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03 setembro 2024

Nova versão de “O Corvo” é mediana, com personagens fracos, e tem tudo para ser esquecida

Filme dirigido por Rupert Sanders tem Bill Skarsgård que retorna dos mortos para vingar a morte de sua amada (Fotos: Imagem Filmes)


Marcos Tadeu
Blog Jornalista de Cinema


O aguardado "O Corvo" ("The Crow"), dirigido por Rupert Sanders e estrelado Bill Skarsgård e FKA Twigs, já chegou aos cinemas brasileiros carregado com a sensação de que talvez essa nova versão não fosse necessária. Especialmente se consideramos o marketing tímido que acompanhou a produção. 

Diferente do que muitos podem imaginar, o filme não é um remake do clássico de 1994, mas sim uma adaptação inspirada no famoso poema "The Raven", escrito por Edgar Allan Poe em 1845.


A história segue Eric Draven (Skarsgård) e Shelly Webster (Twigs), um casal apaixonado que é brutalmente assassinado. Eric, em um ato sobrenatural, retorna dos mortos com o objetivo singular de vingar a morte da amada e a sua própria. O filme, no entanto, começa tropeçando na falta de química entre os protagonistas. 

O romance entre Eric e Shelly é apresentado de maneira apressada e superficial, dificultando que o público se envolva emocionalmente com a relação dos dois. A escolha da cantora e compositora FKA Twigs para o papel da protagonista parece mais uma tentativa de atrair os fãs do que uma decisão acertada para o desenvolvimento da personagem.


O vilão, por sua vez, é outro ponto fraco. Com uma presença apagada e mal desenvolvida, ele não consegue impor a ameaça necessária para que a trama ganhe força. Seu principal poder, o "cochicho de Satanás", até gera alguma curiosidade, mas falta-lhe a motivação para realmente se destacar como antagonista.

Visualmente, o filme tenta emular uma estética gótica e sombria, com cenas de ação que parecem inspiradas na franquia "John Wick". Infelizmente, o resultado raramente atinge o impacto desejado. Uma exceção é a cena ambientada na ópera, onde a montagem, a trilha sonora e a ação se unem de maneira eficaz, criando um momento que se destaca em meio à mediocridade do restante do filme. 


No entanto, o corvo, que deveria ser a peça central e simbólica da narrativa, acaba se tornando um figurante de luxo, sem o peso que se esperava.

A jornada de vingança de Eric é confusa e mal explorada, deixando o espectador desorientado em vários momentos. A tentativa de criar uma atmosfera sobrenatural se perde em meio à falta de clareza e coesão narrativa, tornando difícil para o espectador acompanhar a trajetória do protagonista.

Apesar de seus muitos defeitos, o filme consegue apresentar alguns pontos positivos, como a estética dark e a tentativa de dialogar com um público jovem. Algo que Rupert Sanders já havia explorado em "Branca de Neve e o Caçador" (2012) e "A Vigilante do Amanhã" (2017).


A temática do luto e da perda, bem como a busca por justiça por meio da vingança, são elementos interessantes, mas não explorados de maneira profunda o suficiente para causar um impacto real. A ideia de como a vingança pode moldar o caráter do ser humano é levantada, porém mal desenvolvida.

Esta versão de "O Corvo", de 2024, será dificilmente lembrada, caindo na mesma categoria de filmes como "Demolidor: O Homem Sem Medo" (2003) e "Elektra" (2005) – obras que, apesar de não serem desastrosas, carecem de conteúdo e rapidamente desaparecem da memória do público. 

É uma tentativa frustrada de reinventar uma história clássica, resultando em um filme com uma narrativa fraca e personagens sem brilho.


Ficha técnica:
Direção: Rupert Sanders
Produção: Edward R. Pressman Film Corporation, Davis Films, Relativity Media, Electric Shadow Productions
Distribuição: Imagem Filmes
Exibição: nos cinemas
Duração: 1h51
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gêneros: ação, policial, suspense

08 novembro 2019

"Cadê Você, Bernadette?" expõe o incrível prazer de ligar o foda-se

Cate Blanchett interpreta a personagem principal, uma arquiteta que abandonou a profissão para se dedicar totalmente á família (Fotos: Universum Film /Divulgação)

Carol Cassese


Na Antártida, sozinha em um caiaque, em meio a blocos de gelos imponentes e à paisagem desértica, Bernadette Fox se depara com uma moça em outra embarcação individual, que lhe pergunta: "Ei, quem é você?". Ao que Bernardette responde algo do tipo: "É o que estava me perguntando... Quem sou eu". A questão em foco é, no fundo, a que muitos de nós, um dia, já nos colocamos - ou deveríamos nos colocar.  E é sobre ela que orbita "Cadê Você, Bernadette?" ("Where'd You Go, Bernadette?"), novo filme de Richard Linklater ("Boyhood") em cartaz nos cinemas. 

Na superfície, Bernadette, vivida por uma Cate Blanchett no auge de sua beleza, aos 50 anos, é uma arquiteta que abandonou oficialmente a profissão após um evento traumático, indo acompanhar o marido, que trabalha na Microsoft, em Seattle. Mas quem é ela de fato?



A parte em que aparece no continente gelado, na verdade, está na segunda hora do filme, já que a trama é contada de forma linear, tendo alguns recuos temporais. Eles são necessários à explicação de como Bernadette chegou a um nível tal de intolerância ao ser humano, ao convívio social, feitos por meio de um encontro com outro arquiteto, seu antigo colega (Laurence Fishburne, uma presença sempre marcante), que visita Seattle. E também de um documentário disponível no Youtube, cuja existência, na verdade, só é revelada à personagem central por obra do acaso, Uma jovem fã, para seu desgosto, aborda a personagem no único lugar em que ela se sente bem em Seattle fora de sua casa, um centro cultural. 


É por meio desse artifício que o espectador fica sabendo que, em Los Angeles, onde a família vivia antes, o nome de Bernadette estava numa espécie de tredding topics dos novos talentos da arquitetura, ofício no qual nunca se furtou a encarar desafios. Casada com Elgie (Billy Crudup), um homem pra lá de compreensivo e apaixonado, e mãe de Bee (Emma Nelson), ela, tal qual uma leoa, trata de defender sua cria, comportamento que também é explicado no curso da história.


Quando é acuada pelo marido, passa a se indagar quem é de fato aquela mulher que ele um dia pensou conhecer, e que, para sua surpresa, está sendo manipulada até pela máfia russa. Bernadette foge até de quem mais ama para, enfim, tentar se reencontrar, sem o suporte de medicamentos tarja preta ou uma assistente virtual, Manjula. A mulher notável e mãe excepcional, que deixou de lado seu trabalho como arquiteta para se dedicar à vida em família, decide que é hora de sair de sua zona de conforto e desaparece misteriosamente de uma hora para outra, para desespero da filha.


Baseado no premiado best-seller de Maria Semple, "Cadê Você, Bernadette?" é um filme que exige atuações na justa medida, um feito que o elenco talentoso consegue cumprir. Se Cate Blanchett encontrou o tom apropriado, há que não se deixar de lado a boa performance do carismático Crudup e o talento da estreante Emma Nelson, uma garota de extraordinária presença. 

Com "Time After Time", o hit de Cindy Lauper, pontuando a trilha de maneira marcante, o filme também vale a ida ao cinema pela oportunidade que dá ao espectador de conferir, na tela grande, as paisagens absurdamente arrebatadoras do continente Antártico, bem como sua particular fauna, que, num écran menor, certamente perderiam o impacto.


Ficha técnica:
Direção: Richard Linklater
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h51
Gêneros: Drama / Comédia
País: EUA
Classificação: 14 anos

Tags: #CadeVoceBernadette, #CateBlanchett,  #LaurenceFishburne, @imagemfilmes, #Cinemark, @Cinemarkoficial, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

24 setembro 2019

Sem meias palavras, "Rambo - Até o Fim" vai fundo na violência e cenas de ação

Quinto filme com Sylvester Stallone encerra saga do ex-soldado atormentado pelos fantasmas da guerra (Fotos: Metropolitan FilmExport/Divulgação)

Maristela Bretas


O que esperar de "Rambo - Até o Fim" ("Rambo: Last Blood")? Nada menos que muita violência e ação, características de um ícone que marcou toda uma geração. Sylvester Stallone entrega um de seus principais personagens, agora envelhecido (ou melhor, mais maduro, aos 73 anos), que já sabe atuar, além de também se aventurar como um dos roteiristas desse quinto e provável último filme da saga do ex-soldado norte-americano que lutou no Vietnã e que traz consigo uma violência latente, que ele tenta controlar na nova vida de homem do campo. O filme é, antes de tudo, nostálgico, tanto nas imagens finais quanto na solidão de Rambo.


Nesta produção, o ator já não entorta mais a boca nas cenas de violência extrema, como fazia em "Rambo: Programado Para Matar" e que mostrava claramente a limitação de Stallone para atuar. Nem por isso deixou de atrair milhares de fãs, que sempre acompanharam a saga do ex-combatente. Apesar das críticas contrárias, "Rambo - Até o Fim" está agradando a quem interessa - aos fãs, que estão delirando com o filme, em especial, com as cenas de violência, que ganham proporções chocantes somente nos últimos 40 minutos. 


A carnificina é tanta que a classificação é acima de 18 anos, como aconteceu com "Rambo IV". Para os amantes deste gênero, um prato cheio. Para quem não gosta, fuja das salas onde está sendo exibido. Não espere uma história amena, com algumas piadas e situações cômicas, como em "Mercenários 1, 2 e 3". Rambo é Rambo. Facas e canivetes, cabeças rolando, tiros, porrada e bombas são sua marca registrada. Ele agora pode até ser um cara recluso que trabalha num rancho na fronteira entre os Estados Unidos e o México, cuida de cavalos e tem uma afilhada que ele trata como filha.


John Rambo, no entanto, vive assombrado pelos traumas da guerra que nunca se apagaram. No entanto, o rapto da jovem vai despertar nele toda a fúria que estava guardada. E fazer voltar o soldado insano, especialista em armadilhas e ataques, que nunca deixa um inimigo vivo. Rambo agora vai ao México enfrentar perigosos traficantes de jovens que são usadas em prostituição.


Abusando dos dublês e efeitos especiais, Stallone entrega um filme com roteiro morno até mais da metade da exibição e uma explosão de ação no final que compensa quem foi ao cinema ver Rambo de volta às origens. O elenco é pouco conhecido e está lá só para levantar a bola do verdadeiro astro. Para quem aguardava a volta de Rambo com ansiedade, "Até o Fim" deverá agradar. Mesmo enchendo linguiça com uma história arrastada e mais que manjada da jovem que ignora os conselhos dos mais velhos, se mete em encrenca e vai parar nas mãos de traficantes de mulheres. 


O tiozão Rambo, ao saber, vai socorrer a afilhada, apanha muito, mas bate e mata muito também. No estilo da trilogia "Busca Implacável" (2008, 2012 e 2014), com Liam Neeson, ou "Linha de Frente" (2013), com Jason Statham, porém bem mais violento. Para os fãs de carteirinha, "Rambo: Até o Fim" encerra bem a história do personagem que para muitos deles representa um clássico do gênero.


Ficha técnica:
Direção: Adrian Grunberg
Produção: Balboa Productions/ Millenium Films / Lionsgate
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h40
Gênero: Ação
País: EUA
Classificação: 18 anos
Nota: 3 (0 a 5)

Tags: #RamboAteOFim, #RamboLastBlood, #SylvesterStallone, #Rambo, #RamboSendoRambo, #ação, @ImagemFilmes, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

26 agosto 2019

O melhor amigo de toda criança está de volta mais violento e sanguinário em "Brinquedo Assassino"

Filme é remake da história do assustador boneco Chucky
(Fotos: Capelight Pictures)

Maristela Bretas 


Ele voltou! Mais violento, espalhando sangue até nas criancinhas, sem dó nem piedade. Tudo para ter um melhor amigo só dele. Chucky, o boneco mais sombrio do cinema retorna no remake "Brinquedo Assassino" ("Child's Play"), em cartaz nos cinemas,
agora dirigido pelo norueguês Lars Klevberg, em seu segundo longa (o primeiro foi "Morte Instantânea", ainda sem data de estreia no Brasil). Apesar de trazer cenas "esmagadoras" literalmente, o novo boneco tem uma cara estilizada e muito menos assustadora que a de seus antecessores. Impossível esquecer a face do mal do boneco original de 1988 - fofinho quando é entregue a Jack e tenebroso quando parte para o ataque.

Chucky, de 1988 (Reprodução: United Artists)

Chucky recebeu continuações anos depois - "Brinquedo Assassino 2 e 3" (1990 e 1991, respectivamente) - e até ganhou uma parceira em "A Noiva de Chucky" (1998), e até outras versões de quinta categoria. Com direções diferentes, as histórias dos três primeiros filmes são continuações, enquanto a nova versão que está em cartaz nos cinemas começa do zero, com uma história diferente. A origem do boneco é outra, o nome do menino é outro, os motivos de ele ter aceitado o brinquedo são outros. Enfim, o mesmo vilão com nova roupagem. Mais ou menos - o macacão jeans e a camiseta listrada ainda são os mesmos.


O Chucky 2019 é tecnológico, adaptado ao novo mundo onde tudo está interligado, inclusive os brinquedos dos filhos, que podem ser controlados por meio de um smartphone. Assim como utensílios da casa como a vassoura elétrica, a televisão, as luzes ou o aparelho de som, todos produzidos pela Kaslan Corporation, uma empresa que trabalha com tecnologia inteligente. O que ninguém imaginava era que Chucky iria assumir o controle de tudo, dentro e fora de casa, e também querer mandar na vida de Andy (interpretado por Gabriel Bateman), a ponto de afastar aqueles que pudessem representar uma "ameaça" a sua amizade com o garoto.


Um a um, o assassino que poucos podiam acreditar se tratar de um boneco, vai deixando um rastro de sangue e terror. Com 90 minutos de duração, "Brinquedo Assassino" vai mostrando como o grau de crueldade de Chucky piora a cada ataque, fruto da violência que aprendeu vendo filmes e programas de TV. Ninguém acredita em Andy quando ele conta que as mortes que estão acontecendo no bairro foram causadas pelo boneco.


O garoto Gabriel Bateman (de "Annabelle") está muito bem em seu papel, Mas o destaque está na voz do boneco, emprestada por ninguém menos que Mark Hamill (o Luke Skywalker da saga "Star Wars"). Tirando a cara pouco convincente, é a voz de Hamill quem dá o tom de terror que Chucky precisa para assustar a plateia. Brian Tyree Henry ("Se a Rua Beale Falasse") também entrega boa interpretação como o detetive Mike Norris que investiga as mortes na vizinhança, assim como Aubrey Plaza, que faz a mãe de Andy.


Na história, Andy e sua mãe se mudam para uma nova cidade em busca de um recomeço. Preocupada com o desinteresse do filho em fazer novos amigos, Karen (Aubrey Plaza) decide dar a ele de presente de aniversário o boneco tecnológico Buddi que, além de ser o companheiro ideal para crianças e propor diversas atividades lúdicas, ele executa funções da casa por comando de voz. Os problemas começam a surgir quando o boneco, batizado por Andy como Chucky, se torna extremamente possessivo em relação a Andy e está disposto a fazer qualquer coisa para afastar o garoto das pessoas que o amam.


"Brinquedo Assassino" também tem cenas de suspense (algumas bem esperadas), mas o que sustenta o filme são os ataques insanos a facadas do boneco (sua especialidade), dando uma variada ou outra entre um enforcamento, um cortador de grama e outras modalidades de assassinatos. Portanto, se pretende assistir ao longa, vá preparado para ter estômago forte em algumas cenas, o que deverá atrair um público mais jovem, possivelmente que nem assistiu aos primeiros filmes.


E para quem não viu, recomendo uma sessão em casa do primeiro e do segundo filmes "Brinquedo Assassino". Não espere deste a mesma história do original, mas vai sabendo que a produção é de Seth Grahame-Smith e David Katzenberg, dupla responsável pelo remake do terror "It: A Coisa", o que já tem boa chance de agradar. No final do filme, o diretor ainda deixa a entender que poderá haver uma continuação. Quem vai ditar as regras será a bilheteria, claro. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos. Confira a nova versão de Chuck e deixe seu comentário no blog.

Ficha técnica:
Direção: Lars Klevberg
Produção: Orion Pictures / Metro-Goldwin-Mayer (MGM)
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h30
Gênero: Terror
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

Tags: #brinquedoassassinofilme, #Chuck, #terror, @OrionPictures, @MGM, @ImagemFilmes, @cineart_oficial, @cinemaescurinho, @cinemanoescurinho

30 janeiro 2019

Original e criativo, "Vice" é, antes de tudo, um filme cínico

O diretor Adam McKay fez a escolha acertada ao chamar Christian Bale para viver o personagem Dick Cheney (Fotos: Universum Film/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Não há como negar: é muito criativa a forma que o diretor Adam McKay encontrou para mostrar como o jovem beberrão e mau elemento Dick Cheney se transformou, durante um tempo, no homem mais poderoso do mundo. A história do vice-presidente de George W. Bush, que ficou no poder de 2001 a 2009, é contada de um jeito original e único no filme "Vice", em que o diretor convida constantemente o espectador a observar, refletir, participar.

A narração em "off" e o depoimento direto para a câmera de alguns dos coadjuvantes da vida de Dick ajudam a carregar na ironia, quase caindo na galhofa. Não faltam piadas entre uma e outra cena, algumas ridicularizando figuras conhecidas da política norte-americana.

Não é por acaso que "Vice" é classificado por muitos como "comédia dramática". Na verdade, Dick Cheney parece ter nascido personagem. Coube a Adam McKay a difícil tarefa de mostrar ao público de forma inteligente o verdadeiro tabuleiro de xadrez da política e a falta de escrúpulos do segundo homem dos Estados Unidos quando se tratava de atingir seus objetivos. Principalmente no episódio das Torres Gêmeas, no 11 de setembro de 2001, que acabou desencadeando a questionável Guerra do Iraque.

Outro acerto de McKay foi a escolha de Christian Bale para viver o protagonista. Como sempre faz, Bale entrou de cabeça, emprestando seu corpo às transformações necessárias para dar credibilidade a um Dick contraditório, ambicioso, vaidoso e prepotente, porém escorregadio e evasivo. O ator se transforma diante dos olhos do espectador na medida em que o tempo passa, num jogo de expressão corporal e composição perfeitas do personagem. É assim que ele cativa o público e dá credibilidade às manobras e manipulações do vice.

Assim como a mulher de Dick, Lynne Cheney, foi fundamental na vida e na carreira política do marido, a atriz Amy Adams é de fundamental importância em "Vice", interpretando a típica esposa que age nos bastidores, aconselha, joga e, acima de tudo, também ama o poder. A química entre o casal é visível e passa verdade e cumplicidade.


Steve Carell, que faz o deputado Donald Rumsfeld, com quem Dick começa sua carreira, também brilha como o político esperto sempre disposto a atingir seus objetivos. Sam Rockwell dá seu recado como um George W. Bush tão manipulável quanto perigoso, e Jesse Plemons enche o filme de interrogações como Furt, o "doador do coração" - pra não dar spoiler.

"Vice" está indicado ao Oscar de "Melhor Filme", "Melhor Diretor", e Christian Bale concorre a "Melhor Ator" - entre outras indicações. Merecidamente, diga-se. Ao final surpreendente do filme fica no público a certeza de como somos todos manipulados pelos políticos e pela mídia. A ideia que passa, por mais cínica que possa parecer, é: somos todos otários.
Duração: 2h12
Classificação: 14 anos
Produção: Imagem Filmes


Tags: #Vice, #ChristianBale, #SamRockwell, #AmyAdams, #SteveCarell, #drama, #biografia, @ImagemFilmes, @cineart_cinemas, @cinemanoescurinho

01 dezembro 2018

"Encantado", uma animação feita para agradar apenas os pequeninos

Filme reúne romance, canções, aventura, sustos, princesas, bruxas e feitiços, elementos esperados para uma produção sobre um mundo de fantasia (Fotos: Big Picture Films/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Crianças menores até poderão gostar de "Encantado" ("Charming"), animação com roteiro e direção de Ross Venbokur que estreia nesta quinta-feira (29) nos cinemas de Belo Horizonte. Estão lá todos os elementos esperados para atrair os pequeninos, como um tipo de suspense até certo ponto ingênuo, romance, canções, aventura, sustos, princesas, bruxas, feitiços. Tudo na medida certa.

Meninos e meninas maiorzinhos, que já possuem um mínimo de senso crítico, também podem se encantar com um príncipe Felipe meio trapalhão, princesas patricinhas e fúteis e uma quase vilã que começa sem nenhum charme, como uma ladra e, aos poucos, se transforma na mocinha e personagem principal da história. Seria a vitória da antiprincesa, da plebeia, gente como a gente. São pequenos toques de modernidade e rebeldia.


Ao nascer, o príncipe Felipe é vítima de um feitiço da bruxa Morgana: todas as mulheres vão se apaixonar por ele assim que o avistarem. Ou seja, o rapaz se torna verdadeiramente encantado . Uma espécie de Dom Juan, que tem todas as mulheres mas não tem efetivamente nenhuma. Desta forma, ele acaba se metendo em enrascadas, como por exemplo, ficar noivo e de casamento marcado com nada menos que três princesas, todas salvas por ele: Cinderela, Branca de Neve e Bela Adormecida.

Mas, como toda maldição tem seu fim e todo conto de fadas que se preza caminha para um final feliz, Felipe só se livrará da tal praga quando encontrar, claro, o amor verdadeiro. Na versão original, a voz do personagem é do ator Wilmer Valderrama. No Brasil, a dublagem foi feita por Leonardo Cidade.


Leonora Quimonez é uma ladra que vive de pequenos golpes perambulando pela periferia do reino. Por algum motivo não explicado, ela não se encanta pelo príncipe ao vê-lo e, como só pensa em dinheiro, aceita o emprego de guia para ajudar Felipe a vencer três desafios quase impossíveis, principalmente para ele, um rapaz mimado beirando o covarde. Originalmente feita por Demi Lovato, a moça é dublada aqui pela atriz teen Larissa Manoela.

Os adultos vão encontrar algumas mensagens que, nesses tempos atuais do politicamente correto, podem ser analisadas como negativas. Exemplos não faltam: a bruxa que enfeitiça o príncipe assim que ele nasce faz isso por inveja da mulher que se casou com o rei (um sentimento baixo); para conseguir o trabalho de guia, Leonora precisa se travestir de menino (meninas são incapazes?); todas as mulheres do reino, mostradas quase sempre como subservientes, só pensam em se casar. Enfim, dá pra ir ao cinema com as crianças, mas sem levar nada muito a sério.
Duração: 1h25
Classificação: 6 anos
Distribuição: Imagem Filmes


Tags: #Encantado, #Charming, #PrincipeFelipe, #fantasia, #princesas, @larissamanoela, @leocidade, @ddlovato, @ImagemFilmes, @cineart_cinemas, @CinemaNoEscurinho

04 janeiro 2018

"Roda Gigante" - Mais um típico (e imperdível) Woody Allen

Kate Winslet rouba a cena em grande parte do longa, que conta com uma boa atuação do restante do elenco (Fotos: Imagem Filmes/Divulgação)


Mirtes Helena Scalioni


Por mais incrível que possa parecer, "Roda Gigante" ("Wonder Wheel"), de Woody Allen, é um filme cheio de cores, resultado da dobradinha do diretor com o fotógrafo Vittorio Storaro. E - acreditem - são tonalidades fortes e vibrantes em constante contraste com os dramas e conflitos vividos pelos personagens da história, a maioria mergulhada em suas vidas opacas e cinzentas. Outro detalhe: a ironia e o humor fino, que caracterizam a obra de Allen, são praticamente ausentes nas falas, intenções e gestos dos que fazem parte da história.

Importante dizer que o filme se passa à beira-mar, na decadente Coney Island e nos anos de 1950, época de mudanças de comportamento em todo o mundo. Humpty (Jim Belushi) é operador de carrossel num parque de diversões e é atrás desse carrossel, num ambiente barulhento, pequeno e apertado, que ele vive com Ginny (Kate Winslet) e o menino Ritchie (Jack Gore), o filho do primeiro casamento dela. Logo nas primeiras cenas, fica evidente o tipo de relação enfastiada e morna que o casal vive. Ele, alcoólatra tentando parar de beber; ela, frustrada, irritada e com uma eterna enxaqueca. Para completar a fauna, entra em cena Carolina (Juno Temple), jovem filha de Humpty que retorna à casa do pai fugindo do ex-marido mafioso que ela entregou à polícia.

Muitos estão atribuindo a Kate Winslet todo o mérito do filme. Faz sentido, mas não totalmente, porque todo o elenco está muito bem, embora ela roube a cena em grande parte do longa. Vivendo uma mulher angustiada e quase histérica em alguns pontos, ela criou uma Ginny instável, que muda o ritmo e o tom de voz de acordo com o momento. Ex-atriz fracassada, trabalha como garçonete, vive com Humpty por pura comodidade e ainda tem que administrar os constantes problemas causados pelo filho, um incendiário compulsivo. (Parênteses para dizer que a criança e sua mania são, de certa forma, o único traço cômico da história). É tão intensa e perfeita a atuação de Winslet, que acaba deixando na sombra Carolina, a outra personagem feminina do longa, em atuação corretíssima.

Ginny e a trama do filme mudam completamente quando ela conhece Mickey, por quem se apaixona irremediavelmente. (Outro parênteses para dizer que ele, interpretado por Justin Timberlake, é um salva-vidas canastrão que deseja ser escritor, dramaturgo e poeta, e costuma intelectualizar sentimentos e acasos. Reside aí outro traço frequente de Woody Allen: a ironia). Quando está com ele, Ginny se transforma em fogo e esperança. Em casa, com o marido, o filho e a enteada, sobe o tom de voz, entristece, briga, torna-se intolerante e ciumenta quando descobre que o amante arrasta asas também para Carolina. Está armado o melodrama.

Junte-se a esses ingredientes um belo e perfeito figurino de época, uma trilha sonora repleta de canções típicas da década - que ajudam a enredar e capturar o espectador - e, claro, reviravoltas, surpresas, acasos, escolhas, instabilidade. Apesar das pequenas diferenças, e ainda que não seja um "Match point", estamos diante de mais um típico e imperdível Woody Allen.
Classificação: 12 anos // Duração: 1h41



Tags: #RodaGigante, @KateWinslet, @JustinTimberlake, @JimBelushi, @JunoTemple, @WoodyAllen, #drama, @ImagemFilmes, @cineart.cinemas, @cinemanoescurinho

09 novembro 2017

Comédia "Gosto se Discute", com Kéfera, estreia nos cinemas de BH

A história se desenrola entre um preparo e outro de pratos da alta gastronomia (Fotos: Divulgação)

Maristela Bretas


Em sua segunda investida no cinema (a primeira foi "É Fada", de 2016), a atriz, vlogueira, apresentadora e escritora Kéfera Buchmann volta às telas com mais uma comédia, desta vez ao lado do veterano ator de novelas Cássio Gabus Mendes. A famosa vlogueira veio a Belo Horizonte na última terça-feira para o lançamento em sessão especial do filme "Gosto se Discute", que conta a história de uma auditora, Cristina Falcão (papel de Kéfera), enviada por um banco para salvar da falência o restaurante do chef Augusto (Cássio Gabus Mendes). Mas a presença dela desagrada tanto ao empresário quanto a seus funcionários.


A produção gastronômica é um deleite para os olhos, apresentando pratos maravilhosos e requintados, dignos de um restaurante de luxo que não abre mão da classe, da qualidade e do sabor. E são de dar água na boca, exceto para em clientes xucros que insistem em estragar a comida acrescentando uma porção de batata frita (que eu adoro mas não combina) e litros de ketchup.


Entre um jantar e outro, o restaurante vai perdendo sua freguesia para a comida rápida vendida no food truck estacionado em frente. O clima vai ficando pesado, com muitas brigas e cortes para equilibrar o orçamento. Cristina passa a cobrar de Augusto mais criatividade e cardápio novo para não fechar as portas. Para piorar as coisas, o estresse leva o chef a perder o paladar. Em compensação, à medida que passam mais tempo juntos, o envolvimento entre ele e Cristina vai crescendo.


Com roteiro e direção de André Pellenz. "Gosto se Discute" é uma comédia sem um público definido, mas recebeu classificação para 12 anos, o que torna a cena de sexo na bancada da cozinha dispensável, apesar de não ficar atrás de muitas que são oferecidas diariamente nas telenovelas. O elenco conta ainda com as participações de Paulo Miklos, Gabriel Godoy e Zéu Britto.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: André Pellenz
Produção: Damasco Filmes
Distribuição: Imagem Filmes
Duração: 1h20
Gênero: Comédia 
País: Brasil
Classificação: 12 anos

Tags: #gostosediscute, @KeferaBuchmann, @CassioGabusMendes, @AndrePellenz #comedianacional, #gastronomia, @ImagemFilmes, @cinemas.cineart, @EspaçoZ, @CinemanoEscurinho

07 outubro 2017

"Chocante", comédia dramática para lembrar as "boys bands" da década de 1990

Filme conta com elenco conhecido de bons humoristas, com direito a histeria de fãs e flashbacks (Fotos: Imagem Filmes / Divulgação)


Maristela Bretas


Os atores são bons humoristas, conhecidos de novelas e shows na TV e produções para o cinema, mas o filme desaponta. O enredo tenta mostrar como era (e ainda é) a reação histérica dos fãs adolescentes diante de seus ídolos, e, principalmente, como eles caem no esquecimento depois que o sucesso acaba e as novas gerações nem sabem que eles existiram. Essa é a história de "Chocante", comédia brasileira com Bruno Mazzeo, Marcus Majella, Lúcio Mauro Filho e Bruno Garcia. O elenco conta ainda com a participação de Tony Ramos, Débora Lamm e Pedro Neschling. 

A parte da comédia fica por conta de Marcus Majella, no papel de Clay, que durante o sucesso da banda sempre passar a imagem de garanhão e só depois de mais velho assume que é gay. Para seus amigos ele conta ele diz ser responsável pelo marketing de uma grande rede - não passa de anunciante de produtos de um supermercado. Outro também que proporciona algumas risadas é Bruno Garcia, como Toni, que ainda acredita que Clay é "o pegador" e fala para todos que trabalha com transporte executivo, quando na verdade é um motorista de aplicativo. 

Bruno Mazzeo é Téo, na época o líder da banda Chocante, e que faz o lado dramático da comédia. Um cara que nunca aceitou bem a separação da mulher, tem uma filha que o adora mas que ele tem pouco tempo para ela e finge para os amigos que é um diretor de cinema independente, enquanto faz filmagens de casamento e batizados. 


O papel mais sem graça ficou para Lúcio Mauro Filho, como Tim, irmão de Téo, um cara chato, com uma família chata, que trabalha como oftalmologista do Detran. Ele nunca se conformou com o fim da banda e não perdoa o irmão por ter causado a separação do grupo quando eles estavam no auge do sucesso e poderiam se tornar um fenômeno como os Menudos.

Todos vivem de lembranças e rancores, até que a morte do quinto integrante, Tarcísio, os une no velório e os coloca em contato com Quézia, a líder do fã clube, ainda fanática. Do tipo que tem a casa decorada com pôsters e objetos da Chocante mesmo passados 20 anos de seu fim, ela incentiva os quatro a se juntarem, pelo menos mais uma vez, para um show, em nome dos velhos tempos, apresentando seu hit mais famoso - "Choque de Amor". A música embala 90% do filme e é do tipo chiclete - fica grudada na sua cabeça horas depois.

O antigo empresário Lessa (interpretado por um espalhafatoso e cafona Tony Ramos) é procurado e este exige que a banda Chocante tenha os cinco integrantes como a original. Para isso, inclui Rod (Pedro Neschling), um jovem geração ultra conectado que acaba de vencer um decadente reality show e só pensa nos "likes" e compartilhamentos que vai ganha ao se unir aos "feras das antigas", como ele chama os quatro. E entre ensaios e discussões, o filme vai se desenrolando, contando o drama de cada um e a vontade de recuperar o tempo perdido da banda Chocante. Tudo muito esperado, sem nenhum impacto, uma risada aqui, um momento emocionante ali, mas não vale mais que um especial de TV de fim de ano, o que acredito deverá acontecer bem breve. 

O projeto de "Chocante", segundo seus produtores, foi criado em conjunto, a partir da ideia original de Pedro Henrique Neschling, que escreveu o argumento do longa em parceria com Luciana Fregolente, "Chocante" tem roteiro assinado por Bruno Mazzeo, Neschling, Fregolente e Rosana Ferrão. Em entrevista, Neschling explicou que se trata de um filme sobre reencontro de amigos, lembranças de um passado de sucesso, relacionamento familiar e um acerto de contas com a vida. Realmente, a produção aborda tudo isso, mas não é nada excepcional. Como está na própria chamada do filme, "Ninguém pediu, mas eles voltaram!" e com certeza vai atrair o público por causa do elenco.


Ficha técnica:
Direção: Johnny Araújo e Gustavo Bonafé
Produção: Globo Filmes / Orion Pictures / Casé Filmes / Rio Filme / Telecine
Distribuição: Imagem Filmes
Duração:  1h34
Gêneros: Comédia / Drama
País: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 2.5 (0 a 5)

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