto os de ódio, parecem ter raízes.


Tal percepção se deve muito ao excelente elenco da produção. É inclusive uma tarefa difícil destacar apenas um nome, ao passo que é necessário citar o maravilhoso trabalho de Winslet, encarregada de interpretar nossa adorável (“pero no mucho”) protagonista. “Pero no mucho” pelo simples motivo de que Mare é real: comete erros, muitas vezes é seca com a mãe (que também pode ser bem direta com ela), nem sempre dá a devida atenção para sua filha, se recusa a cumprir ordens do chefe. Em meio a todas essas contradições, Mare pode ser adoravelmente desagradável ou desagradavelmente adorável. Ela é crível, quase existe, quase tem vida própria.


Além dos excelentes veteranos James McArdle (Deacon Burton), Jean Smart (Helen) e Robert Tann (Billy Ross), o elenco mais jovem de "Mare of Easttown" também não deixa a desejar e protagoniza momentos carregados de dor. Prepare-se: seu emocional provavelmente não ficará intacto com o fim que leva um dos personagens jovens. Outro nome responsável por dilacerar nossos corações é o de Julianne Nicholson (Lori Ross), excelente atriz que entrega muito em cenas difíceis.


O último episódio da minissérie, intitulado "Sacrement", é um show de duas atrizes que, justamente por serem tão espetaculares, nos fazem esquecer que Winslet e Nicholson estão em cena. Naquele momento, vemos apenas Mare e Lori, duas amigas que sofrem, se protegem e se amam. A emocionante cena final é um lembrete importante de que muitas vezes precisamos de tempo (e também de escuta) para lidarmos com nossos machucados e encararmos sótãos empoeirados.

Levando em conta o fato de Damon Lindelof, produtor da série "Watchmen", ser fã assumido de "Mare of Easttown" (há ainda uma gratificante piscadela da série para o Dr. Manhattan), é válido pegar carona numa frase dessa outra excelente produção da HBO. Afinal de contas, “feridas precisam de ar, não de máscaras”.


Ficha técnica:
Direção:
Craig Zobel
Criação: Brad Ingelsby
Exibição: HBO e HBO Max
Duração: média de cada episódio de 60 minutos (1ª Temporada - 7 episódios)
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Drama / Policial