26 novembro 2019

"Ford vs. Ferrari" - Velocidade e ambição em uma grande produção de arrepiar

Matt Damon e Christian Bale formam a dupla principal do filme que mostra a mudança na forma de disputar uma corrida (Fotos: 20th Century Fox/Divulgação)

Maristela Bretas

Dois grandes atores numa mesma paixão: carros e velocidade. Matt Damon ("A Grande Muralha" - 2017 e "Perdido em Marte" - 2015) e Christian Bale ("Trapaça" - 2014) e "Vice" - 2019) estão juntos e espetaculares na produção "Ford vs. Ferrari", ambientado na década de 1960 sobre a disputa entre duas grandes marcas para provar quem era melhor nas pistas de corrida. De um lado, a montadora norte-americana Ford, uma das maiores do mundo na produção de carros convencionais, mas sem tradição nas pistas de corrida, que agora precisa aumentar seu prestígio e, claro, as vendas. Do outro, a sempre lendária escuderia italiana, vencedora da maioria das disputas de velocidade e beleza no design de seus modelos, mas que sofre com a possibilidade de uma falência.


Com ótimas atuações, muita adrenalina, momentos emocionantes de corrida - com direito a batidas à altura de um grande prêmio - "Ford vs. Ferrari" ainda oferece ao público a oportunidade de acompanhar os bastidores da criação, montagem, treinos e disputa de um grande carro nas pistas - o Ford GT40. Mas também aborda o lado obscuro das negociações que ocorrem nesse seleto grupo do setor automobilístico, onde o glamour é só para atrair fãs e compradores.


No filme, a Ford resolve apostar nas pistas para conquistar o glamour da concorrente e campeã Ferrari. E não mede esforços (e dinheiro) para chegar em primeiro. Para conseguir, em três meses, construir o carro dos sonhos que vai chegar ao primeiro lugar do pódio é chamado um vencedor - Carroll Shelby (Matt Damon), ex-piloto e construtor de carros, dono da Shelby-American (marca que foi sucesso naquela época).


Com o apoio do então executivo de marketing, que despontaria anos depois como o homem que reergueu a Chrysler Motors, Lee Iacocca (papel de Jon Bernthal), ele consegue trazer para a equipe o genioso, mas excepcional piloto e engenheiro Ken Miles (Christian Bale). Shelby, no entanto terá de enfrentar os executivos burocratas da Ford, especialmente Leo Beene (Josh Lucas), que não aceitam a decisão do presidente de investir nesta categoria de carros esportivos.


Ambição se mistura a velocidade, tanto de pilotos e construtores quanto de empresários, cada um querendo ser a peça principal de uma disputa que pode representar uma derrota para a imagem de uma importante marca ou sua entrada triunfal para uma nova categoria. Os empresários Henry Ford II e Enzo Ferrari têm ambições diferentes, mas o mesmo objetivo - chegar em primeiro lugar. 


Ford pode e quer investir muito para conquistar isso, enquanto o italiano já é um vitorioso há anos, especialmente na tradicional prova anual das 24 Horas de Le Mans, na França. A marca do cavalinho rampante é sinônimo de beleza, potência e glamour, mas os gastos para manter tudo isso a levaram a uma crise financeira, que pode colocar fim à escuderia.

Nesta briga de quem vai vencer ou perder, correm as histórias de bastidores. Cada personagem é apresentado com seus dilemas e sonhos. Shelby é um amante das pistas que não pode mais correr, mas não abandonou o automobilismo. Muito respeitado por sua trajetória, inclusive como campeão, ele é chamado para chefiar a equipe da Ford. 


Já Miles é um homem difícil, mas um gênio para pilotar e tornar um carro vencedor. Casado e pai de Peter (o fofo Noha Jupe), ele aceita integrar o grupo, mesmo sabendo que está sendo usado pela empresa que só quer prestígio, ao contrário dele que só quer vencer como o melhor piloto dirigindo o melhor carro.

Esta ótima produção, baseada em fatos reais e dirigida por James Mangold - o mesmo de "Logan" (2017) -, contou um pouco do que foi a entrada da Ford nas corridas, a construção e lançamentos de grandes carros da montadora, as falhas que alguns deles apresentavam. Apresentou também pilotos que se tornaram grandes nomes no meio automobilístico como Ken Miles, Carroll Shelby, (vencedor de Le Mans em 1959), Bruce McLaren (fundador da escuderia McLaren), Lorenzo Bandini (Ferrari). Com certeza vai agradar aos amantes da velocidade e das corridas.


Ficha técnica:
Direção: James Mangold
Produção: 20th Century Fox / Chernin Entertainment
Distribuição: Fox Film do Brasil
Duração: 2h33
Gêneros: Biografia / Drama
Nacionalidade: EUA
Classificação: 12 anos
Nota: 4 (0 a 5)

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25 novembro 2019

"Bate Coração" entrega boa trilha sonora e interpretações divertidas

Comédia leve traz temas importantes como doação de órgãos, homofobia, família e claro, a 
alegria de viver (Fotos: Downtown Filmes/Divulgação)
               
                                  

Maristela Bretas


Quando o diretor Glauber Filho resolveu apostar na comédia Bate Coração, baseado na peça homônima,ele fez uma boa escolha do elenco para abordar um tema ainda pouco discutido nas telonas: a doação de órgãos. De maneira divertida, mas sem perder a seriedade quando se fala na importância deste ato para salvar vidas, o filme tem em seu personagem principal, o pernambucano Aramis Trindade, muito conhecido por seus papéis em novelas, a grande estrela. 


Com ótimas piadas, caras e bocas, ele é o coração do longa, literalmente. E é com o talento que ele consegue evitar que a produção cearense caia numa comédia comum, com personagens caricatos, apesar do ótimo trabalho de alguns atores, como os mineiros Maurício Canguçu e Ílvio Amaral. O roteiro da comédia foi inspirado em duas peças de Ronaldo Ciambroni – "O Coração Safado" e no fenômeno de bilheteria bem conhecido por todos nós, sucesso de anos e anos na Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de BH, "Acredite, Um Espírito Baixou em Mim", estrelada por Amaral e Canguçu.


Amaral interpreta Cassandra, companheira e duplade show da transexual Isadora Sunshine (Aramis). Ela quer tudo o que era da amiga morta porque acha que fez dela uma grande estrela. Já Canguçu, é Dolores, um trans, muda e admiradora incontestável de Cassandra. Ela é o braço direito e o esquerdo, estando sempre ao seu lado em todas as tramoias.


Contra o preconceito

A história se resume à vida de duas pessoas: IsadoraSunshine (com ótima interpretação de Aramis) e Sandro (papel de André Bankofi), um publicitário conquistador e machista. Mas um atropelamento põe fim à vida de Isadora, uma alegre e amada dona de salão de beleza na periferia de Fortaleza em plena noite de Réveillon. Em outro ponto da cidade, durante as festividades, um infarto quase mata Sandro. A salvação vem do coração da transexual, transplantado para o preconceituoso playboy garanhão.


O que nenhum dos dois esperava era que este transplante fosse mudar a trajetória de ambos. Isadora não se conforma com a morte e por ter deixado pessoas que amava sem amparo. A começar pela esposa Vera (Germana Guilhermme) e o filho Davi (Brenno Leone). Já Sandro começa a refazer sua vida com um pouco mais de cuidado, até descobrir a origem de seu coração. Nesta hora, o preconceito fala mais alto. Ele se sente enganado e não aceita carregar no peito o órgão de uma mulher trans.



"Bate Coração" poderia ter explorado melhor essa questão da homofobia, assim como o tema principal, cuja abordagem ficou fraca, uma vez que a intenção era fazer com que as pessoas despertassem para a necessidade da doação de órgãos. Já o espiritismo entra para explicar a passagem para um plano superior e também para ajudar as pessoas a aceitarem melhor seus destinos.

Mas aí muda o filme e o foco. A história passa a mostrar uma família moderna, com a esposa que aceita o marido transexual e ainda formam um casal feliz e muito bem resolvido. Eles vivem em uma comunidade em que esta situação é bem aceita, inclusive pela vizinhança idosa do salão de beleza onde Isadora trabalhava.



A comédia conta também a história do filho de Isadora, que ainda não sabe a condição do pai. Além de várias histórias paralelas dos demais personagens. Mas o melhor é ver Sandro reavaliar sua postura preconceituosa, machista e também a de Isadora, que mesmo do plano espiritual, começa a influenciar o transplantado, fazendo-o se interessar por coisas femininas e tentando transformá-lo em uma pessoa do bem, sem preconceitos.

O diretor, também responsável pelos longa "Bezerra de Menezes - O Diário de Um Espírito" (2008) e "As Mães de Chico Xavier" (2011), lança a mão de várias informações e acaba não aprofundando em quase nenhuma deixando o filme meio que uma Sessão da Tarde animada. Já o roteirista buscou, além das duas peças de Ciambroni, referências em filmes famosos como "A Gaiola das Loucas" (1978/1996), "Ghost: Do Outro Lado da Vida", (1990), "Do Que As Mulheres Gostam" (2001) e "O Sexto Sentido". Cada um deles ganha uma referência em "Bate Coração", como a expressão “São Patrick Swayze” dita em alguns momentos do filme.


Mas ele acerta em alguns diálogos divertidos, na fotografia e no figurino, com muito brilho, plumas e paetês como deveria ser. Também a escolha da excelente trilha sonora que nos remete aos bons tempos, a começar pela música-tema "Bate Coração",  de Elba Ramalho, além de "Dancing Days", com As Frenéticas entre outros sucessos. Mesmo com essas falhas visíveis, "Bate Coração" ainda consegue passar uma mensagem interessante e positiva, tanto no âmbito social (com o tema da tolerância, da não discriminação e da doação de órgãos), quanto na esfera pessoal, com recados sobre doação, perdão, recomeços e até mesmo sobre espiritualidade. 


Ficha técnica:
Direção: Glauber Filho
Produção: Estação Luz Filmes
Distribuição: Downtown Filmes
Duração: 1h34
Gêneros: Comédia / Drama
Nacionalidade: Brasil
Classificação: 12 anos
Nota: 2,5 (0 a 5)

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