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18 outubro 2024

"Marias" é um mergulho documental nas lutas de icônicas mulheres

Longa revisita e revaloriza a presença feminina na história política do Brasil (Fotos: Descoloniza Filmes)


Silvana Monteiro


A diretora Ludmila Curi oferece um panorama inédito sobre a luta das mulheres brasileiras no documentário "Marias", que estreou no Cine UNA Belas Artes. Costurando narrativas de figuras icônicas como Maria Prestes, Marielle Franco e Dilma Rousseff, o longa não é apenas uma homenagem, mas uma necessidade urgente de revisitar e revalorizar a presença feminina na história política do Brasil, frequentemente ofuscada por uma narrativa predominantemente masculina.

A obra se destaca pela sua capacidade de estabelecer conexões entre mulheres de diferentes épocas e contextos, revelando um legado de  luta e resistência que atravessa gerações de diferentes formas, seja no âmbito político, seja no âmbito social ou apenas na busca pela sobrevivência. 


Usando uma montagem cuidadosa, Curi constrói um mosaico que evidencia como essas mulheres, muitas vezes silenciadas, moldaram a sociedade brasileira. A escolha de não dar voz direta a Maria Prestes, optando por uma narração que faz ecoar suas ideias e ações, é uma decisão ousada que sublinha a força da imagem e do contexto. A ausência da voz da protagonista é compensada pela vivacidade das histórias contadas, que se entrelaçam e revelam uma luta contínua por direitos e igualdade.

Curi, ao longo de cinco anos de filmagens, mergulhou nas memórias e na trajetória de Prestes, revelando uma mulher não apenas como esposa de um político, mas como uma figura central na construção de um Brasil mais justo. 

O documentário se revela um exercício de memória coletiva, uma evocação à luta que ainda ressoa nos dias de hoje. As imagens de protestos, discursos e o cotidiano das mulheres são intercaladas com trechos de entrevistas, permitindo uma reflexão sobre as estruturas sociais que persistem.


Além disso, "Marias" faz um trabalho essencial de resgate de figuras que foram apagadas da história, como Olga Benário e Maria Bonita, ampliando a compreensão do papel das mulheres na luta por justiça social. 

As referências a eventos contemporâneos, como os movimentos contra o golpe de 2016 e as manifestações por justiça para Marielle Franco, ancoram a narrativa em um presente ainda tumultuado, ressaltando que a luta não é apenas histórica, mas profundamente atual.

A cinematografia do filme, ao capturar a essência das personagens e suas histórias, traz à tona a resiliência e a força das Marias que se levantam contra as adversidades. As cenas de arquivo são particularmente impactantes, evocando um senso de urgência e importância nas narrativas de mulheres que, embora esquecidas, desempenharam papéis cruciais na história do Brasil.


Produzido pela Plano 9 e Lumiá Filmes, com distribuição da Descoloniza Filmes, "Marias" chega também aos cinemas de cidades como Aracaju, Brasília, Palmas, Rio de Janeiro e Salvador, convidando um público amplo a se envolver com essas histórias. 

O longa, que estreia em um momento de intensos debates sobre a participação feminina na política, não se limita a um público específico; ele se destina a todos e todas que buscam entender a complexidade da luta das mulheres. 


"Marias" é um chamado à ação, uma lembrança de que a história é feita por aqueles que lutam por ela. Como Curi acerta ao afirmar, "este é um filme sobre todas nós, convidando o espectador a refletir sobre a luta contínua por igualdade e justiça". 

Com isso, o documentário se afirma como uma obra necessária, que ilumina as vozes das Marias e inspira a construção de um futuro mais inclusivo. Marias de todas nós. Marias de luta e resiliência. Um documentário para ser visto por homens e mulheres.


Ficha técnica
Direção e roteiro: Ludmila Curi
Produção: Plano 9 e Lumiá Filmes
Distribuição: Descoloniza Filmes
Exibição: sala 2 do Cine Una Belas Artes, sessão das 16h30
Duração: 1h18
Classificação: 12 anos
País: Brasil
Gênero: documentário

14 outubro 2024

Cine Humberto Mauro apresenta, de graça, mostra “Pequenos Grandes Protagonistas” de cinema infantil

Sessões acontecem sempre à tarde exibindo obras como “As Crônicas de Nárnia”, “Harry Potter” e
"O Menino Maluquinho" (Fotos: Divulgação)


Da Redação


Celebrando o Mês das Crianças, o Cine Humberto Mauro apresenta até o dia 22 de outubro a mostra “Pequenos Grandes Protagonistas”, com longas-metragens feitos entre os anos 1930 e 2010, que serão exibidos em sessões gratuitas. 

A programação traz uma seleção especial de filmes que abordam o mundo sob a perspectiva infantil, retratando a curiosidade, a fantasia e os desafios próprios da juventude. Grande parte dos longas será dublada em português e a retirada de ingressos deverá ser feita a partir de meia hora antes do evento.

"Harry Potter e a Pedra Filosofal" (Chris Columbus)

Os espectadores poderão conferir uma seleção diversificada de obras clássicas e nostálgicas voltados para o público infantil e familiar como “Os Goonies” (1985), "Conta Comigo" (1986), “O Jardim Secreto” (1993), "A Princesinha" (1996), além de “Harry Potter e a Pedra Filosofal” (2001), que promete encantar as novas gerações. 

Outros sucessos como “Crooklyn – Uma Família de Pernas pro Ar” (1994), “Matilda” (1996), “As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa” (2005) e "Indomável Sonhadora" (2012) complementam a lista.

Serão apresentados ainda filmes que já se tornaram parte do imaginário coletivo, com produções brasileiras como “O Menino no Espelho” (2014), em homenagem ao cineasta mineiro Guilherme Fiúza Zenha, e “O Menino Maluquinho” (1995), celebrando a obra de Ziraldo.

"As Crônicas de Nárnia" (Walt Disney Pictures)

Foco nas narrativas infantis

A mostra “Pequenos Grandes Protagonistas” busca valorizar as narrativas infantis. As sessões são uma oportunidade para as novas gerações conhecerem esses clássicos do cinema e, ao mesmo tempo, uma chance para os adultos reviverem momentos inesquecíveis da infância. “Essa seleção traz um conjunto de filmes que vai gerar muita identificação nos espectadores, tanto no público infantojuvenil, que vai se ver ali retratado nas telas, como também em nós adultos, que já vivemos aqueles momentos. A gente passou por aquelas questões que os personagens estão passando, e hoje podemos assisti-las com uma certa distância", explica Vitor Miranda, gerente de Cinema da Fundação Clóvis Salgado e programador da mostra.

Ainda segundo Vitor Miranda, são filmes que têm uma abordagem de público muito ampla, especialmente através das sessões dubladas. "É uma seleção que traz um pouco da nostalgia da Sessão da Tarde, mas que também joga foco nos cinemas brasileiro e mineiro, com obras como 'O Menino Maluquinho' e 'O Menino no Espelho", afirmou.

"O Menino Maluquinho" (Helvécio Ratton)

PROGRAMAÇÃO

15/10 TER
16h - Harry Potter e a Pedra Filosofal (Harry Potter and the Sorcerer’s Stone, Chris Columbus, Reino Unido, EUA, 2001) | Livre | 2h32 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.
19h - CURTA CIRCUITO | Preparação-1 (Letícia Parente, Brasil, 1975) | Livre |3min.
Feminino Plural (Vera Figueiredo, Brasil, 1976) | 14 anos | 1h20

16/10 QUA
14h - O Jardim Secreto (The Secret Garden, Agnieszka Holland, EUA, 1993) | Livre | 1h41 | Filme exibido dublado em português.
16h - A Princesinha (A Little Princess, Alfonso Cuarón, EUA, 1995) | Livre | 1h37 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.
18h30 - As Crônicas de Nárnia: O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa (The Chronicles of Narnia: The Lion, the Witch and the Wardrobe, Andrew Adamson, EUA - Reino Unido, 2005) | 10 anos | 2h30 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.

17/10 QUI
16h - Menino Maluquinho: O Filme (Helvécio Ratton, Brasil, 1995) | Livre | 1h23
18h - O Menino e o Mundo (Alê Abreu, Brasil, 2013) | Livre | 1h16
19h30 - O Menino no Espelho (Guilherme Fiúza Zenha, Brasil, 2014) | Livre | 1h18

18/10 SEX
13h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
15h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
17h30 - O Gigante de Ferro (The Iron Giant, Brad Bird, EUA, República Tcheca, Reino Unido, 1999) | Livre | 1h26 | Dublado em português.

"O Menino no Espelho" (Guilherme Fiúza)

19/10 SÁB
13h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
15h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
17h30 - Conta Comigo (Stand by Me, Rob Reiner, EUA, 1986) | Livre | 1h30 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.
19h15 - Os Goonies (The Goonies, Richard Donner, EUA, 1985) | Livre | 1h54 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.

20/10 DOM
14h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
15h - 4ª Mostra de Cinema Infantil de Belo Horizonte
18h - Matilda (Danny DeVito, EUA, 1996) | 10 anos | 1h38 | Filme exibido dublado em português.
20h - LANÇAMENTO: Travessia e Devoção (Lucas Lara, Brasil, 2024) | Livre | 1h

22/10 TER
16h30 - Crooklyn - Uma Família de Pernas pro Ar (Crooklyn, Spike Lee, EUA, 1994) | 14 anos | 1h55 | Filme exibido no idioma original com legendas em português.
19h - Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild, Benh Zeitlin, EUA, 2012) | 10 anos | 1h33 | Filme exibido no idioma original com legendas em português

"Os Goonies" (Richard Donner)

Serviço:
Mostra “Pequenos Grandes Protagonistas”
Data: até 22/10
Horários: Diversos
Local: Cine Humberto Mauro – Palácio das Artes - Avenida Afonso Pena, 1537, Centro
Classificação indicativa: Variada conforme a programação
Entrada: gratuita, com retirada de ingressos a partir de meia hora antes do início das sessões

09 outubro 2024

"Robô Selvagem", uma animação comovente e forte candidata ao Oscar

Roz é uma máquina que terá que se reprogramar para conseguir sobreviver ao novo mundo e seus habitantes (Fotos: DreamWorks Animation)


Maristela Bretas


Lindo, comovente, cheio de aventuras e capaz de derreter muitos corações. Este é "Robô Selvagem" ("The Wild Robot"), animação que estreia nesta quinta-feira (10), nos cinemas e promete encantar crianças e adultos ao abordar temas universais como família, aceitação das diferenças e a importância da amizade.

A história reúne natureza e tecnologia num mesmo espaço e gira em torno da robô Roz (voz de Lupita Nyong'o, de "Nós" - 2019 e dublagem de Elina de Souza em português). Ela cai em uma ilha isolada e ao abrir os olhos pela primeira vez não tem a menor ideia de como foi parar ali.


Para sobreviver à vida selvagem, Roz precisará se reprogramar para o novo ambiente e conquistar a confiança dos habitantes locais, alguns até bem ferozes. Uma tarefa que se torna ainda mais complexa quando um acidente a transforma em "mãe" adotiva de um filhote de ganso, batizado de Bico Vivo (vozes de Boone Storme quando bebê e do ator mirim Vicente Alvite; quando adulto, Kit Connor e Gabriel Leone, de "Eduardo e Mônica" - 2022).

"Robô Selvagem" é baseado no best-seller infantojuvenil homônimo de 2016, do escritor e ilustrador Peter Brown, que originou duas sequências literárias - "The Wild Robot Escapes" (2017) e "The Wild Robot Protects" (2023). Ainda sem tradução no Brasil, as duas obras também se tornaram sucesso e ganhadoras de prêmios literários.


A narrativa é rica em metáforas sobre o amadurecimento e a construção de laços. Rozzum 7134, chamada de Roz, é uma robô, inicialmente vista como uma estranha, reflete a jornada de qualquer indivíduo que busca ser aceito em um novo ambiente. A direção e o roteiro são de Chris Sanders, três vezes indicado ao Oscar e responsável pela franquia "Como Treinar Seu Dragão" (2010 a 2019), também da DreamWorks Animation.

A relação que se desenvolve entre ela, o pequeno Bico-Vivo e a raposa Astuto (dublagens de Pedro Pascal, das séries "The Last of Us" - 2023 - e "The Mandalorian" - 2019 a 2023; e Rodrigo Lombardi) traz à tona a beleza da diversidade. Mostrando que a união entre diferentes espécies – e, por extensão, diferentes indivíduos – pode resultar em uma verdadeira família.


Visualmente, "Robô Selvagem" é um deleite. A animação apresenta um estilo vibrante e cativante, com cores vivas que tornam a ilha um lugar mágico, onde cada canto parece pulsar com vida. A trilha sonora, cuidadosamente escolhida, complementa a experiência, realçando os momentos de tensão e alegria.

A obra traz lições sobre aceitação e amor familiar abordadas de maneira sensível, que nos fazem rir e chorar. Inicialmente, Roz age como um robô de serviços gerais, mas ao longo da trama, a emoção vai ocupando lugar na programação automatizada, quase como se ele tivesse um coração de verdade.

A química entre os protagonistas é um dos pontos altos do filme. A dinâmica entre Roz, Bico-Vivo e Astuto traz humor e emoção, tornando a jornada deles não apenas uma busca por aceitação, mas também uma celebração das diferenças que nos tornam únicos.


No elenco de dubladores estão também outros nomes conhecidos do cinema: Catherine O'Hara ("Os Fantasmas Ainda Se Divertem - Beatlejuice, Beatlejuice" - 2024), como a gambá Pinktail; Bill Nighy ("A Livraria" - 2018) no papel do ganso Longneck; Mark Hamill (franquia "Star Wars" - 1977 a 2019 e "O Menino e a Garça"), como Thorn; Stephanie Hsu ("Tudo em Todo o Lugar ao mesmo Tempo" - 2022, e "O Dublê" - 2024), dando voz à robô Vontra; Ving Rhames (franquia "Missão: Impossível" - 1996 a 2025), e Matt Berry ("O Que Fazemos nas Sombras" (2014) e a franquia Bob Esponja).

A DreamWorks acertou em tudo. "Robô Selvagem" é uma animação encantadora que consegue transmitir mensagens valiosas e deixar a sensação de quero mais. É uma experiência que vale a pena ser vivida no cinema, especialmente por famílias que buscam um filme que reúne diversão e reflexões profundas. E não se esqueça de levar o lencinho!


Ficha técnica
Direção e roteiro: Chris Sanders
Produção: DreamWorks Animation, Universal Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h42
Classificação: Livre
País: EUA
Gêneros: animação, aventura, família, infantil

27 setembro 2024

"Ainda Somos os Mesmos" dialoga com a nossa atualidade

Drama baseado em fatos reais da década de 1970 no Chile foi filmado na Cordilheira dos Andes, Santiago, Porto Alegre e Novo Hamburgo (Fotos: Edson Filho)


Eduardo Jr.


Baseado nos relatos de brasileiros que se abrigaram na Embaixada Argentina no Chile após o golpe de estado dos militares chilenos, o longa “Ainda Somos os Mesmos” já está em cartaz nos cinemas. O filme é dirigido por Paulo Nascimento (que já realizou “Teu Mundo Não Cabe nos Meus Olhos”, de 2016) e distribuído pela Paris Filmes. 

Além da temática interessante e das imagens da época na abertura, outro atrativo reside em uma curiosidade sobre o longa: o filme é inspirado em outra obra do mesmo diretor (“Em Teu Nome”, de 2010). 

Um dos relatos que auxiliaram na construção do longa veio de João Carlos Bona Garcia, gaúcho e ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) que ficou 42 dias abrigado na embaixada da Argentina em 1973 e sobreviveu. 


A história do revolucionário fez parte de “Em Teu Nome”, e Bona também participou das leituras do roteiro de “Ainda Somos os Mesmos”. Mas faleceu aos 74 anos, em março de 2021, vítima de Covid, poucos dias antes de poder se vacinar. 

No longa "Em Teu Nome", um estudante de engenharia entra para a luta armada, e teme por sua namorada e por sua família. Em “Ainda Somos os Mesmos”, o estudante de medicina Gabriel (Lucas Zaffari) vai para o Chile para fugir da ditadura no Brasil, mas é surpreendido pelo golpe de estado de Augusto Pinochet e se perde da namorada. 

Ao se abrigar na embaixada da Argentina, ele conhece Clara (Carol Castro) e também reencontra outros brasileiros, o que movimenta a trama em determinados momentos. 


O filme dialoga com a nossa atualidade. Fernando (personagem de Edson Celulari) é o pai de Gabriel, e vive um empresário apoiador do militarismo. Mas se arrepende quando fica diante do risco de perder o filho ao ouvir que aquilo é necessário, que os atos são feitos em nome de Deus. 

Cabe a ele a missão de tentar resgatar Gabriel e os outros brasileiros no Chile, que na época era considerado um dos países mais perigosos do mundo por conta da ditadura de Pinochet. A presença de crianças e gestantes naquele contexto de violência escancara a falta de escrúpulos dos regimes militares. 


Embora filmado na Cordilheira dos Andes e também em Santiago, Porto Alegre e Novo Hamburgo, que propiciam uma boa fotografia, o longa ganha ares de novela com as músicas guiando cenas e emoções. Além de algumas atuações que se mostram em outra frequência em relação ao restante do elenco. 

Outro ponto a se observar é que, em alguns momentos, o texto parece usar expressões modernas demais para os anos 1970. Ainda assim, a tensão marca presença e mantém o interesse do espectador no filme. 


O longa também chamou a atenção de julgadores. Ganhou o prêmio de Melhor Filme Independente no Montreal Independent Film Festival 2023, se tornando mais um na lista de premiados da Paris Filmes. A distribuidora tem em seu catálogo, entre outros títulos, “O Lado Bom da Vida” (2012), que rendeu um Globo de Ouro e um Oscar de Melhor Atriz para Jennifer Lawrence. 

E “Meia Noite em Paris” (2011), que ostenta o título de maior bilheteria de um filme de Woody Allen no Brasil. Além das franquias “John Wick” (de 2014 a 2023) e "Jogos Vorazes" (2012 a 2023), e de sucessos como “Minha Irmã e Eu” (2024) e "La La Land - Cantando Estações" (2017).


Ficha Técnica:
Direção, roteiro e produção: Paulo Nascimento
Produção: Accorde Filmes
Distribuição: Paris Filmes
Exibição: nos cinemas das redes Cineart Del Rey e Cinemark Diamond Mall e Pátio Savassi
Duração: 1h30
Classificação: 14 anos
Países: Brasil e Chile
Gêneros: drama, história, suspense

24 setembro 2024

"Meu Avô: Campeão do Gelo" é mais que um filme sobre futebol

Moreno, ex-jogador do Atlético Mineiro na década de 1950 e avô do Bernardo Franco (Fotos: Bernardo Silveira/Divulgação


Maristela Bretas


Um filme sobre lembranças, futebol, grandes momentos e família. Este é o curta-metragem "Meu Avô: Campeão do Gelo" que terá exibição especial nesta terça-feira (24) no Cine Santa Tereza, às 19 horas. Produzido, dirigido e roteirizado por Bernardo Silvino e Bernardo Franco, o filme apresenta um pouco da vida do Moreno, ex-jogador do Clube Atlético Mineiro na década de 1950 e avô do Bernardo Franco.

O documentário "Meu Avô: Campeão do Gelo", segundo seus produtores, é mais que um filme sobre futebol. "Nós procuramos falar de um homem, seus erros e acertos e pensando muito que todos nós somos luz e sombra. Foi um processo bem rico e cheio de medo e incertezas. Sem verba e só nós dois na linha de frente", explica Silvino.

O filme reconstrói a trajetória de Jacinto Franco do Amaral, o Moreno, ex-jogador do Clube Atlético Mineiro (CAM) e um dos craques a participar da mais afetuosa das conquistas do Galo, que, na década de 1950, sagrou-se o primeiro plantel brasileiro a lutar – e vencer – nos gélidos gramados europeus. Enquanto o neto Bernardo se (re)descobre, ao desvendar e abraçar o ídolo, o homem, o avô, atleticanos de todas as idades reconectam-se, frame a frame, às glórias alvinegras, ao ver e ouvir a grandiosa singeleza do relato de amores e amigos de Jacinto.


Conversei com os dois Bernardo sobre a produção do curta-metragem e a história do avô de Franco. E é o neto de Moreno quem fala sobre a ideia de contar esta história em forma de curta-metragem. "O cinema é uma paixão há muito tempo, esse laço se estreitou quando conheci o Bernardo Silvino que já atuava na área, e contava com alguns curtas na carreira, que eu muito admirava. A figura de meu avô sempre foi uma parte misteriosa da minha vida. Claro, que crescemos escutando que "éramos campeões do Gelo". Nossa família está no hino do Galo, dizia meu pai. Essa história floresceu e cresci apaixonado pelo Galo com um legado na cabeça." 

"Acontece que tive contato com meu avô somente até meus 4 para 5 anos, o homem que eu conheci usava uma cadeira de rodas, tinha uma perna só, depois nenhuma. Eu ficava tentando imaginar como essa figura outrora teria sido um jogador de futebol, que como diz a medalha guardada há anos na família dizia: honrou o Brasil nos campos da Europa. Ao me aproximar do cinema, quis me aprofundar nessa história, saber quem foi meu avô, como ser humano antes de qualquer coisa. E o filme me fez próximo dele de uma maneira que não fui em vida. Eu queria saber qual história ele escondia, e trabalhar a dualidade de toda uma existência. Meu avô foi vilão e herói de sua própria história, mas sempre protagonista, e acho que isso fica claro em nossa narrativa. Sinto como se o filme fosse algo que eu teria de fazer, cedo ou tarde", afirmou Bernardo Franco.


Ele conta que procurou Bernardo Silvino com a ideia em mãos em dezembro de 2023 e fomos amadurecendo a ideia e que rapidamente foi colocada em prática. Foram cerca de 8 a 9 meses para a produção. Sobre o levantamento de verba, eles tiveram sérias dificuldades e ainda continuam procurando patrocinadores. Por enquanto, a dupla está bancando todo o projeto, "com muito esforço, na "raça" mesmo".

Silvino explicou que a pré-produção e a produção foram etapas feitas a quatro mãos: dele e do amigo. Para a pós-produção eles contaram com parceiros de outros projetos que elevou o nível do filme. Matheus Fleming, mais uma vez, topou participar com as suas composições. Bernardo Silveira (o terceiro  da equipe) fez o projeto gráfico e o cartaz, enquanto a mixagem e a finalização de som ainda com o trabalho de Thácio Palanca.

Para a filmagem e fotografia, os equipamentos usados, também da dupla, foram uma antiga Blackmagic Production Camera. "Para as entrevistas usamos uma Rokinon Cine 35mm. Para a gravação na arena MRV usamos uma Canon 55-250mm que é uma lente super barata. Foi um desses "acidentes felizes" porque esta lente foi imprescindível para o material que conseguimos no estádio. O processo de color grading é um capítulo à parte. Ele foi feito da maneira mais incomum possível. Mas o resultado chegou e isso foi fascinante", explica Silvino com satisfação. 


Já as locações foram pensadas para que os entrevistados ficassem sempre à vontade e os produtores conseguissem maior naturalidade deles. "Todos gravaram em suas casas, com exceção do Vavá, ex-jogador do Atlético, que foi entrevistado na sede de Lourdes. E tivemos um grande desafio que era a gravação na Arena MRV que já sabíamos que seria o fechamento do filme. As fotografias são do arquivo da família do Bernardo Franco. Como já existe um filme oficial do clube sobre o Campeonato do Gelo e com imagens raríssimas de arquivos, nós tomamos a decisão de trabalhar somente com as fotos de família e deixar a história oficial e mais institucional para esse filme do centro de memória do clube", concluiu Silvino.

O próximo passo dos produtores agora será a participação no circuito de festivais do cinema brasileiro. Franco espera rodar com o curta-metragem por cidades do interior de Minas e do Brasil, e não esconde a ambição de exibir "Meu Avô: Campeão do Gelo" em Betim, na Região Metropolitana de BH, que é a cidade de seu avô e em alguma cidade da Europa onde ele tenha jogado.


SERVIÇO
"Meu Avô: Campeão do Gelo"
Direção, roteiro e produção:
Bernardo Silvino e Bernardo Franco
Distribuição: Coragem Filmes
Exibição: sessão no Cine Santa Tereza
Data: 24 de setembro (terça-feira)
Horário: 19 horas
Classificação: Livre

23 setembro 2024

Perturbador, “A Substância” escancara os horrores da sociedade patriarcal

Demi Moore entrega cenas extremamente fortes e angustiantes, em uma de suas melhores atuações
(Fotos: Universal Pictures)


Carolina Cassese


A partir de determinada idade, mulheres são descartadas. É exatamente isso que acontece com a protagonista do filme “A Substância" ("The Substance"), novo longa da diretora francesa Coralie Fargeat. A história é centrada em Elisabeth Sparkle (Demi Moore), uma atriz de Hollywood que passa a trabalhar como apresentadora de televisão. 

Logo no começo do body horror, a protagonista descobre que será substituída na emissora, que agora busca uma mulher de 18 a 30 anos para apresentar a atração fitness comandada por Sparkle. Em uma das primeiras cenas do filme, a personagem principal incentiva as espectadoras a conseguir “um corpo de verão”.


Quando vê seu emprego ser ameaçado, Elisabeth decide buscar um programa de “aprimoramento” corporal, conhecido como “A Substância”. O tratamento oferece a possibilidade de você se tornar “uma melhor versão de si mesmo”. A partir de uma injeção autoadministrada, qualquer um pode se tornar uma alternativa mais jovem, bonita e perfeita de si próprio.

A personagem principal, então, recebe diversos equipamentos médicos em sacos plásticos (seringas, tubos, um líquido verde fosforescente e um alimento injetável branco) e é informada sobre o protocolo referente ao seu “novo eu”. 

Ao longo das semanas, porém, a nova versão de Elisabeth – uma garota chamada Sue, interpretada por Margareth Qualley – acaba se mostrando mais problemática do que a personagem principal poderia imaginar. 


Mesclando elementos de ficção científica com outros componentes frequentemente vistos em filmes de horror, o longa acompanha a nova vida da protagonista, que agora se divide em duas. 

Sue leva uma rotina de celebridade, apresentando o programa fitness e sendo filmada a partir de muitos ângulos objetificadores. Enquanto Elisabeth vive cada vez mais isolada, sem conseguir compreender qual é o propósito de sua versão fora dos holofotes.

Em determinado momento, vemos que Elisabeth começa a se comparar com Sue de uma maneira pouco saudável, o que a impede de sair para jantar com um pretendente. Ao observar as imagens do corpo “perfeito” de sua outra versão, a protagonista passa horas se maquiando e, em seguida, fica paralisada, sem conseguir sair de casa. 

É triste (e aterrorizante) perceber que aquela mulher se sente inferior a todos, até mesmo ao homem com quem ia jantar, que não parece ter sérias preocupações com a própria estética. Essa é uma das cenas mais violentas do longa, mesmo que não mostre sequer uma gota de sangue. 


Vale destacar que a discussão apresentada pelo filme é imprescindível para os dias atuais. Em primeiro lugar, porque vivemos numa sociedade repleta de imagens, em que nos deparamos constantemente com ideais de estética inalcançáveis. 

As estrelas de cinema agora dividem a atenção (e a tela) com influencers, especializados em exibir diferentes ângulos de uma vida instagramável. Em “A Substância”, a protagonista está disposta a sentir muita dor para que, por uma versão de si mesma, continue a ser jovem e apareça nas telas.

Além disso – e aqui vai uma perspectiva menos pessimista sobre o momento em que nos encontramos–, o filme dialoga com discussões contemporâneas sobre etarismo e outros tipos de preconceitos que inevitavelmente são associados com o sistema patriarcal. 

Debatemos cada vez mais acerca das imposições machistas dirigidas às mulheres e, nesse sentido, “A Substância” aborda um assunto muito atual (mesmo que não seja novo).


Podemos lembrar aqui de uma frase da atriz e ativista Jameela Jamil, que em 2018 publicou um texto sobre preconceito estético no site da Glamour: “E quantas mulheres você conhece, incluindo você mesma, que gastam mais tempo e dinheiro do que os homens com aparências? 

Esse é um dinheiro que poderia ter sido investido em nossas vidas ou negócios. E o que dizer das mulheres que comem menos calorias ou dietas balanceadas do que seus corpos precisam?”. 

Em “A Substância”, percebemos como as mulheres são frequentemente reduzidas a números e tamanhos. Até mesmo ao ligar para o programa de aprimoramento corporal, Elisabeth só é reconhecida quando fala um número que a identifica como participante do programa.


O filme evidencia ainda como a mídia contribui para a reificação das mulheres, mesmo em atrações que aparentemente valorizam o “feminino”, exibindo apenas uma série de corpos magros e padronizados. Quantas vezes já vimos vídeos extremamente objetificadores que chegam a usar uma linguagem de “empoderamento”? 

Essa crítica fica ainda mais explícita quando consideramos o nome do filme em inglês, já que “substance” também significa “conteúdo”. Em determinadas atrações midiáticas, pouco se discute sobre o que as mulheres pensam – elas estão ali primordialmente para enfeitar. 

Percebemos, então, que não é pequena a importância do tema que Coralie Fargeat se propõe a abordar. Nas primeiras partes da história, a crítica é especialmente bem construída e o horror se encontra em diferentes elementos da trama. 


Destacamos aqui o excelente trabalho de Demi Moore, responsável por cenas extremamente fortes e angustiantes. Além disso, é preciso elogiar o ritmo da história, que mescla diferentes gêneros e, definitivamente, prende a atenção do espectador.  

É o terceiro ato do longa que representa o momento mais contraditório de “A Substância”, já que parte do público pode achar que as cenas são demasiadamente violentas. O tom perturbador, porém, não chega a destoar das demais partes: pode-se compreender que o exagero é proposital e ajuda a reforçar a violência do processo vivido pela protagonista. 

É certamente um dos horrores da condição feminina se sentir exposta a uma constante plateia de homens brancos, dispostos a “avaliar” e comparar mulheres. 


Na última parte, Elisabeth está cada vez mais desamparada, enquanto Sue se obriga a estampar um sorriso (porque “meninas bonitas devem sempre sorrir”) e segue com a busca incessante de se tornar muito famosa. Nós sabemos, no entanto, que muito não é o suficiente: em Hollywood, ou no mundo do Instagram. 

Os padrões costumam se ajustar para que seja constantemente necessário realizar mais um tratamento como o da “Substância”. As injeções nunca acabam – e há sempre uma nova maneira de encontrar “a sua melhor versão”.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Coralie Fargeat
Produção: Universal Pictures, Working Title Films
Distribuição: Imagem Filmes e MUBI
Exibição: nos cinemas
Duração: 2h20
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, drama, ficção

19 setembro 2024

Exibição do documentário "Lagoa do Nado: a Festa de um Parque" celebra os 30 anos de inauguração da área ambiental

(Fotos: Acervo da Associação Cultural Ecológica Lagoa do Nado)


Da Redação


O Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado completa 30 anos de inauguração e para comemorar a data será exibido gratuitamente, neste sábado (21 de setembro), o documentário "Lagoa do Nado: a Festa de um Parque". Serão duas sessões, as 17 e 19 horas, no espaço Praça do Sol. 

Direção e argumento são de Arthur B. Senra, que divide a produção com Fernando Torres e Izinho Benfica, e a pesquisa e roteiro com Luiz Navarro.

(Ilustração: Lor)

O rico arquivo audiovisual é composto de fotos, vídeos e material impresso do acervo da Associação Cultural Ecológica Lagoa do Nado, ilustrações do cartunista mineiro Lor e entrevistas em fita K7 do projeto Memória em Movimento (2002-2001).

O filme conta a trajetória de luta realizada pela comunidade da região Norte de Belo Horizonte no final dos anos 1980 para a defesa, preservação e implantação do parque numa antiga fazenda abandonada. 


O movimento plural - que envolveu moradores, artistas, acadêmicos, ecologistas entre tantas outras contribuições, se destacou por ser pautado na alegria. Teve nas festas, a convergência dos sentimentos de preservação ambiental, manifestação cultural e de pertencimento dessa área, que se tornou um espaço público. 

"Lagoa do Nado: a Festa de um Parque" foi selecionado e exibido na 13ª edição do Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, realizado em junho deste ano, na categoria cinema de luta.  


Serviço:
Documentário "Lagoa do Nado: a Festa de um Parque"
Data: 21 de setembro (sábado)
Horário das sessões: 17 e 19 horas
Entrada: gratuita
Local: Parque Municipal Fazenda Lagoa do Nado - Praça do Sol - Rua Min. Hermenegildo de Barros, 904 - bairro Itapoã (BH)
Mais informações: Izinho Benfica - 99409-2026

18 setembro 2024

"Prisão nos Andes" discute a perpetuação de ideais da ditadura Pinochet

Baseado em fatos reais, filme conta a história de cinco torturadores que vivem uma vida de luxo numa penitenciária chilena (Fotos: Retrato Filmes)


Silvana Monteiro


Aos pés da Cordilheira dos Andes acontecem cenas inimagináveis. O que era para ser um ambiente de cumprimento de pena, com regras e ordem, tornou-se local de privilégios e curtição. Os agentes prisionais são qualquer coisa, menos guardas de presos. Esta é a história de "Prisão nos Andes" ("Penal Cordillera"), dirigido e roteirizado pelo chileno Felipe Carmona, que estreia nesta quinta-feira (19), nos cinemas.

Baseado em uma história real, o filme apresenta um olhar provocativo sobre os resquícios da ditadura do presidente Augusto Pinochet por meio da perspectiva de cinco torturadores que, após serem condenados, vivem em uma prisão que mais se assemelha a um resort de luxo. 


A partir de uma ambientação robusta e de uma estética realista, a contradição entre a aparente paz do local e os horrores do passado, torna-se um dos pontos centrais da narrativa, evidenciando como regalias persistem mesmo em contextos de punição.

Uma coprodução entre Brasil e Chile que marca a estreia de Carmona em longas-metragens. O longa demonstra que nenhum cidadão chileno, prejudicado pelas feridas do regime que provocou a prisão de mais de 80 mil pessoas, a tortura de outras 30 mil e a morte de mais de três mil cidadãos, consegue imaginar o que se passa no pico daquela cordilheira.  

Nesse contexto, a obra consegue abordar questões complexas sobre a personalidade e os reflexos da impunidade nos perpetradores de crimes contra a humanidade. A história coloca em foco a banalidade do mal, revelando como esses homens desfrutam de certo conforto emocional e material, mesmo após suas ações violentas. 


O que poderia parecer uma situação de comédia de costumes se torna um retrato sombrio quando um acontecimento externo provoca uma desestabilização da dinâmica interna. 

Uma intervenção jornalística (repercussão do importante trabalho da imprensa) serve como gatilho para o desnudamento das arrogâncias e das realidades emocionais dos "presidiários". Isso leva a uma escalada de violência que reflete não apenas a psicologia dos personagens, mas também ao redemoinho social que assola o Chile.

A produção traz um elenco que, apesar de sua força, não consegue sempre desenvolver a profundidade que os papéis exigem. A atuação de Hugo Medina, um ator que foi vítima do regime, é um dos destaques, acrescentando uma camada de autenticidade ao filme. 


Contudo, a falta de desenvolvimento de alguns personagens torna mais complexa a identificação com suas histórias. Os prisioneiros, como indivíduos, carecem de nuances, o que pode tornar o espectador confuso em meio às angústias e delírios desses homens.

O filme foi bem recebido em diversos festivais internacionais, o que evidencia sua relevância e potencial impacto. As vitórias em festivais são elogiosas, mas também sublinham a expectativa em torno da obra, que não se concretiza plenamente em termos de coesão narrativa. 

A mescla de gêneros — um pouco de drama, suspense e sátira — parece confusa, e a transição entre esses elementos nem sempre é fluida.


Apesar dessas críticas, "Prisão nos Andes" propõe reflexões pertinentes sobre a memória coletiva e os efeitos de uma ideologia que ainda permeia a sociedade chilena. 

Ao abordar o passado de maneira crítica, e analisar o presente, o filme traça um paralelo entre o que foi e o que é, com foco em um dos períodos mais sombrios da história da América do Sul. 

A obra, com seus pontos fortes e fracos, consegue sublinhar a necessidade de confrontar a história para entender as dinâmicas sociais contemporâneas. 

Se o filme conseguisse sustentar a intensidade de suas melhores ideias ao longo de toda a narrativa, teria certamente alcançado um status mais elevado. Entretanto, em sua forma atual, ele permanece como um esforço válido na exploração de uma temática delicada e política.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: Felipe Carmona
Produção: Multiverso Produções e Cinestación
Distribuição: Retrato Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h45
Classificação: 16 anos
Países: Brasil e Chile
Gênero: drama

15 setembro 2024

"Não Fale o Mal" é um filme óbvio e desmerece a primeira versão

James McAvoy tenta salvar remake de terror, mas roteiro fraco não ajuda muito (Fotos: Universal Pictures)


Maristela Bretas


Não adiantou ter no elenco os ótimos James McAvoy e Mackenzie Davis. O roteiro e a direção de James Watkins não ajudaram a nova versão norte-americana de "Não Fale o Mal" ("Speack No Evil"), em cartaz nos cinemas. 

Com cenas óbvias, sem nenhuma surpresa para o público sobre o que acontecerá a seguir, o filme é uma sucessão de situações que subestimam a inteligência do espectador, com um terror que deixa a desejar. No máximo pode-se dizer que é um suspense (que não surpreende).


Ao invés de explorar as nuances e a tensão do original, o remake opta por um caminho mais previsível e violento, perdendo a atmosfera de desconforto e estranhamento que caracterizou a versão dinamarquesa dirigida por Christian Tafdrup e exibida em 2022. 

A série de sustos baratos e revelações óbvias tomam o lugar do tão esperado terror psicológico, deixando o espectador entediado e insatisfeito.

O roteiro de James Watkins falha em desenvolver os personagens de forma convincente. Apesar do talento de McAvoy e Davis, suas performances ficaram limitadas. A falta de coesão entre as diferentes partes do filme resulta em uma experiência fragmentada e pouco impactante. E de "Fragmentado", o ator entende bem, graças à sua excelente atuação como um assassino de múltiplas faces no filme de M.Night Shyamalan de 2017.


Neste remake, uma família dos Estados Unidos que mora em Londres, após se aproximar de uma família britânica durante suas férias na Itália, aceita um convite para passar um final de semana em sua casa de campo. Este início segue uma linha muito semelhante ao filme original. 

Inicialmente, o cenário parece perfeito, oferecendo uma pausa tranquila. No entanto, o que deveria ser um fim de semana relaxante logo se transforma em um pesadelo sombrio, com os anfitriões Paddy (McAvoy) e Ciara (Aisling Franciosi) agindo de forma estranha e violenta, especialmente com o filho Ant (Dan Hough). 


A partir daí começam as diferenças entre as duas produções na forma de condução dos roteiros. Na nova versão, os visitantes Ben (Scoot McNairy), Louise Dalton (Mackenzie Davis) e a filha Agnes (Alix West Lefler) precisam encontrar uma forma de escapar daquele lugar esquecido no meio do nada. A produção norte-americana tende para um final tenso, porém mais "bonzinho" que seu antecessor.

No cinema, diversas pessoas que assistiram o filme original, e até mesmo algumas que só viram esta versão saíram desapontadas e reclamando da forma como a trama foi tratada. Vale por James McAvoy, mas não é dos seus melhores trabalhos.


Ficha técnica:
Direção e roteiro: James Watkins
Produção: Universal Pictures e Blumhouse Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h50
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: terror, suspense