Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual (Créditos: Sarah Makharine/Divulgação) |
Jean Piter Miranda
No final da década de 1990, Sophie (Frankie Corio), de 11 anos, e seu pai Calum (Paul Mescal) passam férias no litoral da Turquia. Os dois se dão muito bem. São companheiros, amigos. Ele faz de tudo para ser o melhor pai. Ela está em uma fase de descobertas e amadurecimento.
E há uma câmara entre eles, gravando vários momentos que vão ecoar no futuro. Passados 20 anos, em meio a muitas lembranças, Sophie tenta lidar com tudo o que naquela época não sabia sobre o próprio pai. Esse é "Aftersun", da diretora Charlotte Wells, disponível na plataforma Mubi e ainda em cartaz em salas alternativas de cinema.
Sophie e Calum estão hospedados em um hotel que não é nada luxuoso. Mas é o suficiente para que eles possam curtir o sol e a piscina. Eles passeiam por vários locais. Fazem piadas, dão risadas e, no meio de tudo isso, a menina sai fazendo perguntas ao pai. Hora sobre a vida deles, hora sobre curiosidades.
É tudo muito leve, descontraído. Estão curtindo férias em um lugar legal, como planejaram. E a câmera deles vai filmando pequenos momentos dos dois juntos. A partir daí, o filme vai tomando três caminhos.
Sophie está numa fase de descobertas. É uma pré-adolescente. Ela fica observando as conversas e as brincadeiras dos outros jovens um pouco mais velhos.
Meninas que aparentam ter 15 ou 16 anos e seus namoradinhos. Todos muito eufóricos. Sophie, mais contida e observadora, fica próxima, buscando ser convidada para participar das brincadeiras no clube com essa turma.
Ao mesmo tempo, ela se aproxima de um menino de sua idade, com quem passa a interagir mais e mais.
Calum não está bem. Hora parece que falta a ele paciência, hora ele parece ansioso, preocupado. Presente de corpo e com a cabeça longe. Tentando com todas as forças não transparecer suas aflições.
Vida pessoal, vida profissional, sonhos, expectativas. E ele segue se esforçando para dar bons momentos a sua filha. Situações que vão sendo percebidas em cada um dos diálogos entre eles.
Entre uma cena e outra surgem filmagens que foram feitas pela câmera de Sophie e Calum. Imagens tremidas, por vezes sem foco, sem o devido enquadramento, o que dá um ar perfeito de amadorismo, de vídeo caseiro.
É aí que percebemos que as férias estão no passado. Sophie está adulta, relembrando tudo, revendo as gravações, só que não está feliz. Está angustiada, inquieta, em uma atmosfera que transmite tristeza e incapacidade.
"Aftersun" passa aquela sensação de nostalgia. Quem viajou em família com uma câmera nos anos 1990 poderá se identificar e se emocionar. Quem é apaixonado por audiovisual e entende essa potência que as filmagens têm de eternizar momentos, também vai se emocionar. Ainda mais quando o filme termina e as peças são ligadas.
É sobre paternidade, memórias, amizade de pai e filha. É sobre as dores e delícias da vida. É sobre a vontade de voltar no tempo para mudar alguma coisa, pra reviver um abraço, ou pra ficar um pouco mais.
Charlotte Wells de boné preto |
O longa marca a estreia da jovem diretora escocesa Charlotte Wells (35 anos). Filme que foi muito bem recebido pelo público e pela crítica, vencendo vários prêmios
Entre eles, o British Independent Film Awards, nas categorias de Melhor Filme Independente Britânico, Melhor Direção, Roteiro, Diretor estreante, Fotografia, Edição e Supervisão de música. Charlotte também foi reconhecida na categoria de direção inovadora no Gotham Awards 2022.
Frankie Corio e Paul Mescal estão brilhantes, com uma química sem igual. "Aftersun" é uma obra de arte agridoce, que a gente vê uma vez e gosta, pede mais, assiste outra vez e multiplica as emoções.
Ficha técnica:
Direção: Charlotte WellsProdução: BBC Film, BFI e Screen Scotland, em associação com a Tango
Distribuição: O2 Play Filmes
Exibição: plataforma Mubi e nas salas 3, do Una Cine Belas Artes (sessão das 16h30) e sala 2, do Minas Tênis Clube (sessão das 20h10)
Duração: 1h42
Classificação: 14 anos
Países: Reino Unido e EUA
Gênero: drama