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04 junho 2024

“Jardim dos Desejos” - quando os espinhos do passado voltam para ferir o presente

Thriller dirigido por Paul Schrader foi premiado nos festivais internacionais de cinema de Cannes, Veneza
e Berlim (Fotos: Pandora Filmes)


Eduardo Jr.


Estrelado por Joel Edgerton, Sigourney Weaver e Quintessa Swindell, estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 6 de junho, o longa “Jardim dos Desejos” ("Master Gardener"), premiado nos festivais internacionais de cinema de Cannes, Veneza e Berlim. 

Distribuído pela Pandora Filmes, o filme apresenta a mudança na vida de um jardineiro que se esconde de seu passado em meio às plantas. Ou seria ele uma metáfora de plantas que parecem inofensivas, mas guardam espinhos? 


O diretor Paul Schrader coloca em sua nova realização personagens que vão, gradualmente, se revelando para o espectador. “Jardim dos Desejos” fecha um ciclo iniciado em 2017 com “Fé Corrompida” (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original e vencedor do Independent Spirit Award de Melhor Ator para Ethan Hawke). A continuação veio com “O Contador de Cartas”, de 2021, que tem no elenco Oscar Isaac, Tye Sheridan e Willem Dafoe.


Tudo começa quando a Sra. Haverhill (Sigourney Weaver - “Alien”, 1979 e “Êxodo: Deuses e Reis”, 2014), dona dos Jardins Gracewood, pede ao jardineiro Narvel Roth (Joel Edgerton, que também atuou em “Êxodo: Deuses e Reis”) para receber e ensinar o trabalho a Maya (Quintessa Swindell - “Adão Negro”, 2022), sua problemática sobrinha-neta. 

A chegada da jovem instaura o caos naquele ambiente de beleza e serenidade, e também na vida de Narvel, com seu cabelo alinhado estilo militar. 


Nas aparições da Sra. Haverhill e nas interações entre tia e sobrinha-neta, vamos percebendo o perfil da personagem de Sigourney Weaver e a personalidade de Maya. Na aproximação da jovem com o tutor, descobrimos o passado de Narvel - e mais tarde, porque ele chegou ali. 

Durante uma hora e 51 minutos o espectador acompanha um homem de passado violento sendo protetor, se agarrando a uma vida tranquila, e inclinado a retomar a brutalidade de tempos atrás. Não é a primeira vez que o diretor se dedica a investigar sofrimentos, reclusões e mudanças de vida. 


Em “Jardim dos Desejos”, o público se depara com suspense, drama, road movie e personagens entregando arrogância, rebeldia, fragilidade, violência. Encontra também a recompensa em uma estrada que vai se iluminando, se tornando florida quando se abraça à redenção. 

Este é um filme que não precisa de tiros e explosões para impactar. Tem silêncios tão provocativos quanto outros textos elaborados. Assista e decida se essa redenção é, de fato, possível. 


Ficha Técnica:
Direção e roteiro: Paul Schrader
Distribuição: Pandora Filmes
Exibição: nos cinemas e já em exibição na sala 2 do Centro Cultural Unimed-BH Minas, com sessão às 21 horas
Duração: 1h51
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: thriller, romance, suspense

21 novembro 2023

“Um Pai, Um Filho” aborda perdas e relações familiares dentro da cultura chinesa

Road movie que mistura drama e comédia é parte da programação de festival gratuito de cinema chinês (Fotos: Gabriela Vargas Mor/Divulgação)


Eduardo Jr.


Se você se pergunta o que esperar de um filme chinês, a resposta pode ser “emoção”, caso a obra escolhida seja “Um Pai, Um Filho” (“Like Father and Son” - 2023). O longa do cineasta Bai Zhiqiang chega ao Brasil como um dos títulos da 8ª Mostra de Cinema Chinês de São Paulo. 

A exposição, online e gratuita, é realizada pelo Instituto Confúcio, na Unesp - Universidade Estadual Paulista, em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, e está disponível na plataforma da Spcine Play: https://www.spcineplay.com.br 


Vencedor do Beijing International Film Festival na categoria “Excellent Product in Progress Award”, o longa mistura drama e comédia. Nele, Gouren (Hui Wangjun) toca a vida enquanto tenta sufocar o sofrimento da perda do filho. Até que seu caminho se cruza com o do endiabrado Mao Dou (Ba Zeze), que sonha reencontrar o pai. 


Neste road movie, Gouren viaja de caminhão por vilarejos, vendendo produtos e tirando fotografias. Uma de suas clientes fotografada é a avó de Mao Dou (Ma Guilan). 

Na apresentação das personagens fica implícito que ela esconde do neto o que realmente aconteceu ao pai do garoto, que idolatra a única foto que tem do homem que deveria criá-lo. 


A revolta e inadequação do menino parecem ser o combustível para que ele deixe o vilarejo o quanto antes para encontrar o pai. A solução está justamente em Gouren. 

O encontro dos dois rende momentos cômicos e tocantes. Junta-se a isso momentos em que a fotografia salta um pouco aos olhos do espectador.  


Embora o roteiro não traga originalidade, na reta final a história parece crescer e encontrar seu eixo. E aí o título da obra passa a fazer sentido, não se referindo estritamente aos protagonistas na tela. Um longa que arranca risos e lágrimas daqueles mais atentos aos aspectos românticos da obra. 


“Um Pai, Um Filho” integra a seleção de 12 obras do Festival, que mistura ficções e documentários, inéditos no país. Os títulos exibidos em cinemas de São Paulo entre 6 e 15 de outubro podem ser conferidos online. Após se cadastrar no site do Instituto Confúcio, o espectador recebe o acesso à programação. A mostra se encerra dia 30 de novembro.  


Ficha Técnica:
Direção: Bai Zhiqiang
Exibição: online e de graça, até 30/11, pelo site https://mostracinema.institutoconfucio.com.br
Duração: 1h37
Classificação: livre
País: China
Gêneros: drama, comédia

15 março 2023

Com pegada feminina, “La Situación” é inteligente, perspicaz e não tem nada de comédia romântica

Uma viagem à Argentina coloca Thati Lopes, Natália Lage e Júlia Rabello  entre as mais procuradas pela polícia (Fotos: Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Que ninguém se engane. O filme “La Situación”, dirigido por Tomás Portella, não tem nada da tradicional comédia romântica como pode parecer na sinopse ou no início da projeção. 

Trata-se de uma produção deliciosamente inteligente e engraçada, capaz de provocar muitas risadas com os perrengues vividos por três mulheres cujas vidas não andam excitantes nem felizes.

No elenco, Natália Lage (Ana), Júlia Rabello (Letícia) e Thati Lopes (Yovanka), se encarregam de imprimir uma pegada ágil de humor bem ao estilo Porta dos Fundos. A estreia nos cinemas é dia 23 de março.


Letícia e Ana são duas amigas que não estão vivendo exatamente os melhores momentos de suas vidas. 

A primeira vive um casamento morno com um marido zen (Marcelo Gonçalves) e está sempre às voltas com o cuidado com os filhos, uma criançada teimosa e bagunceira.

A segunda tem um trabalho burocrático, anda solitária e sofre horríveis cólicas menstruais que limitam sua vida. 

Para complicar, está hospedando em sua casa, a mais tempo do que gostaria, uma prima jovem, Yovanka, mocinha atrevida e meio maluquete, sempre envolvida com todo tipo de medicamento e drogas ilícitas.


Férias alucinadas

A aventura das três – duas amigas e uma intrusa – começa quando Ana, interpretada na medida por Natália Lage, recebe a notícia de que sua avó teria deixado de herança um valiosíssimo terreno na Argentina, para onde ela deveria ir tomar posse da propriedade.

Claro que a amiga Letícia – numa atuação cheia de nuances de Júlia Rabello - se oferece para acompanhá-la visando, quem sabe, a umas breves férias de marido e filhos.


Para completar o trio, Yovanka se intromete na viagem. O papel é feito por Thati Lopes, talvez a mais engraçada das três e responsável pelas mais inusitadas situações vividas por elas. Estão ainda no elenco Roberto Soares e Soledad Pelayo.

Só para dar ao espectador a falsa impressão de que esta será mais uma comédia romântica, logo no início, já dentro do avião, as três conhecem Antônio, interpretado por Dudu Azevedo, que imprime a seriedade possível dentro de tantas gargalhadas.


Traficantes, drogas e perseguição

Na viagem, as três se envolvem com traficantes violentos - quase um clichê quando se trata de América Latina - correm riscos e se metem em fugas perigosas. 

Detalhes maliciosos como uma falsificadíssima logomarca da Apple numa loja em algum canto do Paraguai, e o chefão do tráfico completamente gago tentando ser mau, são nuances que ajudam a enriquecer o filme.


Não seria exagero dizer que “La Situación” é um filme feminino. Afinal, embora dirigido por um homem, o roteiro foi escrito por duas mulheres: Carolina Castro e Natália Klein. 

Há entraves e perrengues íntimos vividos por elas, os quais só as mulheres são capazes de compreender e, consequentemente, rir.

Os diálogos ligeiros e a forma como as jovens vivem situações inusitadas antes mesmo de embarcar rumo à Argentina fazem desse road movie rodado no Uruguai uma imperdível e oportuna comédia.


Ficha técnica:
Direção:
 Tomás Portella
Produção: Migdal Filmes / Caravela Filmes
Distribuição: Star Distribuction
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
País: Brasil, Argentina, Uruguai
Gêneros: comédia, aventura