29 julho 2021

Envelhecer num piscar de olhos é só uma questão de "Tempo”

Novo suspense de M. Night Shyamalan traz mistério arrepiante envolvendo um grupo abandonado numa ilha (Fotos: Universal Pictures/Divulgação)


Carolina Cassese


Provavelmente nunca reparamos tanto no tempo quanto nesta pandemia. Há quem diga que “está passando muito rápido”, enquanto outros inferem que “parece que nada acontece e de que estamos vivendo essa crise sanitária há 10 anos”. E, por mais surpreendente que pareça, há pessoas que consideram ambas as afirmações verdadeiras. Isso provavelmente porque nossa sensação é de que esse momento nunca foi tão distorcido e afetado por imprevisíveis eventos externos. 


Vivemos na sociedade da pressa, onde somos estimulados a ser multitarefa, onde “tempo é dinheiro” e a produtividade é um valor central. Diante desse cenário que enfrentamos e de novas questões que emergem a partir dele, "Tempo" ("Old"), o novo thriller de M. Night Shyamalan, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas. O diretor é responsável por outros suspenses instigantes como a trilogia "Corpo Fechado" (2000), "Fragmentado" (2017) e "Vidro" (2019), além de "A Visita" (2015) e “Sexto Sentido" (1999).

Baseado na história em quadrinhos "Castelo de Areia", de Pierre Oscar Lévy e Frederik Peeters, "Tempo" é mais um daqueles filmes que seria assistido com outros olhos se tivesse sido lançado antes da pandemia. Ou antes do Capitalismo 24/7,caracterizado por Jonathan Crary em seu primeiro livro, que traça um panorama de um mundo onde o ser humano não tem limites de tempo e espaço.


A premissa aqui é intrigante: acompanhamos a família Cappa, integrada por Guy (o premiado ator Gael Garcia Bernal), a esposa Prisca (Vicky Krieps) e os dois filhos, durante as férias de verão, quando viajam para uma remota ilha tropical. No momento em que eles e mais um grupo de viajantes são levados por um funcionário do resort (que logo os abandona) para uma praia deserta, acontecimentos sinalizam que algum fenômeno incomum paira sobre o local. 

Eles logo começam a se dar conta: todos estão envelhecendo mais rapidamente, anos inteiros passam em questão de minutos. Para que não morram num piscar de olhos, o grupo precisa encontrar alguma saída da misteriosa praia ou uma solução para interromper o chocante fenômeno.


A partir daí, conhecemos melhor nossos personagens e suas respectivas questões. Praticamente todos escondem algum segredo ou possuem uma condição suspeita, o que dificulta a convivência do grupo na ilha. A história é repleta de pequenos atos de tensão, que de fato nos deixam aflitos e torcendo firmemente por alguns personagens.

Certas figuras da história e a relação delas com o tempo são especialmente interessantes. É o caso da personagem Chrystal (Abbey Lee), uma mulher que vive para as aparências (e para mostrar ângulos perfeitos no Instagram). Quando começa a envelhecer é como se a vida tivesse perdido o sentido para ela, já que seu valor estava atrelado à estética. 


Apesar de a crítica ser explícita, talvez a temática, ainda tão presente mesmo com a ascensão de uma nova onda do feminismo, poderia ter sido melhor explorada na obra. O mesmo se aplica acerca da questão racial, relevante para diversos acontecimentos da trama, mas pouco desenvolvida.

É no mínimo interessante perceber o impacto da aceleração do tempo nos conflitos e nas diferentes subtramas. “Agora nossa briga parece tão boba”, pontua um dos personagens. De fato, algumas questões se dissolvem, parecem completamente insignificantes diante da grande ameaça que eles enfrentam e, claro, diante do envelhecimento repentino.


Um dos pontos fortes do filme é a adequada vertigem que ele nos causa, inclusive porque o diretor nos faz experimentar várias das sensações e das debilidades dos personagens, como a quase total falta de visão e audição. 

A conexão com o sobrenatural, tema bastante presente na obra de Shyamalan, é claramente uma temática importante para "Tempo". No entanto, o final parece querer escapar um pouco desse eixo e soa explicativo demais, especialmente para quem esperava um encerramento mais aberto ou subjetivo. 


O longa definitivamente não foi recebido com unanimidade pela crítica. Enquanto alguns veículos classificaram o thriller como “intrigante” e “imersivo”, outros pontuaram que a execução da obra é “sofrível” e que o humor é “constrangedor”. O público também parece estar dividido: no site Rotten Tomatoes, uma das principais plataformas de crítica cinematográfica do mundo, 52% das pessoas afirmaram gostar do filme. 

Diante desse impasse, não parece coerente dizer: “corra para os cinemas, você com certeza irá amar”. Mas é claro, para fãs de Shyamalan, interessados na premissa e dispostos a se perder um pouco nessa ilha deserta, vale conferir e formar a própria opinião - e ainda, quem sabe, refletir um pouco sobre a nossa relação com os ponteiros do relógio.


Ficha técnica:
Direção, roteiro e produção: M. Night Shyamalan
Produção: Blinding Edge Pictures
Distribuição: Universal Pictures
Exibição: Nos cinemas
Duração: 1h48
Classificação: 18 anos
País: EUA
Gênero: Suspense

26 julho 2021

“Ato”, dirigido por Bárbara Paz, é selecionado para o Festival de Veneza

Curta com Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira integra a seleção Orizzonti Short Films (Fotos: Primeiro Plano/Divulgação)

Da Redação 


A atriz e diretora Bárbara Paz está de volta ao Festival de Veneza, dessa vez com o curta “Ato”, estrelado por Alessandra Maestrini e Eduardo Moreira. O filme foi selecionado para a categoria Orizzonti Short Films. Em 2019, Paz conquistou o Leão com o Melhor Documentário - "Babenco: Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou". 


A diretora conta que é uma grande honra voltar ao Festival de Veneza, especialmente com seu primeiro filme de ficção. "Um pequeno "Ato" de silêncio e solidão”, explica. Em um mundo suspenso e solitário, Dante se encontra em um processo de travessia e sua única companhia é Ava, uma "profissional do afeto”. 

A solidão foi a maior protagonista, com palcos vazios e o medo constante da morte. "O afeto é o Ato, a fuga, o desejo fundamental da sobrevivência.”, comenta  Bárbara Paz. 



E cita Tartovsky: ‘“A função atribuída à arte não é, como frequentemente se presume, apresentar ideias, propagar pensamentos, servir de exemplo. O objetivo da arte é preparar a pessoa para a morte, arar e fustigar sua alma, tornando-a capaz de se voltar para o bem”.


Para a produtora Tatyana Rubim, “o curta estar presente no Festival de Veneza representa, neste momento tão adverso mundialmente, a força da arte e da cultura e a capacidade do diálogo existente entre o teatro e o audiovisual”.

“Ato” é produzido pela Rubim Produções e BP Filmes. Tatyana Rubim e Bárbara Paz assinam a produção. Cao Guimarães (“O homem das Multidões”) assina o roteiro e a montagem fica a cargo de Renato Vallone (“Cinema Novo”). Azul Serra (“Ninguém Tá Olhando”) assina a direção de fotografia.


Ficha técnica
Direção: Bárbara Paz
Roteiro: Cao Guimarães
Produção: Rubim Produções // BP Filmes
Categoria: curta-metragem