O filme é uma lavagem de roupa suja entre os sexagenários Meg e Nick, que se agridem o tempo todo (Fotos Pandora Filmes/Divulgação)
Mirtes Helena Scalioni
Que ninguém se iluda. "Um fim de semana em Paris" não é uma comédia romântica como pode fazer parecer aos desavisados o título e até o cartaz. Estão lá a Torre Eiffel, as ruas charmosas, os restaurantes, os vinhos, champagnes e pratos saborosos, mas o caso é bem outro. A história do casal que, ao completar 30 anos de casamento, decide retornar à cidade onde passaram a lua de mel é ácida e amarga.
Dirigido por Roger Michell, o filme é uma lavagem de roupa suja entre Nick (Jim Broadbent) e Meg (Lindsay Duncan) e não há nada de agradável nem de engraçado na relação dos dois sexagenários que se agridem o tempo todo. Professores universitários na cidade de Birminghan, na Inglaterra, ambos - ela, principalmente - não medem palavras quando a intenção é humilhar o outro. Não é por acaso que o filme tem sido classificado como comédia dramática.
Mais do que um filme sobre o desgaste de um casamento, "Um fim de semana em Paris", talvez se aproxime mais de uma reflexão sobre a maturidade. Embora a relação do casal esteja permanentemente em foco, é na desilusão, no cansaço e nas perguntas sem respostas de cada um que reside o problema. Essa ideia fica patente a partir do momento em que os dois encontram, por acaso, com o bem-sucedido Morgan, um ex-aluno de Nick, vivido por Jeff Goldblum, e que convida os dois para um jantar. A pergunta é: a forma de envelhecer é uma escolha?
Os três - Nick, Meg e Morgan - fazem com que "Um fim de semana em Paris" seja um filme de personagens. As esquisitices e exageros cometidos por eles são responsáveis pela estranheza e até pelo desconforto inicial causado pela película. Há momentos em que o espectador pode até colocar em dúvida a verossimilhança da história. E é esse detalhe exatamente que faz do filme uma peça da qual as pessoas não vão esquecer tão cedo.
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Chappie é um doce robô que pensa, sente e sofre com a violência do ser humano (Fotos: Columbia Pictures/Divulgação)
Maristela Bretas
Ele poderia ser somente um robô, seguidor de ordens e usado para conter a violência na futurista cidade sul-africana de Johannesburgo. Mas o australiano Neill Blomkamp (de "Distrito 9" e "Elysium") queria mais e apostou sua nova investida, como escritor, diretor e produtor em "Chappie". E fez um ótimo filme que mostra uma sociedade decadente, violenta, com pouca ética, cuja única esperança está exatamente naquele que não poderia ter consciência.
"Chappie" tem seus momentos de pureza conflitando com a extrema violência da cidade e consegue passar uma boa mensagem, apesar de desenhar um futuro sombrio, dominado pelas máquinas (algo semelhante a "O Exterminador do Futuro"). O filme de Blomkamp não chega a este estágio, mas deixa a entender que a Inteligência Artificial aplicada nos robôs pode levar a este destino. Está mais para uma mistura de "Wall-E", "Robocop", "Eu, Robô" e "Gigantes de Aço". Aproveitando todos os pontos bons, inclusive os conflitos de gangues e a doçura de uma mãe punk cuidando de seu filho robô.
Hugh Jackman está no elenco como o vilão Vincent Moore, contracenando com Sharlto Copley (que interpreta Chappie), Dev Patel (Deon Wilson, criador do robô), Sigourney Weaver (como Michelle Bradley, a CEO da empresa que constrói Chappie) e a dupla de rap-rave Ninja e Yo-Landi. Em um futuro próximo, a força policial utiliza robôs para patrulhar as ruas e tentar controlar a criminalidade. Claro que isso iria desagradar principalmente às gangues e algumas pessoas que veem nas máquinas um grande perigo para o ser humano. Um desses guardas androides é sequestrado e reprogramado para se tornar o primeiro robô com capacidade de pensar e sentir por si mesmo.
O que Deon Wilson não contava era sua criação que poderia ser a última esperança para a humanidade, iria atrair o interesse das gangues que queriam usar a máquina na prática de crimes. E que seu maior adversário na indústria que fabrica os guardas, Vicent Moore, iria tentar sabotar seu projeto e conseguir que sua criação, o gigante Alce, ocupasse a tarefa de protetor da cidade. Nem que para isso precisasse provocar o caos e destruir boa parte dela. Segundo o diretor, a ideia era pegar algo tão pouco humano quanto um robô da polícia e lhe dar qualidades completamente humanas, até o ponto de demonstrar emoções e qualidades mais morais, éticas e conscienciosas que as manifestadas pelos próprios seres humanos.
E Chappie vive um conflito de personalidade, sem saber ao certo a diferença do bem e do mal, uma vez que era orientado tanto por Deon quanto pelos gângsteres de segunda categoria - Ninja e Yo-Landi. Ela tem dois tipos de comportamento, passando de violenta criminosa a mãe carinhosa e superprotetora do doce Chappie, que não consegue perceber o mal nas pessoas. Sharlto Copley dá vida ao personagem e diferentemente de outras produções do gênero, interpreta o papel diante das câmeras, atuando em todas as cenas lado a lado com os demais atores, o que os ajudou a tirarem o máximo proveito dos seus personagens. A Image Engine, assumiu a partir daí e fez um grande trabalho com os efeitos especiais.
Mais um ótimo trabalho para o currículo de Blomkamp, tanto no enredo quanto nos efeitos especiais, principalmente nas cenas de ação e lutas. Isso sem falar na trilha sonora, que tem o vencedor do Oscar, Hans Zimmer como responsável.
Curiosidades
Sharlto Copley usou uma placa no peito para manter as mesmas proporções do peito e das costas que o Chappie, o que permitiu saber em quais espaços ele cabia e como o robô se sentaria ou ficaria de pé em certas poses. Desta forma, quando um ator põe a mão no ombro ou no peito do Chappie, as mãos do ator estão no lugar certo quando o Copley é substituído pelo Chappie digital.
- Hugh Jackman afirmou que nunca se divertiu tanto interpretando um personagem como Vincent Moore, que é australiano e permitiu ao ator usar o próprio sotaque. Jackman também curtiu a oportunidade de interpretar um vilão realista com um ponto de vista justificável. - Ninja e Yo-Landi Vi$$er usam no filme seus nomes verdadeiros e na vida real formam a dupla de rap-rave, Die Antwoord, da África do Sul.