Robert Pattinson é uma das atuações de destaque da produção, ambientada
entre o final da Segunda Guerra Mundial e a do Vietnã (Fotos: Glen
Wilson/Netflix) |
Jean Piter Miranda
A religião destrói vidas de muitas formas e na maior parte do tempo ninguém vê isso. Talvez essa seja a essência do filme “O Diabo de Cada Dia”, do diretor Antonio Campos, disponível na Netflix. O longa é uma adaptação do livro escrito por Donald Ray Pollock - "The Devil All The Time", no original. A história gira em torno da família de um veterano de guerra, um casal que comete assassinatos em série e um falso pregador.
Na segunda fase do filme, o filho de Willard, Arvin (Tom Holland), já quase adulto segue morando com os avós em outra cidade. E lá são introduzidos os personagens Roy Laferty (Harry Melling) e Preston Teagardin (Robert Pattinson), dois pregadores. Roy, aparentemente perturbado. Preston, claramente mau-caráter. Ambos vistos como bons homens pela comunidade.
A princípio, tem-se a impressão de que as histórias estão desconexas. O esperado é que se liguem ou, pelo menos, se cruzem em algum momento. E é o que acontece. O filme tem um narrador onipresente e onisciente, que vai guiando o espectador. Não há joguinhos de mistérios nem quebra-cabeças para intrigar quem assiste. Tudo é muito claro, simples e direto. Isso não é ruim. Ao contrário, é um dos pontos positivos do longa.
Em todas as histórias temos a morte como componente, ou a falta dela. O que fazem ou deixam de fazer em nome de Deus, sempre, claro, com objetivos bem egoístas. Destaque para a atuação de Robert Pattinson como um pregador inescrupuloso. Ele rouba todas as atenções quando está em cena. Tom Holland atua de forma consistente e faz com que o público esqueça que ele é o Homem-Aranha.
São várias as mortes no filme e muita violência, boa parte dela motivada por vingança, que atrai mais vingança. Assim como abismo atrai abismo, as histórias vão se ligando, de forma bem estruturada e convincente. O diretor não cria absurdos para unir os dramas. A narrativa convida o espectador a torcer para que os pecadores sejam punidos.
O diretor não se propõe a dar um final feliz para trama, nem é moralista a ponto de fazer com todos os crimes sejam julgados e penalizados. Uma característica que a gente vê em muitos filmes norte-americanos onde, no fim, quem comete crime, não importando o motivo, acaba sendo punido. Em "O Diabo de Cada Dia", ninguém parece ser herói, muito menos santo. Todo mundo tem seus erros e seus crimes e pra quase tudo há justificativa.
As atuações estão ótimas. O elenco é brilhante e conta ainda com as participações de Mia Wasikowska, Haley Bennet e Eliza Scanlen. É o tipo de filme que divide opiniões. Ou gosta ou não. Dificilmente vai ter meio termo. Não é uma obra prima, mas é bem bom, bem acima da média pra quem vê com boa vontade.
Ficha técnica:
Direção e roteiro: Antonio Campos
Exibição: Netflix
Produção: Netflix / Nine Stories / Max Born
Duração: 2h18
Classificação: 16 anos
País: EUA
Gêneros: Suspense / Drama
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