Mirtes Helena Scalioni
O filme é de ficção, mas podia também ser um documentário, até porque é dirigido por Fernando Grostein Andrade, que tem em seu currículo registros como "Coração Vagabundo" e "Quebrando o tabu". Mas não é só por isso. Baseado em fatos reais, "Na Quebrada" acompanha a trajetória de um grupo de jovens da periferia de São Paulo que, através do cinema, tenta escrever, para suas vidas, uma história diferente da dos seus pais.
Violento na medida certa e muito comovente, esse primeiro longa de Grostein intercala e costura retalhos da vida de cinco jovens de comunidades carentes: um desastrado que adora consertar TVs, um rapaz que testemunhou e foi ferido numa chacina, outro que tem o pai na prisão desde que nasceu, uma moça que nunca soube quem é sua mãe e outra que faz parte de uma família cujos pais e irmãos são deficientes visuais.
A escolha do elenco é um dos trunfos de "Na Quebrada", que tem poucos rostos globais, nenhum deles em papéis principais, como Gero Camilo e Emanuelle Araújo. Os demais - Felipe Simas, Jorge Dias, Eucir de Souza, Jean Luis Amorin, Cláudio Jaborandy, Daiana Andrade e Domênica Dias - são estreantes ou pouco conhecidos. Isso dá veracidade e autenticidade ao filme, o que talvez o diferencie de outros longas da série "movie favela", tão em voga no Brasil.
Até que ponto o passado pode determinar o futuro? É possível sonhar, mesmo tendo nascido pobre? Tenho que repetir a história dos meus pais? São essas três questões que norteiam e permeiam o filme.
A vida dos cinco jovens que, apesar do cotidiano violento, tentam mudar de rumo buscando apoio e conhecimento na ONG paulista Instituto Crescer, é rica o bastante para gerar um filme emocionante e reflexivo. E, de certa forma, mostra como a sétima arte pode ser um fator de resistência.