Quase 100 filmes, entre curtas e longas, estão em exibição online gratuitamente (Fotos: Mostra Ecofalante de Cinema/Divulgação) |
Carolina Cassese
Dentro da 9ª Mostra Ecofalante de Cinema, o blog Cinema no Escurinho indica outras duas produções do catálogo que tratam sobre a causa indígena e o meio ambiente. Na primeira parte desta crítica, indicamos "Acqua Movie", um road movie que explora a relação entre mãe e filho e a natureza maltratada, num retrato importante do Brasil contemporâneo.
A Mostra, que está sendo online e totalmente gratuita, reúne títulos que abordam não apenas as questões indígenas e ambientais, mas também a luta pelo direito dos negros, das mulheres e dos LGBTQ+s. São 98 filmes na disputa de duas competições, além de debates e exibição de clássicos, que estarão disponíveis gratuitamente até 20 de setembro. Os participantes poderão também contribuir para causas sociais e ambientais.
Enquanto "Acqua Movie" é uma ficção, o curta "Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito" e o longa "Amazônia Sociedade Anônima", ambos de 2019, se debruçam sobre a causa indígena a partir de um olhar documental. O primeiro, dirigido por Clea Torres e João Paulo Fernandes é um dos concorrentes do concurso Curta Ecofalante. Ele acompanha principalmente a luta das mulheres A’uwe Xavante, enquanto o segundo, de Estevão Ciavatta, apresenta um panorama mais geral da questão.
“Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito"
Logo no início do curta, escutamos falas de jornalistas e também do atual presidente do Brasil. O contexto, portanto, é bem atual: a produção exibe imagens do Acampamento Terra Livre 2019, que teve como lema “Sangue indígena. Nas veias, a luta pela terra e pelo território”. As cenas que mostram debates entre mulheres indígenas e homens brancos de terno em assembleias são bastante impactantes - muitos dos políticos parecem não prestar atenção no que está sendo dito.
No acampamento, as mulheres indígenas entoam o lema: “território, nosso corpo, nosso espírito”. Uma delas explica: “Quando falamos de espírito, estamos falando também de ancestralidade. Quando nós, mulheres, gritamos essa frases, estamos falando do nosso corpo como tomada de decisão. O nosso corpo também é uma defesa da nossa cultura e da nossa sociedade”.
Ao longo da produção são exibidos diversos depoimentos de representantes dos coletivos. Há uma clara preocupação em retratar a diversidade de línguas que existem nessas comunidades, assim como os diferentes pontos de vista. Não há uma fala que abarque todas as demandas das tribos indígenas, cada uma com suas especificidades. Há as que não falam português, as que estudam, as que se dedicam especialmente a trabalhos manuais, as que cuidam dos filhos quase o tempo inteiro.
O que une a maior parte das falas é de fato o desejo das mulheres em terem suas vozes legitimadas, suas forças reconhecidas. Assista o curta clicando aqui
Ficha técnica - Território: Nosso Corpo, Nosso Espírito
Direção, roteiro, produção, fotografia e edição: Clea Torres Guedes e João Paulo Fernandes
Duração: 27 segundos
Classificação: Livre
“Amazônia Sociedade Anônima”
Assim como "Acqua Movie", "Amazônia Sociedade Anônima" disputa a Competição Latino-Americana. O longa-metragem, é muito eficiente em mostrar como o processo de grilagem acontece. São tocados diversos áudios de escutas telefônicas, com conversas que revelam o caráter predatório dessas ações.Há frases absurdas ditas com a maior naturalidade, como: “Aí, você faz um rodízio de gado no pasto e toca fogo quando é época. No outro ano, toca fogo de novo. Então, uma área boa lá é onde já passaram uns três fogos" e “faz isso quando você for resolver o negócio lá do trabalho escravo”.
Os tenebrosos áudios são intercalados com lindas imagens (do que ainda resiste) da Amazônia, além de falas de índios e especialistas em questões ambientais. Muitos momentos exibidos são fortes e bonitos, como a cena em que alguns índios conseguem realizar o processo de autodemarcação de terras. Diante da ausência do Estado, os próprios grupos precisam lutar bravamente pelos direitos mais básicos.
Em um dos depoimentos para o longa, o antropólogo Viveiros de Castro declara: “Os índios podem nos ensinar muito. A terra não é dos grileiros, mas também não é deles. Eles é que são da terra. Nós somos da terra. A terra pode viver sem nós. Como planeta, existe sem nós. Por outro lado, nós não podemos existir sem a terra”.
Está claro que existe uma urgência: em buscarmos outros modos de vida, maneiras que não sejam destrutivas - e, especialmente, que não enxerguem a natureza como mercadoria. Ideias, como defende Ailton Krenak, para adiarmos o fim do mundo.
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Ficha técnica - Amazônia Sociedade Anônima
Direção, roteiro e produção: Estêvão Ciavatta
Produção: Pindorama Filmes
Duração: 1h50
Gêneros: Ficção / drama
Classificação: Livre
SAIBA MAIS:
9ª Mostra Ecofalante de Cinema
Período: até 20 de setembro
Confira a programação completa no site: https://ecofalante.org.br/
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