06 junho 2018

"Oito Mulheres e Um Segredo" - uma aula de vigarice com charme e glamour

Filme dirigido por Gary Ross tem um elenco diversificado até no talento (Fotos: Barry Wetcher/Warner Bros. Pictures)

Maristela Bretas


O elenco feminino pode não ter nomes tão talentosos quanto "Onze Homens e um Segredo" (2001), "Doze Homens e Outro Segredo" (2004) e "Treze Homens e Um Novo Segredo" (2007), mas o diretor Gary Ross (que assina o roteiro com Olivia Milch) soube explorar bem o potencial de cada uma das integrantes da quadrilha do maior roubo de joias de Nova York em "Oito Mulheres e Um Segredo" ("Ocean's 8").

Se nos três  filmes masculinos dirigidos por Steven Soderbergh brilharam George Clooney, Brad Pitt, Matt Damon e Andy Garcia, na produção feminina as estrelas são as premiadas Sandra Bullock, Cate Blanchett e Anne Hathaway, que dão banho de charme, beleza, talento e vigarice. Também entregam ótimas interpretações as atrizes Helena Bonham Carter, Sarah Paulson, Mindy Kaling, Awkwafina e a cantora Rihanna.


Além das atrizes, o que mais chama a atenção é o planejamento minucioso do roubo, cada detalhe cronometrado sem que nenhuma das personagens tivesse uma importância menor no plano. Excelente também a escolha dos figurinos de gala e das joias, assim como a trilha musical de Daniel Pemberton.

Para que a trama mantivesse a mesma linha de condução, com cada passo sendo pensado e trabalhado minuciosamente até o grande roubo nada melhor que ter o próprio Soderbergh como um dos produtores. O filme de Gary Ross, no entanto, supera nos divertidos diálogos entre as personagens, principalmente quando Debbie e a parceira Lou Miller (Blachett) vão recrutar as especialistas para a quadrilha.


Helena Bonham Carter está muito bem como a decadente estilista de moda Rose, cujo mau gosto para se vestir chega a causar espanto. Sarah Paulson é Tammy, uma pacata dona de casa que leva uma segunda vida como receptadora de objetos roubados. Rihanna se garante como a hacker jogadora de sinuca Nine Ball, enquanto Mindy Kaling é Amita, especialista em fazer e desfazer joias que odeia viver com a mãe. Awkwafina é Constance, uma divertida golpista batedora de carteira e relógio incorrigível.

Destaque para James Corden, que faz o investigador de seguros, e a rápida aparição de Elliott Gould, interpretando Reuben Tishkoff, um dos integrantes da quadrilha de Danny Ocean, papel de George Clooney, que é a ligação entre as produções. Danny é o irmão "tecnicamente morto" de Debbie Ocean (Sandra Bullock), citado no filme e mostrado apenas em uma foto - uma pena, é sempre um prazer ver aquele "sonho de consumo" num filme.


Cinco anos, oito meses, 12 dias se passaram até que Debbie Ocean fosse solta da penitenciária, depois de cumprir pena por aplicar golpes. E todo esse tempo só serviu para que ela planejasse o maior e mais ousado roubo de sua vida. Para isso terá de formar um time com as melhores especialistas em cada área e contar com sua antiga parceira de golpes Lou, na escolha.

O alvo é um colar de diamantes que vale cerca de 150 milhões de dólares e que estará pendurada no pescoço da famosa atriz internacional Daphne Kluger (Anne Hathaway), durante o evento do ano, o Baile de Gala do Museu Metropolitan, de Nova York. O plano precisa correr perfeitamente para que a equipe consiga entrar no evento e sair de lá com as joias à vista de todos.

"Oito Mulheres e Um Segredo" é um filme divertido, que prende pela trama leve e muito parecida com as produções de 2001, 2004 e 2007, porém atualizada. Na execução do roubo perfeito, a quadrilha emprega tecnologia avançada, sem deixar de lado o velhos truques como uma carta na manga. Na prática, uma verdadeira aula de vigarice com glamour e sofisticação.



Ficha técnica:
Direção e roteiro: Gary Ross
Produção: Warner Bros Pictures / Village Roadshow Pictures
Distribuição: Warner Bros Pictures
Duração: 1h50
Gêneros: Comédia / Policial
País: EUA
Classificação: 14 anos
Nota: 4 (0 a 5)

Tags: #OitoMulheresEUmSegredo, #8Mulheres, #SandraBullock, #CateBlanchett, #AnneHathaway, #HelenaBonhamCarter, #Rihanna, #Awkwafina, #WarnerBrosPictures, #espaçoZ, #CinemarkPatioSavassi, #CinemanoEscurinho

02 junho 2018

"Paraíso Perdido", um filme de cortar os pulsos

A história se passa quase toda numa boate nada convencional, onde uma família nada convencional se apresenta (Fotos: Vitrine Filmes/Divulgação)

Mirtes Helena Scalioni


Mais do que revolucionário, "Paraíso Perdido" é um filme libertário, atrevido e contemporâneo, verdadeiro discurso contra o preconceito. "Qualquer maneira de amor vale a pena" - é o que inspira o longa. E é esse sentimento que também parece mover os personagens. A história se passa quase toda numa boate nada convencional, onde uma família nada convencional se apresenta em performances que arrebatam e emocionam o pequeno público presente. Tudo é único, peculiar, inesperado.

Pode até ser que a trama criada pela diretora Monique Gardenberg se torne confusa em determinado ponto da história, mas isso não atrapalha nem tira o brilho do filme. Pelo contrário. Certa estranheza e uma pequena dose de esquisitice acabam por conferir charme e poder ao filme. E o elenco parece ter sido escolhido a dedo.

A começar pelo patriarca do núcleo, José, interpretado por um Erasmo Carlos extremamente à vontade, passando pelo novato Jaloo, que faz o travesti Ímã, uma descoberta da diretora. Completam a família Júlio Andrade, encantando como o cantor Ângelo; Hermila Guedes como a ex-presidiária Eva; Júlia Konrad como a grávida Celeste, e Seu Jorge como o filho adotivo Taylor, que sonha ser ator.

Correndo por fora, compartilhando dores e delícias com o grupo, estão Marjorie Estiano como a misteriosa Milene, Humberto Carrão como o sensível e atormentado Pedro; Felipe Abin como Joca, o namorado de Celeste; Malu Galli como a cantora surda Nádia e Lee Taylor, numa atuação comovente como o policial Odair, personagem central da trama. Tudo se encaixa de uma forma tão natural, que a credibilidade e empatia com o espectador são imediatas. Tudo se encaixa.

Um detalhe do longa que merece destaque: a música. "Paraíso Perdido" é todo embalado e costurado por canções populares que algum desavisado pode chamar de bregas. Pode, mas não deve. O diretor musical do filme é Zeca Baleiro e isso faz toda a diferença. Que ninguém espere cantorias manjadas do tipo "Eu não sou cachorro não", "Sandra Rosa Madalena" e "Receba as flores que te dou". Baleiro não se rendeu ao óbvio.

Os cantores e cantoras da boate dilaceram o peito do espectador apresentando pérolas românticas como "Sonhar contigo", de Adilson Ramos ("este é o meu maior desejo/ tomar tuas mãos, calar tua voz num longo beijo"), "Impossível acreditar que perdi você", de Márcio Greick ("não, eu não consigo acreditar no que aconteceu"), "Tortura de amor", de Waldick Soriano ("hoje que a noite está calma/e minh'alma esperava por ti") e "As minhas coisas", de Odair José ("o meu casaco com você se acostumou/ sentiu tanto a sua falta/ que de tristeza desbotou").

Não há sombra de crítica, riso ou deboche. Pelo contrário, há reverência, respeito ao sentimento. O ambiente é simples, a luz é baixa, o drinque barato está à mão e o clima é de pecado. De cortar os pulsos. "Paraíso Perdido" pode e deve ser conferido no Belas Artes 3 (sessões de 14h e 21h) , Cinemark BH Shopping 10 (16h20 e 21h30) e Net Cineart Ponteio 2 (18h40 e 20h50).
Duração: 1h50
Classificação: 14 anos



Tags: #ParaisoPerdido, #ErasmoCarlos, #drama, #MoniqueGardenberg, #LeeTaylor, #SeuJorge, #CaseFilmes, #VitrineFilmes, #cinemas.cineart, #espaçoz, #CinemanoEscurinho