Um filme forte e autêntico, com efeitos especiais notáveis e uma atuação convincente do elenco. Este é "Desespero Profundo” ("No Way Up"), dirigido por Cláudio Fäh com roteiro de Andy Mayson, que pode ser conferido nos cinemas.
O longa é bem trabalhado, permitindo que o espectador sinta empatia por passageiros e tripulantes que lutam pela sobrevivência após um acidente aéreo.
O enredo revela a história de desconhecidos que acabam tendo suas vidas interligadas após ficarem presos dentro de um avião, nas profundezas do Oceano Pacífico. O filme se torna mais instigante quando tubarões ameaçam a vida dos sobreviventes. A situação, que parece impossível de escapar, provoca medo e desespero em todos.
Sophie Mcintosh interpreta a protagonista do filme, Ava, filha de um importante político dos EUA. A jovem está em viagem de férias com o namorado e o amigo, mas sempre acompanhada de perto por seu segurança Brandon, vivido por Colm Meaney ("The Banker" - 2020), que tem papel crucial no filme.
A aeronave cai no Oceano Pacífico e fica à beira de um precipício submarino. Ana e os demais ocupantes se mantêm vivos graças a uma bolsa de ar dentro do avião. Agora, ela terá que mostrar coragem e força para ajudar os amigos e superar traumas enquanto buscam uma salvação.
Phyllis Logan ("O Último Ônibus" - 2023) é Nana, uma das passageiras, viajando com o marido e a neta. Ela percebe que, apesar de sua experiência anterior no exército, o medo pode paralisar uma pessoa, levando-a a considerar desistir da vida e da família.
O elenco de “Desespero Profundo” conta ainda com nomes como a estreante Grace Nettle (Rosa), Will Attenborough (Kyle), Manuel Pacific (Danilo) e Jeremias Amoore (Jed), que entregam boas interpretações. Apesar de o roteiro deixar bem óbvio quais serão seus destinos.
Destaque para as cenas nas profundezas do mar, onde o medo e a aflição e tomam conta dos sobreviventes e do espectador. Tudo parece muito real, levando o público a torcer para que todos saiam vivos, apesar das condições improváveis. Especialmente por terem tubarões assassinos ao redor do avião como desafio.
Mesmo com baixo orçamento, a proposta de “Desespero Profundo” é interessante. O suspense é o destaque positivo, porém é perceptível a necessidade de explorar mais os personagens.
Entre as falhas, estão as situações clichês, como as cenas de ataques dos tubarões, e o roteiro, que de tão simples, acabou ficando confuso e vago. Vá ao cinema e vivencie essa história de suspense e drama, que fará você ficar longe dos mares por um bom tempo.
Ficha técnica:
Direção: Cláudio Fäh Distribuição: Diamond Filmes Exibição: nos cinemas Duração: 1h30 Classificação: 14 anos País: EUA Gêneros: ação, drama, suspense
Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, dois primos senegaleses que são os protagonistas desta história (Fotos: Pandora Filmes)
Eduardo Jr.
Com a bagagem de 11 prêmios conquistados no Festival de Veneza, chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29), o filme “Eu, Capitão”. Com distribuição da Pandora Filmes, o longa do diretor italiano Matteo Garrone ("Gomorra", 2008) conta a história de dois adolescentes que sonham em sair da África e viver na Europa.
Embora seja um assunto já saturado pelos telejornais, o longa conseguiu um feito: está entre os indicados ao Oscar 2024 de Melhor Filme Internacional.
Parte dessa conquista se deve aos protagonistas. Seydou Sarr e Moustapha Fall dão vida a Seydou e Moussa, primos senegaleses que nos convidam - com muita expressividade - a embarcar nessa viagem.
Os jovens trabalham escondido para juntar dinheiro e custear a viagem clandestina rumo à Europa. Como todo adolescente, eles ignoram a mensagem do velho curandeiro (que mais parece um alerta) para olharem para seus antepassados.
A história mostra de forma clara (ou seria na pele clara?) que o velho continente não quer abrir espaço para eles ou seus sonhos. Mas eles partem assim mesmo.
Ao abordar a crise dos refugiados e exibir um passo a passo da travessia clandestina, fica claro que a violência, o desespero e a volta por cima marcarão presença no filme. O problema é que a obra não se detém no "por que" ou no "quem ganha com isso" ao expor as peças de uma engrenagem de exclusão, ou a exploração que alguns negros praticam contra outros negros.
As camisas de grandes times de futebol europeu estão lá no figurino, mas o que esses clubes têm com isso ou o que fazem para aplacar a dor daqueles migrantes? Essa pergunta parece não interessar ao diretor, que se apoia em uma dura e triste realidade para contar uma história, mas a vende como ficção ao ignorar questões importantes.
O diretor revelou, em uma entrevista de divulgação, que ouviu a história de um garoto de 15 anos que pilotou sozinho um barco de refugiados a caminho da costa italiana, salvando todos os passageiros.
O longa consegue transmitir a ideia de uma saga. Os adolescentes viajam de ônibus, caminhão-baú, embarcam numa caminhonete, e atravessam o deserto a pé. Só isso já seria suficiente para mostrar que a travessia é longa e sofrida, mas as cenas no deserto, por mais bonitas que possam ser, não livram o espectador de um certo cansaço.
A compensação vem de algumas construções, que flertam com o onírico, com a poética mitologia local, e da mensagem de que tudo o que essas pessoas têm, são uns aos outros, simbolizada na rede de apoio criada para que possam se ajudar quando longe da terra mãe. Destaque para a cena do anjo na prisão.
Como o título sugere, o capitão vai pilotar o barco de refugiados. E é de se esperar sucesso na missão. Claro, a viagem não será um mar de rosas. Mas o longa cumpre seu papel de entregar uma saga (mesmo vendendo a ideia de que chegar a um país estrangeiro sem nada é uma vitória).
Além do desafio da travessia, o longa também terá outro caminho difícil: desbancar os correntes ao Oscar na mesma categoria. “Eu, Capitão” concorre com “A Sociedade da Neve”, “Dias Perfeitos”, “A Sala dos Professores” e “Zona de Interesse”. A cerimônia de entrega da estatueta dourada acontecerá em Los Angeles, no dia 10 de março.
Ficha Técnica: Direção: Matteo Garrone Distribuição: Pandora Filmes Exibição: no Cineart Ponteio e no Centro Cultural Unimed-Minas Duração: 2h01 Classificação: 14 anos Países: Itália, Bélgica, França Gêneros: drama, suspense, guerra
Jorge Paz e Danilo Grangheia protagonizam este longa baseado em fatos reais (Fotos: Star Distribution)
Maristela Bretas
29 de setembro de 1988. Uma data que marcou a história do Brasil e que agora é contada no longa "O Sequestro do Voo 375", com estreia marcada para dia 7 de dezembro. Por mais que a produção pareça um dos filmes mirabolantes de ação de Hollywood, o diretor Marcus Baldini (de "Os Homens são de Marte... e é Prá Lá que eu Vou" - 2014) foi fiel aos fatos reais que chocaram o país.
Afundado numa crise financeira sem precedentes, com planos econômicos que não deram certo, o Brasil, recém-saído de uma ditadura militar, é comandado por José Sarney.
A fome da família e o desemprego levam o tratorista maranhense Raimundo Nonato Alves (Jorge Paz) a tomar uma decisão desesperada: sequestrar um avião da Vasp, com mais de 100 passageiros e tripulantes a bordo, e jogá-lo no Palácio do Planalto para matar o presidente.
Armado com um revólver, ele passa sem problema pela segurança do aeroporto de Confins e embarca no voo da Vasp com destino ao Rio de Janeiro. Pouco depois, anuncia o sequestro, ordenando ao comandante Fernando Murilo (Danilo Grangheia) que se dirija para Brasília.
O espectador é envolvido pela tensão que se cria a partir daí, com a trama explorando as negociações com o sequestrador que estava totalmente descontrolado, a preocupação do piloto e do pessoal de terra com a segurança de passageiros e tripulantes, enquanto as autoridades cogitavam até mesmo tomarem uma medida drástica.
A atuação de Danilo Grangheia está firme, segura, entregando a tensão que a trama exigia do protagonista. Assim como a interpretação de Jorge Paz, cujo personagem, apesar da loucura do atentado, pode despertar empatia no público.
Nonato escancara a realidade da maioria da população brasileira na década de 1980 que poderia provocar uma reação semelhante em qualquer pessoa mais desesperada ou confusa.
Destaque para Roberta Gualda, que vive Luzia, a controladora de voo que conversa com a tripulação e negocia com o sequestrador durante todo o voo.
Também entregam boas interpretações Juliana Alves, como a comissária Cláudia, Adriano Garib, o brigadeiro Bastos, adepto a medidas drásticas, e o simpático Cesar Mello, o copiloto Evangelista.
O filme é bem produzido, com poucas falhas no roteiro e algumas situações clichês que não incomodam tanto. Ponto positivo para a preocupação de entregar uma ótima reprodução de época nos figurinos (especialmente nos uniformes), nos detalhes dentro do avião, nos veículos e na aeronave da extinta Vasp. Mesmo sendo utilizado um Boeing 737-200 no lugar do verdadeiro 737-300 da companhia na época.
O destaque fica para as cenas da manobra radical do piloto com o avião para desestabilizar o sequestrador, chamada de voo invertido (“tunneau”). Ficou bem interessante, especialmente porque aconteceu de verdade. Outro filme que mostrou esta manobra foi "O Voo", de 2013, com Denzel Washington.
Mais do que um filme, "O Sequestro do Voo 375" é uma produção nacional que vale como história para que a nova geração e até mesmo muitas pessoas da época saibam o que aconteceu e a gravidade do fato. O atentado ao voo da Vasp serviu também como um alerta para que as autoridades melhorassem a segurança de alguns aeroportos brasileiros.
Uma informação sem provas concretas apresentada no filme pelos produtores: os planos do sequestro brasileiro teriam sido encontrados no esconderijo de Osama Bin Laden e usados como modelo no ataque às Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2001, nos EUA. Fato ou fake?
O que vale é conferir esta produção no cinema. Depois ela deverá entrar no catálogo do Star+.
Ficha técnica:
Direção: Marcus Baldini Roteiro: Lusa Silvestre e Mikael de Albuquerque Produção: Estúdio Escarlate Distribuição: Star Original Productions Exibição: nos cinemas Duração: 1h47 Classificação: 14 anos País: Brasil Gêneros: ação, drama, biografia Nota: 4 (0 a 5)
A semana se encerra em clima leve de sessão da tarde com a estreia, nesta quinta-feira (6) nos cinemas, da divertida comédia "Um Dia Cinco Estrelas". Dirigida por Hsu Chien Hsin (“Desapega!” - 2023 e “Quem Vai Ficar com Mário“ - 2021), a produção marca a estreia de Estevam Nabote como protagonista de um filme.
Ele vem acompanhado de um elenco de famosos, como Nany People, Danielle Winits, Aline Campos, Marcos Breda, Clemente Viscaino e Felipe Kannenberg.
Na história conhecemos Pedro Paulo (Estevam Nabote), que após se ver endividado e cheio de problemas domésticos, decide colocar seu amado Opala dos anos 70 para rodar pelas ruas, se tornando motorista de aplicativo.
Ele faz de tudo para ajudar sua família a sair do sufoco e, principalmente, honrar a mãe Dona Nilda (Nany People), dando a ela uma viagem para Buenos Aires. Já a esposa Manuela (Aline Campos) disputa o cargo de gerente em uma loja com Oswaldo (Marcos Breda), um rival ambicioso e sem escrúpulos.
A graça do filme está justamente em ser simples, com uma história leve e de fácil identificação. Pedro Paulo entrega uma boa interpretação de um cara que vive apertado, mas que precisa amadurecer e mudar de postura para que as coisas melhorem.
Sua relação com o carro do pai, o Opala que ele carinhosamente chama de "Mozão", é bem engraçada e simpática. Estevam Nabote faz um personagem carismático, engraçado até nas piadas e sons que remetem ao veículo.
Quando o protagonista decide se tornar motorista de aplicativo, vemos os apuros que ele enfrenta no dia a dia do trânsito e com passageiros.
Na outra parte da família temos personagens femininas incríveis, como Dona Nilda. O mais legal é como ela mostra seu empoderamento ao juntar as economias para ir à Argentina assistir a um espetáculo de tango.
Esse poder se saber o que quer e como vai realizar é algo que fica muito claro durante todo o longa. Ela ainda consegue ser uma ótima sogra, mãe e avó, com equilíbrio e sabedoria.
Aline Campos dá um show de atuação com uma mulher simples e batalhadora, que se esforça para se destacar no trabalho. Ainda que entre em algumas confusões para concorrer ao cargo de gerente.
Temos algumas participações especiais como Ed Gama e Carol Bresolin, que tiveram pouco tempo de tela, mas que ajudam a definir o rumo do nosso protagonista.
Talvez o ponto que deixe a desejar é a personagem de Danielle Winits, uma ótima atriz que foi desperdiçada como a detetive Betina.
Caricata ao extremo, parece que fica fora do tom proposto pelo filme, especialmente se comparada com outros personagens. Talvez se fosse um pouco menos forçada, o resultado poderia ser melhor.
"Um Dia Cinco Estrelas" cumpre o papel como uma comédia para e sobre família. Um típico filme de sessão da tarde, que não aprofunda em nenhuma temática, mas encerra como uma boa e divertida produção.
Ficha técnica:
Direção: Hsu Chien Hsin Produção: Paris Filmes, Accorde Filmes Distribuição: Paris Entretenimento Exibição: nos cinemas Duração: 1h30 Classificação: 14 anos País: Brasil Gênero: Comédia
"Titanic", sucesso de crítica e público do diretor James Cameron, retorna as telonas em comemoração aos 25 anos de seu lançamento, ganhando versões em 3D e IMAX.
No entanto, é preciso ressaltar que a melhoria na resolução é quase nula, o que não invalida a experiência de ver e ouvir com maior qualidade.
Para aqueles que não conhecem a história, trata-se da tragédia do naufrágio do Titanic. O chamado "Navio dos Sonhos" atingiu um iceberg, causando a morte de mais de 1.500 pessoas na madrugada do dia 15 de abril de 1912.
No trajeto, temos o romance entre dois passageiros - Jack Dawson (Leonardo DiCaprio) e Rose Dewitt Bukater (Kate Winslet).
A narrativa começa com a repercussão, após muitos anos, da descoberta, pelo caçador de recompensas Brock Lovett (Bill Paxton), do diamante "Coração do Oceano" a partir de um desenho de Rose usando a joia.
Ela, agora idosa (papel vivido por Gloria Stuart), decide retomar as lembranças vividas no navio ao lado de Jack.
É muito rico esse contraste da memória afetiva com a experiência de ser uma sobrevivente do naufrágio. O espectador volta no tempo com a protagonista para conhecer seus dilemas e as pessoas envolvidas na tragédia.
Questões sociais
Rose é uma moça rica, forçada a se casar com Cal Hockley (Billy Zane) para "salvar" a mãe da falência e o nome da família. Na construção da personagem vemos que ela vive sufocada.
Principalmente pela mãe e pelas regras que a classe alta exige, o que a torna uma pessoa solitária e sem amigos.
Em contraste a vida de Rose, temos Jack, um boêmio e artista que ganha a vida desenhando pessoas, apostando em jogos de carta. Por sorte, ele ganha uma passagem no Titanic.
O personagem é leve, está sempre sorrindo e brincando com os amigos, especialmente Fabrizio de Rossi (Danny Nucci).
Uma das cenas-chave do roteiro acontece quando Rose, inconformada com a vida sem graça de rica, decide que irá pular do navio. Porém, é surpreendida por Jack, que decide intervir e mostrar a ela as consequências de se jogar na água fria.
Nasce daí a frase que funciona para o início do relacionamento dos dois: "Se você pular, eu pulo".
É muito interessante perceber como as questões de classes sociais são tratadas durante todo o filme.
Começa na entrada separada no navio: os ricos entram por uma porta, enquanto os pobres recebem inspeções para confirmar se não carregam alguma doença ou piolho.
Já o jantar da aristocracia é feito com etiqueta, ao passo que o ambiente da classe baixa nem é mostrado.
Os endinheirados têm conveses individuais e espaçosos e os menos favorecidos dividem uma área comunitária.
Ciúmes e negligência
Jack apresenta a Rose seu mundo, ainda que no navio. Um mundo mais divertido e alegre, sem julgamentos ou rótulos. Rose, por sua vez, mostra a ele como a vida de rica é difícil e como isso pesa em seu nome.
Cal, futuro noivo da jovem, é o vilão da história, que impõe regras de posse a Rose. Empresário e político de influência, ele quer comprar todos a sua volta.
Mas se sente ameaçado pelo envolvimento de Rose com Jack. Não aceitando que a noiva tenha se encantado por uma pessoa de classe que ele considera inferior, decide armar contra o jovem.
Podemos notar que o capitão Edward Smith foi negligente. Ele se preocupou mais com a mídia do que com a segurança de todos, fazendo com que o navio navegasse a uma velocidade muito alta.
Outro detalhe importante é que a proa da embarcação era pequena, dificultando a visualização do iceberg.
Erros como esses poderiam ter sido evitados e a viagem não teria se transformado numa marca trágica na história.
Efeitos e trilha sonora impecáveis
Pulando para os aspectos técnicos, os efeitos especiais e designer de produção são os grandes acertos da obra.
A forma como James Cameron apresenta a grandiosidade tanto do navio quanto de seu naufrágio é surpreendente e também assustador.
Há uma preocupação em mostrar como cada um dos ocupantes do Titanic procurou formas de sobreviver em meio ao naufrágio.
Destaque também para a trilha e os efeitos sonoros, que realçam a força e a velocidade do Titanic. Dão a sensação de estarmos a bordo de um navio de luxo.
Impossível falar desse clássico sem pensar em “My Heart Will Go On”, interpretada por Celine Dion e tema de Jack e Rose.
Os instrumentais também não deixam a desejar. Exemplo disso é "Hymn To The Sea", de James Horner, que proporciona o clima ideal de partida na abertura, filmada em tom de sépia, para marcar o início da jornada do maior transatlântico do mundo na época.
Já "Hard To Starboard" acontece no momento da colisão com o iceberg e do desespero da tripulação para tentar diminuir a velocidade do navio.
No geral, a trilha sonora, composta por James Horner, é bem poética e funciona com agilidade. Confira aqui.
Talvez o único defeito do filme tenha sido explorar pouco o passado de Cal. Sabemos pouco sobre ele e sua função, o que o coloca apenas como o antagonista que quer destruir Jack.
Se houvesse maior profundidade no personagem ao longo da obra talvez, só talvez, seria possível comprar suas motivações.
O longa, sem dúvida, assim como o original lançado em 1997 (no Brasil o lançamento foi em janeiro de 1998), merece ser visto (ou revisto) nos cinemas, tanto por quem assistiu à época como pelas novas gerações.
Uma bela homenagem aos 25 anos deste clássico, que marcou as carreiras em ascensão de seus protagonistas, conquistou 11 estatuetas do Oscar e ainda é capaz de emocionar o público.
Ficha técnica:
Direção, roteiro, montagem e produção: James Cameron Produção: Lightstorm Entertainment Distribuição: 20th Century Studios Exibição: nos cinemas Duração: 3h16 Classificação: 12 anos País: EUA Gêneros: drama, romance
Um ótimo filme de aventura e fantasia para ser assistido em família (Fotos: Netflix)
Silvana Monteiro
Para crianças de 8 a 80 anos, "Terra dos Sonhos" ("Slumberland") é um ótimo filme de aventura e fantasia e uma boa pedida para assistir em família. Produzido e exibido pela Netflix, o longa é dirigido por Francis Lawrence e escrito por David Guion e Michael Handelman, baseado na história em quadrinhos "Little Nemo in Slumberland", de Winsor McCay.
Além de contar com um ator que chama a atenção e já conhecido do público por sua beleza e simpatia - Jason Momoa, o "Aquaman" (2018), do Universo DC. O filme entrega um roteiro intenso e animador ao tratar de realidade, sonhos, pesadelos, luto e depressão, mas de uma forma encantadora.
A história é centrada na menina Nemo - leia se "Nimo" (Marlow Barkley) - que mora em um farol com seu pai, Peter (Kyle Chandler). Educada em casa, ela vive num mundo afetuoso e seguro em sua humilde casa. Mas a morte do pai, além de trazer a orfandade para a criança, vai provocar uma mudança radical em seu modo de viver.
Ela será levada para a casa do tio Phillip (Chris O'Dowd), um vendedor de maçanetas (uma referência a um desdobramento importante da história). A menina passa a frequentar a escola, mas sente-se segura apenas em seu quarto, de preferência, dormindo.
É na "Terra dos Sonhos" que ela vai viver suas maiores aventuras ao lado de seu bichinho de pelúcia, o porco. Sonhando, Nemo conhece Flip (Jason Momoa), uma figura mitológica que vai levá-la a realizar seu maior desejo.
Entre pérolas marinhas, aves gigantescas, navios, aviões, e muitas portas (numa referência às descobertas e experiências), os dois vão viver aventuras incríveis que prenderão o telespectador.
Os destaques do filme são os figurinos, a estética dos cenários numa fotografia arrojada e a brilhante ideia de jogar, no meio da história, personagens passageiros, que ficam por poucos minutos, exatamente como acontece quando sonhamos e acordamos.
Além de Momoa, a Agente Verde (Weruche Opia), que vive perseguindo Flip e Nemo, se destaca pela essência perfeita do Black Power. Seus looks ao estilo dos anos 70 são incríveis.
A personagem funciona como uma justificativa ao alter ego fora da lei de Flip, como se seu comportamento policialesco, agindo como uma "atrapalhadora" de sonhos, justificasse o arquétipo criminoso do protagonista.
O filme é uma imersão no universo psicanalítico, tem profundas referências à semiótica e a psiquiatria, temas envoltos numa narrativa interessantíssima do mundo onírico. Tudo tratado com bom humor e sensibilidade do início ao fim.
Ficha técnica:
Direção: Francis Lawrence Produção, distribuição e exibição: Netflix Duração: 1h57 Classificação: 10 anos País: EUA Gêneros: aventura, fantasia, família
“Noites de Paris” (“Les Passagers de la Nuit”), dirigido por Mikhaël Hers, longa que chega nesta quinta-feira (20) na sala 2 do Una Cine Belas Artes, é um verdadeiro mosaico do cotidiano. O ponto de partida do filme é a reconstrução da vida de Elisabeth (Charlotte Gainsbourg), que acaba de passar por um divórcio e atravessa dificuldades financeiras.
Para se adaptar ao novo estilo de vida, a personagem começa a trabalhar em um programa de rádio noturno, chamado "Passageiros da Noite".
É nessa circunstância que ela conhece Talulah (Noée Abita), uma adolescente problemática que conta sua história para a apresentadora Vanda (Emanuelle Béart).
A personagem principal não consegue deixar de se comover com o depoimento da garota, que vive sem domicílio fixo, e decide convidá-la para passar uns dias em sua casa, onde também moram os filhos Judith e Mathias (Megan Northam e Quito Rayon-Richter).
Apesar de abordar temas como divórcio, maternidade, dependência química e ativismo (a história tem início na noite da eleição de 1981, quando o socialista François Mitterrand se tornou presidente), o filme não é de fato centrado em alguma dessas pautas.
Tampouco é melodramático ou panfletário. Como pontuou o veículo Variety, o longa trata de "pedaços de vida", primordialmente por meio da visão de Elizabeth.
A presença de Gainsbourg na tela realmente é a alma do filme: a atuação da atriz é impecável e exala sensibilidade. Acreditamos na força e também nas vulnerabilidades de Elisabeth, que acaba se tornando uma mãe para Talulah, já que a garota é dependente química e tem pais relapsos.
O trabalho da protagonista combina bastante com o próprio "Noites de Paris", considerando que é um exercício de escuta. Os convidados do programa "Passageiros da Noite" não necessariamente contam casos extraordinários: são divagações típicas da madrugada, focadas primordialmente no cotidiano, na história de pessoas comuns.
Se a cineasta Agnès Varda considerava que o artista é um "catador de histórias da vida real", o filme cumpre muito bem essa função de reunir narrativas simples numa obra cheia de significado. O uso de diferentes lentes e de imagens de arquivo granuladas enriquecem visualmente a produção, que de fato "é a cara" dos anos 80.
A excelente trilha sonora nos ajuda a voltar no tempo e garante a carga emotiva de algumas cenas. Além de acompanhar a história da família, o longa homenageia o próprio cinema.
A jovem Talulah é a mais fascinada com os filmes e faz da sétima arte uma forma de escapismo, já que consegue esquecer da vida (e de todos os seus consideráveis problemas) quando está numa sala de cinema.
A própria performance de Abita dialoga com o trabalho da atriz francesa Pascale Ogier, que morreu tragicamente em 1984. O filme "Noites de Lua Cheia", um dos principais trabalhos estrelados por Ogier, é bastante citado na produção.
Ao falar sobre o longa de Éric Rohmer, Talulah diz que conseguimos apreciar melhor alguns filmes depois de certo tempo ou quando os vemos duas vezes.
Possivelmente influenciada por essa reflexão, a pessoa que vos escreve assistiu à "Noites de Paris" duas vezes. Se a obra é tocante e significativa logo "de primeira", da segunda vez nos deixamos levar ainda mais pela sensibilidade da narrativa e conseguimos apreciar melhor os respiros do filme.
Nesse trabalho de Mikhaël Hers, muitas cenas não cumprem uma função narrativa pragmática - basta a vida como ela é, sem grandes acontecimentos em cada tomada.
Ficha técnica:
Direção: Mikhaël Hers Produção: Nord-Ouest Films / Arte France Cinéma Distribuição: Vitrine Filmes Exibição: Una Cine Belas Artes (sala 2, sessões 16 horas e 18h15)
Joseph Gordon-Levitt é o negociador que tenta evitar o sequestro de seu avião e a morte de passageiros e tripulação (Fotos: Universum Film/Divulgação)
Maristela Bretas
Centrado no drama claustrofóbico vivido pelo copiloto Tobias Ellis, papel de Joseph Gordon-Levitt ("Entre Facas e Segredos" - 2019 e "A Travessia" - 2015), "7500" é um suspense de pouco mais de 90 minutos de duração, mas que parecem horas, tamanha a tensão. Especialmente por toda a ação ocorrer na cabine de um voo entre Berlim e Paris, envolvendo apenas três personagens na maior parte do tempo. A produção também não tem uma trilha sonora impactante e os efeitos visuais são limitados, além de atores pouco conhecidos (exceto Gordon-Levitt).
A produção original da Amazon Prime Video é boa, mas o ambiente pequeno e fechado incomoda profundamente a quem assiste. Talvez tenha sido a forma encontrada pelo diretor Patrick Vollrath para envolver mais o espectador na trama. Logo após decolar de Berlim, um grupo de radicais islâmicos consegue dominar a tripulação e matar o piloto antes que a porta da cabine fosse trancada pelo copiloto.
Em seu pequeno espaço, por meio do código aéreo internacional 7500 (sequestro de avião), Tobias avisa às autoridades o que está ocorrendo e é orientado a levar a aeronave para um aeroporto próximo. E, em hipótese alguma, deve abrir a porta da cabine. Ao mesmo tempo, ele é pressionado pelos terroristas para que os deixe entrar e dominar o avião ou pessoas serão mortas. Pela tela do monitor de segurança dentro da cabine, o copiloto assiste os sequestradores cumprirem a promessa, matando passageiros e tripulantes.
O filme foca no drama de Tobias: aceitar as condições dos terroristas e entregar o avião ou salvar centenas de pessoas, pousando a aeronave em segurança e deixando a polícia cuidar de tudo? "7500" lembra em situações mostradas em sucessos como "Voo United 93" (2006), dirigido por Paul Greengrass (o mesmo de "22 de julho" e a franquia Bourne), porém sem o mesmo impacto emocional do atentado do 11 de setembro.
Levitt entrega uma boa interpretação do copiloto americano que trabalha para uma companhia aérea alemã e é casado com uma tripulante. O elenco conta ainda com Omid Memar, que faz o jovem terrorista Vedat, Aylin Tezel (comissária Gókce), Carlo Kitzlinger (piloto Michael Lutzmann), Murathan Muslu (sequestrador Kinan) e outros ainda menos conhecidos.
No início paciente e usando um tom de voz pacificador, Tobias tenta negociar com os sequestradores, mas à medida que a tensão vai crescendo, ele precisa tomar uma decisão. Até então bem tensa, a história sofre uma mudança e cai na solução clichê que o cinema já explorou muito - o copiloto explora a fraqueza de Vedat, o mais assustado dos sequestradores, que não está muito convicto de que é certo o que os demais querem fazer.
Tudo o que vem a partir daí é bem esperado, mas não tira o mérito do filme. Para quem não se incomoda com ambientes reduzidos e fechados, "7500" é um bom filme, bem tenso, mas sem grandes novidades ou surpresas.
Ficha técnica: Direção e roteiro: Patrick Vollrath Exibição: Amazon Prime Video Duração: 1h32 Classificação: 14 anos Países: Alemanha e Áustria Gêneros: Drama / Suspense Nota: 3 (0 a 5)