Mirtes Helena Scalioni
A julgar pelas conversas e palpites no elevador depois da sessão, "Antes do Inverno" ("Avant l'hiver"), em cartaz no Cineart Ponteio (16h50 e 21h10) é um filme que deixa margem a muitas interpretações. Parece que cada um viu um filme diferente.
Mais do que propor mistérios a ser desvendados, o drama do neurocirurgião que vê sua vida correta e confortável se complicar depois que uma jovem começa a lhe mandar flores, propõe reflexões. Médico bem-sucedido e bem casado com a bela Lucie (Kristin Scott Thomas), Paul (Daniel Auteuil) parece, a partir de então, se perguntar: "Foi esta mesmo a vida que escolhi e quero viver?"
Em interpretação contida, mas excepcional, Daniel Auteuil (que já havia brilhado em "Caché"), convence e envolve como o cirurgião que é capaz de consertar cabeças, menos a sua própria, que saiu dos eixos com o aparecimento de uma marroquina misteriosa (Leïla Bekhti) que desperta nele sentimentos para os quais não há nomes. Essa dúvida gera tensão, que gera suspense. Mas não há sustos. As perguntas se acumulam mas nem todas são respondidas.
Como um bom filme francês que se preza, "Antes do Inverno", dirigido por Philippe Claudel, tem mais olhares e silêncios do que diálogos. Jantares caseiros com o despretensioso vinho de todo dia, gestos e expressões faciais substituem as palavras, ajudam a contar a história e aguçar os mistérios.
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