08 fevereiro 2017

Jessica Chastain, uma lobista sem medo de colocar suas "Armas na Mesa"


Filme conta a história de lobista que muda de lado para defender o controle de armas nos EUA (Fotos: Europacorp/Divulgação)

 Maristela Bretas

Ela tinha poder, era respeitada por aliados e inimigos e seguida por fieis assistentes no respeitado escritório de advocacia onde trabalhava. Mas a vida da lobista Elizabeth Sloane deu uma guinada quando ela resolveu apoiar o projeto para tornar mais rígidas as leis de porte de armas. A personagem é muito bem interpretada e incorporada por Jessica Chastain, o que lhe valeu a merecida indicação ao Globo de Ouro 2017 como Melhor Atriz.

Essa é a história de "Armas na Mesa" ("Miss Sloane"), um drama sobre os bastidores do mundo da venda de armas, o poder da indústria armamentista sobre a mídia e membros do Congresso norte-americano.   Sempre um passo a frente de seus inimigos, Elizabeth Sloane é uma das lobistas mais poderosas dos Estados Unidos.

Mulher sem tempo para amores, Sloane vive no luxo que sua profissão lhe proporciona, mas sente a solidão da falta de um relacionamento e de nunca poder confiar em outras pessoas. Um retrato de muitas grandes executivas atuais que abriram mão de uma vida comum em troca do poder. De poucos escrúpulos a lobista usa todo tipo de estratégia, legais ou não, para atingir seus objetivos.

Contrária à política armamentista, ela recusa o convite para apoiar a bancada pró-armas, deixa seu conforto e um polpudo salário para se ligar a defensores contrários à proposta, liderados por Rodolfo Schimidt (o charmoso Mark Strong). Isso provoca a ira de ex-colegas e de seu antigo chefe, George Dupond (Sam Waterston), que passam a persegui-la e ameaçá-la pessoal e profissionalmente.

Mas Sloane tem sempre uma carta na manga e não vai medir consequências para usá-las, mesmo que isso magoe aqueles que estão próximos a ela. Ao mesmo tempo, a lobista passa a questionar seus limites dentro de sua profissão e até onde compensa levar a vida que escolheu.

Além de Chastain, Strong e Waterston, "Armas na Mesa" conta com ótimas interpretações de John Lithgow, Alison Pill e Gugu Mbatha-Raw, nesta trama de final surpreendente, muito bem amarrado pelo diretor John Madden. Merece ser visto.



Ficha técnica:
Direção: John Madden
Produção: Europa  Films /  Filmnation Entertainment /
Distribuição: Paris Filmes
Duração: 2h09
Gênero: Drama
Países: EUA / França
Classificação: 14 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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05 fevereiro 2017

"Estrelas Além do Tempo" - negras, competentes e grandes mulheres

Produção é baseada na história real de três mulheres que foram essenciais para o sucesso do programa espacial norte-americano (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


O ano é 1961. Os Estados Unidos brigam com a Rússia pelo domínio do espaço e o que é pior, o astronauta Yuri Gagarin chega antes para desespero do alto escalão do governo e da NASA. Nem mesmo reunindo os melhores cientistas, matemáticos e especialistas em engenharia espacial as tentativas funcionam. Foram necessárias três geniais mulheres e ainda por cima negras, num país extremamente racista, para colocar os norte-americanos na frente de seu maior inimigo.

E é a história deste trio de especialistas, cada uma em sua área, que sofreu preconceitos de todo tipo para provar seu valor, que conta o filme "Estrelas Além do Tempo" ("Hidden Figures"). Baseado em fatos reais adaptados da obra de outra mulher, Margot Lee Shetterly, a produção está na disputa do Oscar 2017 como "Melhor Filme e Melhor Roteiro Adaptado.

O trio genial e em perfeita sintonia é formado por Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe, que interpretam a matemática Katherine Johnson, a especialista em mecânica e eletrônica Dorothy Vaughn e a engenheira Mary Jackson, respectivamente. Três grandes amigas que conseguem trabalhar na NASA, mas enfrentam o preconceito, assim como outras negras. Elas desenvolvem projetos, mas ficam isoladas em um galpão destinado à sua raça, sem poderem ocupar cargos melhores e ainda tendo de brigar por seus direitos contra chefes brancos, racistas, prepotentes e incompetentes.

As oportunidades de trabalharem no principal programa espacial começam a surgir, mas Katherine, Dorothy e Mary têm de brigar em dobro para provarem sua competência e se tornarem peças essenciais na conquista do espaço. Taraji P. Henson está excelente no papel da matemática que precisa enfrentar desprezo e ataques dos colegas, como Paul Stafford (Jim Parsons). Apenas o diretor do programa espacial Al Harrison (Kevin Costner) passa a lhe dar valor ao perceber sua capacidade para cálculos matemáticos. Parsons ainda vai demorar para perder em filmes sérios a cara de Sheldon, de "The Big Bang Theory". Ele e Costner estão bem em seus papéis, mas funcionam literalmente como suportes para Taraji brilha na produção

Não menos diferente como trampolim está Kirsten Dunst. Sua atuação é mediana e quando   aparece é para destacar a interpretação de Octavia Spencer, indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Jeanelle Monáe, proporcionando bons momentos cômicos e mostrando também que é boa de briga - uma mulher negra que quer ser engenheira e precisa ir à justiça para estudar numa escola só para brancos.

Além do excelente elenco principal, o diretor Theodore Melfi fez um ótimo trabalho na escolha do figurino e na reconstituição de época, o que aumenta o prazer de assistir "Estrelas Além do Tempo". Trata-se de um filme que, apesar de muitas explicações técnicas sobre o funcionamento do projeto espacial, soube explorar bem o período em que acontece - Guerra Fria, mulheres e negros lutando por seus direitos e tentando conquistar espaço numa sociedade preconceituosa.

E se todos esses pontos já não bastassem, o filme ainda conta com uma bela trilha sonora, entregue ao premiado Hans Zimmer (responsável por mais de 130 sucessos no cinema, entre eles, a saga "Piratas do Caribe", "Interestelar" e "Batman vs Superman - A Origem da Justiça") e Pharrell Williams , que também é um dos produtores (responsável pelo sucesso "Happy", de "Meu Malvado Favorito").

Imperdível, "Estrelas Além do Tempo" é outro grande filme de 2016 que tem tudo para agradar, inclusive na abordagem da questão racial, expondo situações absurdas que as personagens originais tiveram de enfrentar como correr quase 2 quilômetros para ir ao banheiro destinado somente às negras. Val a pena conferir.


Ficha técnica:
Direção e produção: Theodore Melfi
Produção: 20th Century Fox
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h06
Gêneros: Drama / Biografia
País: EUA
Classificação: Livre
Nota: 4,5 (0 a 5)

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