Destaque para Samuel Lange Zambrano no papel de Júnior (Fotos: Pyramide Distribution/Divulgação) |
Mirtes Helena
Júnior tem nove anos e tem um sonho: alisar os cabelos para parecer bem na sua foto anual de escola. Mas o garoto é venezuelano e, como os brasileiros, mestiço. Por isso, topa fazer qualquer loucura para se parecer com os artistas brancos e de cabelos lisos. Sua mãe, Marta, é viúva, tem mais um filho bebê, luta para criá-los no meio da pobreza e tem um medo: seu filho pode ser gay.
E como, muitas vezes, a miséria resulta em ignorância, ela vai fazer loucuras para que seu filho não se transforme num homossexual. O resultado é uma relação de poucas palavras, rude, quase cruel entre os dois.
O filme venezuelano "Pelo Malo" pode até fazer rir, como por exemplo diante das experiências do menino para alisar os cabelos, ou do desejo explícito de sua amiguinha de escola, que, mesmo gordinha, quer ser miss. Afinal, a história se passa na Venezuela, o país que mais produz rainhas da beleza no mundo.
Pode ser cômica também a tentativa da avó bizarra de Júnior, Carmem, que quer transformá-lo em um cantor de sucesso. Mas o filme fala mesmo é de preconceito e discriminação. Por isso é triste.
São raros os filmes venezuelanos em nosso circuito. E é possível observar nele um jeito de interpretar que talvez seja similar a dos atores argentinos e brasileiros. Samantha Castillo, que faz a sofredora mãe do menino, é crua. Mulher acostumada ao subjugo, traz no rosto, no corpo, no olhar e até no andar os sinais de uma vida de humilhações. E faz isso com tanta naturalidade que choca.
Aliás, um dos méritos de "Pelo Malo" está nas interpretações. É preciso aplaudir também, além da avó maluca (Nely Ramos), o protagonista, feito por Samuel Lange Zambrano. O menino é um show, grande achado da diretora Mariana Rondón.
Em tempo: a tradução literal de "Pelo Malo" é "Cabelo Ruim". Mas o título do filme não foi traduzido. Quem sabe para evitar nomear mais preconceitos e discriminações.
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