02 outubro 2017

"Kingsman: O Círculo Dourado" não supera o primeiro, mas diverte pelas piadas e efeitos visuais

Taron Egerton volta a interpretar o agente Eggsy, mais mortal sem perder a elegância (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas


Este é mais um caso em que o primeiro filme é muito melhor que a continuação. Para quem assistiu "Kingsman - Serviço Secreto" (2015), a expectativa era muito grande para "Kingsman: O Círculo Dourado" ("Kingsman: The Golden Circle"), principalmente pelo elenco, que repete vários atores e acrescenta outros de sucesso, além do cantor e compositor Elton John, que canta, dança e luta com bandidos. Produção bem britânica com muito estilo.

O filme é bom, tem uma trilha sonora de arrepiar, boa parte dela com músicas famosas de Elton John. As locações, principalmente em Londres, também foram bem escolhidas. O diretor Matthew Vaughn usa e abusa nos efeitos visuais, não faltam tiros, explosões (um prédio inteiro vem abaixo) muitos voos em slow-motion e cenas de lutas que chegam a provocar risadas de tão sacadas. Sangue tem de sobra, para todos os lados, assim como no primeiro filme, que pega até mais pesado na carnificina. Ou seja, foi seguido o estilo.

Então onde "Kingsman: O Círculo Dourado" pecou? Falar que foram os excessivos clichês é bobagem, isso era esperado numa comédia de espionagem. Mas o filme tem pontos que ficam monótonos, quebrando o ritmo de ação que sempre foi o melhor da franquia. A vilã Poppy Adams (papel de Julianne Moore) é fraca, não tem cara de má e até quando faz crueldade ou manda matar alguém parece que está servindo um sorvete. Uma pena, o roteiro poderia explorar melhor o potencial desta maravilhosa atriz. Mas em compensação, seu esconderijo no meio de uma floresta, é fantástico, uma reprodução de lugares bem nos anos 80.

Taron Egerton está mais maduro, tanto o ator quanto seu personagem, Eggsy, principal espião da Kingsman. E entrega um ótimo trabalho. O mesmo para Mark Strong, que interpreta Merlin, o gênio em tecnologia da agência. E claro, Colin Firth (o agente Galahad ou Harry Hart), que está de volta, mas eu não vou contar como isso acontece para não dar spoiler. Já o núcleo norte-americano da agência de espionagem conta com o gato Channing Tatum como o agente Tequila, que pode até não ser o top em interpretação, mas garante uma boa parte cômica; Pedro Pascal é Whiskey, o agente estilo cowboy americano; a agente Ginger Ale, "foda" em tecnologia, ficou para a atriz Halle Berry; e no comando do grupo o veterano Jeff Bridges, chamado de agente Champagne.

Para quem não viu o primeiro, a Kingsman é uma agência independente de inteligência internacional operando no mais alto nível de discrição, cujo objetivo é manter o mundo seguro. Após vencer os vilões em "Kingsman - Serviço Secreto" mas perder um dos principais espiões - Galahad, a agência agora conta com novo comando e a atuação dos recrutas elevados a agentes, sob a supervisão de Merlin. Só não esperavam enfrentar um perigo ainda maior - a traficante de drogas Poppy Adams, que decide pôr fim à agência para dominar o mundo.

Ela lança um ataque de mísseis à sede da organização que praticamente elimina a Kingsman e a maior parte de seus integrantes, restando apenas Eggsy e Merlin (Mark Strong). A dupla passa a procurar ajuda para retomar as atividades e descobre nos Estados Unidos uma agência semelhante à britânica - a Statesman, onde trabalham os agentes Tequila, Whiskey e Ginger, sob o comando de Champagne. Juntos eles vão tentar deter Poppy e seus aliados. 

História de espionagem seguindo a cartilha, sem muitas novidades, mas que consegue mesclar ótimas cenas de ação com boa comicidade. Vale conferir, boa diversão, mas recomendo que veja o primeiro para entender melhor a história.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Matthew Vaughn
Produção: 20th Century Fox / 
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h21
Gêneros: Ação / Espionagem / Comédia
Países: EUA / Reino Unido
Classificação: 16 anos
Nota: 3,5 (0 a 5)

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01 outubro 2017

"Mãe!", o polêmico suspense apocalíptico de Darren Aronofsky

Produção, que tem recebido vaias e elogios da crítica especializada, tem na excelente interpretação de Jennifer Lawrence um de seus destaques (Foto: Paramount Pictures/Divulgação)

Maristela Bretas


Não tem meio termo. "Mãe!" ("Mother!"), de Darren Aronofsky (que dirigiu também "Cisne Negro" e "Noé") é o suspense mais intrigante, alucinante,  desagradável e bem produzido até o momento do diretor. Mas como um filme pode reunir tantas características e ao mesmo tempo ser atraente. Depende da forma como ele é encarado. "Mãe!" foi produzido, conforme seu diretor, como uma alusão à criação do homem até o Apocalipse. Mas também pode ser encarado como discussão da relação de um casal em crise, com a esposa se anulando em função do marido escritor que se alimenta da adoração dela e de seus fãs.

O certo é que o filme não é fácil de digerir, leva um bom tempo para entender o por que do enredo e, principalmente, o rumo tomado após o período de calmaria. O roteiro, para quem não leu ou viu algum trailer, leva a várias opiniões sobre a proposta do diretor. Se a intenção dele era gerar polêmica, conseguiu. "Mãe!" recebeu aplausos e vaias desde a sua estreia. O filme provoca um carrossel de emoções no público que vão da revolta à passividade da esposa e o descaso do marido, à invasão da casa e do espaço do casal por estranhos até o final, que pode ser chamado de terceiro ato e é o mais cruel e assustador.

Muitas pessoas vão querer deixar o cinema quando esta parte começa e é compreensível. Chega a causar asco e ódio. Na minha opinião, o diretor não precisava avançar tanto em determinadas imagens, como a do bebê. "Mãe!" é provocativo, seja na visão religiosa ou na forma de tratar os problemas do casal. E a casa onde moram é o início, o meio e o fim de tudo, o local idolatrado pela mulher, quase uma parte dela e que deveria ser imaculado, mas que acaba invadida e degradada por estranhos.


Jennifer Lawrence está excelente no papel da mulher (Mãe), centro de toda a história e deixa Javier Bardem em segundo plano. Na versão bíblica, ela é a natureza, criada por Deus, papel de Bardem, o marido. Enquanto estão sozinhos tudo é o paraíso, que de uma hora para outra recebe a visita de um estranho (Ed Harris). Na Bíblia ele seria Adão, que da sua costela cria Eva (Michelle Pfeiffer) e, na sequência seus dois filhos Caim e Abel (os irmãos Brian e Domhnall Gleeson). E está formado o caos, que vai tomando conta do filme a cada ato, culminando no Apocalipse.

Se a história de "Mãe!" for analisada pelo lado de uma relação doentia, Jennifer é a mulher submissa, que faz tudo para agradar o marido mais velho que ela, inclusive reconstruindo a casa do casal destruída por um incêndio. O marido vive uma crise de abstinência de criatividade e nada importa para ele, apenas conseguir criar um novo poema e que as pessoas voltem a adorar sua obra. Quando estranhos chegam a sua casa, ele deixa que tomem o espaço, ignorando o desespero da mulher que não aceita mudanças na sua paranoica rotina. Até que uma tragédia desencadeia uma série de fatos bizarros e cruéis.

"Mãe!" ainda pode levar alguns espectadores a acreditarem que se trata de um filme de terror, graças aos mistérios da casa onde tudo acontece, com sangue brotando no chão e no porão, e aos fatos que tomam conta da metade do filme para a frente. Como se alguma força do mal atuasse sobre as pessoas que ocupam os cômodos. 

Também pode ser encarado como um drama e no segundo ato, a expectativa é que a calmaria da gestação da personagem de Jennifer leve a uma conclusão menos angustiante do que foi até ali. Grande engano. Aronofsky continua provocando o público, criando um clima cada vez mais tenso, a ponto de fazer com que este sinta raiva do filme ao expor cenas repugnantes e de pura agressividade. Como a que vemos em noticiários diários ou descritas na Bíblia.


"Mãe!" é um filme do tipo "ame-o ou deixe-o" porque confunde, agride, bate na cara e faz pensar sobre o caminho que o ser humano está tomando, com a perda de moral, respeito, dignidade e humanidade. Como muitos de meus amigos, ainda estou digerindo o filme e a cada conversa com outras pessoas que já assistiram, vejo uma nova abordagem. E concordo com a maioria: trata-se de um dos melhores suspenses deste ano e um dos melhores filmes dirigidos por Darren Aronofsky, apesar de tudo.

E o sucesso dessa produção, filmada em 16 mm, se deve ao grande elenco, especialmente Jennifer Lawrence e aos movimentos precisos de câmera colocadas junto aos atores acompanhando cada mudança de cenário, muitas vezes em cenas sem cortes. Difícil explicar, só assistindo até o final. E depois deixe seu comentário.



Ficha técnica:
Direção: Darren Aronofsky
Produção: Protozoa / Paramount Pictures
Distribuição: Paramount Pictures Brasil
Duração: 2h02
Gênero: Suspense
País: EUA
Classificação: 16 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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